13 O Perdão
Eu não estava crendo no que os meus olhos viam.
-Jeff? É você mesmo?
Ele levantou a cabeça, mas seu olhar não muito surpreso revelou que ele já havia nos visto bem antes.
-Oi, Amber- disse apenas e acenou para Steve.
-Jeff, como você... O que você está fazendo aqui??- perguntei, ainda incrédula.
Ele arqueou a sobrancelha.
-Que foi, não posso?
-Não! Quero dizer... Nina me ligou hoje dizendo que você havia sumido, que ninguém tinha notícias suas!- falei, sem conseguir evitar de erguer a voz.- E agora eu encontro você aqui?!! Que loucura é essa, Jeff?? Como você veio parar aqui???
-Do mesmo jeito que você -falou, cínico.
-Não seja engraçadinho!- falei, sentindo a irritação crescer dentro de mim.-Você ficou louco? Estão todos muito preocupados com você, no Brasil. Por que você fez isso??
-Isso o quê?- Ele revirou os olhos, parecendo também impaciente.
-Isso!!! Sair sem avisar ninguém, nem mesmo a sua família!
-Eu já sou de maior. Não devo satisfação pra ninguém, muito menos pra você- Jeff disse, dando alguns passos, mas eu o interceptei.
-Pra mim, não. Mas e os seus pais? E a sua irmã? Como você acha que eles estão agora?? Você deve satisfação pra eles, sim!
-Caramba, foi só uma viagem. Tipo... não é o fim do mundo - ele disse, abrindo os braços, dramaticamente.
-Como você é cínico!!!- Vociferei.
-Calma, Amber- Steve, que até então havia ficado na sua, se manisfestou.- Deixa ele.
-Deixar ele?? Ele...
-Ele só está se aventurando. Todo mundo tem o direito de se aventurar uma vez na vida. Até você se aventurou, lembra? Você andou de moto na Times Square sem capacete.- Ele sorriu.
Balançei a cabeça.
-Isso... isso é diferente, Steve! Não é a mesma coisa. Todos sabem que eu estou aqui, principalmente minha família. Mas ninguém sabe que Jeff está aqui em Nova York.
-E nem precisam saber. Não vou ficar por muito tempo- disse Jeff.
-Por que? Pra onde você vai?- questionei, tentando entender.
-Estou viajando com uns amigos meus.
-Amigos? Que amigos, Jeff? E o que vocês estão fazendo?
-Somos um grupo que curtimos fotografia. Eu tô seguindo o meu sonho, tá legal? Só isso!
Suspirei, fechando os olhos e quando os abri, encarei Steve.
-Você sabia que ele estava aqui?
-Não. Estou tão surpreso quanto você.
-Ok...
-Jeff, se você não tiver lugar pra ficar, pode vir comigo pra minha casa- disse Steve.
-Não, não.Valeu mesmo, cara mas... eu já me ajeitei com os meus amigos. Estamos numa pousada, aqui mesmo, no Brooklyn.
Steve cruzou os braços e se encostou na ponte, dobrando uma perna e assentindo.
-Jeff eu... só acho que você deveria... avisar sua família que está aqui. Não é legal deixar eles preocupados- falei, mais calma.
-Tá certo- ele respondeu, mas não senti firmeza.
-Eu tenho que ir -Jeff disse.
-Quer uma carona?- Steve perguntou, solícito demais para o meu gosto.
-Não. A pousada é logo depois da ponte, não vou andar muito.
Ele se foi, passando por mim sem me encarar.
Fiquei vendo-o se afastar, até ele se tornar apenas uma minúscula figura na noite.
-Ah!- Suspirei, passando a mão pelo rosto.
-Ele vai ficar bem- disse Steve, se desencostando da ponte.- Vamos??
-Pra onde?- Franzi a testa.
-Ahn... pra casa??- Ele arqueou a sobrancelha.- Vamos, vou te levar.
Assenti, corando um pouco e então começamos a caminhada de volta para o início da ponte do Brooklyn, onde estava a moto de Steve.
~❤~
Fizemos novamente o trajeto que havíamos percorrido naquela noite e quando passamos pela Times Square, desta vez de capacete, eu sorri comigo mesma.
Que momento incrível aquele!
Como Steve conseguia ser daquele jeito?
Há apenas dois dias atrás eu o esculachava por tudo o que havia acontecido antes e agora, ali na moto com ele, a vontade que eu tinha era de abraçá-lo, por ter me proporcionado o melhor passeio que eu poderia ter em Nova York. Mas me contive.
Quando descemos da moto em frente à minha casa, foi impossível não me lembrar da primeira vez que nos vimos frente à frente, ocasião em que eu me encantei com seus olhos.
Agora ele me olhava novamente, com seu olhar esverdeado, perfeitamente visível por causa da lua que brilhava intensa no céu de Manhattan.
Mordi o lábio, desviando o olhar.
-É... foi muito legal. O passeio...
Steve assentiu.
-Eu sei. Que bom que gostou.
O silêncio que se seguiu para mim foi extremamente constrangedor e eu tratei de me ocupar observando minuciosamente minhas unhas.
Steve deu um suspiro.
-Amber.
-O quê?- Olhei-o rapidamente.
-Aquilo que disse na ponte, um pouco antes do Jeff chegar. Sobre já ter me perdoado... É verdade?
Levantei a cabeça e o olhei.
-Bom, acho que sim. Eu te julguei sem conhecer sua história. Mas agora que sei algumas coisas... ficou bem mais fácil compreender tudo.
-Eu não quero que você me perdoe por pena. Por estar tocada com o que aconteceu no meu passado- ele disse.
-Não! Absolutamente, não. Eu te perdôo de verdade, Steve. Eu vejo... sinceridade no seu olhar quando você fala. E isto é algo muito raro de se ver em alguém. Confesso...
Hesitei um pouco e ele fez um gesto com a cabeça, me incentivando a continuar.
-Confesso que quando tudo aquilo veio à tona, eu surtei. Pra mim foi um baque tremendo. Eu achava inaceitável e imperdoável o que você havia feito. Mas agora...- Dei de ombros.- Isso parece ter menos importância cada dia que passa.
Steve deu um passo à frente.
-Eu sinto muito, Amber... eu não dormia à noite naquele apartamento velho lá em São Paulo, pensando em como você poderia estar. Minha consciência me acusava dia e noite, sem parar.
-Eu acredito nisso- falei.
-Obrigado. Obrigado por acreditar em mim. De verdade.
Eu dei um sorriso contido, e ele olhou para minha casa.
-Agora, é melhor você entrar.
-É...- Pigarreei.
-A gente se vê.- Ele me fitou e, com mais um passo em minha direção, deu-me um beijo na testa.
Quando ele se foi, cantando pneus com sua moto, eu permaneci parada na calçada com o coração acelerado, por causa daquele singelo beijo, mas para mim, tão significativo.
~❤~
O dia seguinte amanheceu frio e eu entrei no trem para Tarrytown embrulhada no meu casaco ainda um pouco sonolenta. Não havia conseguido dormir muito.
-Amber, o diretor Richard Cooper quer ver você na sala dele.- Minha professora de Cultura Social Americana interrompeu a aula.
Eu me levantei.
-Xiiiii...- Fez Lauren e eu dei de ombros.
Francamente, até o momento, nem me passava pela cabeça o porquê de Richard estar me chamando.
Bati na porta, apesar desta estar apenas encostada e ouvi:
-Entre.
Entrei. Ele estava sentado atrás de sua mesa, com as mãos cruzadas e me olhou, arqueando as sobrancelhas.
-Feche a porta.
Assim o fiz.
-Você mandou me chamar...- falei, me aproximando devagar de sua mesa.
-Mandei.- Ele descruzou as mãos e fez sinal para que eu me sentasse.
Eu me sentei, em silêncio.
Richard me fitou por um momento e disse:
-Amber, você deve saber porquê eu te chamei aqui.
-Não faço ideia- falei, sem grosseria.
-Não? Amber, como você voltou pra casa ontem?
-Eu...
De repente, saquei tudo. Era óbvio. Ele havia me chamado ali para me repreender por não ter voltado para casa com eles, no ônibus.
-Eu voltei com... com um amigo- respondi.
-Amber eu vou ser bem sincero com você. O que você fez foi muito errado. Você saiu enquanto ainda estávamos em aula.
-Mas o passeio já tinha terminado...- Tentei argumentar.
-Não tinha não. O passeio só termina quando a gente volta pra cá. A Education First é uma escola correta e rigorosa, e nós não toleramos esse tipo de comportamento. Você saiu sem pedir permissão para o seu tutor, que sou eu, ainda por cima com...
Ele parou de falar, nervoso.
-Algum problema em relação à pessoa com quem eu saí, diretor?- perguntei inocentemente, fingindo não saber que ele conhecia Steve.
-Não, Amber. O problema aqui foi você ter saído daquele jeito. Eu te chamei só pra te dar um aviso: da próxima vez, você será expulsa.
Expulsa!
Eu não podia nem pensar em uma possibilidade dessas. Imagina, ser expulsa da escola de intercâmbio! Meu pai ficaria arrasado. E não seria nada bom para mim.
Melhor seguir à risca as ordens da escola e as de Richard.
-Não se preocupe- falei, engolindo em seco.- Isso não vai mais acontecer.
-Ótimo. Espero mesmo que não.
Ele suavizou um pouco a expressão e disse:
-Agora pode voltar para sua sala.
Eu voltei. Mas não conseguia me arrepender de ter feito o que fiz. Acho que perdoar Steve fez com que eu tirasse um peso enorme das costas e eu achava aquilo o máximo, mesmo diante da ameaça de ser expulsa da EF.
▫▫▫
Dei a louca e postei de madrugada kkk.
A partir dos próximos capítulos as coisas começam a mudar entre Steve e Amber.
Beijos!❤😘
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