08 Explosão
Desgrudei meu rosto da janela do trem, quando o mesmo chegou em Tarrytown na segunda feira, às sete da manhã.
Era mais um dia na EF.
Independente da súbita reviravolta que aconteceu na minha mente e na minha vida por causa da chegada de Steve em Nova York, eu precisava viver.
Afinal, eu tinha ido ali para isso. Para seguir em frente. Para tentar esquecer tudo aquilo. Todas aquelas sensações confusas que aquele cara de olhos verdes provocava em mim.
-Hay!- Entrei no Butler Hall, cumprimentando alguns de meus novos colegas americanos.
Antes de ir para a sala de aula, eu me encaminhei para a diretoria, pois precisava entregar uma folha com a cópia do meu histórico no CCAA.
Não que isso fosse estritamente necessário, mas eu queria.
Eu estava prestes a bater na porta fechada do diretor, quando comecei a escutar vozes lá dentro.
-Você é muito imbecil, sabia? Por que não estava na festa de ontem??- A voz de uma mulher ou garota soou, muito irritada.
-Eu não queria topar com o seu namoradinho por lá.- Essa foi a voz de um homem.
Ouvi um suspiro irritado.
-Ele não é meu namorado! Quer dizer... não mais. Mas em breve será de novo. É só questão de tempo.
-É mesmo? Você é tão cínica...
-Eu sei. E é por isso que você me adora. Agora, se me dá licença, tenho mais o que fazer.
A porta se abriu abruptamente e eu levei um susto, com medo de ser repreendida por estar ouvindo atrás da porta.
Mas eu fiquei extremamente surpresa. As vozes eram de Richard e Kristen.
Eles saíram da sala e pararam, tão surpresos quanto eu, ao me verem.
-Amber!- Richard exclamou, abrindo um sorriso.
-Oi- falei, engolindo em seco.
-Bom dia, minha querida. Que coisa boa é ver você assim, logo pela manhã.
Vi Kristen revirar os olhos e encará-lo.
Richard sorriu cinicamente para ela e disse:
-Ah, Kristen... Essa é Amber, a nossa mais nova alu...
-Eu já sei quem é ela.- A loira platinada o interrompeu.- Por coincidência nos conhecemos ontem, na festa dos executivos.
Ela se virou para mim e me estendeu a mão:
-Como vai, Amber?
-Bem...- falei, sentindo-me desconfortável, pois ela me fitava com um brilho estranho no olhar.
Usava um lindo sobretudo azul escuro com uma calça jeans e mais uma vez, o batom vermelho destacava-se em seus lábios. A bota de cano longo a deixava ligeiramente mais alta, até mesmo mais do que Richard.
Kristen, com seus cachos platinados era, com certeza, uma presença marcante em qualquer lugar.
-Que bom. Eu tenho que ir agora. Richard, fique à vontade com a sua nova presa. Quero dizer... aluna.- Ela riu debochadamente e saiu, mexendo os dedos no ar, como um " tchauzinho ".
-O que... O que ela quis dizer com isso?- Perguntei, inevitavelmente fechando a cara para o diretor.
-Não ligue para ela. A Kris é muito brincalhona.- Ele segurou minha mão e me puxou para dentro, dizendo:
-O que você tem aí pra mim? Vamos ver...
Enquanto ele analisava minhas notas no CCAA, eu não pude deixar de pensar em tudo aquilo.
Sobre quem falavam quando eu cheguei? Qual era exatamente o grau de relação que Richard e Kristen tinham um com o outro?
E por que ela havia me chamado de presa?
~❤~
Meus exercícios e atividades me distraíram um pouco dos meus pensamentos e dos questionamentos que haviam na minha cabeça durante a tarde.
Distração que durou pouco pois em certo momento, a campainha tocou.
Meu pai e Fernanda estavam no trabalho, Enzo jogando videogame com algum amiguinho no quarto, portanto, cabia a mim abrir a porta.
-Você vai abrir, Amber?- Gritou Edith, a doméstica, lá da cozinha.
-Vou sim, Edith!- Gritei de volta, já me levantando do sofá.
Inicialmente, fiquei feliz quando vi que era Emma, parada do lado de fora. Ela parecia um pouco tensa.
-Oi, Emma... entre! Que bacana você ter vindo aqui- falei, dando-lhe passagem, mas ela não se moveu.
-Emma?
Foi então que minha felicidade se transformou em descontentamento quando mais alguém apareceu na soleira.
Steve. Outra vez.
Senti imediatamente meu rosto ficar vermelho, tal qual o de Emma estava.
-O que você está fazendo aqui??- Perguntei, soando inevitavelmente grossa e mal educada.
Ele pigarreou.
-Oi, Amber... Eu, eu vim com a Emma, porque... Ela já estava vindo pra cá, então eu aproveitei para vir junto, para quem sabe, a gente poder conversar...
-É, ele quis vir junto. Disse que conhece você, Amber.- Emma disse, parecendo constrangida.- É verdade? Vocês se conhecem?
Suspirei, agarrando a porta com força.
-Infelizmente sim, Emma. A gente se conhece, sim.
-Ah, eu...- Ela olhou com o rosto vermelho para ele.- Me desculpe seu Steve, eu não quis duvidar do senhor, eu...
-Quê isso, Emma. Calma. Tá tudo bem. Eu entendo a sua desconfiança. E por favor, não me chame de senhor- disse Steve, com a voz branda.
Ela abaixou a cabeça.
-Está bem.
-Bom, pode entrar Emma.- falei.- Você será sempre bem vinda nesta casa.
Ela entrou mais que depressa.
-Posso entrar também?- Steve perguntou.
-Não! Você não pode.
-Por quê?
-Por que eu não quero! Você nem devia ter vindo. Será que eu não fui suficientemente clara quando disse pra você sumir da minha vida??
-Não, não foi. Eu quero conversar com você, Amber. Eu quero esclarecer as coisas.
-Para mim as coisas já estão mais do que esclarecidas.- Eu o cortei.
-Amber, eu não vou embora até você me ouvir!- Ele se impôs.
Estremeci de raiva.
-O quê? Ah, você vai embora sim!
-Não, não vou. Você não pode ser tão insensível assim. Eu vim da minha casa até aqui, me lamentando por tudo. A Emma é minha testemunha, ela sabe o quanto eu estou...
-Chega!!!- Gritei.- Você não devia meter ninguém nisso! Contou pra ela também que você colocou uma arma na minha cabeça???
Steve se calou, me olhando tenso, sem acreditar no que eu havia dito.
Emma nos olhava, de olhos arregalados e trêmula.
Eu mesma me sentia prestes a explodir.
Steve recuou alguns passos, sem deixar de me olhar.
-É isso. Pelo visto, você não contou- falei.
-Amber.- Ele ainda tentou, mas eu já via que ele não iria continuar.
-Pelo amor de Deus, de uma vez por todas, Steve... vá embora.- Suspirei, colocando as mãos no rosto.
-Tá certo.- Ele balançou a cabeça, engolindo em seco.- Como você quiser, Amber. Eu vou embora.
Eu o olhei, sentindo um conhecido nó na garganta. Uma certa explosão de sentimentos que eu me achava incapaz de conter.
Mas eu não ia desabar de novo. Não na frente de Steve.
Ele me olhou ainda uma última vez e se virou, voltando pelo mesmo caminho de onde viera.
▫▫▫
Eu tô com muita dó do Steve. Quem mais está??
Acham que Amber deve dar à ele a chance de se explicar?
Até o próximo capítulo, amores.
Beijos de luz. ❤😘
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