03 Emma
- Vamos, Amber!!!
Ouvi o grito de Enzo do corredor e terminei de me vestir, às pressas.
- Uooouuu!!! - Fez ele, entrando no quarto.
- Eii! Você não pode entrar aqui sem a minha permissão! - reclamei, fingindo estar brava.
- Ah qual é, a porta estava aberta. - Ele pôs as mãos para o ar.
- Tá parecendo até alguém que eu conheço - falei rindo, fechando o zíper da minha calça jeans.
- Quem?
- Minha prima, Nina.
- Aquela da foto que você me mostrou outro dia?
- Essa mesma. Ela tem a mania de entrar no meu quarto de supetão assim, que nem você fez- falei, empurrando ele para fora e saindo também. - Vamos.
- Mas eu sou seu maninho, eu posso, não é? Hein? Hein? - Ele me cutucava, enquanto descíamos os degraus de dois em dois.
Fernanda, a mãe dele, nos aguardava ao pé da escada.
- Enzo já está te incomodando de novo, Amber? Pode chamar a atenção dele, quando precisar.
- Imagina- falei, sorrindo e dando um leve tapa na cabeça dele. - Com esse aqui eu já tenho a manha.
- É mãe. Pô, não tá vendo que eu e ela somos brothers?
Fernanda me olhou, balançando a cabeça e revirando os olhos.
Eu adorava o Enzo.
Brincadeiras e provocações à parte, ele era um garoto maravilhoso.
Super atencioso ( às vezes até demais ) e prestativo. Não era daquele tipo de pré adolescente chato, que irrita todo mundo. Ele gostava de agradar e de fazer as pessoas rirem. Eu sabia e percebia o quanto ele estava feliz por eu ter ido morar com eles, porque apesar de ter bastante amigos, aposto que ele sentia falta de ter um irmão de verdade.
Pois para mim, não me importava que não fôssemos parentes de sangue; ele já era meu irmãozinho do coração.
- Tudo pronto? Podemos ir? - Falou meu pai, pegando as chaves do carro em cima da mesinha de centro.
- Tá, acho que podemos...
Nesse instante, a campainha tocou.
- Eu atendo. - Fernanda se dirigiu para a porta, abrindo-a.
Uma garota mais ou menos do meu tamanho e de cabelos ruivos estava do lado de fora.
- Ah... Oi, Emma! Entre - disse minha madrasta.
A garota entrou. Ela usava um tipo de roupa que parecia uma espécie de macacão ( meio gasto, por sinal ) de cor alaranjada e tênis brancos. Além disso, carregava uma maleta média de cor cinza, que colocou sobre o sofá e se voltou para Fernanda, meio desconcertada, dizendo:
- Ahn, eu vim fazer sua unha. Mas... parece que vão... sair?
- Ah, querida. Sinto muito. Sim, vamos sair. Estamos indo almoçar na enseada, no Queens.
- Ah...
- Por que não me avisou que viria?
- Eu, ahn... Estava vindo da mansão e não queria ter que ir em casa pra depois voltar. Resolvi passar logo aqui, achei que você fosse querer...
- Até que quero. Mas agora nós estamos saindo.
- Venha conosco, Emma. - Resolveu meu pai. - Vamos almoçar com a gente em Rockawal Beach.
- Isso! - Exclamou Fernanda.
- Olha só, esta é minha filha, Amber. - Meu pai me apresentou a ela. - Bom que vocês se conhecem, conversam...
A garota sorriu para mim, tímida e me estendeu a mão, que eu apertei, de bom grado.
- Ok, podemos ir? Estou com fome! - falou Enzo, saindo na frente.
- Está certo. Emma, outro dia você vem fazer a minha unha. Fica tranquila - disse Fernanda.
Emma pareceu se conformar e então, saímos todos por fim.
~❤~
Rockawal Beach é a maior praia urbana dos Estados Unidos e fica no bairro do Queens. Ela estende-se por quilômetros de distância ao longo da Península de Rockawal, de frente para o Oceano Atlântico.
O restaurante onde nos acomodamos para almoçar ficava acima do nível da areia, o que nos permitia ter uma visão privilegiada da praia, dos turistas e, lógico... do mar.
E foi nesse cenário, sentada numa cadeira de madeira típica do restaurante, que eu e Emma passamos longas horas conversando.
Nossa mesa foi colocada do lado de fora a pedido nosso, pois segundo o meu pai, " do lado de fora se apreciava melhor a brisa que vem do mar ".
O que era verdade.
Meu pai e Fernanda encontraram conhecidos e foram se sentar na mesa deles; Enzo desceu para a praia para jogar bola com outras crianças, de modo que eu e Emma ficamos à vontade para conversar.
Depois da timidez inicial, Emma se mostrou uma ótima interlocutora. Apesar do jeito calmo e doce, ela falava muito e nós acabamos conversando sobre todo tipo de assunto, como se fôssemos velhas amigas.
Algo no modo como ela falava inspirava confiança. Quando dei por mim, estava contando coisas sobre mim que antes não tinha dividido com ninguém.
- Eu sei como você se sente - disse ela, depois de eu ter dito que apesar de estar feliz por estar em Nova York, também estava me sentindo presa ao passado, às coisas que tinham acontecido comigo anteriormente.
- É como se algo dentro de mim desejasse desesperadamente encontrar um motivo pra sorrir, mas existe alguma coisa não me deixando seguir em frente - desabafei.
- Amber. - Ela colocou sua mão sobre a minha e eu fiquei comovida com seu gesto. - Isso vai acabar. Não sei exatamente o que aconteceu com você, mas isso vai passar. Você vai superar. Tudo passa e um dia você vai perceber que não sofre mais com o que um dia te fez sofrer.
- Obrigada, Emma. Você fala umas coisas tão bonitas... Você é cristã?
Ela sorriu, e eu notei suas sardas, ruivas como o cabelo.
- Sou sim.
- Isso é muito bom - falei, apesar de não entender bem do que se tratava.
- Então... por que você ia fazer as unhas da Fernanda? - Perguntei, curiosa.
- É que eu faço as unhas dela. Bom, na verdade, não só as dela. - Ela riu, sem graça.
- Você é manicure?!? - Exclamei, admirada.
- Não sou profissional, mas... digamos que as pessoas gostam do meu trabalho. - Ela deu de ombros.
- Poxa Emma, que legal! Parabéns. Vou querer que faça a minha um dia, para eu ver se é tão boa assim mesmo. - Brinquei.
- Faço sim. - Ela riu.
Tomei um gole do meu suco e a olhei, curiosa, querendo saber mais.
- E então, você estuda?
- Sim, tô no meu último ano.
- Ahn... Eu formei ano passado, e como já te disse, vim pra cá para fazer intercâmbio.
- Legal.
- Você mora em Manhattan mesmo?
- Não. Moro no Brooklyn, com a minha mãe. - Ela corou um pouco.
- Sua mãe também é manicure como você?
- Não, ela trabalha como empregada doméstica. Eu trabalho com ela.
Arregalei os olhos.
- É sério?
- É, sim. Além de fazer unhas, eu trabalho com a minha mãe numa mansão.
- Uau, numa mansão! - Exclamei.
- Sim, fica em Manhattan também, mas não é tão perto da sua casa.
- E você gosta de trabalhar lá? - Perguntei.
Ela deu de ombros.
- Gosto. Seu Charles é um bom homem. E é um ótimo patrão.
Franzi a testa levemente, e prestei atenção nela.
- Você disse... Charles?
- Disse, por quê?
Balancei a cabeça.
- Não, por nada.
Tinha alguma coisa, sim. Algo no meu subconsciente me fez prestar atenção naquele nome.
Charles...
- Apesar de estar velho, ele tem um bom humor e trata a gente bem. Ora, seu pai é amigo dele, você não sabia? Charles Parker é um dos homens mais ricos dessa cidade.
Parei. Definitivamente parei de escutar o que Emma dizia e me concentrei naquele nome.
Charles Parker.
Mas de onde eu poderia conhecer algum Charles Parker?
E então, uma luz se acendeu na minha cabeça.
Não, eu não conhecia. Mas eu conhecia alguém que conhecia.
Fragmentos de uma conversa de muitos meses atrás, de repente, estavam vivíssimos em minha memória.
" Meus pais morreram. De família, só tenho meu avô. "
" Mora em Nova York. Nunca veio pra cá. "
" Qual o nome do seu avô? "
" Charles Parker. "
~❤~
Não, não podia ser. É claro que não.
Deveriam haver centenas de Charles Parker nessa cidade. Nova York é enorme, cabe muito bem mais de um Charles.
- ... ele trabalha muito, vive cansado. Gosta de conversar com a gente, quando está em casa -dizia Emma.
Deixei ela falar.
- Pra falar a verdade, eu tenho dó dele. É muito sozinho, não tem parentes. Bom, quer dizer - ela deu de ombros e eu senti meu coração acelerar. - Tem um neto. Mas é um rapaz desnaturado, mora no Brasil, e só dá desgosto ao avô. Nunca mais veio vê-lo...
Não, não, não...
" Fica calma e se controla, Amber."
- Seu Charles reclama tanto. Ele quer que o neto volte e o ajude com os negócios, mas parece que o cara é, sei lá... revoltado.
Minhas pernas tremiam e eu não conseguia conter.
- Emma- falei, engolindo em seco.
- Sim?
- Qual... - Senti as palavras fugirem da minha boca e respirei fundo. - Qual é... o nome do neto do seu patrão?
- Ah, é Steve - respondeu ela tranquilamente, sem saber a desordem que aquela resposta causou dentro de mim.
▫▫▫
Olááá! Surpresos ou não? 😊
Ainda tem muita coisa que Amber não sabe, mas em breve irá descobrir. Apenas aguardem...
Agora, gente. Eu tô muito chateada com esses bugs do Wattpad. Ele não está contabilizando direito as leituras. 😒
Mas, o que se há de fazer, não é? Espero que isso se normalize logo.
Enfim... Até o próximo capítulo e beijos de luz.❤😘
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