02 Nova York, Nova Vida
Lá estava eu, finalmente.
Depois de dez horas de vôo, lá estava eu pisando finalmente em solo americano.
Ah! Que sensação boa é quando você espera ansiosamente por algo e esse algo finalmente acontece.
Principalmente quando se passa por um período conturbado, como eu havia passado.
Estar em Nova York era a realização de um sonho. Um sonho plantado no meu coração pelo meu pai desde o dia em que ele me ligou, propondo que para lá eu fosse, morar com ele e fazer intercâmbio.
Kate, minha companheira de viagem, desembarcou junto comigo, tagarelando como nunca, exatamente como fizera durante quase todo o vôo. O que foi até bom para mim, porque me distraí, conhecendo ela e sua história.
Kate era uma brasileira naturalizada americana, de vinte e quatro anos, que havia ido ao Brasil visitar alguns parentes. Tinha diploma de Administração e pretendia se candidatar à vaga de assistente de gerência numa conceituada empresa de Nova York, segundo ela mesma.
- Ah, aqui estamos. A Big Apple (1)! - Ela exclamou, abrindo os braços.
Depois se virou para mim:
- Welcome (2), Amber.
Eu sorri para ela.
Inspirei profundamente, assim que pisei em terra firme.
Uma chuvinha fina e mansa caía, fazendo Nova York, a grande maçã, parecer fria e cinza. Mesmo assim, parecia bela para mim.
Independente do que havia acontecido antes, eu estava disposta a tentar me manter num estado de espírito contente. O máximo possível.
Meu pai e sua família já estavam por lá para me receber e não foi difícil avistá-los em meio ao mar de gente.
- Amber! - Ouvi ele gritar e acenar.
Acenei de volta, e me voltei para Kate.
- Foi um prazer conhecer você, Kate.
- O prazer foi todo meu, querida. - Ela me abraçou. - E acredite, Nova York é enorme, mas a gente ainda vai se encontrar por aí!
Sorri de novo.
- Assim espero.
- Pode esperar. Agora, deixa eu ir. Vou pegar um táxi.
- Tchau, Kate. Até mais! - Eu disse, já apertando o passo para ir de encontro ao meu pai, puxando minha mala com uma das mãos.
Foi um verdadeiro consolo sentir o abraço do meu pai. Ele me apertou fortemente em seus braços, e eu fiquei ali, presa em seu abraço, percebendo realmente o quanto estava com saudades.
- Filha, como você está linda! Está tão grande! Meu Deus! - Ele exclamou, usando a língua natural do país, talvez por força do costume, o que no entanto era ótimo para mim.
Sorri, me desprendendo de leve, enquanto respondia:
- Obrigada, pai.
Ele segurou meu rosto, dando-me um beijo na testa.
- Como é? Mal chegou e já está falando em inglês? - Perguntou, divertido.
Dei de ombros.
- Eu faço inglês há três anos no CCAA, né pai...
- Isso é muito bom, muito bom. Não concorda, amor? - Ele disse, se virando para Fernanda, sua esposa, que tinha se mantido um pouco afastada, enquanto eu e meu pai nos abraçávamos.
- Isso é ótimo. - Ela concordou. - Seja bem vinda, Amber.
Ela me deu um aperto de mão caloroso e depois acabou me abraçando.
Eu tinha que admitir. Eles formavam um belo casal.
Meu pai, com aquele porte de executivo bem sucedido, todo arrumado e de ar confiante; e ela, Fernanda, muito bonita e simpática, tinha um ar de aristocracia, porém com uma gentileza notável em seus modos.
- E aí. - Fiz um toque de mão com Enzo, o filho de Fernanda, que até então estava bem contido.
- E aí, Amber - ele disse, já abrindo um sorriso.
Tinha onze anos e se parecia muito com a mãe, puxando dela principalmente o preto dos cabelos e o sorriso bondoso.
Depois de todos os procedimentos necessários pós vôo e de colocarmos minhas malas no bagageiro do carro do meu pai, seguimos até a casa dele, em Manhattan.
Sim, meu pai morava no melhor bairro da cidade.
~❤~
Enquanto o carro deslizava pelas ruas escorregadias de Nova York devido à chuva, eu olhava através do vidro, com os mais diversos tipos de pensamentos rodeando a minha cabeça.
Eu estava contente por estar ali. Era um lugar totalmente diferente, com pessoas diferentes, ainda que já conhecidas. Bom, pelo menos três delas.
Mas apesar disso, vez ou outra, um certo aperto no peito me fazia estremecer, lembrando -me de tudo o que havia acontecido nos últimos dias antes de eu ir parar ali.
~❤~
- Filha, você tá com fome? A Fernanda preparou um almoço especial hoje, só pra receber você - disse meu pai, entrando no meu quarto, depois de eu já ter me instalado ali e me entregando a minha mala de mão.
Eu estava sentada na cama, olhando pela janela e observando a rua bonita e arborizada, com os prédios de condomínios lindos de Manhattan.
Me virei para olhá-lo.
- Ahn... Não estou com muita fome, mas não vou fazer desfeita do almoço da Fernanda - falei.
- Que bom, ela quase não cozinha, mas como está de férias da faculdade. - Meu pai deu de ombros.
- Certo, eu vou comer então - eu disse, me levantando e abrindo um sorriso amarelo para ele.
Meu pai me fitou por uns segundos e então suspirou, me abraçando de lado, e andando comigo até bem perto da janela.
- Está tudo bem? Você está feliz de ter vindo pra cá?
- Sim, eu tô...
- Então por que eu tenho a impressão de que algo está incomodando a minha menina? - Ele me fitou e estando mais perto, notou algo.
- O que é isso? - disse, passando o dedo pela cicatriz na minha têmpora, que era agora, três meses depois, apenas um risquinho já esbranquiçado.
- Foi... eu bati em algo, já nem me lembro...
Sim, mais uma vez eu escolhi omitir.
Pra quê dizer que aquela cicatriz foi causada por uma pedra na tarde mais feliz da minha vida, que hoje era apenas uma lembrança de algo bom que não se repetiria mais?
- Hum... - Fez meu pai, acariciando meus cabelos.
- Está tudo bem mesmo, Amber? - Ele insistiu.
Suspirei profundamente, para arrancar uma meia verdade do fundo da garganta:
- Está.
Ele me deu um beijo na testa e saiu do quarto, pedindo que eu descesse quando estivesse pronta.
Olhei mais uma vez pela janela do meu quarto.
Eu estava em Nova York.
O que estaria me aguardando nesse período de um ano em que eu ficaria ali?
Quais surpresas a vida poderia estar me reservando?
Será que eu continuaria ali depois de um ano de intercâmbio ou voltaria para o Brasil?
Muitas perguntas, nenhuma resposta.
Mas eu estava disposta.
Disposta a viver. Uma nova vida. Em Nova York.
(1): Grande maçã.
(2):Bem vinda.
▫▫▫
Próximo capítulo tem personagem novo e Amber começará a descobrir algumas coisas. O que será?
Aguardem...
Até o próximo capítulo.
Beijos de luz❣
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro