Capítulo 15
Capítulo 15
Quando chegamos à frente do consultório, um prédio de tijolos vermelhos, com flores nos canteiros e janelas vitorianas. Tive a certeza que o Ian Stevenson era realmente caro. A julgar pela aparência impecável dos detalhes, eu tinha uma forte sensação do que o dinheiro que eu tinha guardado para comprar meu apartamento seria todo aplicado ali. Não permitiria que Nathan pagasse, mesmo que ele tivesse que arrancar minhas tripas.
Eu me sentia nervosa. Não sabia como lidar com o fato que mais alguém saberia do meu passado, era assustador. E se Nathan desistisse de namorar uma mulher tão problemática quanto eu? Se ele percebesse que era um erro gastar seu tempo com uma mulher que não estaria à altura dele? Nathan era o tipo do homem que poderia ter qualquer mulher aos seus pés, mas não, ele me escolheu pouco algum motivo que eu desconhecia, e preferia não conhecer. Charmoso, elegante, sedutor e atencioso. Mas eu sabia que tinha algo mais nele. Algo que era mais pesado, ou pelo menos pior que o meu passado. A postura firme, e quase impetuosa, era admirável. Apesar dos meus medos, Nathan parecia ser a resposta para todos os meus problemas.
Meu corpo sentia isso.
Minha mente queria.
Meu coração já era dele.
— Será que eu poderia saber o que você está pensando? — sorriu, me tirando do transe momentâneo — eu posso escutar as engrenagens da sua cabeça funcionando.
— Só estou com medo... — fui a mais sincera possível. Meu medo de perdê-lo estava me consumindo, e nós ainda nem éramos um casal com bagagens sentimentais.
— Tudo vai ficar bem, meu doce — sua voz transmitiu serenidade, assim como seus lindos olhos azuis celestes, profundos e marcantes — eu vou estar com você o tempo todo, se assim desejar — eu apenas assenti, pois se era para ele desistir, que fosse agora. Assim meu coração teria menos danos, apesar das cicatrizes nunca pudessem chegar a curarem com o tempo.
Quando passamos pela porta de madeira escura bem trabalhada, com detalhes celtas, a ficha caiu. Eu realmente estava indo no caminho que eu sempre quis, mas nunca tive forças para seguir na direção certa. Eu vi. E percebi que ele queria estar ali do meu lado, mesmo sabendo de uma parte da minha vida, ele queria ficar. Isso me assustava. Uma ruiva, assim como eu, estava na recepção e lançou um largo sorriso para Nathan, que apenas acenou com a cabeça, sem devolver o sorriso. Por um instante, eu senti pena dela, mas logo passou quando ela me olhou de cima a baixo, arqueando a sobrancelha. Ela definitivamente não gostava de mim.
O consultório era arrojado e moderno, com cadeiras acolchoadas na com vinho, e paredes brancas com alguns quadros com figuras abstratas. Cortinas cinza, e alguns jarros com flores da época. A moça ruiva que estava na recepção avisou ao telefone que Nathan havia chegado. Ele parecia tão calmo, e eu me sentir tão fora de orbita. Muito nervosa. A porta de uma sala ao lado da recepção se abriu. Doutor Ian não era bem o que eu esperava. Ian Stevenson aparentemente era novo demais para ser um dos psiquiatras mais renomados de Nova York. Um metro e oitenta no máximo, ele tinha ombros largos, e uma postura firme. Um corpo largo e musculoso por cima da roupa formal, como alguém que já havia passado pelo exército. Cabelos castanhos, curtos e arrumados, o óculos fazia toda a diferença em seu rosto quadrado e seus olhos profundamente castanhos amarelados. Ninguém nesse mundo poderia ter a cor daqueles olhos. Quase parecidos com os olhos do guardião do portal de Asgard. Lindos, mas não eram os do meu Nathan. Nos olhos de Nathan eu me perdia completamente. E eu queria me perder por completo, e nunca mais voltar à realidade.
— Você deve ser a Lizzie do Nathan — falou me estendendo a mão para que eu a apertasse, mas eu me afastei. Não era a mão dele que eu queria tocando minha pele. Não era para apertar a mão de outro homem que eu estava ali. Nathan. Apenas Nathan, eu ainda admitia que tocasse em mim, mesmo que por alguns segundos — vamos, entre — olhou para Nathan quando ele e seguiu — senhor Fox — começou — acho que o senhor deve permanecer aqui. Preciso que Lizzie se sinta à vontade...
— Eu não entro em lugar algum, se ele não estiver — olhei para Ian severamente, para que ele percebesse que as coisas iam andar do meu jeito, e não do jeito do cara que era psiquiatra. Ian me avaliou por alguns segundos, mas não questionou minha vontade. E ai dele se tivesse questionado, apenas olhado feio para mim.
— Não estava nos meus planos deixá-la entrar ai, sem mim — Nathan lhe deu o melhor sorriso "Eu estou pagando, e os termos são meus". Ian balançou a cabeça e riu como se fosse uma piada particular entre eles. E isso não me deixou muito a vontade, mas entrei mesmo assim. A sala de Ian não era muito diferente do resto do seu consultório. A única diferença era que tinha estantes com livros, e um divã cor de vinho com duas almofadas na mesma cor. Sua mesa ficava ao lado sul da sala, junto à estante, assim o divã ficava ao lado norte, e ao lado uma poltrona de couro marrom.
— Vamos logo com isso — eu disse impaciente, me sentando. A última coisa que ele iria pensar era que eu realmente não batia bem da cabeça.
— Calma — sorriu, mostrando seus dentes brancos, e um pouco tortos na frente. Mas isso não diminuía sua beleza. Ian foi até a sua mesa, e ofereceu a outra cadeira para que Nathan sentasse ao meu lado — estamos aqui para nos conhecer primeiro...
— Não — e o repreendi — não estamos aqui para nos conhecermos melhor — fechei a cara — eu — enfatizei — estou aqui para que você possa me ajudar.
— Mas ajudar em quê? — perguntou entrelaçando os dedos das mãos sobre a mesa de madeira escura.
— Eu tenho medo de ser tocada... — falei quase sem voz, me encolhendo na cadeira.
— Afefobia — murmurou mais para si, do que para mim e Nathan — perdão — falou voltando a prestar atenção. Eu nunca pensei em pesquisar, ou até mesmo tentar buscar algum tipo de ajuda durante os longos dez anos de sofrimento que passei, e agora seria a oportunidade perfeita para isso.
— Explique — falou Nathan cruzando suas longas pernas e abrindo o botão do terno. Olhei para ele, mas ele estava muito concentrado em prestar atenção em cada palavra que Ian falasse.
— É a fobia, ou melhor, o medo de ser tocado — Ian começou a explicar assumindo uma postura profissional — normalmente — ele olhou para mim — incomum e perigosa para quem a possui. A pessoa não nasce com essa fobia, ela tem que passar por um trauma ou uma situação vivida ou refletida — eu prestava atenção, assim como Nathan. Ainda mais que ele. Era a minha vida que estava ali prestes a ser exposta — normalmente ela é causada por algo perigoso, doloroso ou assustador, ou algumas vezes por pressão psicológica, no todo, seria algo que faz-nos mudar o comportamento.
Pude ouvir as mãos de Nathan se apertarem sobre o braço da cadeira, até que o sangue sumisse, e sua pele assumisse um tom pálido. Ele tinha uma linha rígida no seu maxilar, mostrando claramente que estava irritado, ou melhor, furioso. Ian o olhou curioso, mas não fez qualquer pergunta, e continuou a explicar.
— Lizzie — Ian falou — você consegue tocar outras pessoas, ou isso realmente a incomoda a ponto de não suportar. Em qual fase você está?
— Fase? — perguntou Nathan.
— Sim, em qual fase — Ian o olhou irritado. Nathan havia se deslocado para outro mundo, e tinha perdido boa parte da explicação — irei explicar novamente — ele suspirou profundamente — a fobia é dividida em três fases. A primeira a pessoa sente-se ameaçada por estranhos que venham a tocá-la. A segunda a pessoa portadora da fobia, tende a não confiar não só em estranhos nessa fase, mas também a não confiar em pessoas que não sejam intimas, e isso geralmente acontece depois de um trauma maior, ou pressão, como dificuldades na família, no trabalho ou na escola.
— E a terceira? — eu ouvi Nathan se remexeu desconfortável na cadeira.
— A terceira — Ian se recostou na cadeira, e apoiou os braços na cadeira — é uma fase mais crítica da fobia. A pessoa se afasta de todos, família e amigos. Ela desenvolve um medo obsessivo de todos os modos de afeto, não deixando mais ser tocada por ninguém.
— Então Lizzie, em qual fase você acha que está? — perguntou Ian, mantendo a mesma postura — alguém já tocou você, depois do seu trauma, e o que você sentiu?
— Não — estremeci com a resposta já que o meu amigo Matt tinha me beijado a força. Minha voz estava tremendo junto com o meu corpo. Veio em minha mente o jeito que Matt tinha me pego de surpresa, e me beijado a força — eu não suporto o toque de homens, e apenas a lembrança, me faz querer vomitar... o medo... pânico... um desconforto descomunal, tudo isso é mais um pouco.
— Alguma outra pessoa lhe causou esse tipo de repousa? — continuou Ian — alguém mais tocou você? — olhei de lado, e percebi os olhos de Nathan sobre mim.
— Sim — respondi menos nervosa — mas Nathan foi o único que não me fez perder a noção das coisas, se é assim que eu posso colocar as coisas — esbocei um sorriso, ele me deu um lindo sorriso no canto de sua boca perfeita.
— O que você sentiu, quando ele o tocou?
— Ah! Quase nada Doutor, foram só alguns desmaios, medo da sensação boa ser esmagada pela sensação de desespero, e calafrios, mas fora isso, está tudo certo... — respondi com sarcasmo.
— Então ela consegue tolera o toque dele — ele resmungou para si novamente.
— Ora — disse Nathan sem paciência — passe para parte onde achamos um tratamento para isso, Ian.
— Certo — Ian soltou ácido — podemos trabalhar com a exposição gradual, onde seria a lenta aproximação com a sensação do toque com um apertar de mão, ou talvez ficar em meio a pessoas em quem confie, ou até mesmo e ir gradativamente alimentando essa aproximação, abraçar alguém, dar a mão...
Nathan olhou para mim, ao certo se lembrando do meu esforço para passar algum tempo segurando sua mão, ou beijando aquela boca maravilhosa.
— Mas preciso saber, se a sua fobia está ligada apenas ao toque ao tem algo mais... — Ian não ia me deixar sair dali, sem que nada estivesse bem explicado — bom pelo que vejo, não é bacteriófago — ele fez uma pausa, e então continuou — você tem alguma repousa quando se imagina em algum ato sexual?
— Oi? — meu queixo, junto com a minha vergonha, caíram no chão. Eu não queria falar que eu ficava mais molhada que gelo sendo derretido pelo fogo, quando Nathan ficava se masturbando sentado em uma cadeira, no meu quarto de frente para mim, com a cara ais safada que um homem pode ter. Isso se existisse alguém mais safado que ele, ou mais pervertido.
— Você sente o desejo de se dar prazer, ou dar prazer alguém, mesmo que não possa tocá-lo? — ele olhou de relance para Nathan. Ian estava na mesma linha profissional, mas poderia jurar que era aquela maldita piada particular deles, sendo travada bem no meio de uma sessão de psicanálise.
— Acho que ela não precisa responder essa, eu respondo por ela — Nathan arqueou uma de suas sobrancelhas grossas e bem desenhas — estamos trabalhando nisso agora. Isso responde a sua pergunta?
— Certamente — Ian assentiu não se importando como Nathan o olhava — vamos focar no afeto então. Poderia ser o mais difícil de lidar, é quando se tem medo de qualquer toque, mas pelo que vejo... Vocês estão indo muito bem, porém, indico, além do tratamento de exposição gradual, a hipnose. Um pouco de controle respiratório e com o enfoque cognitivo...
— Enfoque cognitivo? — perguntei.
— Sim, isso pode ajudar o seu consciente e subconsciente que a situação do toque não apresenta perigo — era tudo que eu mais queria. Pode tocar meu Nathan sem medo, e com total desprendimento.
— Ela sabe que eu não sou o perigo na vida dela — Nathan me olhou com uma doçura, mas ao mesmo tempo com um fogo em seus olhos. Ele era sim, um perigo para mim. Um perigo para mim vida, mas ainda assim, eu o queria.
— Alguns dizem que o amor pode curar esta fobia — disse Ian surpreendendo Nathan, e a mim também — a pessoa ama a outra a ponto de deixar que está a toque... — eu o amava? Sim. O amava a ponto de permitir que ele me tocasse. Mas não precisava dizer isso a ele, ele sabia. Ele sentia todo o esforço que eu fazia para dar certo. Para que finalmente ficarmos juntos. O telefone de Ian tocou. Já havia terminado a nossa consulta, e era à hora de ir.
Ao sairmos, Gretha já estava a aposto. Eu não conseguia entender como ele aceitava que sua irmã fosse sua motorista, mas já era tarde, quase na hora do almoço e eu tinha que dar sinal de vida para Tati e Elijah, ainda pensei que eu poderia ligar para Matt e acertar as pontas com ele. E uma coisa que eu não engolia, era o fato dele estar com Zoey, e mesmo com todos os problemas, ele deveria ter me dado uma explicação sobre o fato de estar trabalhando com aquela vaca. Pegando meu celular na bolsa, cinco mensagens de Tati fizeram meu coração apertar. Eu havia negligenciado a minha amiga, e isso eu não poderia fazer novamente.
"O que deu em você? Liz, porque você saiu correndo da loja?"
"Liz, eu estou preocupada com você. Atenda o celular, ou apenas me envie uma mensagem:'("
"Por favor, Liz! Por favorzinho! Me dê notícias! Estou quase abrindo um buraco no chão da minha casa, andando de um lado para o outro, preocupada com você"
"Você não vem trabalhar?"
"Vamos almoçar. Preciso falar com você. Liz, eu ainda estou preocupada com você"
Eu iria explicar a Tati. Ela com certeza era uma pessoa de confiança. Eu sentia isso.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro