Chloe

Hoje é o grande dia do jogo. A escola toda estava tensa, os jogadores principalmente. As meninas estavam nervosas com a apresentação, e eu? Eu estava uma pilha de nervos. Além de Adrian estar jogando, eu estaria torcendo, e nervosa por ele. Sei que aquilo é importante para ele, e que não pode decepcionar. Na verdade, não pode perder.

Ontem, quando chegamos na escola de mãos dadas, chamamos a atenção. Mais ainda quando Adrian me beijou na frente de todo mundo. Não posso negar que estava adorando aquilo. Ele era bom pra mim, e eu sabia, de alguma forma, que era recíproco. Eu não poderia estar mais feliz, e animada com a reviravolta que a minha vida deu apenas nesse semestre. Não podia acreditar que apenas nesse tempo, tudo isso aconteceu. Adrian aconteceu.

As meninas já tinham treinado hoje mais cedo, então fomos liberadas, mas os jogadores continuaram no ginásio tendo o último treinamento antes da hora do jogo.
Eu só veria ele na hora que entrássemos na quadra, e eu não poderia estar mais ansiosa. Eu não sabia muito bem como era a relação dele com o pai, mas sei que não é das melhores. Ele cobrava muito de Adrian pelo que eu sabia, e tinha plena noção que hoje era um dia muito importante na sua vida.

Eu estava no vestiário feminino com as meninas e estávamos nos arrumando, com os uniformes de líderes de torcida que eram uma saia curta, com um pequeno corte em V ao contrário na ponta esquerda, na cor azul escuro e branco. A blusa era da mesma cor, só que com o tigre, nosso mascote, no meio, brilhante. Não era de todo feio, mas não me sentia confortável com aquela roupa, e me sentia diferente, depois da noite com Adrian.

Ele foi realmente incrível, e senti uma pontada de dor, mas ele de alguma maneira fez tudo parecer menos doloroso, e mais prazeroso. Incrível. E ele também me fez querer mais. Não sabia se isso era bom ou ruim, mas torcia para que fosse bom.

Adrian era lindo até demais, para o próprio bem. Com os cabelos castanho claro, ele marcava presença onde passava. Os olhos ainda mais, de um castanho claro incrível. Seus ombros largos, e postura ereta traziam um ar de poder a ele. Mas sentia que essa postura era mais uma forma de defesa. Adrian as vezes poderia ficar na defensiva, como percebi nas poucas vezes que nos vimos.

- Pronta? - Nicola para ao meu lado, me tirando dos meus pensamentos.

- Oh, sim, estou, e você? - ela estava perfeitamente vestida como todas as meninas. Os cabelos ruivos de Nicola estavam amarrados em um rabo de cavalo alto, e com um laço azul e branco envolvendo onde amarra.

- Prontíssima, porém nervosa.

- Eu também estou, mas vai dar tudo certo. Os meninos estão trabalhando duro para levarmos o jogo da temporada.

- Sim, mas a escola rival também é muito boa.

- Os Rover podem até ser bons, mas nós vamos levar a melhor torcida motivadora de time, o que vai acabar gerando um bom jogo para a Wood.

- Vamos logo para o ginásio porque você não está falando nada com nada, mais.

Rio, e sou puxada pela mão por Nicola. Zoe está à nossa espera na porta do vestiário.

- Uau, Chloe, você está linda. Nunca pensei que te veria com um uniforme desses.

- Pois é, nem eu. - Digo.

- Meninas, chegou a hora. Vamos? - Madson diz com ar de superioridade e me olha de cima a baixo por um momento. Ela não demonstrou ter gostado de me ver com Adrian na escola, mas eu não me importava com ela, a não ser que me desrespeitasse. Aí seria outra coisa.

- Sim. - respondeu Zoe animada mais que o normal.

***

Entramos no ginásio, e a torcida gritou o nome do nosso time. Aquela adrenalina realmente era muito boa, mas nada tirava meu nervosismo e coração à mil. As meninas seguraram seus pompons, e começaram a se preparar para a entrada dos meninos.

- Chloe, vai dar tudo certo. - Zoe percebeu a expressão no meu rosto, mas ela não entendia que aquilo era por causa de Adrian, e não por mim.

- Sim, vai dar tudo certo. - confirmo mais para mim mesma.

Olhei para a torcida, e estava lotado, todos os alunos do colégio Rover de um lado, e o nosso do outro. Nosso lado da torcida era o esquerdo da quadra, e o dos Rover, o direito. Peguei meus pompons, e comecei a aquecer com as meninas no canto, perto do banco. Observei as pessoas à minha frente, e passei os olhos pelas dezenas de rostos, alguns conhecidos, e outros não. Até que meus olhos captaram um rosto familiar. Um homem elegante em um terno conversava com outro homem também vestido formalmente. O primeiro tinha os cabelos castanhos curtos, e traços sérios, que me lembravam Adrian.

Adrian.

Só poderia ser seu pai. A torcida se fez agitada de repente, e os dois lados da torcida gritaram o nome de suas escolas. Continuei com os olhos no homem que encarava agora a quadra atrás de mim.

- Chloe! - Ouço a voz de Zoe me chamar e pisco, desviando o olhar do homem à minha frente, olhando para uma Zoe agitada.

Nós nos preparamos com nossos pompons, e assim que olho para os garotos sentados no banco à minha direita, foco meu olhar em Adrian, que parece mais sério que o normal, encarando o chão. Ele está alheio a tudo a sua volta, e concentrado em pensamentos.

Caminhamos até o centro da quadra, e começamos a apresentação. Gritamos nosso bordão, sacudimos os pompons, e fazemos os passos coordenados. Assim que saímos da quadra, as líderes de torcida da Rover se apresenta.

Pego uma garrafa de água, e tomo um gole. Assim que pouso a garrafa novamente na mesa, olho para Adrian, que dessa vez tem os olhos fixos em mim. Sinto que agora ele precisa do meu apoio, então ando até ele. Quando chego perto de onde está, ele se levanta, e fica parado na minha frente, sem fazer nada, apenas me encarando com o cenho levemente franzido.

- Boa sorte. Você é incrível, Adrian. Sei que você vai se sair muito bem. Sei que você está aqui sob pressão, mas não pense nisso, ok? Apenas dê o seu melhor.

Ele abre o sorriso mais lindo que já vi, e põe a mão no meu rosto por alguns segundos, e depois tira tão rápido quanto colocou.

- Obrigado. Você aqui faz toda a diferença, saiba disso. E eu... Não posso te abraçar, nem beijar agora, porque...

- Seu pai. Tudo bem. Eu entendo. Mas só aceitarei isso com uma condição.

- Condição? Qual? - pergunta levemente confuso.

- No final, quando a gente ganhar, eu vou precisar te abraçar, e você sabe que eu vou fazer isso.

Ele sorri novamente.

- Não planejava não fazer isso, de qualquer maneira.

Sou tomada por algo tão forte, que sinto que preciso dizer o que me vem na cabeça e no coração nesse momento, antes que seja tarde demais.

Me aproximo mais dele, e ele logo fica tenso pela aproximação. Aproximo meu rosto de seu ouvido.

- Eu amo você. - Digo simplesmente.

Ele fica mais tenso do que eu pensei que poderia ficar. Ele se afasta para poder me olhar nos olhos, e com a boca levemente aberta, e os olhos um pouco arregalados, ele segura meus ombros delicadamente.

- Você... acabou de dizer que me ama? - sussurra.

- Sim. Eu amo você.

- Chloe, Deus... - Ele fica agitado de repente, e se aproxima do meu rosto, como se fosse me beijar, e eu me afasto.

- Adrian, não podemos agora.

- Eu amo você. - Diz ele simplesmente.

As palavras saindo da sua boca são totalmente perfeitas, e é tudo o que preciso ouvir para acalmar o meu coração nesse momento.

- Faça uma coisa. Jogue por mim. Eu não sei se vai te ajudar, mas não jogue para o seu pai. Jogue pela escola, por nós, qualquer pessoa, para você. Menos para ele. Ele não está aqui nesse momento. Apenas nós. Nada mais. Não se preocupe, ok?

- Sim. Eu vou fazer isso. Vou jogar por você. - Seus olhos estão tão brilhantes, que sorrio levemente.

- Boa sorte, Adrian.

- Obrigado. - Ele fica parado sem saber o que fazer, já que não podemos nos abraçar agora, então dou um passo para trás, e me afasto do banco dos jogadores.

O técnico anuncia que o jogo vai começar, e toda a torcida grita. Me sento ao lado das meninas no banco, e olho para os dois times no meio da quadra se preparando. Os jogadores da Wood ficam do lado esquerdo e a Rover, direito. Eles se posicionam em seus lugares, e o árbitro segura a bola no meio da quadra, e fica alguns segundos nessa posição, até que joga a bola para cima, iniciando o jogo. Adrian pega a bola primeiro, e passa para outro jogador do time. Ele me explicou por alto ontem, quem são seus amigos. Reconheço Jonas, o pivô, Oliver lateral, e o Breaker, armador. Eu não sei qual a função de cada um, mas foi o que Adrian me disse.

Nesse momento, Oliver está com a bola, e dribla até jogá-la para outro jogador do time. O jogador corre em direção à cesta, e joga, marcando ponto. A torcida inteira da Wood grita, e nós também. Os nossos jogadores comemoram entre si, e olho o placar. Foi uma cesta de 2 pontos.

Wood 2 X Rover 0

O jogo continua, e Adrian está totalmente focado, e suado. Seus cabelos castanhos claros caem pela testa, molhados, e sua expressão concentrada.

O jogo se passa lentamente, e marcamos mais pontos.

Wood 4 X Rover 6

Nervosismo me preenche, e a todos. As meninas do meu lado seguram seus pompons com força, e eu não estou diferente. O jogo está chegando ao final, e com os Rover na frente.

Mais 5 minutos de jogo.

O jogo continua, e nada de mudar o placar.

Vejo no relógio, e já se passaram 4 minutos, e nada de dobrarmos o placar. Levanto do banco, sem condição de continuar sentada. O nervosismo me toma, e olho novamente para o relógio.

54 segundos é o que falta.

Mordo o lábio inferior, e vejo no mesmo momento Adrian com a bola na ponta esquerda da quadra. Ele corre de onde está, desviando de quem o marca, e dribla a bola perfeitamente, sem passar para nenhum jogador do time.

30 segundos.

Ele passa pela linha do meio da quadra, e quase perde a bola, mas ele consegue desviar.

15 segundos.

Adrian chega na linha de 3 pontos, e pula.

Tensão.

5 segundos.

A bola sai de sua mão, e rapidamente enterra na cesta.

1 segundo.

Wood 7 X Rover 6

Ganhamos.

A torcida berra o nome da Wood, e Adrian é cercado pelos jogadores do time, e eles gritam entre si.

Eu fico parada, em choque e felicidade. Os olhos de Adrian procuram os meus, e ele me encontra. Abro um sorriso enorme, e corro na sua direção. Ele se solta dos outros jogadores, e sorri, abrindo os braços em expectativa. Pulo em seu colo, entrelaçando minhas pernas em sua cintura, e o abraço o mais forte que consigo.

- Você conseguiu, você conseguiu! Eu sabia! - digo em seu ouvido.

- Conseguimos. - Ele me aperta mais em seu corpo, e tiro o rosto de seu pescoço, e olho em seus olhos.

- Você foi incrível. - e o beijo.

Adrian me segura com tanta força, como se não quisesse me soltar, que quase perco o fôlego.

Quase.

Pois quando escuto a voz grave atrás de mim, eu perco o ar totalmente.