v i n t e e s e i s
Adrian
Já faz um tempo que tenho percebido meu pai estranho. Ele conversa comigo no café da manhã, mesmo sendo uma conversa curta, ele pergunta algumas coisas da escola. Ele não cita sobre o meu relacionamento com a Chloe, mas sinto que ele está diferente. O seu interesse na minha carreira ainda é nítida, mas parece que alguma coisa extraordinária aconteceu com ele pra não apenas me punir dos meus erros nos treinos, ou porque faltei algum dia, mas para se interessar como está indo, ou se está tudo bem comigo no colégio. Realmente muito estanho.
Algumas semanas se passaram desde que Chloe e eu nos entendemos novamente, e tudo voltou ao normal. Ela também mudou depois do que aconteceu, como não ceder tão fácil as minhas investidas em provoca-la, mesmo eu tentando arduamente. O problema, é que qualquer mudança nela, eu vejo como amadurecimento. Depois que eu conheci ela, percebi que muitas coisas em mim mudaram também em relação a muitas coisas. Agora só foi ela aparecer na minha vida que até meu pai mudou. Se eu soubesse que até o velho ia ficar menos insuportável, teria me apaixonado por ela a muito tempo.
Dou uma mordida na maçã, enquanto olho para qualquer ponto na mesa, quando meu pai se senta na minha frente.
— Bom dia, Adrian. — cumprimenta.
Paro de mastigar e olho para sua expressão relaxada enquanto pega um croasaint.
— Bom dia...— Digo cauteloso. Ainda não acredito na ideia do meu pai me desejando bom dia, até porque até algumas semanas, essa expressão nem fazia parte do seu vocabulário comigo.
— Preciso conversar com você. Um assunto sério, na verdade.
— Que seria...?
— Vou dar um jantar aqui em casa e preciso que você se porte bem porque alguns amigos empresários vão vir também.
— E qual o motivo disso?
Ele respira fundo, e olha nos meus olhos, depois de tomar um gole da sua xícara de café.
— Para apresentar a minha namorada.
Arregalo os olhos. Meu pai nunca mais se relacionou com nenhuma mulher depois da morte da minha mãe há 5 anos. Nunca o vi sair com ninguém, e sempre com a cara fechada, sem nenhuma emoção.
Dessa vez, arqueio uma sobrancelha. Agora toda essa mudança repentina dele faz sentido. Essa mulher mexeu com ele.
Talvez fosse o que ele estava precisando, uma pessoa na sua vida. Não o culpo, e nem tenho recentemente por ele estar com outra pessoa. Ninguém nunca vai ocupar o lugar da minha mãe, e sei que meu pai está ciente disso.
— Qual o nome da sortuda? — brinco, dando um sorriso de lado, e logo dando outra mordida na maçã.
— Não comece, Adrian. O nome dela é Julia Stanfield, e espero que você seja educado com ela, sem esses joguinhos que você faz.
— Tudo bem, não faço. E ela tem filhos?
— Sim, dois garotos, Nicholas, da sua idade e Thomáz,21.
— E eles vão vir também?
— Sim.
— E por acaso esse Nicholas estuda na Wood?
— Vai ser transferido para lá assim que acabare o período de provas na escola atual dele, em Spielberg.
Spielberg ficava do outro lado da cidade, há uma hora mais ou menos de Woodland, então provavelmente nunca vi a cara dos dois, mesmo tendo ido para algumas festas com os caras, pra lá.
— Hm, e eu vou ter que dar uma de irmão, ou posso fica na minha?
— Quero que você apenas faça o seu papel e os receba como parte da família. A partir de hoje, vocês são irmãos, de qualquer forma.
Congelo.
— Eles vão morar aqui?
— É o que estamos planejando.
Solto um som curto de espanto.
— E vocês estão juntos desde quando?
— Conheci ela em uma das conferências que fiz pra França, e a partir daí, em todas as reuniões de negócios, ou confraternizações que nos encontrávamos, a gente conversava, e fomos criando laços. Oficializamos tudo no mês passado.
— E você só me conta isso agora?
— Adrian, nós nunca tivemos uma relação muito boa...
— Por culpa sua. — o corto.
— Eu sei, filho, mas você não pode me culpar. Com a morte da sua mãe eu me tornei mais focado nos negócios, e isso atingiu você também, de qualquer maneira.
— Não venha colocar a culpa da sua frieza na morte da minha mãe. Antes mesmo de isso acontecer, você já tinha o meu futuro na palma da sua mão, e nem me perguntou se era o que eu queria mesmo fazer, e agora, por sua culpa, não sei o que seguir de carreira a não ser o basquete, que foi a única coisa que aprendi e fui estimulado a amar desde criança! — Disse tudo o que há muito tempo estava entalado na minha garganta, e a expressão do meu pai, por um momento, foi de espanto pelas minhas palavras, mas logo, compreensão.
— Eu entendo tudo o que você está dizendo, pode acreditar, mas eu e sua mãe sempre pensamos no melhor pra você, Adrian. Apenas juntamos o útil ao agradável, até porque eu já tinha a empresa patrocinadora, e você poderia muito bem adquirir o gosto pelo esporte, apenas estimulei isso.
— Apenas estimulou? Você me forçou, me obrigou a fazer coisas além da minha capacidade só pra saciar o seu ego.
— Eu sei que errei, está bem? Errei, mas eu quero te ajudar na sua carreira, sim. Não acha que eu já percebi como você é na quadra? Nunca perdi um jogo seu, então posso afirmar pra você. Eu sei identificar a leveza de um jogador e como ele se sente confortável no seu ambiente. E as quadras são o seu ambiente, Adrian. Eu nunca te disse isso, mas sei que mesmo antes de eu mostrar o outro lado do basquete, você já tinha uma paixão dentro de você, quando você jogava em campeonatos de escola quando tinha 8 anos. Você nasceu pra isso, eu só mostrei que você podia fazer disso uma carreira.
Eu o encarei depois que as palavras jorraram da sua boca. Por um momento, me vi não acreditar no que ele dizia, mas logo alguma peças foram se encaixando. Percebi, então, que talvez eu tenha visto toda a insistência do meu pai em forçar a minha carreira como forma de manipulação, mas nunca como a forma que ele acabara de falar. Que eu nasci pra isso.
Essas palavras ele nunca me disse, e assim que foram ditas, percebi a verdade nelas.
Eu nasci pra isso.
Já não tinha mais dúvidas.
As dúvidas em relação a minha carreira, acabaram de ser apagadas da minha mente.
O gatilho que eu precisava era que meu pai me dissesse que era simplesmente a minha vocação, e não a minha obrigação.
Encarei seu semblante neutro.
— Você tem razão, de qualquer forma. O basquete faz sim, parte da minha vida, e me vejo fazendo isso no futuro, mas não por quê você quer, saiba disso, mas sim por quê eu amo fazer isso.
Ele assentiu.
— Tudo bem, eu concordo. Mas saiba que eu vou te ajudar nisso. É o que eu sempre tentei fazer, Adrian.
Respirei fundo.
— E quando vai ser esse jantar?
— Esse final de semana. Planejei algo bem grande, vou abrir todas as portas de vidro da casa porque vão ser mais ou menos 80 convidados.
— Pra que isso tudo, se você só vai apresentar ela?
— Porque há muito tempo eu não me sinto vivo, Adrian. Desde que a sua mãe morreu, eu me senti vazio. E agora que Julia me mostrou o que é isso novamente, eu quero mostrar isso pro maior número de pessoas possíveis.
Engulo em seco. As palavras dele saíram com uma facilidade que me espantou.
— Tudo bem... E eu posso convidar a minha namorada, certo?
Ele suspirou enquanto abria o pote de geléia, sem olhar pra mim.
— Se vai fazer você se portar direito a noite toda... Que seja.
Fiquei aliviado com isso, pelo menos.
— Então que assim seja.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro