t r i n t a e t r ê s
Chloe
A porta é aberta sem cerimônia alguma, e logo a pessoa passa por ela como um furacão. O pai de Adrian para na nossa frente, e por estar abraçada a Adrian, sinto seu corpo enrijecer de imediato. Ele afasta o corpo do meu lentamente, e dá dois passos na direção do pai, que nesse momento, está praticamente cuspindo fogo, se fosse possível.
— Você enlouqueceu de vez?! - Fred Parker grita para Adrian no mesmo momento que bate a porta para fecha-la, impedindo que os outros convidados ouçam qualquer que seja a discussão que se passa no andar de cima.
Adrian tem o rosto sério, e o maxilar rijo, como se estivesse se controlando para não cometer algo absurdo.
— Com o que? - ele rosna.
— Como assim com o que? Que show ridículo foi aquele lá embaixo? Vários empresários, amigos meus estão lá, e o meu filho simplesmente se demonstra violento com o filho da minha mulher! O que você acha que essa imagem transmite para eles, Adrian? Me diz!
Congelo.
Nos milésimos de segundo que se sucedem ao final do discurso de Fred, a cena de Adrian não controlado partindo para cima do pai se passam na minha cabeça. Aquilo era totalmente contra o que Adrian gostaria de ouvir nesse momento. Pelo simples fato de não ter sido compreendido pelo pai. Novamente.
Sua expressão antes séria se torna impassível. Não sei o que se passa na sua cabeça no momento, mas tenho certeza que não é nada boa.
— Eu não ligo pros seus amigos, eu não ligo pra isso. Se você me conhecesse, você saberia que eu não suporto o fato de você fingir ser o que não é apenas para impressionar os seus amigos. Ficou surpreso por eu ter sido quem eu sou, na frente deles? - sua voz, nesse momento, sobe uma oitava - Porque eu apenas estava fazendo o que eu deveria fazer. O filho da sua mulher estava com a minha namorada. Eu fiz o que tinha que ser feito. Talvez não seja o certo, mas aquele sou eu. E eu não te devo satisfações.
Os olhos de Fred se arregalam em surpresa pelo tom de voz usado por Adrian, e logo vocifera:
— Você perdeu completamente a cabeça. Você deveria ter vergonha disso. E quer saber de uma coisa? Eu estive em todos os seus jogos desde pequeno. Sempre estive presente...
— Só se for de corpo, porque de alma, você estava apenas no meu futuro. - interrompe Adrian.
Fred fecha os olhos em clara irritação, e ignora o comentário do filho e continua.
— Sempre vi seu desempenho, e quer saber de uma coisa? Eu não tenho orgulho da pessoa que você se tornou. Você claramente não aproveitou as oportunidades que eu te dei, e as ignorou. Por isso não é perfeito. Por isso é um péssimo jogador. Quem não quer mais você na minha empresa sou eu. Eu e Julia chegamos em um consenso e decidimos que Nicholas irá assumir daqui à uns anos até terminar os estudos e se dedicar em administração, fazer um estágio na empresa, e tomará os negócios. Parabéns, você conseguiu. Vou apenas terminar de pagar seus estudos até o final do ano, e depois é com você. - Logo que termina o discurso, Fred vira as costas, abre a porta e sai do quarto sem nem ao menos esperar uma resposta, ou alguma reação do filho.
Noto que meus olhos estão marejados apenas quando minha vista embaça. Olho para Adrian que tem uma postura ereta, com o olhar perdido na porta, como se estivesse esperando que algo passasse por ela. Ando até ele lentamente, medindo sua reação. Assim que paro na sua frente, olho para o seu rosto, com uma vontade enorme de tocá-lo, mas ao mesmo tempo não achando que seja o certo no momento.
— Adrian... - minha voz não passa de um sussurro no quarto silencioso.
Sua visão ainda focada na porta atrás de mim. Seu maxilar ainda rijido, e seus dentes maltratados pela força neles. Ele parece fora daqui. Em um lugar muito longe, e o que eu mais quero é que ele saia desse estado de torpor momentâneo e reaja.
— Adrian. - chamo novamente, dessa vez tocando o seu braço.
Sua postura continua a mesma, mas seu olhar passa a focar o meu, mas não responde.
— Ela me disse uma vez para eu não desistir dos meus sonhos. E eu não vou.
Dito isso ele pega na minha mão e nos guia até a porta do quarto, saindo por ela e chegando no corredor. Descemos as escadas e imediatamente o olhar dos convidados pairam sobre nós. Engulo em seco. Adrian parece nem notar a presença de todos eles e seus olhares curiosos sobre nós, apenas nos guia até a porta principal e sai por ela. Não questiono, pois não quero irritá-lo. Então ele tira a chave do carro do bolso e o liga, abrindo a sua porta e entrando.
Assim que entro no carro, ele liga o mesmo e no instante seguinte sai da garagem, indo para a rua. A viagem é silenciosa, e um silêncio desconfortante. Noto pelas ruas que passam, ser a direção da minha casa, e sinto o meu coração murchar no peito. Quando chegamos, ele estaciona o carro na frente da casa e não o desliga, apenas encara o painel, como se estivesse esperando que eu saia sem nem ao menos falar comigo.
— Adrian...
— Preciso ficar sozinho, Chloe.
— Mas...
Ele fecha os olhos com força.
— Por favor. Eu te ligo mais tarde, e se não der, a gente se fala segunda. Eu realmente preciso pensar. E com você eu me distraio. Não pense que estou te afastando, é apenas para eu pensar, e não gosto do que eu me torno quando me sinto pressionado. E não quero que você veja isso.
O encaro e seguro sua mão, que ele não afasta.
— Adrian, eu entendo, não da forma que você se sente agora, mas eu entendo sua raiva porque eu mesma no seu lugar não teria esse controle que você teve. E eu quero que você saiba que o que eu te disse é verdade. Eu estou aqui pra tudo. Tudo.
Ele me encara, e suas íris castanhas brilham na minha direção. Um sorriso genuíno e pequeno aparece em seu rosto e ao mesmo tempo no meu.
— Obrigado.
Aceno para ele e então aproximo o meu rosto do seu.
— Fica bem. - sussurro e dou um beijo na sua bochecha, me afastando em seguida.
Me viro para a porta do carro para sair, porém sua mão no meu braço me impede, e então me volto para ele novamente, confusa.
Sem dizer uma palavra ele gruda os lábios nos meus, e então se intensifica, e sua brutalidade me traz o conforto que eu precisava e o aperto no meu coração não existe mais.
Ele afasta o rosto do meu, e então abre os olhos na minha direção.
— Obrigado, de verdade. Por nunca desistir de mim. Você foi a única além da minha mãe. Obrigado. Eu vou ser grato pra sempre por ter você.
Sorrio para ele, e colo nossas testas, apreciando o momento. Em seguida, me afasto e abro a porta do carro, e saio. Assim que estou na calçada, paro na porta, e pelo vidro, digo sem emitir som um "eu te amo" e então ele fazer o mesmo, e com um sorriso, viro de costas e entro na minha casa.
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