t r i n t a e s e i s
Adrian
Não ouço a movimentação do vestiário. Meus pensamentos estão focados em unicamente uma coisa. Vencer o jogo. A final, a mais importante, a que vai realmente definir tudo. Um aperto no meu ombro faz eu acordar dos meus pensamentos.
— Vamos cara, está na hora. — Breaker faz um movimento de incentivo com a cabeça e logo se vira para sair do vestiário, assim como os outros jogadores.
Assim que passamos pelo corredor, indo em direção à quadra, já consigo ouvir a gritaria das torcidas dos dois colégios. O jogo da noite é entre a Wood High School e a Guilber College.
A Guilber College massacrou a nossa escola nos jogos por dois anos. Esse é o motivo da tensão de todos nós.
Eles são invencíveis.
Até agora.
A preparação do time pelo treinador Reegan foi severa, rígida e determinada. Ainda não identifiquei o que é, mas ele conseguiu nos treinar como profissionais, nos exigindo mais do que qualquer outro treinador já nos exigiu.
O barulho da torcida vai ficando cada vez mais alta conforme nos aproximamos da quadra. Fecho os olhos por alguns instantes para centralizar tudo o que eu preciso focar essa noite. Respiro fundo e penso que dessa vez, o meu pai não está aqui. Não há preocupações em ser avaliado por ele. Em ser aceito por ele.
Ser aprovado por ele.
Não.
Hoje o foco está inteiramente em mim, no meu futuro, e na minha carreira. Esses pensamentos me levam diretamente à ela. Sua presença aqui, hoje, é essencial. Chloe, querendo ou não, é uma das responsáveis por me fazer acreditar que eu posso, sim, fazer do basquete o meu sonho, sem interferências de mais ninguém. E a sua presença, simplesmente, me acalma.
Quando as portas duplas da quadra se abrem, dando a visão e o estrondo de gritos da torcida, a adrenalina se faz presente por todo o meu corpo.
Hoje é a final.
A que vai decidir tudo.
Caminhamos em direção ao banco, e aproveito para passar os olhos pela torcida. Sem conseguir me conter, procuro por ele. Ele não está aqui. Não o vejo, e não poderia ser mais grato por confirmar isso. E logo meus olhos ansiosos procuram por ela. E a encontro. Ela está em pé, assim como todos da torcida, e ao seu lado, duas garotas, sendo uma delas, Zoe, e a outra, ruiva, muito provável que tenha sido do grupo de líderes de torcida.
As finais são tão sérias que há apenas mascotes. A torcida se encarrega de exaltar os pontos que os times fazem. O mascote da Wood High School é o tigre. Um enorme e peludo tigre que pula sem parar. Já o da Guilber College, é um pássaro preto, com blusa vermelha e o símbolo do colégio. Esses são os únicos animadores do jogo de hoje.
Quando chegamos na nossa parte da quadra, o Sr. Reegan logo se junta a todos os jogadores e diz as últimas táticas.
Estamos prontos.
— É agora. - diz o nosso técnico - Vocês são os melhores garotos que eu já pude treinar. Vocês estão prontos. Sabem o que fazer. Agora, é com vocês.
Dito isso, se posta em seu lugar, em pé, em frente aos bancos. Os jogadores da Guilber College se preparam, e, com o sinal do árbitro, nos dirigimos para o centro da quadra. Com todos em suas posições, o apito é anunciado.
Começou.
A bola, de primeira, vai para Oliver, que logo arremessa para Simon. A marcação do outro time é intensa e muito em cima. O jogador que me marca não deixa brechas praticamente, para que eu consiga, pelo menos, receber a bola. Breaker dribla a mesma, e, ao chegar na linha de dois pontos, e ao arremesá-la na cesta, por pouco, não acerta. Um garoto ruivo e baixo pega a bola e começa a correr. O cara que me marca não dá folga, porém, eu sei muito bem o que fazer. Quando noto que Jonas está com a posse da bola, aproveito que sou alguns centímetros mais alto que o garoto que me marca, e, rapidamente, me coloco na sua frente, de costas para ele, e ao reparar minha movimentação rápida, Jonas passa a bola para mim. Estou a poucos metros da cesta, então, começo a calcular meus próximos passos. Com um movimento da mão, consigo afastar o garoto ruivo que me marca, e a partir daí, começo a correr.
Passo por um garoto loiro do time adversário, e manobro a bola por baixo da perna, o desconcentrando, e, com um giro, passo por um jogador que corria na minha direção. Assim que chego na linha de três pontos, apenas consigo sentir as batidas frenéticas do meu coração. Sem perder tempo, arremesso a bola na cesta, e com um giro, acerto.
Wood 3 x Guilber 0
Com um berro, dou um salto, de comemoração, e os jogadores do time não fazem diferente. Olho na direção de Chloe e vejo que ela grita e acena para mim. Sorrio. Essa é a minha garota.
O jogo continua, e, com essa primeira pontuação, sinto que o time está mais motivado. No meio da partida, Jonas, correndo, escorrega e cai no chão, perdendo a posse de bola para a Guilber, fazendo eles marcarem dois pontos.
Wood 3 x Guilber 2
A primeira partida acaba, e vamos para os bancos. O técnico Reegan nos junta novamente.
— Oliver, quero mais marcação em cima daquele anão de jardim que está te marcando. Você pode mais do que isso. Simon, mais passe de bola, Jonas, isso aqui não é patinação de gelo, por isso trate de correr com firmeza. Adrian, parabéns pela pontuação, sua posse de bola foi perfeita.
Com o elogio do técnico, um sorriso se abre no meu rosto.
Nós vamos vencer.
Não aceito menos que isso.
De repente, alguém pula nas minhas costas, e apenas pelo perfume, identifico quem é. Meu sorriso é maior ainda.
Sua risada doce no meu ouvido faz eu virar rapidamente o rosto em sua direção.
Chloe me olha e sorri, travessa, enquanto tira alguns fios loiros escuros do rosto.
— Eu estou tão animada, você não faz ideia. - diz ela.
Rio.
— Não percebi. - digo com um tom sarcástico.
Ela me dá um leve tapa no braço, e ainda sorrindo diz:
— Você está incrível! Eu tenho tanto orgulho de você... - e sem esperar um resposta, ela segura o meu rosto com as mãos, e sela os nossos lábios. Seu beijo doce me relaxa instantaneamente, e seu perfume suave passa pelas minhas narinas e se infiltra na minha memória.
Eu amo esse cheiro.
Quando ela desgruda os lábios dos meus, resmungo em protesto. E, sorrindo ainda, ela diz:
— Acaba com eles!
E sem esperar mais, ela me beija rapidamente, e tão rápido quanto chegou, corre da quadra para a torcida. Depois disso, não tem como o meu humor não melhorar, e a tensão se dissipar parcialmente.
O som do apito nos alerta que a segunda e última parte do jogo vai começar. Com um último olhar para o treinador, e um aceno firme de cabeça do mesmo, começa o jogo.
A Guilber, com poucos minutos em quadra, consegue mais uma cesta de dois pontos.
Wood 3 x Guilber 4
Consigo me livrar da marcação do garoto ruivo, e minha posse de bola é maior do que da primeira parte. Driblo, arremesso, passo para outros jogadores, e com isso, Simon faz uma cesta de dois.
Wood 5 x Guilber 4
A agitação e a excitação estão maiores do que no primeiro tempo, onde apenas nós conseguimos fazer uma cesta, por motivos de forte marcação do nosso time nos Guilber. Porém, dessa vez, eles estão mais velozes do que nunca.
Então, a bola está em minhas mãos. Vejo no meu campo de visão, três jogadores vindo na minha direção ao mesmo tempo. Driblo, passo por uns.
E é aí que acontece.
Driblando em direção à cesta, apenas consigo ver um vulto de um jogador da Guilber se arremessar com força para cima de mim pelo meu lado direito. A bola rapidamente escapa da minha posse, e eu caio com tudo no chão. O impacto da minha cabeça é tão forte, que por um momento, vejo tudo escuro. O peso do cara em cima de mim me angustia, mas a audição longe e a visão turva, são as piores. Não ouço nada além de alguns gritos longe, e do apito informando para pararem o jogo. Sinto meu corpo mole e pesado ao mesmo tempo. Minha cabeça roda, e então tudo escurece.
Apenas tenho a imagem de algumas cenas na minha cabeça nesse momento. Os sons não são mais notáveis por mim. Os toques e sacolejos de alguém no meu corpo não são suficientes para me fazer acordar.
Me sinto pesado.
E então, minha cabeça vai para outro lugar. Vejo minha mãe, em uma visão branca e luminosa, sorrir para mim. E eu sorrio de volta. Ela caminha na minha direção, e estica o braço para mim. Eu tento alcança-la, porém parece que ela se afasta cada vez mais. Ela continua sorrindo, mesmo fugindo de mim. E então, ouço um sussurro e sua voz doce, que eu nunca esqueci, ser atraída por mim:
— Você consegue, filho. Você sempre me deu muito orgulho. Você vai conseguir. Você sempre consegue. Levante, e erga a cabeça. O mundo é seu, basta aceitá-lo de braços abertos. Vá, abra os olhos, e veja o que aparece na sua frente. A sua motivação, a luz. Veja o que te espera no seu futuro. Ao abrir os olhos, veja a pessoa corajosa e gentil que eu sempre disse para você. Vá, você consegue.
E como um impulso dentro de mim, uma força antes não notada, abro os olhos, arregalados como nunca. A pessoa que aparece na minha frente, é como um anjo. Um anjo preocupado.
Chloe está com os olhos marejados. A visão da sua expressão angustiada e, agora, alerta, me fazem sorrir, por puro e simples instinto.
— Adrian, consegue me ouvir? Adrian, por favor, diz que sim. Não faz isso comigo.
Sua voz desesperada me faz acordar totalmente do impacto que acabei de ter. Abro mais os olhos e, ao notar meu sorriso se abrindo, pela simples constatação da minha mãe na minha mente, Chloe me dá um tapa no braço.
Forte.
Se eu não a conhecesse, duvidaria da parte em que minha mãe descreve Chloe como gentil.
— Não faz isso comigo, Adrian. Por que você está sorrindo? Você acabou de dar um susto em todos nós. Você está bem?
Respiro fundo e, melhor do que nunca, respondo:
— Sim, estou bem.
Ela diz um graças a Deus baixinho, e então some do meu campo de visão, porém logo o treinador Reegan aparece e me estende a mão. Assim que estou de pé, vejo que a maioria da torcida está na quadra, querendo ver o que aconteceu.
— Tudo bem, Adrian? Se machucou? - diz o treinador, preocupado.
Balanço a cabeça, e o mínimo movimento faz uma fraca pontada me incomodar. Porém logo se dissipa.
— Estou bem, treinador. Foi apenas uma batida na cabeça, mas estou bem, posso continuar.
Sua expressão duvidosa afirma que ele não está confiante com a minha resposta.
— Eu estou bem, pode apostar. Melhor do que nunca. Agora, por favor, podemos fingir que nada aconteceu, e retomarmos ao jogo? Isso é muito importante, e o senhor sabe.
— Tudo bem, volte. Mas pare de me chamar de senhor, eu tenho só 45 anos, rapaz, não sou tão velho assim. Ou a pancada na cabeça fez você enxergar coisas?
Rio, e percebo que o clima pesado foi substituído por um menos tenso.
Quando o som do apito anuncia novamente que a partida continua, absorvo as palavras da minha mãe, que ainda não sei como, mas me fizeram acordar do que aconteceu, e foco.
Mais do que nunca.
A minha posse de bola aumenta. Desvio com facilidade, e faço uma cesta de 2 pontos.
A bola está com Oliver, quando ouço o apito.
O jogo acabou.
Olho o placar.
E então a emoção me invade.
Ganhamos.
Wood 7 x Guilber 4
Vencemos o jogo da final.
Os garotos do time se amontoam em cima deles mesmos e eu, ainda paralisado pelo placar, sou levado para junto deles.
Mas não preciso disso agora. Com o olhar apressado, olho para a torcida. Não acho ela. E então, minha visão para na figura com o rosto delicado, molhado pelas lágrimas, no meio da quadra. Suas mãos na boca, tapando a felicidade, me faz sorrir como nunca. Me desvencilho dos jogadores, e então, corro de encontro a ela.
Assim que chego na sua frente, a pego nos braços e a aperto forte contra o peito. Uma felicidade esmagadora me invade.
Ela é o meu futuro.
Ela se tornou tudo na minha vida, agora.
Seu rosto se ergue na minha direção, e então seu sorriso ilumina as partes escuras do meu coração nesse exato momento.
Chloe foi como um sopro de vida, na minha pior fase.
E com um beijo esmagador, comemoro tudo o que eu sei que ainda vou conquistar.
Nosso momento é interrompido por alguém chamando o meu nome. Coloco Chloe no chão, e então me viro para o treinador Reegan. E para o homem ao seu lado.
— Treinador Reegan. - cumprimento.
— Adrian. Eu gostaria de parabenizar não só você, mas o time inteiro pelo grande empenho nessa final. Vocês foram perfeitos. E você, tem uma visão especial para mim desde que entrei nessa escola. - Chloe e eu acompanhamos o discurso do treinador , sob o olhar do homem formalmente vestido ao seu lado. Ele continua - E bom, desde aquele dia que vi você treinando naquela quadra, sozinho, notei que você tinha algo especial. Uma alma de jogador. Você nasceu para o basquete, sem dúvidas. No jogo de hoje, você teve uma destreza diferente de todos os outros. E então, decidi chamar o meu amigo, que é patrocinador de jogadores amadores, e junto comigo, nós somos o chamado "caça talentos" do basquete, para assistir você no jogo da final.
Reegan aponta para o homem ao seu lado, e não faço ideia da minha reação assim que ele anuncia quem são.
— E bom, eu entrei nesse colégio como treinador por esse motivo. E você, é o talento que eu estava procurando. E por isso, quero te fazer uma proposta.
Analiso suas palavras atentamente, ainda não acreditando. Sinto Chloe apertar forte a minha mão, e, quando olho na sua direção, vejo sua expressão emocionada e, ao reparar que ela mordeu o lábio inferior, em forma de ansiedade, decido ouvir a proposta.
— E qual seria?
— Você jogar profissionalmente, com a nossa ajuda, no time preparatório de garotos atletas, da NBA.
Fim
(Ou só o começo)
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