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07. É treta, Portugal!

— Eu!? — exasperou-se Vanessa.

Selma não respondeu, somente se levantou e, com o auxílio da bengala, ficou perambulando de um lado para o outro no consultório. Sua feição era analisadora.

— E pode haver mais gente suspeita nessa história toda também — afirmou a médica.

— Quem? — Apesar de tomada pelo pavor, Vanessa não pôde esconder a curiosidade.

— No teu último relato, chegaste a mencionar uma pessoa que teve um envolvimento com todas as vítimas até então...

— Elisa! — a estudante quase gritou.

— É uma narrativa deveras contundente: a moça que se relacionou com um e com o outro, sofreu deceções* no campo afetivo, foi perseguida e, por algum motivo, quer fazer uma nova vítima, no caso, tu. Além disso, existe um toque feminino nos crimes: as marcas de batom acompanhadas dos fios de cabelo. Disseste que Elisa possui madeixas escuras, não?

— Mas por que eu? — Vanessa indagou, espantada.

— Pode ser que o Inácio tenha contado algo. Como ela se tornou amiga dele, talvez queira fazer uma espécie de justiça com as próprias mãos.

— Faz sentido...

— Mas são apenas hipóteses, tão ou mais infundadas que as tuas suspeitas direcionadas a quem foi o teu namorado. Afinal, tantas são as raparigas com cabelos negros por aí... Vês? É bom olharmos por outros ângulos diante dessa história tão macabra. — Selma fez uma pausa. — Por isso, Vanessa, peço-te uma coisa simples e complexa ao mesmo tempo.

— O quê?

— Prudência. Sei que estás enlutada e é até injusto pedir-te isso, mas sejas prudente, se não quiseres amargar um destino terrível, se é que me compreendes. Tu podes, conforme falei antes, contactar-me no momento que julgares o mais propício, seja para gritar por socorro, seja para falar algo de importante a mais.

Em seguida, Selma se direcionou à sua mesa, escreveu alguma coisa em um papel e retornou para próximo de sua paciente. Disse:

— Toma. Estou a dobrar a dose do medicamento que te receitei naquele dia. Creio que vais precisar...

Vanessa assentiu e, antes que pudesse se retirar, ouviu:

— Agir com prudência não é ser passiva diante das circunstâncias. Se queres tomar uma atitude, comeces pelo que está ao teu alcance.

Mais uma vez, a jovem anuiu. Aquelas palavras, tão simples, mas também tão certeiras, foram determinantes para o que estava por vir.


No dia seguinte, estava Vanessa, novamente, terminando de encarar as aulas. Nesse ínterim, custou-lhe evitar certas pessoas envolvidas no que havia narrado para Selma, especialmente Elisa e... Inácio.

A sorte – se é que ela poderia encarar as coisas dessa forma – foi justamente as mortes recentes de Leane e Luane. Desde então, Inácio a respeitou, não a procurou e sequer ficou jogando seu corriqueiro charme para cima dela nos últimos dias.

O que a psiquiatra dissera na última sessão tranquilizou, de certo modo, Vanessa quanto ao ex-namorado. Se as teorias da doutora estiverem certas, ele era inocente e, quem sabe, quando tudo se findasse, os dois poderiam dar uma nova chance a si próprios. Mas... por que será que ainda havia uma inquietação dentro de si?

De qualquer maneira, era uma missão difícil não pensar nele, olhar para ele e... suspirar por ele.

Ademais, ela própria tinha um dever a cumprir. Por isso que, com o fim do dia letivo, pôs-se em disparada para o refeitório da universidade. Não iria almoçar sozinha. Sua companhia se tratava de alguém que estava ansiando ver, conversar e botar as coisas em pratos limpos.

— Fazia tanto tempo que não almoçávamos juntos. Tu ultimamente vinhas com... as meninas...

Quem proferiu isso foi ninguém mais e ninguém menos que... Roberto.

Assim que Vanessa saiu do consultório de Selma no dia anterior, ela não pestanejou em mandar uma mensagem para o rapaz, pedindo para que ele se sentasse com ela àquela mesa. Suas palavras foram simplesmente breves:

"Tenho algo importante para falar."

E lá estavam os dois conforme o pedido solicitado, mesmo que o rapaz estivesse dominado pela curiosidade.

De início, a moça não soube como engatar o assunto. Um misto de sensações se apossava do seu íntimo e mil e uma perguntas lhe rondavam a cabeça. Contudo, a menção às finadas amigas, por mais dolorosa que tenha sido, foi o gancho necessário para que Vanessa respirasse fundo e, por fim, declarasse:

— Sinto a falta delas assim como a de Cristiano... A perda deles e a falta de resolução para o que se abateu sobre eles impactaram-me, aliás, impactaram a nós dois de um jeito violento.

Ele abriu a boca para retrucar, mas ela continuou:

— Está a acontecer muita coisa, tanto ao nosso redor quanto, e principalmente, em relação a nós dois. As nossas recentes perdas são uma grande parte disso e, de certa maneira, auxiliaram-me na decisão que amadureci e tomei.

— Decisão? Qual decisão? — Roberto a fitou com desconfiança e estranheza.

A postura quase intimidadora dele quase a fez desistir do que havia planejado. Todavia, ela já tinha ido longe. Se fosse voltar atrás, teria que arrumar um bom pretexto para o que estava fazendo. Honestamente? Não estava com cabeça para elaborar uma mentira deslavada. Logo, optou por seguir com a verdade e com o seu coração.

— Acredito que nunca estive preparada para o que combinamos entre nós enquanto namorados. Talvez eu não esteja pronta para encarar um relacionamento não monogâmico. Talvez ainda não seja evoluída o suficiente para, como tu mesmo dizes, "desconstruir os meus ciúmes e sentimentos de posse".

Parou e, apesar de estar vendo a expressão chocada, quase apavorada, de Roberto, não hesitou em pegar na mão dele, que jazia sobre a mesa. Prosseguiu:

— Por esses motivos que estou a liberar você, Roberto, e, por que não, liberar a mim mesma? Nós... paramos por aqui.

— Mas assim? Tão de repente? — A voz dele se elevou e chamou a atenção de algumas pessoas que ocupavam as mesas vizinhas.

— Não foi de repente. É verdade que, um dia, fomos muito apaixonados, mas, sem termos percebido, esse sentimento acabou. Então, ficamos a levar as coisas como levamos e estamos nessa situação de agora...

— Ainda não entendo. Nós... passamos por tanta coisa juntos... — Ele parou, esboçando um ar analisador. — Espera! É por causa dele, não é?

— Ele...? Quem? — ela rebateu, assustada.

— Não te faças de boba, Vanessa! Refiro-me ao canalha do teu ex-namorado!

— Inácio não tem nada a ver com isso!

Roberto soltou um bufo de desdém e retrucou:

— A tua defesa, assim que o citei indiretamente, mostra que ele tem sim tudo a ver. Céus, Vanessa! O que Cristiano, Leane e Luane diriam se soubessem que tu... tu ainda nutres sentimentos por ele? — custou ao rapaz terminar a última sentença.

— Não os envolva nisso! Esse assunto só diz respeito a nós dois! Se tu eras tão amigo deles, respeita a memória daqueles que não mais estão entre nós!

Roberto parou mais uma vez, não porque Vanessa havia dado a cartada final e vencido a discussão, mas porque sua mente, tomada por um clarão, o fez se lembrar de algo. Ele indagou:

— Onde estavas quando te liguei naquela noite?

A moça empalideceu. Havia entendido o que o outro queria dizer. Portanto, tentou uma estratégia evasiva:

— O... quê? Que noite?

— Aquela em que acharam as meninas. Telefonei-te e tu desconversaste. Onde estavas?

O modo que ele havia pronunciado as últimas palavras fez Vanessa sentir um arrepio na medula espinal. Novamente, ela tentou a mesma evasiva, mas seu corpo, para variar, a traiu, com destaque para a língua, que aparentou ter se tornado pedra.

— Eu... Eu... Eu... — era o que conseguia balbuciar.

Então, o inesperado aconteceu.

Roberto, em um rompante, se ergueu. Por alguns segundos, Vanessa ficou travada, atônita com a atitude súbita dele. No entanto, seus instintos mais primitivos bradaram para que ela se mexesse, visto que, meio ao longe, era possível vê-lo dando passos duros, pesados e carregados de agressividade.

Tomada pela apreensão, ela também se levantou e correu na direção dele. Ao alcançá-lo e tendo êxito em pará-lo, perguntou:

— O que... vais fazer?

Nada foi respondido. Ele só a fitou e ela pôde vislumbrar a raiva estampada em seu semblante. O cenho franzido, o olhar com um brilho peculiar, as narinas crispando e os lábios comprimidos apenas comprovavam o estado de espírito que o tomava. Dessa vez, a intuição dela berrou dentro de si, travando-a de novo.

Roberto conseguiu se desvencilhar de um jeito abrupto e seguiu com a andança. Vanessa conseguiu, novamente, se recompor e tentou chamar por ele enquanto o acompanhava. Sem sucesso.

A caminhada de ambos não perdurou muito. Ao dar por si, Vanessa notou que estavam próximos da entrada do campus da universidade. Entretanto, não foi a localidade que lhe chamou a atenção, e sim uma pessoa que ali passava...

Inácio.

Só deu tempo de ela voltar a olhar para Roberto, cuja aura nitidamente se tornou mais carregada, e, com a voz embargada, suplicar:

— Roberto, por favor...

Foi, pela segunda vez, ignorada. Ele já estava indo na direção do outro rapaz e, antes de tomar uma atitude, gritou a plenos pulmões:

— Desgraçado!

E, estando próximo, desferiu um golpe com a mão fechada no rosto de Inácio, que cambaleou para trás. Vanessa gritou.

Porém, Inácio, apesar da personalidade taciturna, não era do tipo que aturava desaforos gratuitos, ainda mais quando se tratava de inimizades como Roberto. Logo, ele retribuiu o soco tomado com outro tão poderoso quanto. Em menos de um minuto, estavam os dois homens se engalfinhando em uma briga feroz, sangrenta e, quem sabe, até mortal.

Felizmente, não demorou para que alguns alunos que transitavam por perto os separassem e acabassem com aquele violento confronto físico, o que não impediu de eles seguirem com as provocações:

— Escória da sociedade! Você acabou comigo! Humilhou-me da maneira mais vil que um homem pode humilhar o outro!

Inácio, que já havia entendido tudo, deu a seguinte resposta:

— Humilhado, por quê? Não é você o maior conquistador daqui da ULisboa? Aliás, não é você o adepto do amor livre? Vanessa só fê-lo provar do próprio veneno, mas, pelo visto, seu ego masculino é grande e "intocável".

— Ora, seu...

Roberto, que estava sendo segurado, tentou uma nova investida, mas foi impedido. Com isso, houve uma nova sessão de ofensas trocadas entre os dois.

— Parem!

Era Vanessa, que, durante a briga, havia se encolhido entre algumas pessoas, assustada com os rumos não planejados daquela situação. Ao ver que os dois rapazes foram separados, ela se muniu de coragem e bradou aquele grito.

De súbito, as atenções se voltaram para ela, fazendo-a corar. Sem que quisesse, as palavras lhe fugiram tal qual a água que escorria entre os dedos.

— Se vais me trocar por esse aí... — Roberto maneou na direção de Inácio. — ..., digas isso na frente de todos. Quero ver se és tão sem caráter quanto ele.

— Com que direito fala assim dela? — rebateu Inácio, revoltado. — O único sem caráter é você, imundo!

— Escolha, Vanessa: ele ou eu! — continuou o primeiro, ignorando o xingamento recebido.

Foi como se o mundo tivesse parado. Parecia que todos ali presentes estavam esperando pela resposta que viria da moça, considerada, naquelas alturas, a pivô daquele embate horrível. O torpor foi tão generalizado que até mesmo aqueles que seguravam os dois metidos a valentes os libertaram.

Vanessa, por sua vez, foi posta em um dilema. Não que ela estivesse exatamente em dúvida em relação àquela infeliz pressão imposta por Roberto – aliás, encarando-o, ela pôde ver o quão babaca ele era.

Se Roberto era tão adepto do considerado amor livre, por que estava reagindo daquele jeito? A propósito, sendo alguém que dizia defender ideias tão para frente, ele poderia muito bem ter entendido os motivos dela para o término do relacionamento deles... Tudo bem que o rapaz nunca gostou de Inácio, mas isso só provava que nem ele próprio havia superado os próprios ciúmes.

Porém, vendo o curso dos eventos naquele momento, seria sensato da parte de Vanessa gritar para geral que Roberto não era a sua escolha?

Para piorar, ao mirar Inácio, que esboçava aquela velha expressão deprimida e carente, ela se sentiu tentada em correr para os braços de quem, mesmo após tudo, não pensara sequer duas vezes em defendê-la com quase literalmente unhas e dentes. Só que, de novo, seria o mais sensato?

O gatilho que a fez retornar à realidade se deu ao ouvir a entonação irritante e inquisidora de Roberto:

— E então, Vanessa?

— Eu...

Ela olhou para um, depois para outro, voltou para um, tornando a fitar o outro.

— Eu... — repetiu.

Impulsivamente, suas pernas pareceram ter ganhado vida própria. Ela correu, para a surpresa de geral, com direito a grunhidos e exclamações chocadas de alguns.

Meio alheia a tais reações, Vanessa só pôde completar:

— Deixem-me em paz!

E voltou a correr.

Vanessa se encontrava em sua própria casa. Era um lugar aconchegante e confortável. Não se tratava de um sobrado majestoso e imponente, mas de uma residência plana e com um bom espaço, especialmente no que se referia à quantidade de quartos – dois –, sendo que um servia como dormitório propriamente dito e o outro como uma espécie de escritório ou local para estudos.

Ela, na hora em que chegou, apressou-se para o único banheiro e tomou uma bela e merecida ducha. Depois, deitou-se em sua cama e ficou refletindo acerca dos últimos acontecimentos.

O que ela faria dali para frente?

Foi esse o principal pensamento que ficou permeando na mente dela no início daquela tarde, embora não estivesse enxergando nenhuma luz no fim do túnel.

Decidiu tirar um cochilo. Entretanto, quando estava para fechar os olhos, ouviu alguém batendo à porta.

Ao atender, a surpresa.

— Inácio?

Apesar do hematoma bem visível perto do olho esquerdo, era incrível que nem aquilo fosse capaz de tirar a beleza do rapaz à sua frente. E tal beleza se destacou ainda mais quando ele sorriu ao vê-la.

— Vim ver como estavas — ele disse. — Fiquei preocupado.

Ela soltou uma risadinha anasalada, um tanto constrangida. Respondeu:

— Mas tu que saíste no tapa hoje.

— Valeu o esforço — Inácio falou para, em seguida, dar uma piscadela, encabulando-a, para variar.

Por um tempo, eles só ficaram se fitando, meio envergonhados, meio sem saber o que falar.

— Eu... posso entrar? — o rapaz, por fim, se manifestou.

Mesmo que estivesse derretida com a presença inesperada dele e com o flerte mútuo, ainda havia um quê de obscuro na intuição de Vanessa em relação a Inácio... O que exatamente?

A educação, contudo, foi o que acabou predominando. A moça o fez entrar e se sentar em um dos sofás da sala de estar. Ela, ainda atordoada, não se acomodou, permanecendo de pé, com os ombros rígidos, o ar tenso e a respiração, embora suave, um tanto irregular. Ele, de forma atenta, detectou esses sinais nela, o que o fez elaborar a seguinte meia questão:

— E então...?

Vanessa curvou os lábios em um fraco sorriso. Fazendo movimentos lentos, foi se aproximando de onde Inácio estava sentado e acabou se ajeitando ao seu lado. Respirou fundo e começou:

— Talvez não seja justo o que tratarei contigo, mas a verdade é que, como deves ter sabido, acabei de sair de um namoro que agora enxergo o quão turbulento era — suspirou. — Creio que eu não esteja pronta para sair de uma piscina vazia e depois pular em outra.

Ele a olhou, assustado. Percebendo que sua fala dava margem para interpretações errôneas, ela logo tratou de emendar:

— O problema não és tu, que também vejo hoje o quão maravilhoso és, embora eu...

Hesitou. Seria uma atitude legal falar acerca do que, de vez em quando, seu íntimo bradava a respeito dele? Claro que não! Primeiro que ela nem sabia direito o que se passava consigo mesma; segundo, o momento ali já era triste diante do que estava declarando – se falasse mais do que devia, aí sim que poria tudo pelos ares.

— Tu...? — Inácio indagou.

— Esqueça. — Ela fez um gesto com a cabeça. — Eu estava a dizer que o problema não se encontra em ti, e sim em mim. Pode ser um clichê o que disse, mas essa é a realidade — Vanessa suspirou. — Ainda estou a compreender as coisas, dentre elas, o fato de ter saído de um namoro que, só agora, vejo que me deixou com certas feridas emocionais. Isso sem mencionar o fato de eu ter perdido pessoas que me eram queridas há tão pouco tempo. Acredito que, no momento atual, não estou pronta para engatar um relacionamento sério contigo, Inácio.

— Isso quer dizer que deixaste de amar-me?

— Não! — ela respondeu de prontidão. — Isso quer dizer que preciso de tempo e..., por mais que me doa, isso quer dizer que tu estás livre para seguir com a tua vida, mesmo que seja com outra mulher.

— E se eu não quiser outra mulher? — Inácio indagou em um tom claramente desesperado.

Um calorzinho dominou o interior da moça, que retrucou:

— Aí é com os teus sentimentos, os quais eu não tenho o poder de controlar.

— Justamente. E é por ter perdoado-te que digo...

Ele próprio se interrompeu para... avançar sobre Vanessa e lhe depositar um beijo!

O encontro dos lábios foi casto, embora também desesperado e sofrido. A dança efetuada pelas línguas de ambos se assemelhava a um tango. Intenso. Sensual. Mas também triste.

Ao término do gesto, Inácio concluiu:

— Espero-te, Vanessa. Ainda te amo e sempre te amarei.

A universitária não pôde mover um músculo sequer, tamanha surpresa que foi aquele beijo inesperado. Inácio ainda colou os lábios em sua bochecha e, após isso, acenou, retirando-se daquela casa.

Ainda atônita naquele sofá, Vanessa levou a mão à boca, saboreada pelo rapaz que ali se encontrava há tão poucos minutos. Apesar do instante romântico e caloroso, havia um gosto adicional no ósculo. Não era um gosto qualquer, era algo peculiar e que, sem que quisesse, fez o seu âmago se agitar.

E quiçá ela estivesse certa.

Horas mais tarde, ao anoitecer, Vanessa escutou o telefone, situado em uma mesinha de canto de sua sala, soar. Ao atender, a surpresa:

— Boa noite! — disse uma voz em um tom sedutor e com um timbre rouco e familiar.

— Quem é? — a moça perguntou. — Espera... Inácio?

Uma risadinha contagiante se fez audível do outro lado. O rapaz respondeu:

— Só telefonei para desejar-te uma boa noite.

Mesmo encantada pelas palavras, Vanessa não evitou uma réplica com um quê de repressão:

— Conversamos já sobre isso. É melhor eu pensar um pouco acerca de nós dois...

— Não te preocupes, não estou a pressionar-te. Só quis terminar o meu dia ao ouvir a tua voz.

Ela soltou um suspiro, um tanto ainda inebriada pelo momento. Os dois continuaram a conversar mais um pouco e, em seguida, a ligação foi encerrada.

Ao botar o telefone no gancho, Vanessa não pôde esconder o sorrisinho bobo no rosto. Era verdade que ainda estava confusa em relação aos últimos eventos, mas era como se... Inácio fosse uma certeza no meio das dúvidas.

De repente, até as suspeitas que nutria por ele se tornaram pequenas, minúsculas. Talvez fosse a antipatia típica de ex-namorada que a fez ter aqueles pensamentos nada saudáveis de outrora. Não importava mais. De qualquer forma, ela tinha ciência que ficaria com Inácio no final das contas, só não sabia exatamente quando.

Vanessa ficou ainda reflexiva por mais um tempo. Estando absorta em si própria, ela mal percebeu, quase meia hora depois, o telefone soando de novo.

Quem poderia ser naquele horário? Claro! Não precisava ser nenhum gênio para saber quem teria tamanha "ousadia", visto o telefonema efetuado anteriormente. Quando novamente atendeu, disse em uma entonação que mesclava divertimento e represália:

— Inácio, já falei que...

— Vanessa... Eu... Não... Não...

A voz entrecortada e nitidamente aflita do outro lado da linha não negava. Involuntariamente, os pelos do corpo de Vanessa se eriçaram.

— O que está a acontecer?

Não houve réplica, só era possível ouvir a respiração pesada e descompassada vinda daquele que a havia telefonado. Em seguida, veio... um grito! Grave. Sofrido. Dolorido.

Alarmada, Vanessa insistiu em saber o que estava se passando, mas, sem que ela almejasse, a ligação foi interrompida, de modo ter sido apenas possível ouvir o barulho irritantemente persistente de linha telefônica.

Sem ainda pôr o aparelho no gancho, a moça permaneceu parada, assimilando se o que acabara de acontecer havia sido real ou fantasia.

Ao voltar para si, não pensou muito. Foi como se as coisas estivessem vindo feito um golpe certeiro no cérebro. Naquele instante, entendeu o que tanto sua intuição gritava: Inácio certamente estava em perigo e cabia a ela salvá-lo! E pensando bem... Céus! Aquele assassino misterioso poderia estar com ele!

Foi assim que, sem raciocinar, saiu em disparada em direção à residência dele. Não era justo que as coisas terminassem tal como as mentalizações trágicas que lhe rondavam. Era inaceitável isso!

Chegando àquele destino, a já manjada vozinha em seu interior só faltou ensurdecê-la de tanto que berrava. Diante da porta de entrada, titubeou. As regras de etiqueta social e, sobretudo, as leis recriminavam quem adentrava o domicílio de outrem sem ser convidado. E por falar em leis, só nesse instante que Vanessa cogitou acionar a polícia. No entanto, se as autoridades nem deram muita importância para os assassinatos de seus amigos, iriam ao seu socorro por algo que nem ela sabia do que se tratava direito?

Desse modo, Vanessa pouco ligou para os próprios escrúpulos e abriu a porta, empurrando-a vagarosamente.

Entrou.

Algo estava à sua espera.

Notas do autor:

* Em português de Portugal, a grafia correta é "deceções" e não "decepções".

Uou! Não disse que as coisas estavam esquentando por aqui? E foi boca, foi cigarro (referências à Gretchen quando participou de A Fazenda kkkkkkkk), foi término, foi soco, foi beijo e... Algo misterioso que será conferido por Vanessa a partir do próximo capítulo. O quê? *emoji dos dois olhinhos*. Tchauzinho por enquanto!

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