01. Procurando ajuda
Nova história. Novo mistério. Novas mortes.
Pensando nisso, deixemos de lado quem um dia sobreviveu a eventos tão trágicos e violentos. Essas pessoas mereciam um pouco de paz e sossego.
Também deixemos o país onde se passaram tais acontecimentos. Antes que você, caro leitor, me pergunte "E Policarpo Quaresma ficou com Deus, narrador arrombado?", a resposta é um sim e um não. Sim, porque, como afirmado, o enredo em questão não se ambienta no Brasil; e não, pois não pense que, por causa disso, a trama ocorre em uns Estados Unidos da vida – o narrador não é um deslumbrado com esse país –, ou em um país oriental – as coisas não se tratam de algo contado por uma fã de grupos musicais oriundos do outro lado do globo...
Bem, o cenário dessa história é Portugal, mais especificamente Lisboa, sua capital. É de certa forma justo os eventos se passarem por aqui. Um dia, Brasil foi colônia do país citado e, diante de inúmeras influências, a Literatura foi um elemento que inspirou, de maneira muito parecida, ambas as nações.
E falando em Literatura..., bom... deixa pra lá! As coisas vão se explicar aos poucos.
Façamos mais um diferencial. Ao invés de começar relatando eventos em torno de uma primeira morte, falemos do que podemos chamar de o primeiro impacto. Para bom entendedor, meia palavra basta. Mas para os que não captaram a ideia, digamos que não iremos iniciar com o início propriamente dito. Desde já, a calma será essencial para você, querido leitor.
Era tarde de uma quinta-feira. Uma jovem lusitana de pele clara, longos e lisos cabelos castanhos-claros, olhos de mesma cor e porte médio vagava pelas imediações da conceituadíssima Universidade de Lisboa – ULisboa para os mais íntimos. Tratava-se de Vanessa: claramente, uma estudante da universidade mencionada.
No entanto, apesar do dia ainda estar em seu apogeu, ela não estava exatamente se dedicando às suas atividades acadêmicas. Na verdade, encontrava-se abatida, com a feição denotando uma evidente apreensão e, quem a observasse com afinco, notaria que seus belos olhos estavam vermelhos.
E não era para menos.
Vanessa se encontrava em um dos prédios do vasto campus da ULisboa. Estava no terceiro andar, que era basicamente constituído por um corredor, não muito iluminado, mas também não muito escuro. Ela se aproximou de uma das portas, cujo letreiro representava algo que estava almejando, e, mesmo hesitante, uma de suas mãos deu um toque. Não obteve resposta e insistiu. Novamente, não foi atendida.
Uma ideia, contudo, veio em sua mente quando olhou para o lado, o que a fez avistar outra porta com outro letreiro.
"— Por que não?" — Pensou.
E lá estava ela repetindo os mesmos gestos de segundos atrás. Dessa vez, teve sucesso e, diante de si, apareceu uma mulher de estatura alta, vestida com uma camisa social, uma saia e um avental branco por cima. Sua tez era branca, seus curtos cabelos, os quais chegavam à altura do pescoço, eram negros e sua postura era elegante.
Era nítido que a nova figura era possuidora de um charme peculiar. Todavia, era também notável alguma coisa a mais: uma bengala sendo usada de apoio e à frente dos membros inferiores.
Vanessa não queria alimentar um pensamento preconceituoso, afinal, considerava sua mente bem aberta para os mais variados assuntos e para as mais variadas pessoas. Além disso, estava ali porque estava precisando de ajuda.
Não demorou para a mulher fazer menção para Vanessa entrar e se acomodar. O local era nada mais e nada menos que um consultório médico. O ambiente, embora pequeno, tinha a sua sofisticação. Uma poltrona de couro preto se situava em um das partes do local, ao passo que um confortável sofá se encontrava na outra. O chão era forrado por um tapete felpudo. As paredes eram pintadas em uma cor salmão. A iluminação, representada por alguns leds e um pequeno pendente em um dos cantos, dava um ar de aconchego. Além disso, certos itens, como uma mesa de madeira – que continha um computador –, alguns armários, um relógio de parede e um filtro de água também se faziam presentes.
Apesar de ainda um tanto temerosa, Vanessa se sentou em uma das pontas do sofá, enquanto a mulher, depois de pegar uma caneta e um bloquinho de notas, tomou a poltrona como assento. Nesse ínterim, foi inevitável a estudante não reparar em como a outra caminhava com certa dificuldade.
— A que devo a sua visita? — começou a moça até então desconhecida. Uma de suas sobrancelhas se mostrava arqueada. — Normalmente, atendo casos agendados ou encaminhados pelo psicólogo da universidade.
Há cerca de um ano, a ULisboa resolveu focar nas questões relacionadas à saúde mental de seu corpo discente e docente. Daí, houve a necessidade de contratação de profissionais da Psicologia e da Psiquiatria.
— Entendo... — respondeu Vanessa. — Curso Psicologia e já tenho uma noção de como funcionam as coisas. Porém..., eu preciso de ajuda e talvez um psiquiatra quem melhor seja indicado para isso, nem que seja para me receitar um medicamento para, ao menos, eu ter um bom sono à noite.
— Opa! Vamos com calma! E vamos por partes também! — A outra gesticulou. — Sou a doutora Selma Passos, tenho quarenta e dois anos e atuo como psiquiatra daqui da ULisboa. Muito prazer, senhorita...?
— Vanessa. Vanessa Mendonça dos Santos. Estudante do sétimo período de Psicologia, tenho vinte anos e, como dito, estou a precisar de ajuda... urgente!
Selma a considerou por uns instantes e rebateu:
— Apesar de médica, não é do meu feitio receitar medicamentos para os meus pacientes logo de imediato e de forma excessiva...
Vanessa suspirou. Ao que tudo indicava, não seria de grande valia a sua estadia naquele consultório. Porém, o que Selma completou a seguir a fez mudar de convicção:
— Mas é nítido o seu desespero por um auxílio profissional. Não me interprete mal, pois não falo isso com deboche. Aliás, é muito louvável a sua atitude, senhorita, ou melhor, Vanessa. Cortemos um pouco a formalidade, sim?
A universitária assentiu. A médica, por sua vez, ainda falava:
— Então podes chamar-me apenas de Selma. — Sorriu. — Eu falava antes a respeito das pessoas procurarem ajuda especializada, não é? Sabias que nem ao menos as consultas com o psicólogo daqui do campus alguns dos estudantes do teu curso passam?
Mais um aceno foi efetuado por Vanessa, que ainda disse:
— Se bem que não é obrigatório...
— É fortemente recomendado. Que categoria de profissionais estaremos a formar se eles nem estão familiarizados com as futuras práticas que estarão inseridos?
Em seu íntimo, a jovem concordou. Óbvio que na teoria era muito bonito dizer tudo aquilo e, acima disso, botar em prática. Portanto, o terceiro manear de cabeça vindo dela foi vazio, um estar de acordo por estar de acordo. A verdade era que nem mesmo ela poderia ser considerada o melhor exemplo quanto à assiduidade nas sessões rotineiras com um profissional... Quem sabe se tivesse agido diferente, não estivesse na situação atual...
— Todos nós precisamos de ajuda, minha cara — Selma ainda se manifestava. De repente, uma careta de dor se fez em seu semblante. — A propósito...
Ela se dirigiu até um dos armários e retirou um frasquinho branco de onde pegou um comprimido, o qual foi tomado após bebericar um pouco de água filtrada. Retornou à poltrona e emendou:
— Mesmo nós, profissionais de saúde, não estamos imunes às enfermidades, sejam elas físicas ou mentais. Esses comprimidos que tomo regularmente e essa bengala... — Apontou para o referido objeto. — ... ajudam-me a lidar com uma enfermidade que descobri há pouco tempo.
A doutora parou de falar. Vanessa, já tomada pela curiosidade, ainda mais diante daquela figura tão emblemática, mal disfarçou a expressão interrogativa. E pelo visto, a mais velha compreendeu isso ao dizer:
— Esclerose múltipla. Pela cara que fizeste, assim que te atendi e principalmente nesse exato momento, percebi que algumas perguntas rondaram a tua cabeça a respeito disso.
— Como...?
— Lembra-te, Vanessa, nós, psicólogos e psiquiatras, somos treinados para ler as pessoas não apenas pelo que elas dizem e demonstram, mas também, especialmente também, pelo que não dizem e não demonstram.
— Desculpa! Não quis soar indelicada...
— Imagina! Eu não disse que era bom conhecermo-nos melhor? Pois bem! Trouxe algo que me é íntimo, agora é a tua vez.
Vanessa respirou fundo. Seus olhos entoaram uma dança, indicando ainda estar tomada pela hesitação. Entretanto, ela já estava ali, além do fato de, com tão poucas palavras, Selma lhe passar confiança. Arriscaria dizer que até mesmo o jeito altivo que lhe cunhou outrora havia voltado com certa força.
Desse modo, ela esboçou um sorriso fechado e fraco. Nem de longe, estava feliz, o que também era outro motivo para o que a levou estar naquele lugar. Finalmente, deu a sua réplica:
— Comecemos então.
Notas do autor:
Primeiro capítulo postado e que serviu para apresentar parte dos personagens. Por ora, não foi mostrado nada a respeito de assassinatos, crimes, tampouco o autor homenageado daqui da obra. Desconfiam a respeito do motivo de Vanessa ter ido procurar assistência? Os próximos capítulos clarearão melhor algumas questões aqui elencadas.
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