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Capítulo 13

Eu abri os meus olhos e somente ao notar que o Marcelo dormia com o braço largado sobre o meu ventre, foi que eu me lembrei de tudo o que havíamos feito. Havia sido lindo e quente a nossa noite de amor tão repentina, mas mesmo assim, ao despertar, eu sentia que não podia me sentir feliz.

A Sabrina estava em coma em uma cama de hospital, por minha culpa, pois eu não havia sido cuidadosa o bastante, para impedir que Anderson Village soubesse quem eu era de fato. E com isso, todo o Plano Mágico corria sérios riscos também, pois eu sabia que aquele sujeito maligno não iria desistir dos seus planos, enquanto não retornasse à Carmesim. Mas mesmo assim, isso ainda não era tudo, afinal, eu mesma estava para morrer, muito em breve.

Era fato que eu havia encontrado o meu príncipe encantado e me entregado para ele, mas eu não tinha completa certeza se o Marcelo me amava realmente, ou se aquilo era apenas uma simples paixão, cheia de fogo, dessas que os jovens sem magia costumavam experimentar a cada esquina.

Contudo, para que o feitiço lançado sobre mim fosse quebrado, era necessário que ele me amasse com cada célula de seu corpo, e que mesmo sendo ainda novo, se unisse a mim em matrimônio. E após isso, se mudasse comigo para a outra dimensão, da qual eu realmente pertencia.

E a verdade era que eu não queria pressionar o Marcelo a se decidir logo; pois não era assim que as coisas tinham que acontecer, mas eu esperava que ele já soubesse disso, ao ler todo o meu livro. No entanto, o rapaz que eu amava, não havia proferido uma palavra sequer sobre o assunto.

Mas a real era que eu não havia nascido para ser a Agatha, mas sim, a Aurora; e a bruxa careca parecia saber exatamente disso, tanto que me fizera vir buscar o amor em outro mundo, somente para complicar ainda mais a minha situação.

Todavia, eu não tinha muito tempo restante, pois o meu aniversário de dezoito anos se aproximava cada vez mais. E sabendo disso, eu apenas vesti a minha roupa e me sentei para esperar que o Marcelo também acordasse.

E enquanto eu segurava a ágata em formato de lua que ele havia me dado, eu me questionei como poderia destruir o Anderson Village, sem contar com nenhuma magia, que eu só teria disponível, caso se estivesse no mundo mágico.

E eu me entreguei de tal forma aos meus pensamentos e angústias, que nem notei que chorava de forma ruidosa, e que ainda mais, havia acordado o Marcelo com o meu pranto.

Ele vestiu a roupa apressado e então caminhou até a mim, ainda sonolento. Em seus olhos verdes havia uma preocupação genuína. No fundo, o Marcelo parecia se questionar e penalizar, acreditando ser o autor de todo o meu drama interno. Mas não, pois apesar de todos os erros cometidos por ele no passado, aquele garoto havia sido o responsável também, de me fazer viver um dos melhores momentos da minha vida.

O Marcelo havia me magoado, sim, mas também havia feito de tudo para tentar se redimir. E eu admirava aquilo nele, pois gostava de pessoas que eram capazes de admitir que erraram.

Aquele garoto era muito humano e eu sabia que se tinha me feito mal, era somente por estar muito quebrado por dentro também.

A verdade era que mesmo tendo uma família, o Marcelo era tão solitário ou mais, do que eu. Afinal, ele parecia nunca ter experimentado o amor dos pais e isso fizera dele um jovem bastante introspectivo e desconfiado.

Eu, em compensação, apesar de ter vindo parar naquele plano e ter sofrido muito ali, já tinha experimentado tudo de bom, quando ainda vivia em Carmesim

― Por que está chorando? ― ele questionou com desconfiança.

― A Sabrina pode morrer a qualquer momento... ― eu disse, escondendo dele o fato de que a minha morte, no entanto, era certeira.

Marcelo me encarou por um segundo, e então gentilmente se sentou ao meu lado, me abraçando pelos ombros e beijando a minha testa. Eu suspirei, pois era inevitável me sentir reconfortada dentro daqueles braços. As nossas peles pareciam sempre se conectar e vibrar, em uma mesma sintonia. E era por isso, que a nossa primeira vez havia sido tão incrível.

― Nós iremos ver ela assim que der ― ele disse com seriedade. ― Mas não é só isso, e eu posso ver em seus olhos... Você não está feliz com nós dois, Agatha? Você se arrependeu de...?

Eu não queria que ele pensasse aquilo, mas como explicar para o Marcelo que somente o que fizemos não era o suficiente para me salvar, e isso sem parecer ingrata ou exigente?! Eu não queria colocar ele contra a parede. O amor tinha que ser mútuo, sim, mas acima de tudo, espontâneo.

― Eis que entre tapas e livros, nós nos encontramos, sim... ― eu disse, tentando soar descontraída ― mas isso ainda não é o suficiente para que eu sobreviva à minha maldição...

Marcelo deu um salto de onde estava sentado e então me encarou fixamente, sem entender aonde eu queria chegar com aquela prosa.

― Você está com medo do Anderson Village? ― ele perguntou. ― É isso?

― Também, Marcelo ― eu disse, muito cansada de todo o meu dramalhão. ― Eu preciso buscar ajuda em Carmesim, pois o Anderson nunca vai parar. Ele é uma alma ruim e que foi condenada, então quer se vingar... Mas o fato é que eu não acredito que vou sobreviver o bastante, para voltar ao Plano Mágico algum dia.

Eu abaixei a minha cabeça e então comecei a chorar. Marcelo se inclinou mais para perto de mim, e então me abraçou por detrás, me apoiando em seu peito, que para mim sempre pareceria ser o meu porto seguro; até o fim, ao menos; até eu morrer, sentenciada por uma bruxa invejosa.

― Por que diz isso, Agatha? ― ele questionou. ― Você me encontrou, mesmo entre tapas e livros, então por que ainda haveria de morrer?

― Porque isso não é tudo, infelizmente!

― E o que é tudo então?

Marcelo parecia interessado em consertar o que estivesse errado, mas não seria eu a dizer para ele o que realmente estava faltando, então resolvi que era a hora de voltarmos para a casa dos Canuto. Afinal, se eu ia morrer, precisava ao menos tentar consertar a injustiça que havia acontecido com Sabrina e ainda mais, com a empregada daquela família, que parecia fadada a pagar por um crime que não havia cometido.

Eu me pus de pé e mesmo depois de tudo o que havíamos vivido naquela cabana, resolvi ignorar o Marcelo e então voltar para a realidade, que não era tão doce quanto a nossa noite de amor.

― Nós precisamos voltar!

Eu então já me pus a descer de volta, em direção ao carro de Marcelo, que havia dormido solitário na colina, enquanto nós... Enfim, enquanto nós dois nos conhecíamos íntima e completamente. E só de pensar naquilo tudo, eu me senti ruborescer, mas mesmo assim, não me arrependia de exatamente nada do que havia ocorrido.

― Espera aí! ― ele pediu, cheio de súplica. ― Por que está sendo tão fria comigo? Você está arrependida, Agatha?

Marcelo segurou em meu braço com cuidado, sem esperar que eu proseguisse com a minha caminhada desembestada.

― Não estou arrependida, Marcelo! ― foi tudo o que eu disse, mas também não olhei em seus olhos mais.

― Então o que é? ― ele quis saber, parecendo desesperado. ― O que eu fiz de errado dessa vez?

― Você não fez nada de errado ― eu disse com apenas um fio de voz ―, mas nós precisamos ir, pois eu ainda tenho que pensar em como livrar a pele da empregada dos Village daquilo que ela não fez.

Depois disso, tratei modo de caminhar até o carro, me livrando das mãos de Marcelo e esperando que ele destravasse as portas. E ao entrar ali no interior do veículo e me manter em silêncio, eu pude ver o quanto ele estava magoado e frustrado, ao notar que eu realmente não pretendia dizer mais nada.

Mas a verdade era que eu não podia, pois eu já estava fadada a morrer, vítima da maldição lançada pela bruxa careca. E naquele momento, ao fechar os olhos para não ver a dor que exalava de Marcelo, eu pensei que se eu pudesse, daria todo o meu cabelo para aquela velha invejosa, desde que eu pudesse ter a minha vida de volta. No entanto, eu sabia que aquilo ainda não era o suficiente. Então eu apenas gastaria os últimos instantes da minha existência, levando a justiça de volta para a vida da Sabrina e da empregada dos Village, enquanto ao mesmo tempo, buscaria uma forma de destruir Anderson para sempre.

E depois disso, “O desaparecer da Aurora” se concluiria, comigo aceitando ou não; com eu amando o Marcelo profundamente, ou não. Aquela parecia ser a minha sina e também o meu fim. E eu não podia fazer mais nada, pois já tinha feito tudo o que estava ao meu alcance, para mudar aquele destino traiçoeiro que me acometia.

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