VI
Dias se passaram, e eu estava cada vez mais perturbada pelo sonho intenso que tive com Emily Englster. A sensação do beijo, a revelação do nome, tudo isso permanecia vívido na minha mente, a ponto de interferir nas minhas rotinas diárias. Sempre que a via no hospital, eu dava um jeito de me afastar, evitando qualquer contato ou confronto direto. Mas isso estava prestes a mudar.
Andava pelo corredor do hospital, revisando as fichas dos pacientes enquanto caminhava rapidamente para o próximo quarto. Eu tentava manter minha mente ocupada, fugir dos pensamentos sobre o que tinha acontecido. Mas assim que virei a esquina, meus olhos encontraram os de Emily, parada no fim do corredor, como se estivesse esperando por mim.
Meu coração deu um salto, e, sem pensar duas vezes, virei na direção oposta, acelerando o passo, na esperança de escapar antes que ela me alcançasse. Mas, dessa vez, Emily não me deixou fugir.
— Melinda. — A voz firme e decidida de Emily ecoou pelo corredor, carregada de uma autoridade que me congelou no lugar.
Parecia que suas palavras me imobilizavam. Mesmo sem me virar, eu sabia que ela estava se aproximando, e meu corpo reagiu com uma mistura de ansiedade e uma estranha antecipação. A cada passo que ela dava, minha respiração se acelerava, o sangue corria nas minhas veias como se eu estivesse tentando fugir de algo inevitável.
Emily se aproximou, agora perto o suficiente para que eu sentisse sua presença mesmo de costas. O corredor estava deserto, o som das máquinas do hospital e os murmúrios distantes dos funcionários eram tudo o que restava. Meu coração batia forte, e o ar parecia denso ao meu redor.
— Você tem fugido de mim. — A voz dela cortou o silêncio.
Senti o ar fugir dos meus pulmões, a respiração ficando pesada novamente. Fechei os olhos por um momento, tentando achar alguma desculpa, qualquer coisa que explicasse meu comportamento sem revelar o que eu estava sentindo. Finalmente, virei-me lentamente, forçando uma expressão neutra.
— Eu... tenho estado ocupada. Muitos pacientes para atender. — Minha voz saiu tensa, forçada.
Emily não se convenceu. Ela deu mais um passo à frente, encurtando a distância entre nós. Eu senti o calor do seu corpo irradiando na minha direção, e minha pele arrepiou.
— Não é disso que estou falando, e você sabe. Desde aquela noite... algo mudou. E não adianta tentar me evitar, Melinda. Nós duas sabemos que há algo entre nós que não pode ser simplesmente ignorado. — Sua voz estava carregada de algo mais que simples palavras, algo que me puxava para ela.
As lembranças do sonho voltaram à minha mente com força. O toque dos seus lábios nos meus, o desejo que havia me consumido naquela noite. Eu queria negar, dizer que nada estava acontecendo, mas as palavras ficaram presas na minha garganta. Eu estava dividida entre o desejo e o medo.
— Eu... não sei do que você está falando. — Minha tentativa de resistir parecia patética até para mim mesma.
Emily se aproximou mais, seus olhos cravados nos meus, como se pudessem ver dentro de mim, desnudando cada sentimento que eu tentava esconder.
— Você sabe exatamente do que estou falando, Melinda. Eu posso sentir isso em você... a mesma atração, a mesma necessidade que me mantém acordada à noite, pensando em você. Por que está resistindo? Não precisamos jogar esses jogos.
Seu tom era sedutor, mas havia algo mais profundo, algo que despertava em mim uma luta interna. Meu coração estava em guerra. Parte de mim queria ceder, deixar que aquela força me levasse completamente. Mas a outra parte, a parte racional, lutava desesperadamente para não se perder na presença enigmática de Emily Englster.
— Isso... não deveria estar acontecendo. Eu não posso... — Minha voz falhou no meio da frase. Eu estava tentando convencer a mim mesma, mais do que a ela.
Emily, percebendo minha hesitação, tocou suavemente meu braço. O simples contato enviou uma onda de eletricidade pelo meu corpo, fazendo meu coração bater ainda mais rápido.
— Melinda, nós duas sabemos que você não pode fugir para sempre. E quando você decidir parar de lutar contra o que sente... eu estarei esperando. — Aquelas palavras soaram como uma promessa, mas também como um aviso.
Ela se afastou, mas o impacto de sua presença ainda estava ali, impregnado no ar. Fiquei parada no corredor vazio, tentando recuperar o fôlego, enquanto a figura de Emily desaparecia na próxima esquina. Minha mente girava, cheia de perguntas e emoções conflitantes. Eu estava tão confusa. Por que ela tinha tanto poder sobre mim? Por que eu não conseguia simplesmente ignorá-la?
“Eu preciso entender o que está acontecendo”, pensei. “Por que sinto que isso é só o começo?”
---
Voltei ao meu posto no hospital, tentando me recompor, mas minha mente estava uma bagunça. Meu corpo ainda tremia de nervosismo, e o coração, que antes batia acelerado por causa da presença de Emily, agora parecia pesado, como se algo estivesse prestes a mudar irreversivelmente.
Peguei algumas fichas de pacientes, forçando-me a me concentrar nas tarefas mundanas. Eu precisava me focar em algo, qualquer coisa que me afastasse dos pensamentos sobre Emily. Mas antes que eu pudesse realmente mergulhar no trabalho, Carol apareceu ao meu lado com aquele sorriso malicioso de sempre.
— Sabe, Melinda — começou ela, descontraída, mas com um tom curioso —, você e a senhorita Englster combinam. Vocês duas têm uma presença... poderosa.
As palavras dela me pegaram de surpresa, e senti um calafrio percorrer minha espinha. Será que ela sabia de algo? Será que estava tão óbvio assim o que estava acontecendo entre nós, ou pelo menos o que eu sentia? Respirei fundo, tentando disfarçar a tensão.
— Englster e eu? Não seja boba, Carol. Eu mal a conheço. — Forcei um sorriso, tentando parecer desinteressada.
Carol riu, mas havia algo em seu olhar que me incomodava, como se ela soubesse mais do que estava dizendo.
— Relaxa, só estou brincando... Mas, falando sério, quem não gostaria de se aproximar dela, né? — Ela inclinou-se um pouco, o tom ficando mais ambicioso. — Estou pensando seriamente em tentar seduzir a senhorita Englster. Quem sabe, posso subir uns degraus aqui no hospital.
As palavras de Carol foram como uma faca. Senti algo estranho dentro de mim, como uma pontada de ciúmes, misturada com raiva. Não era só o desconforto de ouvir aquilo, era algo mais sombrio, algo que eu não queria admitir, nem para mim mesma.
— Cuidado com o que deseja, Carol. Englster não parece ser alguém fácil de lidar. — Minha voz saiu mais dura do que eu pretendia.
Ela riu, sem perceber o quão sério aquilo era para mim. Para Carol, era apenas uma brincadeira, um jogo. Mas para mim, era muito mais do que isso. A ideia de ela tentar se aproximar de Emily me deixava desconfortável de um jeito que eu não conseguia explicar.
Assim que Carol se afastou, fiquei ali, parada, tentando processar tudo. Por que isso me afetava tanto? Por que eu não conseguia simplesmente deixar pra lá? E, acima de tudo, por que Emily tinha esse poder sobre mim, a ponto de eu me importar com quem se aproximava dela?
Eu precisava me afastar... antes que fosse tarde demais. Mas, no fundo, eu sabia: já era tarde demais.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro