V
O relógio do hospital já marcava pouco depois da meia-noite. Melinda, sentindo a fome apertar, decide fazer uma pausa e ir até a cantina em busca de algo para comer. Os corredores estão silenciosos, exceto pelo som ocasional de um monitor cardíaco ou de passos distantes. Ela caminha pelos corredores iluminados artificialmente, ainda refletindo sobre o dia e as conversas que teve.
Quando se aproxima de um cruzamento de corredores, Melinda para bruscamente. Ali, de pé no meio do caminho, está a Mulher Misteriosa. Aquela mesma presença que vinha perturbando seus pensamentos e sonhos. Ela está vestida de maneira elegante, como sempre, mas desta vez, parece ainda mais imponente sob a luz fria do hospital.
— Você?! O que está fazendo aqui? — Melinda pergunta, surpresa, mas logo assumindo um tom desafiador.
A Mulher Misteriosa esboça um sorriso enigmático, dando alguns passos em direção a Melinda. O ar entre elas parece carregar uma tensão elétrica.
Melinda sente seu coração acelerar, mas não deixa transparecer seu nervosismo. Ela decide confrontá-la, como fez antes.
— Eu já te disse para parar de me seguir! Não importa onde eu esteja, você sempre aparece, como uma sombra. O que você quer de mim?
Antes que a Mulher Misteriosa possa responder, os passos de outra pessoa ecoam pelo corredor. Carol se aproxima com uma expressão cansada, mas curiosa. Ao ver a Mulher Misteriosa, no entanto, Carol para abruptamente, surpresa.
— Ah, senhorita Englster, eu não sabia que a senhorita estava aqui. Desculpe interromper — diz Carol, com um sorriso, mas com um toque de respeito.
Melinda fica imóvel, os olhos se arregalando enquanto processa o que acabou de ouvir.
— Senhorita Englster? Você... você é a filha do dono do hospital? — Melinda pergunta, em choque, olhando entre Carol e a Mulher Misteriosa.
A Mulher Misteriosa – agora revelada como Senhorita Englster – apenas sorri mais amplamente, seus olhos brilhando com uma mistura de diversão e algo mais profundo.
— Surpresa, Melinda? Eu disse que já nos conhecíamos... embora você não soubesse quem eu era, até agora — diz Englster, com um tom suave, mas cheio de significado.
Melinda sente o chão faltar sob seus pés. Aquele mistério que envolvia a Mulher Misteriosa agora parece ainda mais complexo e perigoso. As palavras dela, os encontros, os sonhos – tudo começa a fazer sentido, mas de uma forma que Melinda jamais esperaria.
— Você... por que está fazendo isso? Por que eu? — tenta Melinda, tentando manter a compostura.
— Porque, Melinda... há muito mais entre nós do que você imagina. E eu sou muito paciente — responde Englster, aproximando-se mais de Melinda, em um sussurro.
Antes que Melinda possa responder, Carol intervém novamente, quebrando o momento de tensão.
— Melinda, está tudo bem? Parece que vocês estavam tendo uma conversa séria...
— Sim, está tudo bem... só... preciso de um momento — responde Melinda, rapidamente, tentando se recompor.
— Obrigada, Carol. Pode deixar, Melinda está em boas mãos — diz Englster.
Carol assente, ainda sem perceber o subtexto da conversa, e se afasta, deixando Melinda e Englster sozinhas novamente.
Melinda sente uma mistura de raiva, confusão e algo mais profundo – algo que ela não consegue definir completamente, mas que a faz sentir-se vulnerável diante de Englster.
— Nos vemos em breve, Melinda. Cuide-se — Englster diz, com um último olhar profundo.
E com isso, ela se vira e começa a caminhar pelo corredor, desaparecendo na escuridão do hospital, deixando Melinda perdida em seus próprios pensamentos.
"Isso não pode estar acontecendo... ela é a filha do dono do hospital. Como eu não sabia? E o que tudo isso significa? Preciso entender... mas será que estou pronta para o que vou descobrir?"
O plantão finalmente chega ao fim, e estou exausta. Me dirijo ao vestiário para trocar de roupa. Não vi mais Englster desde o estranho encontro no corredor, mas o pensamento daquela noite não me deixou em paz. O vestiário está quase vazio. Entro silenciosamente, pronta para tirar o uniforme e finalmente ir para casa.
Enquanto estou no processo de trocar de roupa, escuto sussurros vindos do outro lado das portas dos armários. Reconheço a voz de Carol e decido me aproximar discretamente, curiosa para ouvir o que está sendo dito.
— Vocês não vão acreditar no que aconteceu ontem à noite. A Melinda está encrencada, e eu acho que ela nem percebe — sussurra Carol, em um tom baixo, quase conspiratório.
Meu coração bate mais rápido enquanto continuo a ouvir.
— Encrencada? Como assim? O que aconteceu? — pergunta Alys, sussurrando de volta.
— Eu vi ela conversando com a senhorita Englster no meio do corredor. A senhorita Englster parecia muito séria, e a Melinda estava toda tensa... Eu acho que a Melinda fez algo que a deixou furiosa. E você sabe como a senhorita Englster pode ser... quando ela se enfurece, ninguém escapa — diz Carol.
— Ai meu Deus, coitada da Melinda. O que será que ela fez? A gente nunca vê a senhorita Englster aqui, e quando aparece, já vem com essa cara de poucos amigos... Será que Melinda vai ser chamada na sala do chefe? — pergunta Chloe, com um toque de preocupação.
Sinto um frio percorrer minha espinha. Começo a me perguntar se minha decisão de confrontar Englster foi um erro. O medo de possíveis consequências começa a me tomar conta, mas ao mesmo tempo, a raiva cresce. Por que essa mulher está tentando complicar minha vida ainda mais?
— Eu acho que é mais do que apenas uma bronca... A forma como a senhorita Englster olhava para ela, era como se houvesse... algo pessoal ali. Eu só espero que Melinda saiba o que está fazendo — continua Carol, abaixando ainda mais a voz.
As palavras de Carol ecoam na minha mente. Algo pessoal? Isso só aumenta a confusão e o medo. Eu sabia que havia uma conexão estranha entre mim e Englster, mas agora que sei quem ela realmente é, tudo parece ainda mais sombrio.
Ainda escondida e ouvindo, me sinto dividida entre a vontade de sair e confrontar elas, ou simplesmente ignorar e tentar seguir com a vida. Mas, uma coisa é certa: preciso descobrir mais sobre essa ligação com Englster, antes que a situação saia completamente do meu controle.
Com os pensamentos a mil, termino de me trocar rapidamente, decidida a sair do hospital o mais rápido possível. Enquanto me afasto do vestiário, o som das conversas ainda ecoa em minha mente, e sei que preciso lidar com isso – mais cedo ou mais tarde.
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Melinda, ainda perturbada pelo que ouviu no vestiário, sai do hospital e se dirige para a área de espera, onde aguarda o carro de aplicativo que chamou. A madrugada está fria e silenciosa, com poucos funcionários circulando pelo estacionamento. Ela cruza os braços, tentando se aquecer enquanto observa o movimento distante das luzes dos carros na rua.
Enquanto espera, Melinda sente um calafrio percorrer sua espinha, como se estivesse sendo observada. Ela olha em volta discretamente e, para seu desconforto, avista o filho do paciente que havia mostrado interesse nela. Ele está encostado em um carro, a alguns metros de distância, com os olhos fixos nela. Melinda sente um leve incômodo, mas decide ignorar, não querendo alimentar qualquer interação.
"Isso está começando a ficar estranho... Ele parece tão fixado em mim. Só preciso entrar no carro e sair daqui o mais rápido possível." — pensa Melinda.
Melinda desvia o olhar, tentando focar na tela do celular enquanto verifica a localização do carro que pediu. Mas antes que o veículo possa chegar, a presença de alguém se aproxima. Ela não precisa levantar a cabeça para saber de quem se trata. Seu corpo imediatamente reage com uma mistura de apreensão e algo que ela não consegue explicar.
Quando finalmente levanta os olhos, lá está ela: Englster, parada na entrada do hospital, com o mesmo olhar penetrante e enigmático que Melinda agora reconhece tão bem. A cada passo que Englster dá em sua direção, o coração de Melinda bate mais rápido, e o medo do que as pessoas podem pensar começa a tomar conta.
— Melinda... Parece que você está precisando de uma carona. Posso te levar para casa — diz Englster, com uma voz calma, mas que carrega um tom de autoridade.
Melinda sente o calor subir ao rosto. A situação no hospital já era complicada, e agora, com Englster ali, em plena entrada, a oferta só intensifica a possibilidade de mais fofocas. E se alguém vir? E se Carol ou outra colega estiver por perto, observando?
— Eu... agradeço, mas já chamei um carro. Não quero incomodar — responde Melinda, tentando manter a compostura, mas com a voz levemente trêmula.
— Não é incômodo algum, Melinda. Eu insisto. Deixe-me levá-la. Acho que precisamos conversar, longe de ouvidos curiosos — Englster se aproxima ainda mais, os olhos brilhando.
Melinda nega novamente a oferta da carona.
—Como preferir. Mas não se esqueça, Melinda... nossa conversa ainda não terminou. Estarei esperando o momento certo.
Com essas palavras, Englster dá meia-volta e caminha em direção ao seu próprio carro, suas passadas elegantes ecoando no silêncio da madrugada. Melinda fica onde está, sentindo a tensão lentamente se dissipar, mas o incômodo persistindo.
O carro de aplicativo finalmente chega, e Melinda entra rapidamente, ainda sentindo o olhar de Englster e do filho do paciente sobre ela. Enquanto o carro se afasta, Melinda se pergunta como tudo isso irá afetar sua vida e se ela está preparada para lidar com as consequências.
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