3. Arabella
Um alívio me preencheu quando as notas foram fornecidas e eu vi um belo dez tanto para apresentação quanto para o trabalho escrito. Era bom não precisar mais ver a cara de Matteo ou qualquer outro Bianucci por mais do que as seis horas obrigatórias dentro do colégio.
Nunca mais vira o Deus grego da biblioteca em qualquer lugar daquele colégio. Estava começando a achar que ele era fruto da minha imaginação fértil. Talvez ele fosse o meu refúgio para a situação com os Bianucci.
Agora eu poderia sentar no meu lugar, sem ter aqueles garotos com toda a sua testosterona que atraíam todo o tipo de garota nas horas mais inoportunas.
No entanto, assim que coloquei os pés na porta, não foi o que vi ali. Os Bianucci estavam no mesmo lugar de sempre, conversando entre si animadamente. Minhas primas passaram por mim, indo se sentar no mesmo lugar de sempre e cumprimentando aqueles impostores. Ah, mas se o nonno e a nonna soubessem!
Me aproximei a passos duros e soltei minhas coisas em cima da minha mesa - infelizmente ao lado de Matteo Bianucci. Não foi surpresa ver todos se assustarem com o barulho, principalmente os mais próximos.
Contornei a minha mesa e parei ao lado de Matteo, esperando que ele me olhasse. Não demorou muito para que ele se virasse pouco a pouco na minha direção, deixando de conversar com Perla e Francesco. Com certeza deveria ter sido o calor da raiva emanando de mim que chamou a sua atenção.
- Pois não? - Questionou, o sorrisinho sacana brincando nos seus lábios. Eu queria esganá-lo! - A que devo a honra da sua admiração?
- Você tem prazer em me perturbar, não é? - Estreitei meus olhos na direção dele, os braços cruzados embaixo dos seios.
Matteo se levantou e nesse ponto eu sabia que nossos primos pararam de se falar para observar o circo que era a discussão entre Matteo Bianucci e Arabella Pasini, pois o burburinho havia cessado. Como se aquilo fosse alguma novidade para eles. E então ele se abaixou, ficando próximo ao meu pescoço e meu lóbulo, soprando ali o seu hálito quente, causando arrepios traidores. Malditos hormônios!
- Eu sinto prazer com muitas coisas, Arabella. - Meu nome escorregava por sua língua junto com seu sotaque italiano perfeito. - Mas te perturbar não é uma delas. - Ele se afastou apenas para olhar nos meus olhos e piscar.
Mais uma vez, eu quis matar ele e meu corpo traidor.
- Desculpa. - Me aproximei dele, os rostos próximos, as respirações se chocando uma no rosto do outro, os narizes quase colados, os olhares fixos. - Eu te dei alguma intimidade para falar assim comigo? Eu não me lembro.
A mordida no seu lábio inferior quando seus olhos encontraram meus lábios me fez perder o ar, mesmo eu não querendo admitir.
- Não deu, mas bem que poderia. - Ele sussurrava tão baixo que quase não escutei. Quase, infelizmente.
Grunhi e sai de perto dele, voltando a me sentar no meu lugar.
Eu odiava Matteo Bianucci!
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- Vejo vocês mais tarde!
Acenei para as minhas primas enquanto as via se afastar pouco a pouco de mim, indo para o conforto de nossa casa enquanto eu ficaria presa na biblioteca da escola.
Eu nunca precisava realmente estudar, sempre me garantia em prestar a atenção nas aulas e fazer exercícios para reforçar a matéria, mas ultimamente algo atraía a minha atenção e eu odiava admitir isso. Então, por causa de um garoto idiota que eu odiava tanto, ficaria presa no colégio.
Peguei a primeira baia que achei e me aconcheguei ali com as dezenas de livros de trigonometria que encontrei pela frente e que seriam úteis. Fiz e refiz cada exercício com atenção e zelo pelo menos dez vezes para garantir que aquilo se fixaria na minha cabeça de uma vez por todas.
Cansada de tantos números, ângulos e formas geométricas, eu me levantei apenas para passear por entre as prateleiras. Toquei os títulos dos livros de capa dura com a ponta dos dedos. Eu sabia que não só a mão, mas eu toda estaria com um cheiro de mofo terrível até a hora do banho. Aqueles livros eram antigos e eu não duvidava que meus pais haviam utilizado os mesmos. Vez ou outra era possível ver anotações de tempos que ainda se podia fazer - hoje, se te pegassem riscando um daqueles livros velhos, pagava uma multa das grandes. Em breve não poderíamos nem pegar ou seriam desfeitos em nossas mãos. Era melhor eles começarem a digitalizar ou cada letra desapareceria e...
Senti alguém tocar meu ombro e me virei rapidamente. Os fones que eu utilizava para ouvir uma música indie no último volume foram retirados de uma vez e meus olhos se arregalaram ao ver quem estava ali.
Era ele, o meu Deus grego! Dei um meio sorriso tímido e abaixei a cabeça, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ao levantar o olhar, vi que ele passava a mão nos cabelos loiros, claramente nervoso. Ele estava nervoso por minha causa? Meu Deus, eu estava hiperventilando.
- Oi. - Foi ele quem quebrou o silêncio constrangedor que havia sido instalado.
Ele quem chamou, nada mais justo, certo? Agora eu tinha que me lembrar de como se falava.
- Oi. - Mordi o lábio inferior. Droga, isso era tudo o que eu sabia falar? Por que ele me deixava tão nervosa?
- Eu te procurei pelo colégio, mas não a vi. - OK, eu queria gritar. Ele estava me procurando! Eu também estava, mas ele não precisava saber disso. - Esqueci de perguntar seu nome, erro terrível. Pode me dizer agora?
- Claro, se me disser o se.. - Dei de ombros e ele assentiu, seu sorrindo aumentando. E que sorriso lindo! - Sou Arabella Pasini.
Estiquei a mão na sua direção para que pudéssemos fazer um cumprimento formal, mas ele a pegou, beijando os nós de meus dedos enquanto tinha os olhos de águia em cima de mim, fazendo o meu interior se aquecer.
- Muito prazer, Arabella. Sou James Federhen. - E então suas mãos estavam dentro dos bolsos de sua calça, passando uma timidez que eu nunca pensei existir em um homem como aquele. Sim, homem, porque aquilo ali estava longe de ser um garoto. - Lindo nome. Diferente, forte, incomum. Isso a faz especial.
Tive que conter um suspiro. Se eu fosse uma manteiga, com certeza teria derretido naquele instante.
Era agora que se instalava um silêncio esquisito e nós nos despedíamos para nos ver apenas semanas depois casualmente dentro da biblioteca entre os corredores cheios de livros empoeirados?
- Você quer sair comigo um dia desses?
Meu. Deus. Grego.
Eu acho que estava morrendo, porque meu coração estava batendo mais rápido do que deveria. Sim, eu morreria a qualquer segundo a partir dali ou acordaria, no mínimo, porque com certeza era um sonho muito bom.
Ele voltou a falar:
- Ahn, tudo bem se você n...
- Não, não. Quer dizer, sim. Eu quero. Claro.
Eu havia demorado para responder e isso foi o suficiente para ele achar que eu não queria. Ah, se ele pudesse ler pensamentos... Aliás eu agradecia aos céus por ele não poder.
- OK, me passa meu número para a gente combinar. O que acha?
- Sim.
Deus, eu só dava resposta imbecil.
Eu não estava dormindo em cima dos livros. Tinha sido real e se tornou ainda mais quando eu recebi sua mensagem. Ele queria confirmar que era mesmo o meu número. Até parece que eu passaria meu número errado! OK, no calor do momento eu poderia me confundir e passar um número que não fosse o meu, mas não foi o que aconteceu. Seria possível um Deus grego daqueles - agora com nome e sobrenome - ser inseguro? Não, com certeza não. Não fazia nem um pouco o tipo dele.
Quando cheguei em casa pisando nas nuvens, não havia nenhuma piadinha no jantar sobre como eu estava em outro mundo que me tiraria do sério. Precisaria de muito mais do que aquilo naquele momento.
Não aguentando conter um sorriso que queria preencher meu rosto, fui para o quarto mais cedo e me deitei na cama. O teto parecia um bom lugar para montar um cenário do futuro: eu, James Federhen, casamento, filhos... OK, era nosso primeiro encontro, mas uma garota podia sonhar.
- Será que ela se drogou? - Ouvi a voz de Paola ao meu lado e levantei, me sentando de imediato na cama.
Por um momento, eu esqueci a rixa com os Bianucci e a traição de minhas primas. Pensando bem, aquilo nem era tão importante assim. Não enquanto James estivesse na minha vida.
- Garota, nós estamos te analisando há um tempo. Se não fosse seu sorriso aumentando cada vez mais, a gente ia achar que você morreu. - Foi Perla quem falou, se sentando de frente pra mim em sua cama junto com sua irmã. - Vai nos dizer o que aconteceu ou vai continuar com esse sorriso de quem fumou uma erva?
Tive que gargalhar. Em outros tempos eu a repreenderia, mas não hoje. No presente momento eu era uma outra Arabella.
- Eu tenho um encontro. - Mordi o lábio inferior, tentando barrar o sorriso que só queria aumentar cada vez que eu colocava isso pra fora.
- Com quem? - Paola tinha os lábios entreabertos em choque e eu não fiquei ofendida.
Mexi no celular até encontrar a foto da rede social de James. Ele estava na praia, deitado na areia, a câmera apontada para si e um olhar arrebatador. Mostrei para elas que ficaram ainda mais boquiabertas enquanto eu sentia orgulho de mim mesma por atrair um homem maravilhoso desse.
- Mentira! É aquele da biblioteca que você comentou um dia desses? - Perla perguntou, me devolvendo o aparelho.
- O QUÊ?! Por que eu não estou sabendo disso? - Paola me fitou com os olhos semicerrados e eu tive que revirar os meus.
- Porque você não estava no nosso grupo de trabalho. - Dei de ombros. - Não lembrei de comentar depois.
- Não lembrou de comentar desse anjo que caiu do céu? Isso foi um pecado cometido contra mim, mocinha. - Ela tinha o dedo em riste na minha direção e os olhos semicerrados.
- Então estamos quites por vocês estarem de conversinha com os Bianucci? - Rebati, vendo ela baixar a guarda, satisfeita por conseguir pensar em algo que não fosse o meu encontro.
- Droga. - Murmurou Perla. - Não vai contar para o nonno e a nonna, né?
Aquele olhar dela sob os cílios convencia até o mais duro coração.
- Não, manterei em vantagem quando precisar. - Dei um sorriso vitorioso.
- Você é má, Arabella. - Paola se pronunciou, rindo baixo.
- Má não. Apenas esperta. - Dei de ombros, me levantando e indo em direção ao banheiro para me preparar para dormir.
Desconfiava que seria uma noite longa.
Não conseguia esconder as malditas olheiras e aquilo estava me tirando do sério.
Eu havia passado a noite em claro planejando o meu jantar com James. Sim, um jantar, como ele havia dito. Não me contou onde, disse apenas que era uma surpresa e isso só aumentou a expectativa.
Contei à minha mãe que não poderia ajudar na pizzaria naquela noite e ela ficou feliz por eu ter um encontro. Meu primeiro encontro, o que aumentava ainda mais a expectativa. Eu só esperava não fazer nada de errado e não agir como a perfeita virgem que eu era nesse assunto.
Meu pai, tios e o nonno não agiram com ciúmes como eu esperava e isso me deixou aliviada. Eu achava que a próxima vez que pisasse naquela pizzaria, alguns clientes fieis saberiam sobre meu encontro.
Ele estava na minha porta às 20 horas em ponto e eu apenas gritei sobre o ombro que estava saindo. O carro dele estava parado do lado de fora e eu duvidava que fosse dele mesmo.
James estava parado do lado de fora e segurava a porta aberta para que eu entrasse. Eu sabia que ele era um cavalheiro quando pediu que se apresentasse aos meus familiares, mas ficou triste quando disse que a maioria estaria trabalhando e logo desistiu.
- Oi James. - Dei um meio sorriso para ele.
Me surpreendi quando seus braços envolveram a minha cintura e eu recebi um beijo no rosto, mas aceitei de bom grado com as mãos pousadas em seus ombros largos.
- Bom te ver. - Sorriu e me soltou, deixando que eu entrasse.
Somente quando ele voltou a dirigir pelas ruas que me senti menos atordoada. Ele tomou a iniciativa mais uma vez:
- Então, Pasini, certo? Como a pizzaria.
- Ah, sim. - Dei de ombros. - É uma pizzaria de gerações.
- Eu sabia que conhecia seu sobrenome de algum lugar. - Ele prestava a atenção na direção, mas ainda assim conseguia me responder. - Só me lembrei quando mencionou. Sempre gostei das pizzas de lá.
- Não vai me levar lá, não é? - Perguntei, desconfiada.
A sua gargalhada me contagiou. Era adorável!
- Não. Eu ia, mas desisti quando me pediu para que não fôssemos.
Eu pedi porque sabia que boa coisa não sairia dali. Conhecia bem a minha família para ter uma ideia de como esse encontro poderia ser um fracasso.
Reconhecia o caminho que ele estava fazendo como a palma da minha mão. Franzi o cenho e o olhei enquanto estacionava próximo à pizzaria da minha família.
- Se não vamos na Pasini, por que estamos aqui?
Ele mentiu pra mim! Droga, eu estava com raiva e queria chorar por isso.
Ele saiu do carro, vindo abrir a porta para mim enquanto oferecia a sua mão. Sai mesmo assim, pisando duro, os braços cruzados em frente ao peito enquanto eu me encostava no carro e esperava que ele o travasse. Mas toda a ira desapareceu quando um braço se apoiou ao lado da minha cabeça e nossos rostos estavam próximos. Eu falei do sorriso? Os olhos eram hipnotizantes e piores - ou melhores, dependendo do ponto de vista - que o sorriso.
- Confia em mim. - Pediu, tocando minha mão e entrelaçando nossos dedos.
Foi o suficiente para eu morder o lábio inferior e assentir, totalmente entregue àquele homem.
No entanto, cada vez mais nós nos aproximávamos da Pasini. A menos de um metro de distância da pizzaria da minha família, ele nos atravessou e então eu entendi para onde estávamos indo: Bianucci Pizzaria.
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