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Desanimada por ter escutado os pais discutirem na noite anterior, Lunna levanta-se para ir à aula. Coloca a camisa branca e a calça amarelo queimado do uniforme arruma os cabelos rapidamente com um coque, e não se esquece de pegar a bolsa do ballet.
Quando chega no corredor da sua sala de aula, no segundo andar, vê Cauã com um sorriso de orelha a orelha a esperando. Ah, esqueci que tenho namorado.
— Oi, como está o meu amor? — Ele a cumprimenta, e desmancha o sorriso ao perceber o desânimo dela. — Está tudo bem?
— Não.
— O que foi? — Ele a abraça amorosamente, depois a leva para dentro da sala para escutá-la.
Mais tarde, Lunna se apronta para a aula de ballet e coloca o collant preto, as meias brancas e as sapatilhas também brancas, mas com bastante marcas de uso, depois observa-se no espelho se sentindo linda.
Ballet é a minha vida, vou ficar péssima se meus pais me tirarem daqui. Concentra-se no aquecimento. Eu não posso sair dessa escola e parar com o ballet.
— Muito bem garotas, vamos começar. — Diz a professora.
Concentra-se nos movimentos de um round de jambe. Com muita delicadeza, desenha uma letra D imaginária no ar, movendo os braços suavemente e terminando com um rodopio. No final da aula, repara em alguém atrás do vidro e para quando reconhece quem é.
— Jota! — Diz, baixinho para si com um sorriso enorme, ele a retribuí na mesma proporção.
Parece que os velhos hábitos não acabam.
Quando o garoto olha ao redor da sala, desmancha o sorriso na hora ao reparar na presença de Cris, que também sorri para ele. Ah não, esqueci-me completamente de que ela também faz ballet. Só queria dar um oi para a Lunna, droga!
A aula mal acaba e Cris corre de encontro ao rapaz.
— Jota, você veio me ver dançar?
— Não, quero dizer, sim. — Responde, sem graça, olhando para Lunna que permanece parada os observando de longe.
— Ai que legal! — Cris o abraça e o beija na boca brevemente, ele não reage.
Inconformada, Lunna nega a cabeça e vai direto para o vestiário. Tranca-se no banheiro e senta-se sobre o vaso fechado.
Eu realmente não esperava por isso. Ela realmente o beijou na boca? Pensa com os olhos lacrimejando. Eu sei que namoro o Cauã, mas por que isso dói tanto? Não deveria doer assim...
Neste momento, escuta o barulho das outras bailarinas entrando no vestiário.
— Nossa, Cris, você está com moral, hein? O Jota veio te buscar na aula?
— Sim, parece que meus beijos deram certo! — Ela solta uma gargalhada.
— Ele parece que está gamadinho em você. — Diz outra garota — Até que enfim largou da Lunna.
— Ai, nem me fale...
A essa altura, Lunna está com as duas mãos na boca e com os olhos transbordando em lágrimas. Quando as garotas saem do vestiário, ela sente-se mais à vontade para chorar.
Está bem, eu me rendo: Eu amo o Jota! Amo de um jeito, que nunca imaginei que poderia amar.
— Lunna! — É a voz de Cauã, chamando-a pelo lado de fora do vestiário.
— Ai, droga! — A garota corre lavar o rosto. — Não posso deixá-lo perceber que estava chorando!
Depois de secar o rosto, trocar de roupa rapidamente e tentar arrumar um pouco seus cabelos, ela sai do vestiário.
— O que foi? Você estava chorando?
— Eu? Claro que não! — Ri sem graça.
O rapaz a acompanha até em casa, ainda preocupado, pois ela ficou calada o tempo todo durante o caminho. Eles de despedem com um beijo rápido e a garota vai direto para o quarto e deita-se na cama.
Que raiva, quando ela disse que queria ficar com o Jota, estava mesmo decidida. Só não pensei que fosse me machucar tanto... Mas quer saber? Eu não posso ficar chorando.
https://youtu.be/OFNrN_6Ta5I
Levanta-se da cama rapidamente, coloca um CD para tocar em seu quarto em um volume alto para dançar e esquecer do beijo que viu, porém, a cada 10 pensamentos, 11 são sobre seu amigo. Pior ainda é quando começa a tocar uma música chamada What is love - Haddaway, já dançaram e cantaram juntos, ou seja, faz lembrar demais Jota. Ela escuta várias vezes seguida, deitada na cama novamente.
— Lunna! Chega dessa música! — Reclama Thomas batendo na porta do quarto, mas a garota aumenta ainda mais o volume.
Quando chega a segunda feira, o medo de ver aqueles dois se beijando novamente é enorme. Ela faz questão de chegar tarde, quase atrasada, para não ver ninguém. A semana passa devagar e Lunna continua a evitar o amigo.
Na sala de aula, ela se concentra no exercício de matemática em pleno recreio e Cauã puxa a cadeira ao lado dela, preocupado.
— Percebi que nesses últimos dias você não está bem, o que aconteceu?
— Não aconteceu nada, está tudo bem.
— Tem certeza? Você sabe que pode contar comigo pra tudo, não sabe?
— Sim, não se preocupe. — Delicadamente, ela apoia a cabeça no peito dele e ganha um abraço carinhoso. — Seus pais brigaram novamente?
— Eles brigam quase todos os dias.
Depois do afago, Lunna decide ir ao banheiro e sai da sala. No corredor, encontra com Jota passando, eles cruzam o caminho, cumprimentam-se e ela entra no banheiro. Depois de fazer suas necessidades, a bailarina para em frente do espelho, suspira e dá um tempinho até sair.
Porém, ele ainda está no corredor a lhe esperar.
— Tudo bem? — Ela pergunta.
— Não. Quer dizer que só porque você está namorando esqueceu do seu melhor amigo?
— Por que diz isso?
— Eu percebi que você está me evitando.
— Não estou te evitando, tenho muitos trabalhos escolares para fazer, é isso.
— Só isso mesmo?
— Sim! — Balança a cabeça, depois começa a caminhar, ele a acompanha em silêncio por um tempo.
— Sabe, não sabia que você gostava do Cauã...
— E eu não sabia que você gostava da Cris! — Ela altera um pouco a voz.
— Eu não gosto dela! — Altera a sua na mesma proporção.
Lunna empaca com os braços cruzados, séria, querendo mais explicações.
— Ela me beijou e agora quer me beijar toda a hora!
— É? Mas você gosta, né?
— Quando o Cauã te beija você também não gosta? — Responde de cara fechada.
— Ai Jota, preciso voltar para minha sala! — Diz, caminhando rapidamente, deixando-o ali parado, de cara feia.
O que foi isso? Ela ficou com ciúmes? Então por que namora o Cauã?
Ao chegar na sala de aula, Lunna senta-se ao lado de Cauã, irritada.
— Acho que você está de TPM. — Ele comenta — Quer um chocolate?
— Quero! — Sorri.
— Eu acho que devo ter um derretido na minha bolsa, pode ser?
Ela reage desmanchando o sorriso, indicando que não quer.
Irritado em sua mesa na sala de aula, Jota está olhando a janela e apoiando seu queixo com a mão. Não entendo como a Lunna não percebe o quanto eu gosto dela. Acho que ela nunca terá outros olhos para mim, sempre serei o melhor amigo, melhor amigo, melhor amigo...
Indo embora chutando pedras, continua a reflexão: Deveria encontrar um jeito para ela perceber, já que o medo de dizer é gigantesco.
Um dia depois, uma manhã de domingo, o rapaz ainda muito confuso sai de casa usando roupas bem leves para correr. Durante a corrida, Lunna perturba seus pensamentos. Logo, algo em um muro chama sua atenção, trata-se de um cartaz bem grande e com uma foto de um casal dançando.
— O que é isso? Concurso de dança com prêmio de 10 mil em dinheiro para o 1° lugar!? Nossa, será que a Lunna gostaria de participar? Acho que é disso que preciso!
O garoto termina sua corrida e volta para casa a fim de tomar um banho, perfuma-se todo e pedala em direção a casa da amiga. Aperta a campainha e quem atende é Thomas.
— O que é? — Atende sem abrir a porta totalmente.
— Gostaria de falar com a Lunna. — Responde alegremente, ainda montado na bicicleta no portão da casa.
— Ela não está, saiu com o namorado.
— Ah é?— O rapaz desanima na hora. — Mas assim tão cedo?
— O amor é lindo, não? — Sorri.
— Thomas, quem é? — A voz da garota vem de dentro da casa.
O caçula olha para Jota revirando os olhos, abre a porta e ela aparece. Ao perceber que trata- se de Jota, abre um largo sorriso.
— Por que você é tão mal educado, Thomas?
— Olá! — O rapaz a cumprimenta com um sorriso satisfeito em saber que ela não está com Cauã.
Ela abre o portão e se aproxima.
— Que bom que você veio, quero pedir desculpa por aquele dia no corredor da escola.— Diz arrumando a gola da camisa dele, tentando descontrair— Eu não tenho nada a ver com o esquema entre você e a Cris.
— Não foi nada.— Diz, revirando os olhos.
— Então, o que veio fazer aqui?— Sorri, olhando para ele.
— Quero te mostrar uma coisa bem legal!
— O que?
— Para descobrir, vai ter que vir comigo.
Lunna observa o local que costuma sentar na bicicleta, sem saber se deve continuar com esse hábito ou não. Decide rapidamente que não há mal algum e pula na bicicleta do rapaz entre os braços dele e o guidão, e o fita com um sorriso.
Quer saber? Acho que quero ficar aqui mesmo. Pensa ele com seus olhos fixos no rosto dela.
— Então, onde é?
Ele começa a pedalar.
— Aqui perto.
— Ai, não sei porque me sento aqui, dói muito o meu bum bum.— Diz ela assim que chegam lá, descendo da bicicleta.
— Vou passar a trazer uma almofada para você.— Sorri brincalhão.
— Não seria má ideia.— Sorri igualmente.
— Olha, quero te mostrar isto.— Aponta.
A garota observa por algum tempo, chegando perto do cartaz, depois olha para o amigo com um sorriso enorme.
— É exatamente disso que estou precisando!
— É mesmo?
— Meu pai perdeu o emprego e esse prêmio iria ajudá-lo muito!
— Nossa, até parece que adivinhei!
Lunna volta a observar o cartaz, sonhadora. Depois olha para ele rapidamente, como se tivesse acabado de ter uma ideia.
— Dança comigo?
— Eu? Pensei que você fosse convidar o Cauã para ser seu par...— Dá de ombros, como se não se importasse.
— Não, eu quero que você seja meu par.
— Já que insiste... — Diz, e apanha a mão dela para fazê-la dar um rodopio.
— Nós vamos arrasar! — Diz ela animada.
— Quando vamos começar? Já estou ansioso.
— Vou tentar criar os passos. Acho que posso pedir dicas para a minha professora de ballet, depois te aviso.
— Combinado!
Jota leva a amiga de volta para casa e mais uma vez menciona a almofada. Assim que ela entra, seus pais a chamam para para ter uma conversa surpresa. Todos se reúnem à mesa para o jantar, parece ser um assunto sério.
Pronto, é hoje que descubro que não irei poder terminar o segundo grau na escola que eu gosto.
— Lunna e Thomas,— O pai se pronuncia — Já vão se despedindo de seus amigos da escola. Como vocês já sabem, eu estou desempregado e, portanto, teremos que cortar gastos. Vocês vão para a escola pública.
— Eu já estava esperando mesmo, papai...— Responde a primogênita, cabisbaixa.
— Que droga, vou ter que estudar numa escola de pobre.— Thomas reclama.
— Você não ia nem na particular! — A mãe retruca
— Isso é verdade....— Lunna confirma.
— Bom, — o pai continua. — Vocês ficam na atual até o final do mês, enquanto isso, a mãe de vocês irá fazer a transferência.
Mais tarde, Lunna já conformada, liga o rádio e coloca um CD de dance, logouma música animada começa a tocar. É melhor deixar baixinho para ninguém bater na porta reclamando. Só me resta o concurso mesmo, quem sabe não ganhamos? Irei repartir o prêmio com o Jota, e a minha parte darei ao meu pai. Assim começa a imaginar algumas coreografias, se empolga e canta junto com as músicas, então lembra-se que já é tarde da noite de um domingo.
Alguns dias se passaram e a menina já tem alguns passos de dança prontinhas em sua cabeça. Numa tarde, pega aquele mesmo CD, coloca na bolsa e vai até a casa de Jota, depois da aula. Precisam ensaiar somente quando o pai dele não está em casa, pois ele não gosta de ver nada que considere bagunça. Eles arrastam os móveis da sala e ganham um espaço perfeito, algo que não teriam na casa de Lunna, por ser menor.
— E agora? — Pergunta ele.
— Eu criei alguns passos de ballet, quer ver?— Ela já começa a mostrar.
— Espera, vai ser ballet?— Jota franze o cenho.
— Sim, algum problema?— Lunna até fecha seus olhos enquanto se exibe.
— Bom, eu sempre gostei de ver você dançar, mas nunca pensei em dançar também. — Coça a cabeça, desconfortável — vou precisar usar aquela calça apertadinha?
A amiga ri bastante antes de responder.
— Eu estou brincando— Ri mais um pouco, enquanto pega o CD da bolsa pendurada em seu ombro. — Criei passos de dance.
— Ah...— Ele também ri— Que alívio.
— Eu escolhi uma música, mas se você não gostar dela, podemos escolher outra juntos.
— Eu gosto de todas as músicas que você gosta, Lunna.
— Legal, então, aqui está o meu CD.
Ele pega o objeto e coloca num rádio.
— A música que escolhi é a 5.— Ela aperta o botão para passar as músicas até chegar.
— Ah, essa música me faz lembrar muito você! Já escutei ela várias vezes seguida pensando em você e em nossos momentos dançantes de antigamente. — Comenta ele.
— É sério? — Sorri — Podemos dançar essa então, para eu poder pensar em você escutando ela também.
— É pra já!
— Vou te mostrar os passos que criei. É mais ou menos assim...— Diz, iniciando um pouco envergonhada.— Pensei em mexer com os pés 5 vezes assim, depois assim, Pra lá, pra cá... Bom é só isso, tem ideia de como posso continuar?
Jota ri, contagiando a amiga.
— Você está com vergonha?
— Claro, você fica me olhando com esses olhões verdes. Quando você usava os óculos, pelo menos disfarçava um pouco. — O garoto ri mais um pouco e começa a dançar no ritmo da música, depois pega a mão dela pedindo para acompanhá-lo e dançam várias músicas seguidas de vários artistas.
— Nossa, isso que você fez com os pés foi bom demais, repete?
— Assim? — Ele faz novamente e Lunna tenta acompanhar. — Não é a toa que ganhei uma medalha.— Ele ri.
— Ai, convencido!
Depois disso, eles criam a coreografia de uma forma bem espontânea e divertida. Em um dado momento, a música fica um pouco mais suave e Lunna rebola com seu corpo bem próximo ao dele, enquanto mexe nos cabelos.
— Uau, isso ficou tão sensual...— O rapaz aproveita a proximidade e não resiste, segura as costas dela com uma mão, aproximando seus corpos.
— Você acha?— Um pouco surpresa pela atitude, ela para de dançar enquanto leva as mãos devagar até os ombros dele.
— Sim. Quer colocar essa parte na coreografia?— Responde, agora com a outra mão na cintura dela e aproximando seus rostos ainda mais.
— Se você gostou, então podemos colocar, sim.— Diz, gostando da aproximação.
A próxima música começa a tocar e ninguém percebe, por causa da conexão silenciosa que se estabelece entre eles e seus olhos não desgrudam um instante um do outro. Jota está prestes a beijá-la quando uma voz os interrompem.
— Ei, crianças! Ao escutar a voz da mãe, Jota se afasta rapidamente da garota, assustado.
— Percebi que vocês estão dançando há muito tempo, querem um suquinho?— A mãe surge da cozinha segurando uma bandeja com dois copos grandes com suco de laranja.
— Queremos sim, Dona Georgia!— A menina corre pegar um copo.
A dupla senta no sofá no canto da sala e tomam o suco, Jota ainda um pouco desconfortável com o clima adquirido alguns minutos atrás.
Preciso respeitar o namoro da Lunna. Controle-se Jota!
Com os lábios colados no copo, como se beijasse alguém, Lunna pensa nas mãos dele tocando suas costas e no calor do corpo dele, também imagina como seria um beijo trocado com ele, pois a aproximação a deixou com muita vontade.
Os lábios dele parecem ser tão quentes e macios, o beijo dele deve ter um gostinho muito gostoso. Ele iria me beijar bem suavemente e fazer vários estalos em meus lábios e eu iria querer mais e mais... Não iria querer parar. Espera, o que estou fazendo? Estou viajando aqui! O que estávamos fazendo? É impressão minha ou ele iria mesmo me beijar? Concluí negando a cabeça.
— Acho que aquilo não combinou muito com a música.— Ela comenta.
— Sim, também acho.— Responde olhando para ela rapidamente, ainda encabulado.
— E você cansou?
— Um pouco...
— Então a gente continua amanhã, temos que ensaiar todos os dias para ganhar.
— Sim, já que temos apenas um mês até o concurso.
Lunna balança a cabeça concordando, enquanto bebe o último gole do suco.
— Então vou para casa,— coloca o copo na mesa de centro encostado na parede, depois beija o rosto do amigo — Nos vemos amanhã, tchau!
Assim que a garota passa pelo batente da porta, Jota deita-se no sofá suspirando.
Eu acho que esses ensaios não vão dar certo, pois não vou conseguir me segurar. Se bem que não seria má ideia roubar um beijo dela. Claro, se ela não me der um tapa na cara depois. Mas ela estava tão perto, que eu acho que ela iria gostar... Nossa, como sou iludido, afinal, foi eu quem a puxei para mais perto.
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