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XVII- ROTAÇÕES, O LOBO ENFEITIÇADO E A PRAGA DE TERNO

CAP. XVII. REVOLUÇÃO N°.150

    De alguma forma, Camélia passou a se sentir responsável por ele em algum momento da conversa. Ouviu seus devaneios sobre suas máquinas e projetos, experiências que deram errado e todo tipo de coisa científica da qual não entendia praticamente nada. Ele falava com tamanha eloquência, que ela podia sentir que absorvia aquele conhecimento, ainda que sem compreender uma palavra sequer.

   Como resultado daquele aprofundar que tomavam, Lucius decidiu que era hora de tornar aquela história um pouco mais condizente e justa para ambos os lados. Por isso, convidou-a a ver de perto seus animais de estimação.

— Não imaginei que tivesse animais na casa.

— Por que pareço solitário demais para ter um companheiro animal? — implicou.

    Antes que Camélia, envergonhada pelo pensamento dele, pudesse pensar numa resposta, se adiantou, rindo:

— Eu estava brincando, não precisa ficar tão nervosa.

    Eles começavam a descer as escadas em caracol para um tipo de porão. Agora, o lugar realmente instaurava a aura de uma fortaleza tão grande quanto parecia ser. A pouca luz dificultava a visão, e as teias de aranha faziam com que Camélia desejasse cada vez mais que chegassem logo ao destino, ou provavelmente se agarraria nele no primeiro susto. A situação em si já era estranha demais para piorá-la.

— Estamos quase chegando — suspirou ele depois do 49° degrau. — Você tem o costume de desmaiar? Ah, esqueça, isso não é importante.

    Inesperadamente, aquilo começava a parecer importante para Camélia.

— O que exatamente são seus animais de estimação?

— Você os verá em breve. Só tenho que abrir esses cadeados.

    Parecia perturbador ter que trancar supostos animais domésticos num porão separado do restante da fortaleza por aproximadamente três lances de escada, talvez cinquenta e seis degraus e quatro cadeados, cada um com uma chave diferente. Porém, quando ele virou a chave do último cadeado uma única vez, diferente dos demais, Camélia recordou da chave com cinco rotações de Leonard. E enquanto Lucius tirava as correntes soltas da porta, resolveu indagar-lhe:

— Há alguma razão específica para que esse último cadeado só possua uma única rotação de chave?

    Lucius parou o que estava fazendo por um instante.

— O último é o mais importante. Mesmo que seja o mais fácil de se abrir, é o mais poderoso. É ele o que mantém o que deve ser mantido atrás dessas portas. Um item emprestado.

    Estando até o momento abaixado no chão recolhendo as correntes restantes, levantou-se e a olhou nos olhos antes de encostar suas costas nas pesadas portas negras, detalhadas com espessos pregos de metal, dizendo:

— Permaneça próxima a mim, e não terás problemas. Na verdade, — ele finalmente empurrou as duas portas com as mãos, de costas, e sem tirar os olhos divertidos dela. Sorrindo maliciosamente no escuro, tomado por uma aura ainda mais perturbadora que a própria fortaleza, Lucius sibilou: — espero que não se sinta bem-vinda ao meu covil de extravagâncias.

    Quando aquelas portas foram finalmente escancaradas, os olhos de Camélia foram cheios por visões infindáveis de gaiolas e celas retorcidas, tochas acesas, sombras se movendo em meio ao breu das cadeias, rugidos, grunhidos, gritos e metal sendo arranhado. Algumas das criaturas ali presentes, jogaram-se nas grades assim que perceberam a presença de Lucius adentrar o local.

— Para a segurança do mundo lá fora, irei trancar o porão por dentro enquanto estamos aqui. Mas não se preocupe, nenhum deles conseguirá fugir.

— O que é isso tudo, Lucius? O que fez com esses animais? — não mais afeto. Apenas medo e confusão.

— Ah, Camélia, não quero que pense que sou o vilão dessa história — seus olhos demonstravam algum tipo de decepção. — Essas criaturas fazem parte da minha coleção pessoal, mas nenhuma delas sofreu em minhas mãos. Resumindo, não fui eu o responsável por deixá-las nesse estado. Eu simplesmente as capturei para estudo, nada mais.

    Lucius, seguido rapidamente por Camélia que ainda tentava discernir qual era o lado correto daquela narrativa, foi em frente, passando no espaçoso caminho entre as celas até uma mesa no centro de uma sala oval. Aquela sala no final do corredor de aberrações era o único lugar não repleto de criaturas enjauladas, ainda que, por sua vez, fosse cheio de maquinários, mapas, papéis enrolados, estantes e ferramentas. Num canto afastado, havia uma outra porta. Dessa vez, sem cadeados ou correntes. Muito mais simples que a passagem de entrada.

— Não são mais animais. São criaturas sem controle algum — continuou ao recolher os livros derramados sobre a mesa e os colocar num monte próximo à cadeira. — Não que já tenham sido racionais algum dia, mas agora, não passam de carnívoros que atacam todo e qualquer ser vivo que se mova. Causam um grande estrago nas cidades, além de causar males aos cidadãos.

— Então, o que você quer dizer é que um dia essas... coisas já foram animais comuns, mas por alguma razão, se tornaram o que são hoje, entidades desenfreadas e com sede de sangue?

— Aprende rápido, devo admitir. Está deveras correta, minha querida Camélia. E mais importante do que esse fato, é que nem todas essas criaturas são do lugar de onde você vem. Por exemplo, — ele deixou cair levemente seu pescoço para o lado, olhando para algo além, atrás de Camélia. — esse convidado um pouco mais amigável que o restante.

    Num movimento abrupto, Camélia se virou fazendo com que o ser de fumaça negra se afastasse tão rápido quanto ela e rosnasse em sua direção. Os olhos brancos serpenteando um rastro em meio à pouca iluminação.

    Era a primeira vez que ela se via frente a frente com um lobo, ainda mais, um tão grande. Não possuía carne, nem ossos, nem pelo verdadeiro. Tudo não se passava de uma ilusão, um corpo formado por fumaça ondulando no ar. Não obstante, aqueles dentes afiados pareciam muito reais.

    Camélia não se moveu até que o lobo ouvisse Lucius o chamar, parando de rosnar, se aproximando daquele que o tratava como um simples cão.

— Este espécime é o mais raro entre todas os que aqui estão, pelo simples fato de desaparecer quando seu criador estiver fraco demais para mantê-lo, ou até que ele morra. Fora esses dois pontos, é uma criatura imortal feita de fumaça negra, ódio, medo, caos e magia.

— Como isso pode ser possível?

— Acontece que todos os seres aqui foram criados por meio da ciência e de seus fundamentos, apesar de que seus criadores ignoraram completamente a ética biológica dos animais reais. Criaram aberrações utilizando inúmeros experimentos fracassados. No fim, esse foi o resultado — indicou as gaiolas com uma mão, enquanto a outra afagava o falso pêlo do lobo. — assassinos em série que propagam doenças incuráveis e dizimam cidades inteiras.

    Mais uma vez ela se viu relembrando as cenas do jantar. Agora tudo se fazia claro: aquele era o grande problema de Demétrio, aquelas eram algumas das criações de Caesar e talvez até de homens antes dele; assim como também eram as mesmas coisas estranhas, mesmo que diferentes umas das outras, que atacavam Leonard quando ela e Conrad buscaram refúgio em sua casa. Aquelas mesmas coisas morderam Demétrio. Aquelas mesmas criaturas, apesar que diferentes entre si, seguiam um mesmo rumo: caudas com espinhos, grossos ou finos, escamas ou pêlos grossos e espessos, às vezes falhados, olhos com visão confusa, garras prontas para dilacerar, dentes fortes e coloração escura. Em todo, eram estranhos demais para serem considerados animais novamente um dia. Não havia reparação para aberrações daquele tipo.

    Inesperadamente, um som estrondoso de uma porta sendo escancarada ecoou pelo porão, já muito barulhento. Lucius puxou Camélia para perto de si, mantendo-a presa ao peito. Ele sabia que a fortaleza não era um lugar seguro para ela, mas mesmo assim a manteve ali por tempo demais. Na primeira oportunidade, a mandaria de volta para Leonard.

    No entanto, adentrando a sala imponente com uma pele de urso negra por sobre os ombros, arrastando-a pelo chão, um homem de cabelos pretos e olhos incrivelmente verdes parou em frente ao dois, segurando o que parecia ser um saco de batatas.

    Lucius finalmente relaxou o braço ao redor de Camélia quando viu de quem se tratava.

— James. A que devo a visita calorosa? Vejo que trouxe o inferno com você — saudou educado.

— Essas merdas continuam invadindo o meu território, mesmo depois de me jurar que não permitiria isso — seu sotaque parecia um pouco forte para Camélia. Não sabia discernir de onde era aquele homem. Falava com voz firme e tom severo. Apesar de jovem, esbelto e de boa aparência, não parecia dormir tranquilamente.

— Essas olheiras já estão ficando maiores que a minha língua. Não está dormindo muito bem, está?

— Não mude de assunto, seu inventor miserável — as palavras de ataque não condiziam com a expressão impertubável.

— Ei — intrometeu-se Camélia se pondo em frente à seu novo rival. — Não deveria falar dessa maneira com o dono da casa. E aliás, arrombou alguma porta para entrar?

    Talvez não devesse ter se metido naquele assunto, não lhe dizia respeito. Contudo, sentia-se ainda responsável por aquele pobre homem. Foi uma simples e errônea escolha.

— Chutá-la até que abrisse é considerado arrombar? Então sim, eu a arrombei. — sua raiva era caracterizada pela fenda entre as sobrancelhas, entretanto, sua face nevada continuava a transmitir uma calma invejável. — E quem seria esta mulher arrogante, Lucius? Já tenho passado tempo demais perto de uma dessas... por acaso estão me perseguindo? — sua última sentença soou mais como uma reflexão para si mesmo do que para ela.

— Vamos com calma. Vocês dois são meus convidados. E James, por favor, tenha paciência. Prometo que resolverei seu problema em pouco tempo.

— Não preciso de uma solução em "pouco tempo", preciso imediatamente. Tenho um povo a quem cuidar, não estou aqui de brincadeira.

— Sim, sim. Eu sei — respondeu simplesmente. — Vou procurar um meio de solucionar seu problema agora mesmo.

    O homem com a pele de urso jogou o saco num canto vazio ao lado da mesa, deixando o que estava em seu interior cair para fora. Uma mistura de sangue, entranhas e partes indecifráveis de um quebra-cabeça de corpos. Deviam ser criaturas medonhas, mesmo que pequenas.

— Essas coisas são bem menores que as que eu geralmente tomo conta. Então pode ser que eu tenha perdido essas daí de vista. São todas as que você achou?

— "Pode ser" que tenha perdido? Você claramente não fez seu trabalho direito. E sim, essas são todas as que consegui encontrar — retirando suas luvas, aproximou-se de uma das gaiolas, fitando as criaturas enraivecidas que tentavam o atacar a todo custo. Aquele lugar mais parecia um habitat perfeito para aquele homem.

    O lobo enfeitiçado se aproximou de seu dono e se esgueirou pela pele de urso negra.

— E quem é esta mulher, afinal? — virou-se para Camélia. — Você não me parece o tipo de homem que atrai donzelas ingênuas para sua fortaleza tenebrosa — ele parou para pensar por um segundo. — Se bem que, quem sabe, você seja o tipo que as sequestra para o seu porão horrendo. É algum dos seus gostos estranhos?

    Antes que ela pudesse rebater, Lucius respondeu enquanto pegava alguns frascos com líquidos e papéis.

— Ela é minha esposa.

— Esposa? — agora, a fenda entre suas sobrancelhas tomava uma forma de curiosidade genuína. Ele voltou a se aproximar dos dois a passos calmos.

— Na verdade — Lucius riu como se aquilo não o machucasse nem um pouco, usando aquela mesma máscara de antes, como se tudo corresse bem o tempo inteiro. — Ela é esposa daquele Demétrio que você costumava conhecer.

— Demétrio Silvian? Aquele que ficou órfão depois do irmão assassinar a família?

— Não fale assim perto dela, James. Você sabe que foi um acidente. Tenho quase certeza de que o culpado daquele incêndio não foi o irmão.

— Como sabe disso? — parecia que Camélia não estava mais ali, mas a pergunta os fez perceber sua presença novamente. — E por que está sequestrando a esposa dos outros?

— Tive a oportunidade de bisbilhotar o passado uma vez ou outra depois do incêndio. É por isso que sei que o fogo começou sozinho e de forma irreversível. Era como se... houvesse uma magia poderosa e antiga naquelas brasas. Mas não consegui identificá-las. Tinham pensamentos, sensações e culpa demais para que eu pudesse descobrir algo realmente valioso. Por isso não disse nada à Demétrio. Ele já é instigado demais por esse mistério, não quis piorar o que já está ruim — ele misturou alguns pós num pequeno jarro de vidro.— E eu não estou sequestrando a mulher de ninguém.

— Entendo — concordou com a cabeça. — Creio que tenha feito o melhor, nesse caso. Quanto a não contar à Demétrio, não quanto à sequestrar a mulher dele.

— Quer dizer que agora gosta um pouquinho mais de mim, mesmo achando que sequestrei alguém? — Lucius sorriu de forma infantil.

— Nem um pouco.

— Bom, aqui está sua solução. Basta jogar esse pó fedorento por todo canto e irá afastar essas criaturinhas horrendas do seu território. É bom jogar um pouco dentro das casas também.

— Apenas esse tanto não será o suficiente para todo o território. Não pagarei por essa ninharia.

— Fique calmo — Lucius o segurou pelo ombro e olhou em seus olhos com tranquilidade. — Basta pedir para seu amiguinho, "senhor justiça", para que multiplique-o para você. Ser afilhado de um Catrense tem seu lado bom. Poderá até mesmo armazenar para eventuais necessidades depois disso.

    E mais uma vez, o assunto surgia de novo. O que seria um Catrense? Por que parecia algo tão importante? E afinal, por que tudo que se interligava com Demétrio era sempre tão enigmático?

    Como um sinal de aceitação, o homem de olhos de turmalina viva soltou um suspiro pelo angular nariz altivo, parecendo vencido.

— Não precisa me entregar o dinheiro por agora. Guarde com você até que eu o diga que preciso dele. Aí então, poderemos nos ver novamente.

    Deixando uma bolsinha verde com o que parecia ser moedas dentro cair no chão de pedra ressoando, encarou Lucius com os olhos vidrados, dizendo:

— Não quero ter que vê-lo novamente.

    E saindo dali tão rápido quanto entrou, desapareceu pela porta quase escondida ao lado de uma das jaulas sem que ninguém o visse.

— Sujeito simpático, não acha? — dirigiu-se à Camélia.

— Simpático? Eu diria arrogante.

— Para dizer o mínimo — complementou.

— Não se importa com a forma como ele te trata?

— Por que me importaria, quando sei pelo que passou para chegar até esse estado? — ele a olhou nos olhos com ternura, como se explicasse algo para uma criança. — Camélia, sei de coisas que mudariam o rumo de muita coisa, mas com as quais não posso me meter de forma alguma. E é por isso que tenho que mandá-la de volta agora. Meu trabalho começará em breve, ao cair da última hora da madrugada, e creio que não seria bom para você estar aqui quando isso começar.

— Mas já? Ainda nem sei a razão pela qual Knowmore me mandou para cá. Por que deveria voltar? E eu tenho outras dúvidas — mais especificamente, sobre Catrenses.

Lucius segurou as maçãs do rosto dela com carinho e respondeu-lhe:

— Não vê? Pôde entender na prática o quanto Demétrio te ama e tudo o que estava disposto a fazer por você, sem falar em tudo o que mais fará daqui em diante. Apenas acredite nele e o faça um ser amado. Verá a verdade se ouví-lo e tentar entendê-lo mais profundamente. Não a julgarei se ficar com raiva e o odiar profundamente, mas ao menos... peço que cuide dele.

    Novamente, Camélia assentiu. Sentia um aperto no coração por estar deixando-o daquela maneira, sozinho novamente. Desejava poder voltar em algum momento e dar-lhe atenção. Deixar seus dias menos solitários e tristes. Trazer um pouco de cor àquele emaranhado de metal e pedras.

— Agora — iniciou ele. —, feche os olhos e continue a andar. Só pare quando esbarrar em alguma coisa, assim como fez com a mesa quando nos encontramos. Leonard estará esperando-a.

— Mas e você? — sua preocupação enchia o coração alheio de alegria e conforto.

— Eu ficarei bem. Só se lembre de não abrir os olhos, em hipótese alguma, enquanto não tiver esbarrado em algo — um último sorriso melancólico. — Sentirei sua falta.

    Camélia o fitou por mais alguns segundos enquanto ele se afastava dela. Haviam tantas coisas que queria falar, expressar, deixar claro para que ele pudesse suportar um pouco mais, para que tivesse mais esperança e não se sentisse tão só. Mas um "sim" sibilante foi a única coisa que conseguiu dizer naquele momento, antes de fechar os olhos, virar-se de costas para ele, e andar para o desconhecido.

    Contudo, uma dor repentina atingiu seu peito numa velocidade indescritível. Quando fizera a passagem pela primeira vez, não sentira nada parecido, além da confusão, dos sentimentos estranhos e das lembranças dos momentos que passara com Demétrio até ali. Entretanto, naquele instante, abriu os olhos enquanto continuava a dar passos lentamente e se deparou com cenas que fizeram seu coração congelar, se incendiar, encher-se de sofrimento e angústia, antes que fosse destruído por completo e a deixasse em cacos. Ela vira... vira tudo do início ao fim em um único segundo.

    E quando esbarrou no peito de Knowmore que a esperava em frente ao quarto, já fechado, no corredor, ele percebeu que ela havia passado por lá com os olhos abertos. Talvez pela visão das íris descontroladas, ou pelas lágrimas silenciosas que não só caíam de seus olhos como um rio corrente, mas também de sua alma, numa ruptura que não seria reparada.

FIM DO ARCO II

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