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XV- O OUTRO ELE

CAP. XV.    REVOLUÇÃO N°.150

    O frio da noite e a cidade deserta a assustavam um pouco. Parecia que a sensação de estar sendo observada mesmo andando em ruas desertas assombravam-na. Um arrepio subiu pela espinha enquanto fitava a névoa na escuridão do final daquela rua. As memórias daquele dia quando encontrara Knowmore ao lado de sua própria loja, daquela maneira, como um ser monstruoso, ainda não haviam esfriado. Por algum motivo, tinha medo de encontrá-lo novamente, apesar de estar indo direto para o covil da criatura.

    Parada em frente à porta dos fundos, Camélia respirou fundo. Teria que engolir aquele medo infantil e prender sua atenção apenas no que conhecera dele dentro daquela casa, não fora dela. Se não fosse assim, não conseguiria encarar Knowmore novamente.

    Ela bateu na porta. Uma vez, duas vezes. Ninguém atendeu.

    As luzes lá dentro claramente estavam acesas, mas Knowmore deveria estar ocupado demais para ouvir ou se levantar para atender a porta. Por isso - e também pela carta branca que lhe dera - Camélia girou a maçaneta, esperando que estivesse trancada, mas deu um passo atrás quando viu a porta se abrir. Entrar ou não entrar? O que acontecia lá dentro não a dizia respeito. Não podia usar a desculpa de ter ido visitar Conrad, pois ele já não estava mais lá. Ele sabia que ela havia lido certas páginas daquele livro antigo, não sabia? Ele entenderia a razão pela qual estava ali àquela hora da madrugada.

— KnowMore? — chamou ao entrar.

    Como esperado, ninguém respondeu. Os únicos sons que podiam ser ouvidos eram o do gramofone tocando baixo, uma conversa inaudível na sala e o ranger do piso de madeira conforme se aproximava da discussão.

— Ele está perdendo território e você sabe disso — a resposta não pôde ser ouvida, mas aquele que falava, de maneira evidente, não era Knowmore.

— Olha, não estou querendo passar por cima de uma decisão sua, eu jamais faria isso, mas — ele tossiu seco. — incluir aquele cara, não é demais?

    Dessa vez, a resposta foi ouvida em alto e bom tom:

— Eu sou a personificação da Sabedoria. Está mesmo questionando meu agir, Killius? Não aprendeu nada durante todos esses anos, ou o estresse já tomou conta do que sobra de juízo nessa sua cabeça? — apesar de firme, seu tom de voz nada tinha de ameaçador. Era a mesma aura calma e imperturbável que Camélia vira durante a discussão com Demétrio quando ela e Knowmore se viram pela primeira vez.

— Meu querido irmão, peço que perdoe minha intromissão repentina, mas o assunto em questão é sério demais para que eu não me preocupe. Só quero ter certeza de que você está certo do que vai fazer, pois sabe que não haverá volta depois disso.

— Camélia não é uma garotinha indefesa, por mais que pareça por enquanto. No momento, o destino de tudo o que lutamos para destruir está em jogo e caso esses escombros voltem a se reerguer, teríamos problemas demais para lidar. Não seríamos o suficiente.

— Então é por isso que ele é mesmo tão necessário. Confio no seu julgamento, só peço que tenha cuidado. Nenhum passo em falso. Não podemos nos dar ao luxo.

— É bom que concorde. Ela terá que passar por isso se quisermos que tudo no futuro continue como está.

    Se aproximando mais, Camélia observou os dois estranhos homens durante a enigmática conversa. Knowmore, sentado numa poltrona - que Camélia tinha certeza de não ter visto durante a última visita - bebericava um chá quente. Enquanto seu convidado especial folheava o mesmo livro que ela tinha recebido em mãos, o Relojoeiro o fitava com desconfiança.

— Não tem quase nada dele aqui — disse o homem de terno verde. — Tem certeza de que sabe como mandá-la para lá?

    Ainda estavam falando da mesma pessoa, ou outra havia sido incluída no diálogo sem aviso?

— Certamente. Não há erro possível nessa transação.

— Confiarei em você mais uma vez e deixarei que termine o seu trabalho — ele pausou por um momento. — Tenho certeza de que sua convidada ficará muito mais confortável quando finalmente sair de trás daquela parede. Creio que ela está esperando há um bom tempo.

    O sangue de Camélia gelou. O convidado sabia aquele tempo todo que ela estava ali, ouvindo sua conversa particular, e ainda assim não fez nada?

    No entanto, o arrepiar em sua espinha só surgiu quando notou o rosto estranho muito próximo do seu, tendo surgido de súbito acompanhado de uma brisa leve, pedindo para que fizesse silêncio, sinalizando com um dedo erguido sobre a boca.

    "O tempo é algo eterno...", iniciou ele, dentro de sua cabeça, "...ele passa a todo momento e nunca finda. Se prestar muita atenção, então poderá receber ajuda dele novamente e o sentirá passar por você. Cuide-se, pequena Camélia. Veja mais do que os olhos podem ver".

    E tão rápido quanto surgiu, desapareceu. Camélia mal teve tempo de discernir o que acontecera. Knowmore interviu no susto.

— Se aproxime, Camélia. Tenho algo para você — iniciou. — Se trata de um presente. Uma forma de seguir o que aquele cervo maldito disse, ao se intrometer.

— Então você também ouviu.

— Cada um de nós pôde ouvir. Estamos cientes da sua existência já há algum tempo e não podíamos nos dar ao luxo de perder a atenção.

    Ela manteve-se calada. Estava mesmo sendo observada por desconhecidos? Mas como era possível?

Nós? Os homens do seu livro?

— Meus irmãos de criação. Estamos juntos desde sempre e desde nunca. Não sabemos quando inicia ou quando termina. Seguimos vidas separadas já fazem anos, mas de repente tudo parece conspirar para nos unir novamente, apesar de que não será fácil.

    Ele lhe estendeu uma xícara de chá vermelha.

— Não é algo com que tenha que se preocupar agora — continuou. — pois tudo está em andamento. — por um instante, ele pensou. Era como se não soubesse o que dizer. — Demétrio precisa de você e nenhum de nós se beneficiaria com o seu afastamento além de... você mesma.

    Camélia deixou a xícara em cima da mesa de centro, tentando entender o que dizia.

— Nesse caso, a minha vida soa como uma linha que entrelaça mais do que deveria e de repente eu tenho que sacrificá-la para beneficiar outros? Quem? Por que? Não posso simplesmente viver em paz em lugar nenhum?

— Camélia, é mais complicado do que parece.

— Complicado? — ela se levantou do sofá. Estava indignada demais para permanecer calada. — De que tipo de benefício está falando? E por que eu não posso escolher beneficiar a mim mesma?

— Eu nunca disse que não poderia. É uma questão de escolha. Continuaremos com ou sem você, ainda que a chance de vitória diminua.

— Vitória, você diz. Vitória de quem? Se é o oprimido quem continua sofrendo?

— Camélia... — o interrompendo, Camélia libertou as lágrimas mais uma vez.

— Ele me traiu, Knowmore! Demétrio escolheu estar com outra. Eu não... eu não posso sacrificar esse divórcio e ser infeliz pelo resto da minha vida para escolher salvar coisas que sequer entendo!

— Sim, você pode — respondeu ele, calma e serenamente, como se tudo aquilo não influenciasse verdadeiramente a vida dela.

— Como?! Como pode falar disso se nunca foi traído?

— Eu também nunca disse isso! — pela primeira vez, Knowmore levantara a voz numa exclamação, mantendo a postura firme e categórica de sempre.

    Ela voltou a se sentar, abalada com sua própria confusão. Percebera o quão sério ele falava.

— Fui eu quem traiu, Camélia. E me arrependo disso até hoje — diante da afirmação, arregalou os olhos. — Pelo menos, é o que minha consciência me diz. Eu a traí. A mulher que me ensinou a sentir coisas.

— C-coisas? — indagou, em meio a um soluço. O pranto voltava a atingi-la.

— Empatia, cuidado, preocupação, compaixão, alegria, amizade, amor... ela me ensinou tudo o que sei sobre os sentimentos humanos e ainda assim — ele massageou a têmpora. — eu a traí. Mas por mais que pense e entenda que é isso o que está acontecendo com você, posso lhe dar uma chance de confirmar que tudo não passa de um mal-entendido e provar os sentimentos de outra pessoa.

— Pode... pode mesmo fazer isso? — certamente, colocar aquela dúvida para fora a fazia se sentir uma traidora. Traíra a si mesma. Não conseguia parar de pensar nele.

— Não só posso, como farei.

    Levantando-se e a levando consigo, segurando-a pela mão, Knowmore passou por algumas dezenas de corredores que não estavam lá antes, até chegar numa porta diferente das demais, afastada do que ainda parecia ser a mesma casa. Com toda certeza, o espaço se movia diferente ali dentro e não só na biblioteca. Ele girou a chave cinco vezes antes de abrir a porta para que entrassem. A porta era completamente vermelha com detalhes em dourado e um brasão de coruja em sua frente. As palavras "Câmara do Relojoeiro" estavam gravadas em letras douradas na madeira.

    Por mais que Camélia achasse a situação um tanto indecente - entrar nos aposentos de um homem solteiro, ainda mais sendo casada - continuou a segui-lo para dentro.

— Feche os olhos — disse ele. A voz aveludada era sempre um calmante para os ouvidos. Camélia obedeceu ainda que receosa.

— Não poderá ver nada daqui em diante — disse ele, continuando a caminhada, mas trocando a posição de suas mãos, agora guiando-a pelo ombro. — Faça como eu disser e tudo ficará bem.

    Por mais que estivesse com medo, Camélia prosseguiu. Não se sabe bem o que havia ali para que tivesse que se abster de abrir os olhos por alguns momentos, mas certamente deveria continuar enterrado até a consumação dos séculos.

— Sem abrir os olhos, siga reto e só pare quando esbarrar numa mesa.

    Mais uma vez, Camélia obedeceu. Ele a soltou, deixando-a seguir sozinha dali em diante.

— Mas o que farei depois disso? — indagou, um tanto covarde. Suas pernas a diziam para recuar.

    Nenhuma resposta pôde ser ouvida, se é que houve mesmo uma. Ela apenas seguiu em frente até que esbarrasse numa mesa. O som de ferramentas e metal se tocando a fez abrir os olhos instantaneamente. E lá estava a visão que menos esperaria ver em toda a sua vida: um homem sentado desleixadamente sobre uma cadeira com rodas nos pés, sem camisa, segurando uma linha na boca e costurando um grave ferimento nele mesmo, no quadril. Quando ele a olhou nos olhos, pouco surpreso com a aparição da mulher conhecida em sua fortaleza, soube que teria de enfrentar alguns espectros de um passado que já não existia. Enquanto ela, só teve uma única certeza: aquele homem não era seu marido, mas era exatamente como ele. 

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