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X- CONRAD TARANIS

CAP. X. REVOLUÇÃO N°.150

    Chamas de luz amarelada explodiam num horizonte não muito distante. Os gritos aterrorizados na cidade haviam cessado, enfim. Alguns moradores subiram o monte na tentativa de sobrevivência, se alojando no jardim da mansão. Entristecidos, lamentando as mortes e jurando vingança ao autor de toda aquela dor, erguiam suas vozes sem se importar com quem ouvia ao redor, como se a única coisa que significasse algo verdadeiramente fiel aos seus lamentos, fosse a liberdade em expressar suas aflições.

    Bradando irritados, diversos homens se amontoavam próximos à janela, em busca de alguém de dentro que os trouxesse resposta. Uma hora ou outra acabariam decidindo por arrombar a porta. O ódio era claramente expresso em seus olhos, assim como o pavor, a escassez de sono e a fome. Clamavam em alta voz por Demétrio, mas, não obtendo resposta, começaram a bater contra a madeira em uníssono. Um motim organizado pelo desespero e pela vontade de viver.

    De dentro da mansão, Camélia permanecia aflita. Em algum momento, sabia que o pior podia acontecer. Conrad estava debilitado, mas se incomodava com as vozes prestando atenção em cada palavra de ira.

— Tenho — por causa da voz fraca, pigarreou antes de continuar. — Tenho que calá-los.

— Não, Conrad. Você tem que descansar — Camélia levou um lenço umidecido até sua testa, sendo rapidamente recusada com um movimento de mão. — Eu jamais permitiria que se ferisse novamente por minha culpa.

— Você não entende... — com o braço ainda bom se apoiava na cama, ao mesmo tempo que tentava afastar Camélia, sentada ao seu lado. — Se eu não calá-los, vão se opor à Demétrio com aço e fogo, sem saber o futuro que os cerca caso o façam. Eu preciso... preciso me levantar.

    As palavras de Conrad eram determinadas, apesar da voz bastante trêmula. Os poucos móveis do quarto não seriam suficientes para travar a porta em caso de invasão e, por conta disso, seria impossível mantê-lo seguro por muito mais tempo ali.

    As vozes ecoavam pela velha madeira da casa, antes silenciosa, com uma força brutal. O som das janelas se quebrando e chocando pelo chão já podia ser ouvido. Não restava muito tempo até que entrassem, ignorando o pouco respeito que ainda mantinham por Demétrio. Era como se suas mentes estivessem limitadas a enxergar apenas o que sua imaginação ditava aos olhos. Demétrio poderia estar lá dentro, enquanto seus homens morriam em seu nome em meio ao incêndio no horizonte. Sua cidade estava manchada de sangue inocente e suas famílias agarradas ao pavor intenso. O medo do desconhecido enchia os olhos dos pobres homens de uma perversidade comum aos tempos de crise, uma sede de justiça anormal, vingativa e repleta de um ódio fortificado com a falta de esperança de seus fracos corações.

    A voz de Conrad, exaltada por um ecoar estranho tomou toda a região repentinamente, enchendo os ouvidos dos rebeldes e abrindo os olhos lacrimejantes de Camélia. Sem se colocar de pé, apoiado apenas em seu cotovelo, bradava com uma voz firme jamais ouvida, a voz de um general de guerra:

— Ouçam todos! Demétrio Sorbon não se encontra. Enquanto gritam em sua porta como miseráveis ingratos, ele entrega seu suor e sangue em batalha no monte de César Magno em busca da sua liberdade! A liberdade de seu território! — seus pulmões fracos o obrigavam a pausar em poucos espaços de tempo, mas isso não era suficiente para parar suas palavras. Havia muito que aquele coração aflito queria dizer. — Demétrio luta, não por sua própria honra, mas pela honra de inúmeros covardes como vocês, que recebem tudo em mãos como crianças afilhadas dele e logo depois do primeiro sofrimento chegar, voltam-se contra ele sem nem pensar duas vezes!

    Conrad se pôs de pé, tomado por uma força incomum, um poder que irradiava de si e iluminava todo o quarto como um farol.

— Me escutar agora é como abrir os olhos para a sua estupidez. Parem de agir como crianças amedrontadas e finalmente tornem-se homens de valor! Homens sem medo da morte, que não temem um futuro vazio e que lutam por algo mais valioso do que suas próprias almas! Sejam fortes e valorosos, mantenham seus pés na palavra duradoura e continuem a marchar em direção ao que os faz temer e verão... verão que a realidade não passa de uma criança que se esconde do escuro, mas que deve ser erguida e tratada de acordo com o poder que tem! — ele abaixou sua cabeça e encarou os próprios pés sentindo a dor da perna, agora, voltando ao lugar milagrosamente.— O que quero dizer... é que a dor que sentem agora como mentes pequenas deve ser elevada à uma dor que ainda não conhecem. Só assim, crescerão em poder e legitimidade como verdadeiros filhos de Valle Sorbon. São um povo fraco, sem vida, que luta por pequenos tesouros e se angustiam com a verdadeira faceta do mundo cruel onde vivem. Mas uma coisa eu lhes digo, hoje... a honra de Demétrio Sorbon... não será manchada.

    E num vento impetuoso que invadiu o quarto pela janela, seus fios loiros se moveram, os tons negros subindo pelas pontas, tomando conta de sua nuca e logo depois desaparecendo. Ele havia se acalmado, finalmente, desabando no chão ofegante. As palavras vinham dele, mas de muito mais longe do que conseguia enxergar. Os olhos azuis estremeceram e uma mudança de cor repentina em um deles foi percebida.

    Camélia correu ao seu encontro onde, ajoelhado no chão de madeira, observava as próprias mãos. Com uma surpresa sem medida de admiração exalando de seus olhos, Camélia finalmente entendeu do que se tratava o brilho nos olhos de Demétrio quando fez o último pedido à ela: não era apenas por Conrad, mas também por ela. Afinal, ele realmente a via como esposa, sincera e amorosamente.

    Assim como os tons escuros no cabelo, o castanho de um dos olhos de Conrad desapareceu tão rápido quanto surgiu, devolvendo a comum face alva do rapaz de olhos azuis. A voz voltara ao normal, trêmula e seca.

— Temos que sair daqui.

    Obedecendo sua ordem, Camélia o ajudou a se pôr de pé e a caminhar para fora do quarto. A ação teria de ser rápida, os homens do lado de fora não pareceram dar muita atenção à voz de Conrad, apesar de seu grande esforço.

    O que acontecera dentro daquele quarto, com a luz, o cabelo e o olho castanho não seriam esquecidos tão cedo por Camélia. Tudo aquilo, as situações em que havia se encontrado, as pessoas que conheceu, as palavras que foram dirigidas à ela, tudo se interligava de uma forma que ela ainda não compreendia totalmente. Contudo, havia algo que ainda acendia o fogo da esperança no seu coração, algo que podia ser útil numa situação daquelas.

— Existe uma saída pelos fundos — Conrad se erguia segurando nela com dificuldade, mesmo que não concordasse a ter que depender dela. — por debaixo da escada, no porão. Eu conheço o caminho por entre os túneis.

    Camélia não tinha tempo para questionar, por isso, desceu a escadaria com calma, deixando que os olhares dos curiosos do lado de fora gritassem ainda mais alto devido suas presenças. Ela acompanhava Conrad segurando-o pelas costas e braço. Sua perna agora voltava a parecer quebrada, como se o milagre tivesse data de validade.

    Após irem para trás da escadaria, um alçapão ficou visível. Era um espaço apertado e escuro, mas descer Conrad com a perna naquele estado e um braço incapaz de se mover por conta da dor, piorava ainda mais a situação.

— Não se preocupe tanto comigo, já estive pior... tanto de situação, quanto de estado físico — usando toda sua força para manter-se de pé sozinho, desceu os pequenos degraus do alçapão aberto para que não incomodasse demais a mulher que o ajudava. Ela sabia que não passava de preocupação genuína, mas não podia deixar de admirá-lo ainda mais a cada palavra e ação.

    Descer demorou tempo suficiente. A ira instaurada do lado de fora começava a tomar proporções exorbitantes. Um som estridente de madeira; as portas da mansão finalmente eram derrubadas, aos urros, com pura força. Havia dor naquela queda, como se alguém, em algum lugar, sentisse pela casa. Um arrepio tomou sua coluna. Aonde quer que estivesse, Demétrio lutava também por ela.

    Alcançando o fim dos degraus, via-se um longo túnel se estendendo até perder de vista. Apenas uma única luz de uma tocha antiga era vista, na esquina mais próxima onde provavelmente ficava a área do porão.

— Temos que seguir reto por aqui — ainda com dificuldade, Conrad mantinha seu peso equilibrado. — Pegue a tocha.

    Seguindo as instruções, Camélia prosseguiu avante. Seus braços e pernas começavam a doer e sua coluna a latejar. Conrad era mais alto e claramente mais pesado que ela. Uma mulher que jamais sequer segurou uma caixa pesada por tempo demais, agora carregava um homem adulto com a própria força sem mal respirar. Mesmo que ele mantivesse parte do peso para si próprio, ainda era demais para ela.

    O cansaço dos dois piorou minutos depois, em meio a um breu sombrio, tanto à frente, quanto atrás, por onde já haviam passado. Ao menos, não havia sinal dos rebeldes que invadiram a casa. Conrad fechara o alçapão por baixo logo após passarem, para o caso de serem seguidos e aquilo fôra realmente útil numa situação daquelas. Um pensamento lógico e rápido, apesar de seu estado.

    O rapaz loiro sabia o caminho, mas por conta da febre alta, em certas vezes, acabava se confundindo e levando os dois a becos sem saída. Ela conservava sua paciência, tentando ao máximo minimizar o impasse dos ferimentos e exaustão. A situação definitivamente não era a das melhores, mas os dois continuavam avante, sem trocar olhares ou palavras. Até que, num momento oportuno - quando as pernas de Camélia já sofriam o bastante para tremular - puderam avistar a luz distante das ruas do mercado. O túnel que seguiram acabava num sistema de esgoto improvisado. A tampa do poço era baixa, por isso, tiveram de se esgueirar separados para tirá-la e subir. Camélia foi primeiro, ignorando o cavalheirismo momentaneamente desnecessário de Conrad, retirando a tampa com pouca dificuldade. Ela era pesada, de aço bruto, mas com toda certeza mais leve que um homem de carne e osso.

    Logo, Camélia pôde respirar aliviada. Finalmente estava do lado de fora, sentindo o vento fraco e suave da noite. Sequer parecia com um campo de guerra como fôra há pouco tempo atrás.

    Conrad se arrastava esforçado, com o braço latejando e a perna o fazendo agonizar de dor. A posição não era nada favorável, mas ainda assim dava tudo de si. Acima de sua própria vida, via a de Camélia e protegê-la era sua maior incubência.

— Conrad... — diante do aperto que se encontravam, Camélia buscava constantemente mantê-lo motivado a continuar. — Conrad, você tem que continuar. Estamos quase lá! — Camélia não podia deixá-lo para trás. Ali, agachada em meio ao que parecia ser lama, sentia seu peito doer ao vê-lo daquela maneira. Doía ainda mais sentir que a culpa era dela, mesmo que tudo indicasse que não. As lágrimas eram incessáveis. Aquele mesmo sentimento de impotência continuava a latejar em meio aos pensamentos sem dar folga para nada mais. Só conseguia pensar nos gritos de horror, na dor daquelas pessoas, em Conrad, no que Demétrio estava fazendo por sua terra e, principalmente, em como ela poderia se encaixar naquilo tudo e ser benéfica para uma boa causa por pelo menos uma vez na vida.

— Não, eu não quero ouvi-la chorar — os lábios secos e a constante perda de fôlego o levavam a falar pausadamente, quase em sussurros, com a cabeça baixa. — Eu já vou sair daqui... eu só...

    A chuva começou a cair, enfim. Talvez assim, o incêndio ao longe cessasse. Talvez os homens se apartassem da casa. Talvez as famílias no jardim achassem um lugar para ficar. Talvez Demétrio estivesse bem... talvez... os pensamentos de Camélia se intensificaram na tentativa de não pensar no pior: seu marido podia estar morto, Conrad poderia desmaiar a qualquer momento, ela podia não conseguir alcançar seu destino e... um som estridente.

    O atrito entre as ferraduras de um cavalo e os paralelepípedos da rua deserta podiam ser ouvidos ao longe com o som da melodia de ferro contra ferro.

    Camélia elevou os olhos ao fim da rua, onde uma névoa grossa atrapalhava a visão. Porém, no fundo daquele véu de neblina, dois olhos puderam ser vistos. Olhos como de fogo, queimando o redor e deixando um rastro azul para trás.

— Conrad, temos que ir — o choro cessou e seus olhos arregalaram-se. — Agora!

    O medo e o temor aumentavam cada vez mais, com um arrepio na espinha. Suas mãos tremiam. Conrad finalmente conseguiu sair, cambaleante, sendo acuado por Camélia.

— Não falta muito, só temos que continuar mais um pouco.

— Para onde estamos indo, afinal? Qual o seu plano carregando um peso morto como eu?

— Não diga isso — Camélia não tinha um plano, apenas uma esperança. A esperança de que as portas do PONTEIROS & VELAS estivessem mesmo abertas para ela a qualquer horário. Tentava a todo custo ignorar o som estranho que se aproximava cada vez mais, falhando. Seus instintos de sobrevivência se erguiam pela primeira vez na vida, acima de todos os outros instintos. Adiantar o passo talvez não fosse o suficiente.

— A cidade está cheia daquelas coisas que viu no jantar, não é seguro para você andar por aí devagar assim e com — sua frase não pôde ser completa.

— CALE A BOCA! Eu não vou te deixar para trás, essa ideia é estúpida! Não repita isso em nenhuma circunstância, Conrad. Eu não permitirei que continuem me dizendo o que fazer.

    Agora ela via claramente sob as luzes da estrada: aquilo não era lama, não podia ser. Só precisava aguentar mais um pouco, prosseguir adiante.

— Não olhe para o chão, olhe apenas para a frente. Nem para os lados, nem para cima.

    Ela se perguntava, curiosamente, o que poderia estar acima deles. Porém, não havia tempo o suficiente. Uma criatura de corpo largo, estreito, de braços longos e pernas ainda mais, com traços humanóides e pele negra como a noite arrancava criaturas macabras de cima de si mesma com brutalidade visível, jogando-as para longe. Seus olhos eram como luzes acesas, brancas, arranhadas em meio aos fios pretos que os desenhavam como círculos ovais. Possuía uma boca grande, sem expressão, com aparentes dentes como de crocodilo, finos como de piranhas e fortes como de leão. A criatura por si só, conseguia ser tenebrosa, mas a curvatura anormal da coluna intensificava ainda mais sua aparência disforme. O tamanho de seu corpo era cinco vezes maior comparado ao de um humano comum, mas ainda assim, era como se não passasse de uma simples pessoa. Talvez, não simples, mas um ser humano.

    Subitamente, uma gargalhada divertida tomou o ambiente de horror. Camélia, até então, inerte em meio ao pânico agarrada à Conrad, não havia olhado para nenhuma outra direção, senão, para frente. Porém, no momento em que virou sua cabeça para a direção oposta, sentiu-se confusa. Era como se o som tivesse acabado por passar direto, sem nem mesmo alcançá-los, ainda que estivesse se distanciando agora. No entanto, aquilo não importava mais. Se ouvisse aquela risada novamente, saberia identificá-la, por alguma razão desconhecida. Sentia que a ouviria mais uma vez, em algum momento oportuno, mas a única coisa que importava àquela altura, era escapar daquele humanóide horrendo.

    Contudo, para a sua surpresa, assim que a criatura se livrou dos seres que antes o atacavam sem dó, ela começou a se revirar em meio a matéria negra de seu corpo e tomar uma forma mais cavaleira. Os braços longos deram lugar a mangas compridas de um casaco fino e elegante de veludo vermelho, assim como sua cabeça se encheu de fios castanhos despreocupados. As pernas aracnídeas se tornaram normalmente longas, esbanjando calças de um tom escuro de vinho. Abotoaduras e correntes de ouro surgiram para enfeitar o peito magro. Era o relojoeiro em pessoa.

— Eu sabia que acabaria vindo num momento inconveniente para uma dama, mas não esperava tanto — a voz finalmente soava como humana, completando a transformação bem diante dos olhos daqueles os quais os olhos quase pulavam para fora. — Vejo que precisam de ajuda, então, por favor, fiquem à vontade para entrar. Aquelas coisas não se aproximaram de vocês enquanto eu continuar por perto.

    Tomada pelo impasse entre seguí-lo para dentro ou fugir o mais rápido possível com Conrad, Camélia hesitou por um segundo. Entretanto, ela sabia que ele era mesmo sua única esperança num momento como aquele. Não tinha mais ninguém com quem pudesse contar.

    A relojoaria estava mais próxima do que ela imaginava. Era uma estrutura antiga, de arquitetura comum e cores avermelhadas desbotadas demais para serem percebidas no escuro. Uma única luz era possível ser vista do lado de dentro, brilhando por entre as vidraças manchadas. Tudo era velho demais para estar de pé.

— Vamos entrar pelos fundos. Mantenho a porta da frente trancada por motivos de espaço — na verdade, a estrutura em si, encaixada perfeitamente na esquina entre dois outros prédios atrás dela, não parecia algo realmente muito espaçoso por dentro. Provavelmente, existia apenas o necessário para que tivesse o pouco conforto de uma ou duas salas de descanso, cozinha e enfim, a loja em si.

    Dando a volta, entraram num beco. Uma porta decorada com arabescos prateados guardava a entrada para a humilde relojoaria por dentro. Certamente, seu destino, ao menos, teria algum alívio, finalmente. 

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