II- FOGO EM MATRIMÔNIO
CAP. II. REVOLUÇÃO N.°150
Desde então, passaram-se duas semanas após o meu primeiro encontro com meu noivo misterioso. Não o conhecia em detalhes, não sabia com o que trabalhava e nem de onde surgiu, não entendia seu pensar e, principalmente, não o amava. Portanto, nada do que eu fizesse a favor ou contra a cerimônia faria diferença. Logo, eu seria apenas mais uma esposa dependente de um homem. Uma mulher que se entrega aos caprichos de um ser másculo. Seria só mais uma entre as milhares. Mal me lembrava de seu rosto, mesmo que não quisesse fazê-lo, era meramente necessário Eu sentia a indispensabilidade de saber o que se passava em sua cabeça para decidir se casar com uma jovem desonrada como eu. Em sinal de um eminente pânico, meu estômago se contraía com força causando-me grandes dores. Desta vez, o espartilho não me causava nenhum dano. Estava perfeitamente amarrado e centralizado. No entanto, isso não me fazia sentir melhor. Há duas semanas atrás eu era livre, mas naquele momento eu já havia sido vendida por meu pai. A tristeza começava a me corroer aos poucos. Eu afundava meu rosto em minhas mãos repetidamente e apertava meus olhos na esperança de acordar e estar longe de todo aquele alvoroço. Aquele homem cujo rosto era desconhecido jamais seria digno de qualquer afeto meu, visto que me comprara contra minha própria vontade. Um dia eu teria de lhe dar filhos e a simples ideia de ser tocada por alguém por quem eu não sentia nada - o que naturalmente aconteceria em breve - me causava enjoos incontroláveis. Eu queria ser livre! Meu desejo nunca foi cuidar de uma casa e ser uma boa esposa. Minha maior ambição era soltar os cabelos, correr pelos campos desenfreada, chorar sem me segurar, fazer escândalos, debater, fazer o que os homens fazem livremente! Mas, afinal, qual o preço de sonhar? A resposta é simples: perder a vida na realidade, e nas enormes e falsas expectativas. Em todo caso, meus desejos e vontades não possuíam importância alguma. Meus pais obrigaram a filha mais nova a se casar antes mesmo que a mais velha, mesmo que essa não fosse sua doutrina, fazendo assim, que meu mais novo maior medo seria concretizado em breve. Meus joelhos tremiam com a pressão que era jogada sobre mim, meus olhos escorriam lágrimas de sofrimento interno, minha pressão caía e retornava ao normal. Eu não havia dormido, nem comido nada até aquele momento. A fome não me importava tanto, afinal, ela já tinha ido embora. Em pouquíssimo tempo eu seria apenas mais um troféu na estante, um objeto animado sem vida nas mãos de um homem. E apesar de tudo ser um pouco confuso, o desespero constante era a única coisa que me restava naquele momento. Não era apenas o fato de que iria me casar com alguém desconhecido, mas também, o fato de que poderia ser um homem que estivesse enfrentando este matrimônio apenas pelo poder que lhe seria atribuído casando-se com a filha mais nova do homem mais reconhecido na área de Indústria Civil de nossa grande cidade. Sempre foi assim, não é? O beneficiário e o beneficiado. Um que ganha e o outro que dá. Nada de dar e receber.
Ainda assim, preciso estar pronta para exercer meu trabalho como esposa e objeto de valor apresentável. Não era meu dever como ser humano? Como mulher? Porém, mesmo com todo o nervosismo que havia em mim naquele momento, ainda pude lembrar-me de algo sobre ele. Algo bom, creio eu. O tal "Demétrio" possuía olhos incomparáveis. Até o dia do jantar, eu nunca tinha visto tamanha beleza em olhos humanos. Eram tão harmoniosos com todos os seus tons, tanto que comecei a compará-los à cor do mel quando está no sol; Algo como o mais perfeito âmbar. Sim, esses eram seus olhos. Como uma chama amarela, acesa, viva e incandescente. Ela queima o papel, e destrói a grama seca. Não demoraria muito para acontecer o mesmo comigo. Aquelas breves chamas crepitantes logo tomariam a forma de uma fogueira incontrolável queimando-me viva. Em todas as situações, chegara a hora de cessar com os pensamentos triviais. Agora era a hora: A hora do meu casamento.
Felizmente, nenhum de meus parentes fôra ousado o suficiente para voltar a me tocar. Nem um fio sequer de minha cabeça foi violado e as palavras de desprezo de minha mãe foram aos poucos se tornando sons inaudíveis repletos de ódio. Aquelas últimas duas semanas haviam sido um inferno na terra para mim. Muito mais do que quando me jogavam aos cantos e me tratavam como um empecilho. Minha tristeza e incompreensão naquele momento não poderiam ser descritos em palavras. Quem sabe, a única coisa que ainda aquecia meu coração era lembrar-me do calor que seu abraço me proporcionara. Era um sentimento estranho, se é que podia ser chamado assim. De uma forma ou de outra, tudo aquilo ainda não passava de um jogo de valores e dados, onde a maior recompensa ainda era um mistério enigmático para mim. Haviam muitas perguntas indiscretas rondando minha mente e pouquíssimas respostas para alimentá-las. No entanto, saber que teria de me casar por motivos gananciosos de homens arrogantes, me mantinha acordada o suficiente para ter ciência da desgraça que se acarretaria em minha vida.
Num vestido espalhafatoso, cheio de rendas finas e pedrarias, com o espartilho privando minha respiração, como sempre, de modo exagerado, me dirigi até a porta principal. Havia rosas brancas nas laterais do caminho e também nos vitrais do templo. A porta de madeira escura era pesada, maciça. As damas de honra não passavam de desconhecidas contratadas por meu pai. Se posicionavam ao meu lado numa formação em "V", portanto, se eu quisesse voar para longe dali, não seria necessário muito. Contudo, assim como as pombas do lado de fora da igreja, eu também estava presa em uma gaiola. Meu coração batia forte, acelerado. Minha respiração ofegante e desesperada se deixava transparecer. Eu suava frio com um desejo imenso de desaparecer, mesmo que inexplicavelmente; correr pelo meio das árvores da floresta e nunca mais ser vista em Willersburg. Eu estava apavorada, paralisada, inerte. Precisava me acalmar ou iria entrar em pânico ali mesmo. Eu seria apenas a vergonha da família... mais uma vez. Com isso em mente, concentrei minha respiração e levantei o queixo orgulhosamente. Por sorte, ou por puro delírio, algo de grande valor passara em minha mente naquele mesmo instante. Em minha imaginação, eu via Demétrio ao pé daquele altar, de cabeça erguida, louco para receber a posse de nossa empresa mesmo que devesse esperar e se casar com uma garota desonrada e peculiar como eu, sem ter ciência da enorme dívida que poderia cair sobre seus ombros. Nossas vidas jamais seriam as mesmas... e não me interessava saber como seria. Nada mais teria significado. Mas, se esse era o desejo dele, eu seria a pessoa que o realizaria.
Perdida em meus pensamentos, não percebi a aproximação de meu pai que vinha até mim com passos largos e firmes. Ele parecia querer falar algo importante antes que eu entrasse naquela igreja e fosse entregue a um novo homem, um novo dono. Sua carranca sempre presente, assim como a bengala detalhada em ouro que exibia com imodéstia.
— Camélia,— iniciou ele.— espero que faça o seu melhor. Sua obrigação é honrar sua família e dar muitos filhos ao seu marido é sua principal função. Não seja como sua mãe, ficando doente de uma hora para outra e perdendo seu valor. Ela teve sorte de que eu me mantive vivo por todos esses anos, ou jamais se reergueria na sociedade novamente. Você não terá a mesma conveniência. Tome isto como um último conselho.
Aquelas palavras me ofenderam grandiosamente. Sendo assim, eu era apenas um objeto de procriação e criação de crianças? Isso era ridículo até mesmo para os padrões da minha época. Uma mulher tem tanta força quanto um homem, pensa tão bem quanto um homem, tem dons que homens não tem, mas é apenas para isso que nós servimos? Procriar e obedecer?! Certamente, eu tive razão em me encher de ódio e abandonar - mesmo que por poucos segundos - o medo que antes tanto me assolava. Ele respirou profundamente e segurou meus ombros com firmeza. Cada vez mais o sangue que corria por minhas veias esquentava me trazendo um forte mal-estar. Talvez fosse o pânico do momento, ou a raiva selvagem subindo à minha cabeça.
— Você não honrou em nada nossa família,- continuou ele com certo tom de adversidade.— portanto... Trate de honrar, ao menos, seu marido, Camélia.
O casório nem mesmo havia sido iniciado e já o denominavam "Meu Marido". Eu sequer havia tido um Baile de Debutante, não tinha sido apresentada à sociedade e ainda assim o casamento mantinha-se a todo vapor. O amor não existia em nenhum canto dali, nem mesmo no mais profundo lugar da alma de meus pais. Tudo aconteceu rápido demais, com pressa. Nem mesmo uma recepção foi organizada, o que ia contra os padrões da época, além de que noivados muito curtos eram comumente alvos de boatos infundados. Comecei a pensar no quão incrível é saber que uma possível solução para o fracasso econômico de uma empresa falida pode mudar o destino de uma filha. Aquela que deveria ser amada e tratada como uma jóia na família, era vendida facilmente para qualquer um cujo lance agradasse o chefe do leilão. Entretanto, por mais cruel e rígido que isso possa parecer, não pude culpá-los. Foi culpa minha, assim como todo o resto. Sequer deveria ter nascido... Ainda assim, mesmo com a culpa rodeando minha mente me fazendo lacrimejar, levantei o queixo e me mantive firme! Se essa era a minha sina, então eu levaria Demétrio comigo até que o fizesse padecer em minhas mãos.
Logo que terminei de me auto-iludir e respirar profundamente, a imensa porta escura foi aberta e o som singelo e harmonioso do piano começou a soar por todo o recinto. Violinos e flautas acompanharam o soneto com perfeição. E apesar de minha teimosia em aceitar tamanha beleza, estava tudo muito organizado e mágico. Cortinas finas enfeitavam as enormes janelas, flores foram colocadas ao lado de cada banco e aos poucos as poucas pessoas presentes se levantaram. Aquele era o dia mais importante da minha vida e tudo o que eu conseguia sentir era tristeza e desespero. Me perguntava segundo após segundo o que seria de mim... no entanto, com uma determinação imatura, fitei o destino para o meu futuro, meu horizonte a chamar. Demétrio, ao pé das escadas, sorria alegremente com aqueles olhos lindíssimos radiando felicidade. "Mas, porquê?!", pensei comigo mesma. Era um casamento arranjado! Nenhuma empresa faria um homem sorrir daquela forma. Ele tinha um brilho no rosto diferente de tudo o que já tinha visto. Senti a desolação no profundo da minha alma ao encarar aqueles olhos vibrantes. Mas não era a minha tristeza. Era... a dele? Sua feição parecia estar murchando aos poucos e seus olhos se enchendo de lágrimas. Foi uma sensação estranha que durou pouco. Logo o mesmo sorriso estava em seu rosto, porém, desta vez um tanto mais necessitado. Quando alcancei os degraus, seguindo sozinha pelo extenso corredor, entreguei minha atenção a uma das damas de honra que o observava com atrevimento e segurei na mão aquecida do homem ao pé do altar. Ele parecia tão nervoso quanto eu, mesmo com o sorriso amarelo inebriante no rosto. Estava tão perdido naquela felicidade amarga que nem mesmo notou a dama lhe fitando ao lado. Ah... Aquele rosto. Cheguei a me sentir sortuda ao ver que meu marido, ao menos, não seria um velho barbudo e nojento como o Marquês de Juliare, um dos sócios de meu pai e um dos responsáveis pelas finanças do empreendimento.
Demétrio, além de possuir aqueles olhos encantadores, possuía também os cabelos castanho-escuros, a boca fina e bem desenhada, o queixo simétrico, o pescoço chamativo, o rosto afilado, porém másculo e a barba fina por fazer. Em todo caso, transmitia certa estranheza a qual eu não era capaz de discernir. No entanto, indubitavelmente, era observador. Ao perceber que estava perdida em meus pensamentos novamente - o que me era bem comum- me atentei ao que o conduzente da cerimônia dizia recusando olhar nos olhos do homem ao meu lado. Coisas sobre a fidelidade no casamento, filhos e os deveres de uma esposa correta e obediente eram alguns dos temas do sermão que o estranho proferia. Obediência, obediência e obediência. Mulheres só servem para procriar e obedecer.
Eu não queria mais olhá-lo nos olhos, então, passei minha atenção completa ao homem que falava sem parar. Algumas vezes, chegava a cuspir me fazendo fechar a cara e cerrar os olhos. Era nojento e repugnante a forma como ele falava, como sua voz soava, como... Ele tocava meu rosto? Era Demétrio, limpando meu rosto daquelas impurezas com seu lenço de bolso. De forma terna e calma ele limpou até que eu estivesse reluzente, como uma boneca de porcelana. Talvez... A sua boneca de porcelana. Afinal, as coisas não estavam indo tão mal. Mas eu não queria baixar minha guarda. Não... eu não podia. Ele iria se mostrar mais tarde, não era um Príncipe encantado como os dos meus livros. Demétrio me deixaria depressiva em poucos dias. Eu seria apenas um objeto de valor apresentável... Valor apresentável. A não ser que eu tomasse uma atitude de algum modo.
Nos ajoelhamos em seguida, não faltava muito para que tudo fosse finalizado. E enfim, depois de muito falatório e lágrimas de nervosismo, o matrimônio foi concretizado. Marido e mulher; esposo e esposa; beneficiado e beneficiário: O que éramos. Estando tudo acabado, dadas as bênçãos e as felicidades, nos dirigimos à festa no salão de baile atrás da igreja.
O salão estava muito bem iluminado e arrumado. Demétrio me guiava pelos grupos de pessoas que nos parabenizavam e pelas que vinham até nós. As flores brancas cercavam toda a extensão do lugar e os tapetes na cor pérola entravam em perfeita harmonia com os lustres e velas. Mas havia algo que me chamava mais a atenção do que toda a beleza ali presente: Uma mesa enorme repleta de alimentos deliciosos! Eu não conseguia parar de encará-la. No entanto, minha mãe havia me instruído - ou ordenado- que eu não comesse quase nada ou acabaria rompendo o vestido ou vomitando na frente de todos. Mais uma vez, fui conectada à algo de inútil e estúpido. Tudo aquilo não passava de pura ignorância. Enfim, a boneca perfeita de porcelana não podia comer alimentos de verdade. Ainda assim, minha vontade era gigantesca! Queria atacar aquela mesa como um animal enraivecido. A tristeza e o pesar que tomavam meu coração eram tamanhos, que mesmo não sendo uma faminta assídua, centrei minha concentração no que pude. Entretanto, mesmo que eu estivesse cabisbaixa por acabar de amarrar minha vida à de um homem desconhecido, algo conseguiu me alegrar por um momento.
— Está com fome?— perguntou Demétrio num sussurro.
Cheguei a me assustar dando alguns passos para trás. Até poucos minutos, havia se separado de mim e conversava com alguns sócios de meu pai, mas de um segundo para o outro, esticava a cabeça por cima do meu ombro com um pequeno sorriso e as mãos nas costas. Não imaginava que ele poderia me perguntar isso, mas acho que meus olhos estavam babando sobre a comida, então, era aceitável visto seu poder de observação. Perceber pequenas coisas, creio que ele era bom nisso.
— Sim, um pouco— respondi, acanhada, segurando minhas mãos na altura da barriga. Ainda me mantinha acanhada e um tanto quando lacrimosa.
— Nesse caso...— ele olhou para os dois lados antes de me puxar para um dos cantos onde alguns vasos de flores cobriam a visão de um lado e do outro e alguns chapéus decorativos estavam pendurados.— Rápido! Pegue um!— sussurrou ele novamente.
Sem compreender o que queria dizer com certeza, agarrei um dos chapéus de penas e fui puxada por ele mais uma vez para um outro canto mais escuro. Não entendi a finalidade do chapéu, afinal, meu vestido já entregava que a noiva era quem estava furtando as sobremesas. Demétrio parecia estar fugindo de algo ou de alguém, porém, era claro que seu objetivo era a mesa. Talvez, só estivesse aproveitando o momento oportuno. Tentei entrar em seu joguinho. Não era algo tão ruim assim e conseguiu tirar minha atenção da tristeza por algum tempo. Mas eu precisava entender o por que, então, tomei coragem para perguntar:
— Demétrio?— chamei-o timidamente, num sussurro quase inaudível, o fazendo se virar para mim.— Não seria mais fácil, simplesmente, ir até lá e pegar o que queres?
— Mas é claro que não!- iniciou com certa decepção no olhar de sobrancelhas curvadas.— Qual seria a graça de ir e pegar? Bem como, não estou faminto, mas você está. Tenho certeza de que foi um longo dia para você.
Ele era mesmo estranho. Muito estranho. Contudo, eu estava saboreando uma deliciosa torta de morango e era isso que me importava. Não era tão boa quanto a de Ágata, mas agradava minhas papilas gustativas. A presença ao meu lado, do mesmo modo, era suficientemente agradável. Parecíamos dois fugitivos ladrões de torta. Sem esquecer dos chapéus que pegamos da nossa própria decoração, é claro. E após sairmos do salão e irmos em direção à sacada escondidos de meus pais, percebi o quão tarde já era. A lua e as estrelas já se faziam presentes no céu noturno. Eu nem sabia se os pais dele estavam presentes, pois não os vi ou não fui apresentada. A única certeza que eu tinha era de que meu coração palpitava de forma estranha, como se estivesse parando, adormecendo. Ele fitava o céu escuro com um brilho diferente no rosto. Demétrio se sentia... realizado. O que me fazia imaginar quais benefícios ele receberia com a posse da empresa. Finalmente, acanhada, porém decidida, resolvi perguntar. Eram nossas primeiras horas de casados, nada de tão sério aconteceria se eu desobedecesse uma ou duas regras.
— Então...— ele se voltou para mim, enquanto nos sentávamos nos bancos da sacada, ouvindo atentamente minha voz.— Quando pretende tomar as rédeas e a posse da sociedade da empresa de meu pai?— a pergunta saiu confusa, visto meu nervosismo. Porém, com o cenho franzido, me respondeu com outra pergunta:
— Empresa? Como assim?— ou ele era um ótimo ator dado sua face confusa, ou realmente não sabia do que se tratava. No entanto, como ele seria capaz de não saber de algo tão importante neste casamento arranjado? Era um fato impossível.
— Sim, a empresa de Engenharia Civil do meu pai. Esse não é o motivo desse casamento arranjado?- Tratei de dar uma forte ênfase na última palavra. Havia sido uma resposta direta, tal como uma pergunta que o colocou contra a parede.
— Ah! A empresa. É claro. Como pude esquecer— ele deu uma garfada na torta e me respondeu com a boca ainda cheia.— Seria muita adrenalina se casar apenas por uma empresa. Que tipo de ser humano faz isso, afinal?
Todo homem que quer poder neste mundo. Assim como com meu avô que vendeu minha mãe para o Conde de Luzzafey e como meu pai que me vendeu para Demétrio. Ainda assim, ele parecia à vontade demais. Suas palavras se mostravam informais, apesar de dirigidas ao seu novo objeto de valor.
— Eu não sei— fiz-me de desentendida e aprofundei a pergunta, com curiosidade notável.— Mas, então... Por quê se casou comigo?
Demétrio não me respondera imediatamente, apenas moveu a mandíbula levemente ao engolir a torta calmamente. O pomo-de-adão subiu e desceu antes que começasse a pensar numa resposta.
Quando enfim terminou de organizar seus pensamentos, olhou para o céu estrelado e sorriu observando a lua antes de proferir qualquer palavra. Ele estava calmo, tranquilo e concentrado quando respondeu com terna voz:
— A lua está bela. E seria... um desperdício de vida se eu não pudesse vê-la.
Seus olhos serenos encontraram minhas íris confusas num movimento que parou o tempo ao redor.
— A lua.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro