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Depois do aviso

Aquele zumbido não parava,eu não conseguia enxergar direito e só ver James me pegando lentamente e tampando o meu rosto,eu sentia as minhas pernas tremerem e depois disso eu sabia que o mundo não seria mais o mesmo.

Eu fiquei em choque e subimos o elevador silenciosamente,eu não conseguia olhar para ele e a imagem de um homem levando um tiro e nenhuma guarda,nem cidadão ajudando não saia. Eu lia e assistia filmes de um mundo utópico e sempre achei divertido ou imaginava como que seria viver em uma sociedade assim,bem, não é legal.Todo o sofrimento do protagonista está sendo nítido,mas somos tão egoístas que só queremos a adrenalina e não queremos se importar o que ele perdeu e está por vir.

Entramos no apartamento mais silenciosamente possível,nem parecia que a minutos atrás estávamos aos gritos. James desligou a TV onde já estava passando um filme de final da noite.

- Hum,bem você pode tomar um banho. Eu pego uma toalha para você e algumas roupas.

Eu acenei com a cabeça e fui ao chuveiro.
Como vai ser da minha mãe ficando sozinha?E o meu pai com essa loucura todos os dias carregando um corpo diferente? Será que ele pode pegar a doença?Será que ele está bem?Quando ele vai me ligar?

Ligando o chuveiro e sentindo o calor da água fervente batendo em minhas costas,veio o choro.
Eu escutava as risadas de Emily quando corria pela a sala,ou suas mãozinhas abrindo o meu olho para me acordar,ou as vezes que se escondia enquanto via as brigas de mim e minha mãe.Eu tremia e sentia aquele medo de novo,depois de tudo que passamos a dor voltou,tudo voltou.

"Laura?" Batidas na porta. Será que ele estava me escutando? - Eu vou deixar a toalha na porta,suas roupas estão dobradas no quarto.

***

JAMES

Ver o desespero de Laura pulando o portão foi chocante para mim,eu senti um aperto que não sabia o porquê. Era tão ruim está ali comigo?Bem,lógico que era por conta da sua mãe e tudo mais. Porém, vê-la daquele jeito ao presenciar uma morte ao vivo foi forte até para mim,agora as coisas vão ser assim,se não obedecer você é morto! Na verdade sempre foi assim,vivemos em uma humanidade que se o vírus não matar alguém,nós mesmos nos matamos.

Ela estava calada de mais e nunca fica. Acho que ela não sentiu quando abracei e tapei o seu rosto para não enxergar o estrago. No elevador foi pior,aquelas paredes geladas dava uma sensação de terror,eu demorei um ano para mandar mensagens para ela e meu orgulho agravou a tudo e agora não vamos poder sair.

Aquele cacto sempre estava ali,ela dizia que quanto mais cuidamos de algo,mas criava vida e bem,a planta estava morrendo. Eu não sabia o quanto de confusão estava passando na mente dela e nem eu queria está comigo naquele momento,não merecia.

- Hum,bem você pode tomar um banho. Eu pego uma toalha para você e algumas roupas.
Ela acenou a cabeça e entrou no banheiro.

Fiquei sentado por um tempo tentando assimilar tudo o mundo estava se acabando!Eu já tinha visto notícias que o governo estava "cuidando das pessoas nas ruas" levando em um abrigo próprio que pudessem ajudar e sem contar a história de separar pessoas de comunidades necessitadas da gente, será mesmo que estão os protegendo?

Fui em meu quarto e abri umas gavetas,dês que terminamos eu não quis mexer nas ruas roupas,e vi casacos de frio e alguns de seus vestidos floridos rosa,puxei outra gaveta e peguei uma blusa cinza minha,o outro um samba canção,dobrei e coloquei sobre a cama.
Eu tinha umas toalhas separadas por cor, é eu gosto de um pouco de organização.
Aquele barulho me era familiar,o mesmo barulho que ouvia no banheiro anos atrás por conta das minhas mudanças de humor. Isso me trouxe a um déjà vu ruim. Ela não queria está ali e sofria por isso. Encostei a minha cabeça na porta por uns instantes e continuava escutando o seu choro,íamos ficar presos por não sei quantos dias ou meses e aquilo era de mais para mim, principalmente para ela.

- Laura?. Escuto o chuveiro desligar.
- Eu vou deixar a toalha na porta,suas roupas estão dobradas no quarto.

Esses dias vão ser longos.

***

LAURA

Quando entrei no quarto ali estava as roupas,um samba canção e sua blusa cinza ele gostava quando vestia suas roupas,tomará que não seja um desejo agora. Eu vesti e ainda tinha o seu cheiro,aquele perfume de canela. Me dirigi na sala e lá estava ele com um lençol e travesseiro no sofá.

- Hum,obrigada.

-Não, não esse sofá é para mim. Pode dormir na cama vai ser melhor para você.
Ele se deitou como forma de protesto.

Eu não sabia o que falar então só dei a meia volta.

- Boa noite.
Ele grita da sala e apaga a luz.

Parei em um minuto,isso não seria uma boa noite e só pensava na minha mãe. Eu sabia que ela tinha me ligado,mas meu celular estava descarregado,eu coloquei na tomada e tentei fechar os olhos,aquele cheiro de canela da blusa me confortava até pegar no sono.

Um ano e 07 meses atrás.

Aquele silêncio me acalmava junto com um vento do ar condicionado,me trazia uma paz grande em meio de todo o caos que era a minha cabeça. Todos aqueles quadros ao redor tinha um significado,mesmo que fosse só um rabisco.
Ficar parada sentada olhando cada moldura me dava êxtase.

"Você é o típico de pessoa que contempla a arte porque gosta?Ou é só mais um estudante tentando parecer que entende de algo?" .Aquela voz me fez tirar do meu êxtase e agora me deu vontade de rasgar sua garganta.
Quando me olhei,vi um garoto com uma boina xadrez,blusa creme e jaqueta marrom,estava fazendo um sorriso irônico com suas sombrancelhas levantadas.

- Não,eu estou aqui por sempre pensar o que o artista quis trazer a cada obra.

-Hum, então é só uma estudante.
Ele deu de ombros e abriu mais o sorriso enquanto olhava o mesmo quadro.

- O que?Eu estou aqui por pleno êxtase!
Eu não gostava de me sentir contrariada e gerticulava com as mãos o tempo todo.

- Hum,agora estou mais intrigado.
Ele colocou a mão no seu queixo e diminuiu os olhos como se pudesse me dar mais atenção.

- Eu... Eu sempre penso o que realmente a pessoa estava sentindo em cada traço ou desenho.A arte é como uma forma de puder não só desabrochar,mas também,de ter poder a desabafar todos os sentimentos guardados em traços ou cores.
Eu realmente sentia isso e meu olho brilhava só com a minha fala.

- Bem,para uma estudante você conseguiu me convencer.
Ele disse em tom de ironia,mas senti que tinha agradado. - Para mim cada quadro é poesia.

Aquilo me encantou um pouco e olhei para ele melhor. Parecia jovem, branco de cabelos pretos e algumas pintas espalhadas pelo o rosto e pescoço,mas a sua roupa com tons de marron e sua boina parecia que tinha pegado de uma loja de antiguidades.
Suas sombrancelhas era um pouco grossas e aparecia uma corvinha a cada sorriso irônico.

- E o por quê tudo seria poema? Você fala com todas as estranhas que quer conquistar?
Falei em tom de ironia também,e me virei de volta ao quadro.

- Todas não, só estudantes.
Ele piscou e se virou ao quadro de novo.

- Nossa e você não seria estudante?Ou ainda está no colegial e pegou a roupa do seu avô.

- Ei!Isso aqui é estilo okay?Ou vai me dizer que se o Leonardo di Caprio não estivesse vestido assim em um filme não te conquistaria?

- Leonardo Di Caprio,não um mero mortal!

Rimos juntos enquanto ele faz sinal de rendição.

- E o que me faz pensar que não sou estudante?

- Você está caçoando como se fosse um problema,mas parece ainda que está no colegial.

Ele levantou a sombrancelhas como se aquilo tivesse te atingido.

- Eu tenho 23.

Eu o olho como se não fosse acreditar,ele dar um de seus sorrisos sarcásticos de novo e tira sua carteira,era uma identidade com o nome de James Bittencourt,23 anos.

- Agora tem que me dizer o seu nome.

Eu tento segurar o sorriso um pouco e digo. - Laura.

- Ok Laura. E ele sorri e volta para o quadro.

Ficamos em um silêncio até que não me aguento.

- E como que você ver poesia em tudo?

Ele sorri mais um vez como se tivesse esperado por isso.

- Bem, acho que todo o sentimentalismo ou criado por alguém tem uma poesia escondida. Cada rabisco do pintor pode ser uma fala e um autor pode interpretar isso e criar textos. Tudo que nos inspira se torna arte e arte tem que ser falada.

Ok,aquilo era músicas ao meus ouvidos e seus olhos brilhavam quando ele dizia e se virava para mim,os meus também brilhavam mas me trouxe a realidade.

- Isso foi interessante,mas é uma resposta pronta.

- Ah é?. Ele se sentiu desafiado.

- Sim,nem todas as pessoas vem para cá para sentir de fato a arte e contempla- lá,alguns estão sendo obrigados e outros para passar o tempo.Tem aqueles que querem só postar nas redes sociais e falar o quanto são inteligentes e outros só querem mostrar o seu ego.
Eu termino se dirigindo a ele enquanto diminui seus olhos mais outra vez.

- Tudo bem senhorita Laura,vamos fazer o seguinte então. Você me leva para lugares e me convence que não está aqui para ganhar uma nota boa e eu te mostro coisas que possa sim se tornar poesia. O que acha?
Ele acende a mão para eu aperta e aperto.

- Fechado.
Ele me puxa e me levanta as pressas.

- Então vamos aos jogos!
Glorifica.

Presente.

Acordei com o cheiro de café,fui seguindo o cheiro e vendo em pé preparando,a mesa estava arrumada e estava calado.

- Achei que não acordaria mais.
Ele não me olhou.

Vi umas torradas na mesa e mordi,tinha um gostinho de manteiga e estavam frescas e gostosas.
Ele coloca o café sobre a mesa e vai a varanda. Ele ficou tomando o seu café e observando o nada.

Eu sabia o quanto seria difícil está ali com ele e acho que se for assim será bom,cada um em seu canto vivendo seus pensamentos sem conversa.

- Sua mãe me ligou. E lá se vai o que eu queria. - Ela me disse o quanto estava preucupada e queria saber se estava bem.

- E o que você disse?

- Disse que estava e foi dormi.

O silêncio volta de novo.
A minha mãe deve está com os nervos a flor da pele, imagino.
Aquilo foi uma típica conversa de manhã embaraçosa,nem parecia como éramos.Conversávamos sobre tudo e sempre imaginávamos que caso se não fossemos namorados seríamos amigos, é parece que não.

Um ano e sete meses.

Estávamos andando em cada corredor do museu e ele me apontava um quadro.

- Bem eu acredito que tudo seja uma dor do artista,mesmo que para alguns seja um monte de tinta vermelha jogada,pode ser algum sofrimento ou até pensamentos dele. A intensidade de sua vida.
As minhas mãos se movimentavam e a vontade era de tocar no quadro,mas eu sabia que não podia. Ele observava a cada movimento meu,mas eu se fingia que não percebia.

- Humm,então me convence aquele.
Era um quadrado com vários outros quadrados juntos,como se fosse algo ilusionista.

- Esse pode ter vários significados.
Eu me aproximei. - Alguns podem mostrar que é para te dar dor de cabeça ou a própria ilusão de algo,mas sinto que é mais...Clastrofóbico.

- Claustrofóbico?
Ele sempre mexe a cabeça quando é algo que interessa.

- Olha mais,imagina que você está em uma caixa e isso que torna mais isolado e mais ansioso,e quando mais a ansiedade vem,mais caixas aparecem,quando mais você se mexe,mais aparecem e isso pode trazer várias ilusões e aí te vem a claustrofóbia.

Ele se aproxima do quadro e me olha.

- Estou olhando. E sorri.

Eu sabia que poderia sentir algo,mas me incomodava.

- Bem sua vez,não me contou nada poético.

- Ainda tem mais coisas para contar,ele me puxa e me leva para a saída do museu,onde várias pessoas estavam andando.

- Que arte você ver nelas?

- Bem,acho que todos são tem arte,seus pensamentos,suas conversas,culturas.Dar para perceber pelas as vestimentas.

- Hum,e o que a minha vestimenta te define?
Eu o olhei com um falso julgamento.

- Uma pessoa pretensiosa que quer parecer algo.

- Aí! Agora doeu.
Ele colocou a mão no peito como se tivesse sido atingido por algo.
- Bem,esse seu vestido florido,com uma bota marrom,cabelo preso com franja e jaqueta jeans é ... Uma típica estudante!
Ele ri enquanto dou um tapinha de leve no seu ombro. - Não, é uma menina que com certeza gosta de clássicos,tanto da literatura quando de filmes,com certeza é de plásticas por se vestir assim e está em um museu. É sonhadora e gosta de despertar a criatividade,sem contar que sua roupa tom de rosa combina com seu cabelo ruivo,pura poesia.

Okay,eu não esperava por essa e sabia que tinha conseguido me convencer com a sua fala.Ficamos parados se olhando um pouco sem ver o tempo passar.

Presente.

Ele ainda estava olhando a janela e me dirigi no quarto sem tomar o café, liguei o celular com várias mensagens da minha mãe e ligações perdidas.

É isso era pura poesia.










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