Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Superando os Bichos-Papões da vida real

ENTRE POÇÕES E PUNIÇÕES

...

— Eu já falei que não sou amigo dela. Sunoo hyung, fala pra ele que eu mal conheço aquela garota? — Riki se vira para Sunoo com olhos pidões e ele sente vontade de rir do quão bonitinho o garoto pode ser.

— Mas se você mal conhece a Youngeun, me explica porquê ela vive atrás de você — Jungwon insiste, com os braços cruzados sobre o uniforme de quadribol.

— Vai ver ela gosta de mim — Riki dá de ombros e revira os olhos, entediado com a ladainha do Yang, e com isso acaba perdendo o bico e a careta de Sunoo ao ouvir tal coisa.

          Euem, é claro que Youngeun não está interessada em Riki. Eles têm quase a mesma idade e têm muitas coisas em comum, mas isso não significa nada. Independentemente, Sunoo não consegue desmanchar o bico. E daí? Ele também pode sentir ciúmes do namorado, mesmo que por motivos bobos.

          Jungwon parece exasperado com o comentário do sonserino, agindo como se Riki estivesse brincando no meio de um assunto super sério.

— Qual é, Jungwon — Riki parece cansado, se escorando nos bancos de cima da arquibancada com uma careta. — E se eu for amigo da Youngeun? Você não gosta dela, mas eu não tenho nada com isso.

— Como assim não tem nada com isso? — agora Jungwon parece pronto para se jogar do banco mais alto da arquibancada (ou jogar Riki, Sunoo sabe como o grifinório pode ser imprevisível às vezes). — Depois de eu te contar tudo o que ela me fez, você ainda diz isso?

          Sim, claro, porque Sunoo teve que assistir Jungwon contar para Riki com sangue nos olhos sobre as atrocidades que Youngeun fez com ele — o que consiste em basicamente fazer testes para entrar para o time e assistir cada treino de Jungwon, já que ela quer jogar na mesma posição que ele (mas para Jungwon, ela quer a posição dele). Sunoo não se lembra de uma única vez em que a garota tenha se aproximado de Jungwon sem ter um sorrisinho nos lábios (implicante ou não) e sem estar genuinamente interessada em aprender melhor com cada passo de Jungwon.

— Não vi nada demais, só dois grifinórios brigando por destaque, como sempre. E não sou amigo de nenhum dos dois, não preciso tomar partido.

          Oh. Sunoo olha para Jungwon, que está com os olhos vidrados em cima do Nishimura. Ele não expressa muita coisa, então Sunoo não sabe se ele está chateado ou indignado. De qualquer forma, definitivamente Jungwon parece estar entalado com alguma coisa, tanto que nem consegue revidar a ofensa contra a própria casa.

          Cortando o clima tenso entre os dois mais novos, os amigos mais velhos aparecem alguns assentos abaixo, ainda distantes e acenando para eles. O suspiro que Sunoo dá é audível o suficiente para qualquer um dos dois ouvir, mas Jungwon está desconfortável demais com os próprios pensamentos e Riki parece alheio a tudo.

— Mas por que vocês estão tão no alto? — Heeseung pergunta alto, pulando os assentos com rapidez, sendo seguido por Jake, que sobe com menos graciosidade.

— Cadê o Sunghoon hyung e o Jay hyung? — Sunoo pergunta quando eles estão chegando no mesmo nível dos três.

— Sunghoon foi ajudar o Jay com alguma coisa do jogo ou sei lá — Heeseung é quem responde, se sentando ao lado de Sunoo e o abraçando pelo ombro. — Ele tá surtando com esse jogo e a gente sabe bem o porquê — ele diz baixinho perto do ouvido do Kim, que dá uma risadinha disfarçada.

          Vai ter um Amistoso de Primavera entre as casas e os primeiros jogos ainda vão começar, mas já foi decidido que os primeiros a competir serão Grifinória e Sonserina. Já faz algum tempo desde a última vez que as duas casas competiram, e todos podem se lembrar bem da briga entre Jay e Jungwon. Agora, entretanto, os dois estão muito mais... calmos um com o outro, e Sunoo está pagando para ver no que vai dar esse jogo.

— E vocês vieram aqui pra cima pra namorar e o Jungwon veio atrás, foi isso? — Jake liga os pontos rapidamente e as bochechas de Sunoo ficam rosadas na hora, mas Riki faz um gesto de obviedade e indignação.

— Ele não se aguentou e teve que vir até aqui, tudo porque me viu falando com uma garota que ele não gosta, então resolveu atrapalhar meu momento sozinho com o Sunoo hyung.

          Jungwon parece ainda mais frustrado, os braços apertados de contra o peito e os lábios sendo constantemente mordidos. Sunoo quer intervir, talvez Riki esteja sendo rude demais e passando dos limites; não quer ver os dois garotos mais novos dessa forma, mas Jake toma a frente.

— Riki-san, você tem que entender que o Sunoo não é só seu — o corvino ri, deixando batidinhas carinhosas da cabeça do japonês.

— Mas ele podia ter esperado — Sunoo escuta o menino murmurar, mas sem falar mais nada além disso ou contrariar Jake.

          Ainda é uma sensação nova ter Jake por perto novamente. Ele já andava por perto dos amigos de Sunoo nos últimos meses, mas agora é tudo diferente. Agora Jake fala com ele e ele fala com Jake, Jake senta ao lado dele na hora das refeições da mesma forma como fizeram no primeiro ano deles em Hogwarts, e Sunoo até se pegou fugindo para a mesa da Corvinal como ele fez tantas outras vezes quando eram mais novos, para contar coisas excepcionais que ele descobriu (que de excepcionais não tinham nada, mas Jake o deu atenção como se fossem sim super incríveis), e tudo isso é tão absurdamente bom e novo e incrível que Sunoo sente que se tentar melhorar alguma coisa, estraga. É como se a amizade deles nunca tivesse terminado — só foi pausada por um longo período de tempo.

— O Riki quer entrar pro time também, não é? — Heeseung se lembra, inclinando o corpo para ver melhor o outro garoto.

— Sim. Me inscrevi para os testes.

— Mas pra ficar no time é preciso ter boas notas e bom comportamento. Suas notas são péssimas e você também não tem lá o melhor dos comportamentos — Jungwon aponta com um sorrisinho de canto.

— Já está com medo de perder pra mim? — Riki revida, espelhando o mesmo sorrisinho.

          Tudo bem, Sunoo queria muito que o amigo e o namorado pudessem conversar e tal, mas essas farpas são a única coisa que eles dividem!

— Eu o ajudo com as notas, são boas o suficiente — Jake defende o sonserino, ainda ao lado dele e pronto para pegar o menino muito mais alto que ele no colo se for preciso. — Sem contar que desde que ele começou a gostar do Sunoo, não faz mais nenhuma besteira por aí.

— Isso mesmo — Riki diz, orgulhoso. Sunoo pensa que ele é mesmo uma figura única, porque podia jurar que ele ficaria constrangido com tal comentário mas tudo o que ele faz é acenar e oferecer um sorrisinho satisfeito para Jungwon, que bufa.

— Falando em provas, — Heeseung fala baixo, olhando ao redor para garantir que não tem ninguém por perto, mesmo que eles sejam os únicos na arquibancada a essa hora da manhã — ouvi que o professor Flitwick quer aplicar um teste surpresa amanhã pra todas as turmas que der aula.

          Esse é um dos benefícios de ter um Monitor como hyung: algumas vezes ele solta algumas informações para os amigos, que mesmo que Sunoo se sinta como um fora da lei por escutar, ainda é grato, pois isso significa que Heeseung se importa com os amigos e quer ajudá-los.

— Não tenho aula dele amanhã, graças a Merlin — Jake comemora com uma dancinha esquisita, fazendo os outros rirem.

— Você é ótimo na matéria, por que a felicidade, hyung? — Riki pergunta, tendo que olhar para cima para falar com o corvino que permanece de pé, como Jungwon.

— Ya, porque eu fiquei te ajudando nos últimos dias e mal peguei nos livros para estudar a matéria do meu ano — Jake se defende, mas sem soar realmente acusador.

          Isso faz Sunoo se lembrar que alguém precisa contar uma coisa para ele sobre uma determinada aula, um determinado medo. Alguns dias se passaram desde a conversa com Jake e por isso Sunoo tem estado absorto retomando ao normal com o Shim, mas ele espera que Riki não pense que ele se esqueceu do acordo que eles fizeram sobre a troca. Ele tem que falar com o menino o mais breve possível, mas toda essa conversa sobre quadribol o fez lembrar de uma coisa.

— Jake hyung, você também não queria entrar para o time? — Sunoo faz a pergunta que está com dúvida há algum tempo.

          Ele sabe que Jake sempre foi apaixonado por quadribol e que queria entrar para o time desde que foi aceito em Hogwarts, então é estranho que ele nem comente sobre isso.

— Ah, queria... — o mais velho coça o pescoço, parecendo pensar. — Mas isso já tem tanto tempo que eu comecei a focar em outra coisa. Agora eu gosto das matérias...

Antes que Sunoo possa enchê-lo de mais perguntas, Jungwon o atropela, cheio de entusiasmo.

— Você joga quadribol? — Jungwon pergunta, parecendo muito animado. — Treina comigo? Depois que a Sonserina treinar, você treina comigo? Em que posição você joga? — O mais novo cospe as palavras de forma rápida em cima de Jake, que parece desconcertado com tantas perguntas e com a empolgação do garoto.

— Eu posso treinar com você? Mesmo sendo da Corvinal? — Os olhos dele parecem brilhar com a possibilidade, mesmo que ele esteja tentando conter o sorriso imenso. É, apesar de tudo, ele ainda gosta muito de quadribol, como Sunoo pode perceber, mesmo que agora ele goste das matérias.

— Claro que pode, não tem nada impedindo. Eu sempre peço pro Sunoo hyung me ajudar, mas ele odeia só o ato de subir numa vassoura, então... — o mais novo olha feio para o Kim, que dá de ombros. O que pode fazer? Voar atrás de uma bola (ou fugindo dela) não é algo na lista de coisas favoritas de Sunoo.

— Você tem a Yuna e o Taeyoung pra isso, não precisa de mim — ele diz sem nem olhar para frente para evitar ver o bico do Yang.

— Ah... Então acho que aceito, mas já aviso logo que não jogo há algum tempo — Jake dá de ombros, mas o sorriso dele não esconde o quão empolgado ele está.

— E você, Riki? — Sunoo cutuca o menino, que o olha. — Não vai treinar com o Jay hyung agora?

— Não. Agora é o treino só com os jogadores do time da Sonserina, ninguém de fora pode participar.

— Eu posso jogar também? — Sunoo escuta Heeseung perguntando, a voz transbordando agitação.

— Pode — Jungwon acena. — Você também joga? Você é o Monitor da Lufa-Lufa, não sabia que...

— Tenho muitos talentos que ainda precisam ser mostrados — Heeseung dá uma piscadinha que faz Jungwon cobrir a boca e virar o rosto para esconder a risada, e Sunoo bate palmas sem conter o riso.

— Vamos descer logo, então? — Jake pergunta, empolgado.

— Mas a Sonserina ainda nem entrou pra treinar — Heeseung parece um pouco contrariado, Sunoo sabe como o Lee ama ficar na arquibancada assistindo e dando pitaco sobre a estratégia dos times e a performance dos jogadores.

— A gente vai se aquecendo lá embaixo — Jungwon já pula dois degraus de uma vez, não dando outra alternativa aos outros a não ser descer com ele. — Não quero ver o treino deles mesmo.

          Os três começam a descer pelos assentos da arquibancada no momento exato em que alguns alunos da Sonserina começam a entrar em campo, ainda com as vassouras em mãos. Sunoo de repente sente mãos o puxando pela cintura e se vira para ver a expressão séria de Riki, que o encara bem no fundo dos olhos.

          O mais novo não precisa dizer nada, os olhos dele descendo até os lábios do Kim são autoexplicativos. Era assim que eles deveriam estar desde que Sunoo chegou super cedo na quadra para encontrar com o loiro, mas foram impedidos de dar sequer um beijinho por causa de Jungwon e sua língua enorme.

          Riki aproxima o rosto do de Sunoo e sem mais delongas dá um beijinho estalado nos lábios rosados dele. O loirinho se afasta apenas para olhar bem o rosto do Kim, fazendo ele dar uma risadinha sem graça, e então volta a unir os lábios, dessa vez em um beijo de verdade.

          Ainda é bem cedo durante a manhã de domingo e eles não têm mais nada para fazer além de ficarem juntinhos assim, a única preocupação sendo não derreter sob as mãos de Riki que o seguram firme pela cintura, mesmo estando ambos sentados. O menino deixa um carinho suave na cintura de Sunoo, que é retribuído por este mexendo nos cabelos dele, enquanto trocam um beijo calmo e cheio de carinho, com direito a pausas para selinhos e risadinhas bobas.

          Riki aparenta ser sempre tão sério; Sunoo um dia chegou a pensar que o menino não soubesse demonstrar as coisas que sente. Ele não estava completamente errado, entretanto, Riki ainda é muito jovem (assim como ele) e esse é o jeitinho dele por enquanto, que, se olhar bem de perto, dá para perceber o sorrisinho infantil que ele ainda tem e as atitudes até um pouco imaturas que são normais para a idade (e adoráveis aos olhos do Kim).

— Quero que você assista aos jogos — Riki diz entre um beijo e outro. — Quando eu passar no teste, quero que você fique na arquibancada para assistir.

— Você já está considerando que vai passar nesse teste? — Sunoo pergunta divertido, e Riki rouba outro beijinho.

— Claro que vou passar. Vou entrar no time e você vai ter que pintar as bochechas de verde para torcer por mim — Riki aperta as bochechas fofas do namorado.

Sunoo revira os olhos para o menino com uma careta que o faz sorrir e puxar Sunoo mais para perto.

— Claro, claro, eu com certeza vou fazer isso — o Kim é irônico, mas no fundo até Riki sabe que ele vai sim assistir a todos os jogos do japonês. Claro que ele não vai pintar as bochechas com as cores da Sonserina, isso já é demais, mas com certeza vai estar gritando a plenos pulmões pelo nome do namorado. — Ansioso para jogar no mesmo time que o Jay hyung?

— Estou ansioso para jogar contra a Corvinal — o garoto fala sem nem pensar duas vezes.

— A Corvinal? Mas o que tem eles?

— Aquele seu amigo é da Corvinal, não é? — Sunoo tenta ler a expressão de desagrado do namorado, só então se dando conta de quem o garoto está falando.

— É sério que você ainda vai implicar com o Taeyoung, Rikie? — Ele quase não pode acreditar nisso.

— Não estou implicando com ninguém.

— Não vai me dizer que você vai ser um daqueles jogadores que atira o time adversário das vassouras para que caiam? — Sunoo pergunta com uma sobrancelha erguida, e Riki dá um sorrisinho de canto.

— É assim que se joga quadribol, hyung.

— Não é, não. Não tem nada nas regras do jogo sobre derrubar o oponente.

— E o que você entende de quadribol? Pelo que o seu amigo disse, você detesta só ouvir falar sobre isso.

— Mas eu não preciso gostar para entender, sei muito bem que-

          O outro o cala com um beijo, o segurando pelas bochechas macias e pressionando os lábios. Sunoo até tenta se afastar com resmungos, mas Riki apenas ri e não se afasta.

          Tudo bem, Sunoo pensa, contrariado. Eu nem queria ficar falando de quadribol mesmo.

          O sol da manhã começa a ficar forte demais, indicando que o início da tarde se aproxima. Alguns alunos já estão espalhados pela imensa arquibancada e Jay já passou voando na frente do jovem casal umas duas ou três vezes gritando palavras desconexas sobre os beijos deles, chamando a atenção de todo mundo para Sunoo e Riki abraçados e de mãos (e lábios) entrelaçadas.

          Sunoo sugere que eles desçam para se protegerem do sol, mas Riki está empolgado para ver Jake e Heeseung treinando.

— Você está ansioso para ver o Jungwonie jogando, fala a verdade — o Kim implica, deixando o mais novo com um bico emburrado. Adorável.

— Vamos descer — ele diz já se levantando e puxando Sunoo pela mãozinha que não solta de jeito nenhum.

         Sunoo ri sem acreditar da birra do garoto e se deixa ser levado até as escadas para saírem dali. Eles podem ver Jungwon entregando vassouras para Heeseung e Jake próximos à uma tenda, onde os jogadores costumam ficar antes dos jogos. Ver o amigo ali o faz lembrar de uma coisa que ele quer falar com o namorado já tem algum tempo.

— Riki, você não gosta do Jungwon?

O menino mais alto parece ser pego de surpresa pela pergunta, mas dá de ombros.

— Ele não vai com a minha cara. Seu amigo fala demais. Eu sou indiferente.

          Eles param sob uma área coberta, Sunoo querendo a todo custo fugir do sol. A lembrança de que foi nesse lugar que eles deram o primeiro beijo deles pisca na mente de Sunoo e o deixa de bochechas quentes, mas ele espera que Riki não perceba isso.

— Mas vocês agora estão quase sempre juntos, e vocês conversam também...

— Estamos quase sempre juntos por causa de você e dos hyungs — Riki diz o óbvio, colocando as mãos dentro do bolso da calça.

          Sunoo solta um suspiro profundo.

— Ainda assim — Sunoo começa, brincando com os dedos à frente do corpo. — Acho que o Jungwon não te vê da forma que você pensa que ele te vê. Quero dizer, você tem certeza que vocês não são amigos, mas eu acho que ele não te vê mais assim. O Wonie pode ser difícil às vezes, mas quando ele não gostava de você, vocês sequer conversavam. Agora ele até vai atrás de você pra conversar, certo?

— Ele vem atrás de mim para brigar. É diferente.

— Brigar por quê? Porque você possivelmente tem amizade com uma menina que ele não gosta. O Jungwon surta quando eu faço amizade com gente que ele não gosta, porque sou o melhor amigo dele. Se você não fosse nada dele, ele nem se importaria com quem você fala ou deixa de falar.

           Riki parece ficar um pouco pensativo, olhando para lugares que não são o rostinho esperançoso do Kim, que resolve continuar falando depois de um momento de silêncio.

— Até acho que ele ficou chateado ainda agora com o que você disse.

— Sobre...?

— Sobre vocês não serem amigos.

— Ah, fala sério.

— Eu tô falando sério! — Sunoo é insistente, se esticando um pouco para voltar para o campo de visão do namorado que desviou o olhar. — Não viu o jeito que ele ficou? Todo calado e te encarando. Eu conheço o Wonie, ele ficou incomodado com aquilo.

— Você pode parar de chamá-lo de Wonie? — O garoto faz cara feia para o apelido, e Sunoo cruza os braços, sério.

— Para de mudar de assunto.

— Não estou mudando de assunto, só estou...

— Wonie é o apelido dele, eu também te chamo de Rikie e...

— Mas eu sou seu namorado!

— E o Jungwon é meu amigo!

          Riki não diz mais nada, apenas permanece com as mãos dentro do bolso da calça e sem olhar para Sunoo, que também permanece de braços cruzados à frente dele. Sunoo não quer brigar por uma coisa boba dessa, mas Riki precisa entender que nem sempre as coisas podem ser do jeito que ele quer.

— Mas eu não gosto quando você o chama assim — o garoto quebra o silêncio e Sunoo precisa se esforçar um pouco para entender o que ele está dizendo, por sair tão baixo.

— Então esse é o seu castigo por ter me chamado por tanto tempo apenas de ''Sunoo''. Lide com isso.

— Não te chamo mais assim há tempos, só de Sunoo hyung! — O garoto protesta com birra, mas Sunoo segue firme.

— Lide. Com. Isso.

— Que seja — Riki resmunga, emburrado. — E, tá legal, o Wonie não me odeia. E? Ele continua agindo como se me odiasse.

          Bem, isso é verdade, mas é porque a linguagem do amor de Jungwon é ''perturbação'', quanto mais ele perturba alguém, mais ele demonstra que gosta!

— Estou te dizendo, Rikie, ele não te odeia. Você vai ver só, preste atenção na forma como ele fica perto de você agora e compare com o jeito que vocês ficavam antes. Se você continuar achando que ele não gosta mesmo de você depois disso, eu não toco mais nesse assunto.

— Que seja — ele murmura. — Agora posso continuar te beijando ou você ainda quer falar mais alguma coisa sobre o Wonie?

          Sunoo quer sim falar mais algumas coisas, não apenas sobre Jungwon, mas ele deixa o garoto o puxar para outro beijo. Eles ficaram tanto tempo afastados nas férias de fim de ano que agora aproveitam qualquer oportunidade que têm de ficar juntos, e não é sempre que eles têm tanta liberdade para ficarem assim aos beijos. Além do mais, Sunoo ainda não sabe direito como tocar no assunto sobre o acordo que eles fizeram, sobre o medo de Riki. O garoto tem se mostrado cada vez mais aberto a Sunoo, mas às vezes ele ainda passa a impressão de que pode se fechar totalmente a qualquer momento e não dar espaço para mais ninguém entrar. Por enquanto, essa ideia tem apenas ficado na mente de Sunoo, já que o Nishimura não fez nada disso. Mas a possibilidade de Riki recuar muitos passos quando ele tentar tocar naquele assunto de novo é o que o assusta.


ϟ


— Mas eu também não gosto muito dessa aula...

— Mas você é ótimo nisso — Dongpyo aponta com um biquinho que ele faz sempre que quer parecer fofo para convencer alguém. — O Heeseung hyung se forma em alguns meses e essa é a minha chance de ser escolhido como novo monitor da Lufa-Lufa, por favooooor!

— Tá legal, hyung, tá legal — Sunoo acaba cedendo, sem conseguir dizer não ao amigo. — O que eu tenho que fazer?

          Ainda está de tarde e os alunos ainda estão agitados, indo de um lado para o outro por causa dos treinos de quadribol e do fim de semana em si. Sunoo voltou para o Salão Comunal da Lufa-Lufa para tomar um banho depois do almoço, e aqui está ele até agora, pois foi quase algemado por um Dongpyo desesperado, dizendo ter uma ''emergência herbológica''.

          O Kim escuta pacientemente sobre o que ele terá que fazer na estufa de Herbologia para salvar as notas do Son, assistindo-o exagerar em cada gesto desesperado.

— Acha que vai precisar de ajuda? — O mais velho pergunta depois de explicar.

— Não, eu posso fazer isso sozinho.

          O que o amigo o está pedindo não é nenhum fim do mundo, mesmo que ele esteja agindo como sendo isso mesmo.

— Então eu vou com você e te espero do lado de fora, para o caso de alguém tentar entrar e ver você ali.

— Não precisa hyung, eu também tenho aulas naquela estufa, ninguém vai desconfiar — Sunoo se ajeita, pronto para deixar o dormitório. — E eu também duvido muito que alguém vai estar lá dentro hoje.

          Quem em sã consciência se enfiaria dentro de uma estufa cheia de criaturas com cheiros peculiares em pleno domingo ensolarado? Ah, claro, só Sunoo mesmo.

          Com muito custo e alguns abraços e tentativas de beijinhos, Dongpyo libera o garoto para finalmente sair do lugar.

          Do lado de fora do dormitório, depois de passar pelos barris, Sunoo se ajeita e faz um cálculo rápido de tempo. Certo, ele tem tempo suficiente de falar com Jake rapidinho — que era o plano inicial dele, antes de quase ser atropelado por Dongpyo — e depois ir resolver o problema de Herbologia do amigo e, com sorte, ainda consegue falar com Riki de novo antes do jantar. Não falar sobre qualquer coisa, mas falar sobre o segredo dele.

          Nesses últimos dias, Sunoo tem andado um pouco mais com Jake, por vezes até sozinhos. Ele quase não se lembrava de como sentia falta de ter o corvino ao lado dele, até tê-lo de novo caminhando junto a si e contando sobre o time de quadribol preferido dele e, logo em seguida, indo para um assunto completamente diferente sobre física e química. Mesmo sem se interessar muito por nenhum dos assuntos, Sunoo se sente estranhamente confortável sempre que tem o Shim ao redor dele, com aquele sorriso grande e o jeito de abraçar sempre que se empolga com alguma coisa.

          O lugar preferido de Jake para passar o tempo teve que ser trocado — a Sala de Troféus é longe e fica se movendo entre o terceiro e o sexto andar, o que dificulta muito a vida dos amigos quando querem falar com o Shim (mas Sunoo tem quase certeza de que Sunghoon fez um apelo a mais para o corvino). Sendo assim, o Kim se encaminha até a biblioteca, que tem se tornado o lugar que Jake mais frequenta.

— Sunoo-ah — a voz de Sunghoon o chama e Sunoo se vira para olhar o amigo se aproximando, andando mais devagar.

— Pensei que vocês ainda estivessem no Campo de Treinamento — fala quando Sunghoon está ao lado dele.

— Estava, mas vim chamar o Jake. Ele pediu pra ver meu treino.

          O sorriso de Sunghoon é tão radiante. Ele tem andado parecendo uma criança feliz com um presente novo, com os olhos brilhantes e o sorriso de orelha a orelha para onde quer que ele vá. Sunoo sabe que tudo isso é por causa de Jake, porque agora Sunghoon pode finalmente andar com o corvino sem se sentir culpado, pode finalmente falar sobre Jake com os amigos abertamente. Sunoo nos primeiros dias depois da conversa com Jake não conseguia nem pensar em como ele afastou Sunghoon do garoto que ele gostava, e impediu Jake de ter amigos, mas agora ele está aprendendo a lidar com o peso da culpa, que os amigos sempre fazem questão de deixar o mais leve possível.

— Ah, então ele vai estar ocupado agora? — Sunoo para no lugar, sendo acompanhando por um Sunghoon confuso.

— Por que? Você quer falar com ele agora?

— Sim, mas posso falar depois...

— Não, depois eu falo com ele então — Sunghoon até dá alguns passos para trás, prontamente gesticulando para Sunoo seguir em frente. — Você pode só avisar pra ele que o treino já vai começar? Aí quando vocês terminarem de conversar ele vai até lá.

          O garoto mais velho fala rápido e já vai virando as costas para voltar de onde veio, nem dando tempo de Sunoo falar mais nada.

— Sunghoon hyung... Sunghoon hyung! — Sunoo ainda tenta chamá-lo para dizer que ele não quer atrapalhar, que pode falar com ele depois porque não é nada demais, mas Sunghoon nem dá tempo para isso.

          O Park quer que Jake e Sunoo fiquem ainda mais amigos, quer que eles voltem a ser como eram antes de toda aquela confusão e, sempre que pode, os deixa sozinhos e se afasta de uma forma engraçada, para eles ficarem mais próximos e sem interrupções. Sunoo até queria falar com o amigo que ele não precisa fazer isso, que com o tempo ele e Jake vão se acostumar um com o outro de novo, mas depois de uma noite quando Sunghoon foi para o quarto dele conversar um pouco e disse que estava muito feliz de ver Sunoo e Jake sendo amigos de novo, Sunoo resolveu que o deixaria fazer o que quisesse, pois ele estava fazendo de coração.

          A biblioteca parece ainda maior agora que está quase vazia. Algumas poucas mesas são ocupadas por estudantes que Sunoo pode contar nos dedos, mas ninguém está estudando. Com exceção de Jake, que parece tão focado em um livro que está com o cenho franzido e o rosto quase colado à uma das páginas. A visão é até um pouco engraçada, porque, se aproximando mais dele, é possível ver como as roupas dele estão um pouco sujas, claramente pelo treino de mais cedo, mas as mãos que seguram o livro estão impecavelmente limpas.

          Sunoo se aproxima do garoto que está de pé em meio a algumas estantes e sequer o nota ali.

— Jake hyung?

— Ah, oi Sunoo — o mais velho parece levar um pequeno susto ao ouví-lo, mas o oferece um sorriso de qualquer forma. — O Riki acabou de passar por aqui te procurando.

— Ahn.. É sobre ele mesmo que eu quero falar com você — diz com um pouco de receio. Por alguma razão, ele se sente um pouco constrangido de tentar saber sobre a vida do namorado dessa forma, mesmo que não esteja fazendo nada de ruim. — E o Sunghoon hyung pediu pra avisar que o treino dele já vai começar, também.

          A expressão de Sunoo deve revelar algo no mínimo desesperador, porque Jake parece ficar um pouco preocupado e até fecha o livro que há segundos lia com tanto entusiasmo.

— O quê? Aconteceu alguma coisa entre vocês? — O mais velho se aproxima dele já colocando uma das mãos sobre os ombros do Kim, ignorando o nome de Sunghoon sendo citado.

— Tá tudo bem entre a gente, não precisa se preocupar — ele acalma o mais velho com o típico sorrisinho que sempre carrega, uma mão sobre a do corvino.

          Jake suspira audivelmente e leva a mão ao peito.

— Que susto, Sunoo! Você não pode chegar assim com essa cara de desespero do nada, pensei que tivesse acontecido alguma coisa séria!

          O mais novo ri da forma como o corvino se assusta por pouco. Sequer sabia que estava com uma expressão de desespero, mas nunca foi muito bom em esconder qualquer coisa de Jake. Pelo visto as coisas não mudaram tanto assim, mesmo depois de todos esses anos.

— Desculpa, hyung. Te atrapalhei com alguma coisa? — Ele aponta para o livro que o mais alto ainda segura.

— Claro que não, eu só estava lendo uma coisa por curiosidade — Jake dispensa o livro, o colocando de volta em uma das prateleiras, e Sunoo prefere nem comentar sobre o que teria de tão interessante em um livro sem título e com um aro bordado na capa. — O que você quer falar sobre o Riki?

          Por onde começar? Pela parte que Sunoo está se sentindo um fofoqueiro ou pela parte que ele, na verdade, está preocupado com o garoto mais novo?

— Acho que é melhor você ir assistir ao treino do Sunghoon hyung, depois eu falo — Sunoo ajeita os cabelos para trás, tentando disfarçar que está repensando a decisão de ir atrás de informações pessoais de Riki.

          De qualquer forma, Jake o olha estranho.

— Você já veio até aqui, Sunoo, pode falar o que você quer. Tem algo te perturbando?

— Não é que tenha algo me perturbando — ele resolve falar de uma vez. Se tem alguém que pode ajudá-lo (e que Riki não vai se sentir incomodado de falar da vida dele) é Jake. — É que, você sabe alguma coisa sobre a família do Riki? — Ele nem espera uma reação ou qualquer palavra do Shim para continuar. — Porque eu não, ele quase nunca menciona a família dele e sempre parece nervoso quando tem que falar alguma coisa. Eu já tinha achado isso estranho, mas agora tem esse negócio do Bicho-Papão e- Não, agora não, isso já está acontecendo desde o fim do ano passado! Ele tem medo e foge das aulas do professor Lupin, o que é bem estranho porque ele diz que adora essa aula. Ele confessou que sente medo de alguma coisa, alguma coisa que parece ser muito séria e assustadora e eu o convenci a fazer um acordo... — Jake não sabe desse tal acordo, e Sunoo olha para os pés para falar sobre isso, mesmo que não seja nada demais. — Eu falaria com você e ouviria seu lado da história e ele me contaria o motivo do medo dele, mas dias, semanas já se passaram e ele não me fala nada e sempre esquiva desse assunto. Eu não quero ser chato nem intrometido, mas eu estou preocupado com ele e quero ajudar!

          Ele joga tudo em cima de Jake, sem pausas para respiração ou comentários. Se tem alguém que pode ajudá-lo com isso é Jake, então Sunoo o olha com toda expectativa que cabe nos olhinhos negros que ele tem.

— Sunoo, calma — Jake ri um pouco, olhando com ternura para o Kim. — O Riki realmente gosta das aulas do professor Lupin, é a única matéria que eu não preciso forçá-lo a estudar. Sobre o Bicho-Papão... É complicado. Não sei se devo falar tudo o que eu sei sobre esse assunto porque o Riki pode ficar chateado, mas se ele chegou a mencionar que te contaria, então... Eu não sei...

          Quando Jake disse que mudou muito durante todo esse tempo em que eles ficaram afastados, Sunoo ainda não tinha algo que o mostrasse isso. Agora, ele pode ver com clareza a mudança de atitude dele. Jake poderia apenas contar de uma vez o que sabe sobre a família de Riki, afinal, Sunoo é namorado do garoto, mas aqui está ele, considerando se deve ou não fazer isso.

— Tudo bem, hyung, não precisa me dizer nada — Sunoo entende o lado dele, de verdade.

— Eu sei só algumas coisas sobre a família dele, você já sabe que a mãe dele não é japonesa, certo?

— Sim, ele contou isso no dia do seu aniversário. Nem a mãe nem a irmã são japonesas.

— Sim. E você sabe de onde elas são?

— Bom, acredito que sejam coreanas? Se eles foram para a Coréia...

— Eles foram para a Coréia, mas para a Coréia do Norte.

          A reação que se segue são olhos arregalados e os lábios de Sunoo abrindo e fechando, sem entender direito.

— Mas ninguém pode entrar lá... Quero dizer... Então o Riki é...?

— A única coisa que eu sei, é que o pai do Riki é japonês, e que ele nasceu no Japão. Você também sabe que, a mãe dele... Bem...

          Não é que Sunoo saiba disso, é só que ele percebeu que Riki se referiu à mulher no passado, e uma coisa leva a outra. Ele assente, um pouco em dúvida.

— Então... É só isso que eu sei. Se você puder não contar ao Riki que eu te disse isso... Só estou te falando porque sei que você quer ajudar e...

— Tá tudo bem, hyung. Foi bom você ter me falado isso, agora eu sei mais ou menos o que esperar. Nem posso ficar bravo com ele por fugir desse assunto — Sunoo fala com um bico e Jake ri.

— Você não consegue ficar bravo com ninguém, Sunoo — o mais velho ri e bagunça os fios negros do Kim, que sorri de volta para ele.



ϟ



— Você não precisa fazer isso agora — Riki protesta, seguindo Sunoo pela área externa do Castelo.

— Claro que preciso, depois posso não ter tempo — Sunoo se repete, caminhando um pouco à frente do loiro. Ele já disse isso umas quatro vezes, mas Riki pode ser bem teimoso.

— Mas por que ele não pediu pra outra pessoa? Por que tem que ser você? — O garoto é insistente, mas Sunoo não dá ouvidos e continua caminhando.

          Ele estava no caminho até a estufa para fazer o que Dongpyo pediu, mas encontrou com Riki no caminho, este que correu até ele e Sunoo quase jurou que o garoto o iria derrubar no chão, quase um atropelamento humano.

— Porque sou amigo dele e sou bom em Herbologia.

          Sunoo não acha que Riki esteja com ciúmes de Dongpyo, mas percebe que o garoto quer monopolizar a atenção dele cada vez mais. É inevitável, Sunoo acha isso bonitinho, mas não pode ceder a todos os desejos do garoto sempre.

          Riki continua andando atrás dele, e Sunoo ri, sem acreditar. É esse o mesmo garoto que tinha como hobby tirar a paciência dele?

— Mas eu quero que você fique comigo agora.

          Eles já estão próximos à estufa, com poucos alunos ao redor deles. Sunoo para de andar e se vira para olhar o namorado. Por que ele tem que ser tão bonitinho? Ou vai ver eu que sou bobo demais por ele.

          Uma ideia passa pela mente de Sunoo.

— Você pode ficar comigo enquanto eu faço o que preciso — a sugestão não parece surtir muito efeito em Riki, que segue o encarando seriamente.

— Eu já ia ficar com você de qualquer jeito.

          Ah, é claro.

          Sunoo dá uma risada, sem acreditar em como o garoto pode ser assim.

          A estufa está limpa e organizada, sem sinal de que algum aluno esteve pelo local nas últimas horas. A mudinha que Dongpyo falou está no exato local onde ele disse que estaria, e Sunoo suspira, dando passagem para Riki entrar e fechando a porta.

— Pode sentar por ali — ele aponta para umas cadeirinhas de ferro no canto, e segue para onde vai passar os próximos minutos, de pé em frente a um monte de terra adubada.

          O garoto não senta, ele segue Sunoo e para ao lado dele.

— Vai precisar de ajuda?

— E você saberia me ajudar? — Sunoo retruca com um sorriso, e Riki bufa.

— Hyung, se você não quer que eu te beije agora, vai ter que parar de implicar comigo.

          E a Sunoo resta olhá-lo, indignado, com uma careta. Quem disse que ele não quer que Riki o beije? Puff. Ele só sabe que agora não é o momento mais apropriado, não se ele quiser falar sobre um certo assunto. Como ele vai abordar o fato de Riki ter um medo misterioso depois de beijá-lo até ficar com os lábios inchados? Por Merlin, se qualquer pessoa pudesse ouvir os pensamentos dele agora, ele passaria dessa para melhor. Motivo: morte por vergonha extrema.

— Se você está corando assim, então é porque...

— É porque você tá me distraindo! Me ajuda pegando aquele balde de pás — ele começa a dar ordens, que Riki segue sem muito ânimo.

          Sunoo nem consegue acreditar como Dongpyo pode ser tão atrapalhado ao ponto de não conseguir cumprir tarefa tão simples quanto essa. Com certeza ele ficou tagarelando e sequer prestou atenção às aulas, nem se esforçou para entender o que deve ser feito. Mas isso não é hora para pensar em como o amigo é irresponsável. Se não tivesse mãos firmes, com certeza estaria fazendo besteira, porque não consegue ignorar a presença de Riki bem ao lado, observando tudo o que ele faz. Ele não quis que Riki estivesse junto a ele na estufa a toa, é claro. Assim que o garoto o encontrou no caminho, Sunoo teve a ideia de que a estufa seria o local perfeito para eles conversarem sobre esse assunto que Riki tanto foge — afastados de todos, sem ninguém para ver ou ouvir o que eles falam. Ele estava pensando como tocaria no assunto com o garoto loiro, mas decidiu que de hoje não passa.

— Riki, você lembra do acordo que a gente fez? — Ele pergunta sem nem olhar para o lado, tentando falar o mais casualmente possível.

          Ele até chega a pensar que Riki vai enrolar e tentar mudar de assunto, ou até mesmo fugir como da última vez, mas se surpreende com a resposta rápida.

— Lembro. Pensei que você tivesse esquecido.

— E você queria que eu tivesse esquecido?

— Sim.

— Então você não quer me contar? — Sunoo finalmente olha para o garoto mais alto, os olhos curiosos tentando tirar alguma resposta dos olhos pequenos do japonês. Ele quer muito que Riki conte tudo sobre esse assunto, mas não irá forçá-lo com o argumento de um acordo bobo agora que sabe que a coisa pode ser séria.

— Eu disse que vou contar então eu vou contar — a voz dele sai baixa, os olhos perdidos sobre a terra que ele cutuca, brincando de fazer buraquinhos. — Você conversou com o Jake hyung, agora eu tenho que te contar.

— Rikie, olha pra mim — Sunoo solta a pá e se vira para o menino, tendo que olhar para cima por conta da proximidade. O garoto também se vira e o olha. Sunoo acha que os olhos dele transparecem uma súbita tristeza. — Eu quero saber o que tanto te perturba porque quero te ajudar. Se você não acha que eu posso te ajudar... Você não precisa me dizer nada.

          O Nishimura o olha por alguns segundos, diretamente nos olhos, antes de falar novamente.

— Não é algo que possa ser mudado, hyung. Não tem nada a ser feito sobre isso. Não gosto de pensar sobre isso e também nunca falei com ninguém sobre, mas acho que com você... Acho que pra você seria bom contar.

          Com carinho, Sunoo segura a mão do menino que há pouco brincava com a terra e o guia até as cadeirinhas no canto da estufa rodeado de plantas. O trabalho de Dongpyo pode esperar, agora tudo em que Sunoo consegue pensar é no jeito murchinho que o garoto de postura sempre confiante se senta à frente dele.

          Sem falar nada, ele aguarda pelo tempo de Riki. As mãos grandes do garoto estão recebendo o carinho do Kim como um gesto tranquilizador, e os olhos dele estão grudados no próprio colo. Sunoo detesta ver Riki assim, detesta vê-lo para baixo e detesta apenas o pensamento de que o garoto pode ter pensamentos tão tristes.

          O dia lá fora ainda está brilhando e alguns alunos já passaram correndo algumas vezes, alguns até acenando para Sunoo de fora da estufa, quando finalmente o japonês começa a falar, a voz baixa como um murmuro.

— Será que eu conto desde o início? — O garoto pergunta, mas parece mais que está perguntando para si mesmo. De qualquer forma, Sunoo aguarda, ainda segurando as mãos do namorado. — Vou te contar tudo, desde o início, mas vai ser longo. Vou tentar resumir — ele parece finalmente decidir após ponderar por algum momento. — Minha mãe e minha irmã são norte coreanas. Minha irmã é filha de um norte coreano também, que eu nunca conheci porque não existia ainda. Minha irmã é uma nascida-trouxa e começou a manifestar a magia muito cedo. O pai dela achava que eles estavam amaldiçoados, que minha irmã era uma bruxa, no sentido trouxa da palavra, porque eles têm medo de pessoas como nós. Por causa dele, ela também passou a acreditar nisso. Minha mãe não sabia de nada sobre magia ou sobre bruxos, mas ela sabia que a Saebyeok não era ruim, muito menos um monstro. Pessoas como minha irmã eram castigadas e punidas, e minha mãe não aguentava mais aquilo, então tentou fugir pela primeira vez. O pai da Saebyeok impediu tudo e elas quase foram pegas. Quando a Saebyeok ficou um pouco maior, minha mãe tentou de novo. Você sabe como as pessoas fogem de lá?

          O garoto mal começou a contar e Sunoo já está de olhos bem abertos, surpreso e sem reação. Riki fala tudo de forma curta e objetiva, mas o lufano não irá interrompê-lo e pedir para falar um pouco mais devagar e com pausas para ele digerir os fatos de que Riki é metade norte-coreano e que tem uma meia irmã e todo o resto, então ele apenas indica que não com um movimento de cabeça, porque ele não faz ideia de como os norte-coreanos fazem para fugir do país, mesmo que saiba que, todos os anos, centenas de pessoas tentam fugir.

— São muitos jeitos, mas em todos eles as pessoas têm constantemente armas apontadas para as cabeças, sabendo que podem morrer a qualquer momento. Guardas que vigiam as fronteiras ficam posicionados no alto, mirando em qualquer coisa que se mova. Minha mãe e minha irmã se arrastaram por horas até estarem fora do campo de visão dos guardas e poderem correr. A fuga leva dias e, mesmo quando chegam à China, não estão seguros. A China ajuda a Coréia do Norte e manda os refugiados de volta pra lá, então minha mãe não podia pedir ajuda a ninguém. Foi quando ela conheceu meu pai. A Saebyeok se aproximou porque ele estava praticando magia, mas a minha mãe não conseguia enxergar a magia, então entrou em pânico. Meu pai a acalmou e ofereceu ajuda. Sabe, ajuda pra fugir dali e pra Saebyeok. Foi ele quem as levou até o Japão, escondidas, e foi ele quem disse para a Saebyeok que ela não era um monstro, muito pelo contrário. Ele ensinou muitas coisas à minha mãe e à minha irmã, e foi ele quem a enviou para Samsara, porque é a escola de magia que os norte coreanos frequentam (os poucos que conseguem frequentar uma escola). Ele até chegou a tentar uma vaga pra ela em Mahoutokoro, mas não conseguiu. Foi quando eu nasci.

          É claro que Sunoo se lembra de quando Riki contou que a irmã dele frequentou Samsara. No dia ele não entendeu direito, mas Samsara não é uma escola de magia como Hogwarts que só recebe alunos que recebem as cartas exclusivas pelo correio, então não deu muita importância àquilo.

— E o pai da sua irmã...

— Ficou na Coréia. Não me lembro de nenhuma vez em que ela mencionou o pai, acho que também queria esquecer — ele responde rapidamente. A voz dele já não é mais apenas um murmuro, ele fala com objetividade e segurança, mesmo que os olhos continuem baixos e evitando qualquer coisa que não seja o nada abaixo do próprio corpo. — Eu cresci no Japão e logo comecei a manifestar minha magia também, então minha infância foi muito diferente da da minha irmã, porque eu não tinha alguém para me chamar de monstro ou aberração.

          O lufano pode sentir nas palavras dele como ele lamenta pela irmã, como ele pronuncia os xingamentos com nojo e repulsa. Ser um bruxo é muito mal visto pelos trouxas, Sunoo sabe disso. Esse é um dos motivos para eles se esconderem, porque, mesmo sem magia alguma, eles ainda se acham melhores e superiores que qualquer um que seja diferente deles. Eles desprezam o diferente e querem dominar aquilo que os assusta.

— Ficou tudo bem por alguns anos. A Saebyeok estava quase concluindo a escola, e meu pai estava ansioso para me ver indo para Mahoutokoro. Eu lembro de tudo em detalhes, porque eu já era grande o suficiente pra lembrar.

          Outra pausa, e dessa vez ele olha ao redor, sem buscar por nada em específico.

— Um dia, meu pai me levou ao Castelo de Okayama junto à minha irmã, porque ela logo ia começar o último semestre de aulas antes de se formar. Minha mãe não foi porque não estava se sentindo muito bem, mesmo que não estivesse doente. Fomos de manhã e só voltamos à noite, e lembro de como minha irmã perguntava tudo sobre o lugar ao meu pai, que respondia cheio de entusiasmo sobre a história, igual a você quando eu te deixo falar sobre suas séries trouxas. Eu sempre achava que ela não estava gostando muito das coisas porque estava sempre séria demais, então ficava impressionado de ver que ela estava se importando e prestando atenção a tudo que meu pai falava. Quando voltamos para casa de noite, minha mãe estava preocupada com alguma coisa. Ela parecia inquieta e incomodada, mas às vezes ela ficava daquele jeito, achando que algo ruim iria acontecer. Fomos dormir, e quando acordamos de manhã minha mãe recebeu uma ligação estranha e saiu rápido. Você já ouviu falar de fugitivos da Coréia do Norte que voltam ao país? — Sunoo nega, porque nem faz sentido querer voltar. — Eles são enganados e levados de volta contra a própria vontade. Sequestrados, sem deixar rastros. Foi o que aconteceu com a minha família. Menos o meu pai.

          Ele dá uma pausa e o Sunoo percebe a tensão dele em falar sobre esse momento em específico. Algo no jeito que ele menciona a irmã e a ausência da mãe, Sunoo não sabe bem, mas ele acha que esse momento ficou marcado na mente do garoto mais novo durante todos esses anos, porque Riki o descreve como se estivesse enxergando tudo aquilo novamente, sentindo tudo novamente.

— O meu pai ainda estava dormindo. Não quero entrar em detalhes aqui, hyung — ele para de contar e levanta para olhar Sunoo, que aperta as mãos dele.

— Você não precisa, Riki, de verdade — Sunoo tenta o confortar da maneira que pode. — Só fala o que você quiser.

— Tudo aconteceu rápido demais. Minha irmã tentando fugir comigo, a vida da nossa mãe sendo ameaçada. Meu pai nunca saiu do quarto, e eu também nunca mais o vi. E foi isso. Não sei como eles conseguiram aquilo, como conseguiram nos esconder, mas nos levaram para a Coréia do Norte.

          Aperta o coração de Sunoo saber que Riki teve que passar por tanta coisa ruim, por toda aquela situação. Perder o pai daquela forma deve ter sido um trauma enorme na vida dele, e Sunoo só quer abraçá-lo e afagar os cabelos dele e dizer que está tudo bem, que agora está tudo bem e que ele nunca mais vai precisar passar por coisas como aquela, que não importa se Sunoo tem apenas dezesseis anos, ele vai proteger Nishimura Riki a todo custo.

— Não quero falar sobre o que acontece com fugitivos, mas você pode imaginar que não é algo bom. Minha irmã tinha medo de praticar a magia por ainda ser menor de idade, e minha mãe tentava me proteger de qualquer coisa. Você sabe, norte-coreanos aprendem que o Japão é inimigo, então eu não ter ficado com meu pai foi um milagre.

          A inquietude de Riki parece crescer a cada frase. As mãos dele agora são as que seguram as de Sunoo, brincando com os dedos dele sobre as pernas agitadas.

— Tentaram me tirar da minha mãe, também tentaram separar minha irmã da gente. Até hoje não sei como conseguimos ficar juntos. Minha mãe e minha irmã falavam de fugir de novo sempre, e qualquer coisa era melhor que ficar naquele lugar, até morrer. Um ano depois, a oportunidade de fugir surgiu de novo. Minha irmã tinha se juntado com outras pessoas que também queriam fugir, e eles iriam fugir naquela noite. Saebyeok não me deixou sair com nada além da roupa do corpo. Era inverno e a travessia foi horrível. Tinha muita gente.

          Outra pausa. O rosto de Sunoo reflete a tristeza de Riki, contorcido em tristeza. Ele já estava lacrimejando quando Riki começou a contar, mas agora as lágrimas estão começando a escorrer pelo rosto, calmas e sem chamar atenção.

— Os guardas começaram a atirar. Tinha gente morrendo pra todo lado. Alguns começaram a gritar e levantaram pra correr, mas aquilo foi pior ainda. Minha irmã estava cobrindo meu corpo com o dela, e minha mãe tentava cobrir nós dois. Mas deu tudo errado. Alguém que estava correndo caiu por cima da minha mãe e ela ficou para trás, porque minha irmã não parou. Eu tentei virar pra trás, tentei ver o que estava acontecendo, mas a Saebyeok continuou me segurando e me puxando. Só que eu consegui olhar, mesmo assim. Minha mãe levou um tiro na hora que eu olhei. Na cabeça. O jeito como ela ficou, os olhos... Nunca mais esqueci daquilo, e é aquele exato momento que eu vejo nos meus pesadelos. Sempre que sonho com alguma coisa ruim, sempre que estou assustado, a imagem da minha mãe morta surge e eu sinto de novo todo o pavor que senti anos atrás. Eu tenho medo daquilo. Não sei se meu Bicho-Papão vai ser um guarda norte-coreano, podem até ser civis ou as pessoas que foram atrás da gente no Japão, mas o que me assombra é a imagem da minha mãe morta. Eu nunca mais quero ter que ver aquilo de novo, e algo me diz que vou ter que ver se encarar meu próprio Bicho-Papão. Como eu vou lançar um Riddikulus na minha própria mãe?

          O olhar de Riki é perdido, procurando algo nos molhados de Sunoo, que está tão perdido quanto ele. Na tentativa de confortar o garoto, a única coisa que Sunoo consegue pensar em fazer é abraçá-lo. Um abraço forte e caloroso, cheio de significados e sentimentos. É uma tentativa de tirar todos os pensamentos negativos que o garoto mais novo têm, de absorver todo o medo dele, de parar a dor. Riki retribui o abraço, e com o rosto dele apoiado nos ombros, Sunoo consegue ouvi-lo fungar baixinho. Nem pode imaginar o tamanho da dor que um garoto tão novo é obrigado a sentir e ainda a ter que lidar com isso, completamente sozinho. Ele não vai entrar em detalhes e fazer perguntas indelicadas que podem ser respondidas com alguns minutos de reflexão, é claro. Riki não precisa explicar tudo detalhadamente para Sunoo entender que ele é um garoto que foi obrigado a ser forte desde muito novo, e também muito sozinho. O fato de ele ficar confortável na solidão e algumas características da personalidade dele, agora, são facilmente justificadas. Mesmo com curiosidade sobre algumas coisas mais, Sunoo irá esperar o tempo do mais novo, irá esperar para quando ele se sentir confortável para contar mais.

          As lágrimas do Kim também molham os ombros do outro rapaz, mas isso não importa. Esse momento é muito importante para Riki, assim como é para Sunoo. O mais novo confia em Sunoo para contar algo tão pessoal, tão íntimo, e isso é significativo para o garoto mais velho. Ele se sente responsável pela confiança depositada nele e espera poder ajudar, poder fazer alguma coisa para ser merecedor.

          Com um carinho nos ombros do menino, Sunoo se afasta aos poucos. As bochechas de Riki estão um pouco avermelhadas e os olhinhos, sempre tão afiadinhos, estão um pouco inchados e vermelhos. Sunoo decide que não gosta de ver Riki assim, e que essa deve ser uma visão a ser evitada.

— Você não vai lançar nada na sua mãe, Riki — a voz dele está fraca e falhada, por pouco saindo audível. O loirinho funga, olhando nos olhos dele. — O Bicho-Papão é uma imitação, uma farsa. E eu sei que você sabe disso, mas acho que precisa que alguém te diga isso. Você não vai precisar fazer nada com a sua mãe de verdade.

          O japonês abaixa o olhar, parecendo pensar.

— Eu sei que não — ele funga novamente, os ombros baixos. — Mas não quero ter que ver aquilo de novo...

          Sunoo dá um momento de silêncio para Riki, deixando-o acalmar a respiração — ele mesmo acalmando a própria — enquanto deixa carinhos pelos cabelos e rosto dele, secando algumas lágrimas que ainda teimam em cair.

— O que acha de falarmos com o professor Lupin? — Ele sugere com um tom de dúvida assim que a ideia surge. Riki o olha, claramente confuso. — Geralmente a gente tem que enfrentar o Bicho-Papão junto aos outros alunos, com a classe cheia. Poderíamos falar com o professor e pedir para que você termine essa tarefa sozinho, sem os outros alunos, depois de alguma aula... O que acha? Acha que seria melhor assim?

          O japonês não responde de imediato, e Sunoo continua com os carinhos, o olhando com expectativa. Talvez seja melhor fazer isso em uma sala sem outras pessoas para verem, porque os alunos sempre implicam uns com os outros, e Sunoo tem medo que alguém implique com Riki ou faça piada de um assunto tão sério e sensível como esse.

          Lentamente, Riki assente.

— Não sei se ele vai deixar. Ele está irritado comigo.

— Ele não está irritado com você, só está bravo porque não entende o que está acontecendo. Você gosta da matéria dele mas não quer fazer um exercício que todos já fizeram, ele não tem como saber. Eu posso falar com ele se você quiser.

— Não, deixa que eu falo.

— Tem certeza? Quer que eu vá junto?

— Não, posso fazer isso sozinho. Não quero que você me veja fazendo essa aula.

          O lufano contém a vontade de protestar e dizer que quer estar com ele, quer ir junto falar com o professor e que quer estar próximo quando ele for finalmente fazer o que tanto o tem atormentado. Ao invés de falar alguma coisa, ele assente, limpando as lágrimas que começam a secar pelas bochechas.

          Ele é surpreendido por um beijinho nos lábios, simples e delicado.

— Obrigado, hyung — o mais novo agradece e volta a abraçá-lo, encaixando o rosto na curva do pescoço do lufano e se aconchegando ali. Sunoo o abraça de volta e leva as mãos aos cabelos macios do garoto, um sorrisinho bobo no rosto.

— Pelo quê? — A pergunta sai com uma risadinha soprada, sentindo a respiração quentinha do menino de contra o pescoço descoberto.

— Por ser meu namorado. Por gostar de mim também. Por ficar perto de mim. Obrigado.

— Você não precisa me agradecer, Riki. Eu faço isso — porque te amo, porque você é incrível e eu te amo e não consigo mais passar um dia sem pensar em você — porque eu gosto de você.


ϟ


— Mas você viu aquilo? Eu dei uma cambalhota no ar! É sério, eu pensei que fosse escorregar da vassoura e levar um tombo. — A agitação na voz de Jake é contagiante, mantendo todos os garotos envolvidos na conversa.

— Você não ia cair, você girou de lado — Jay sacode a varinha para demonstrar como foi que Jake fez. — Nem precisava segurar a vassoura com aquela força toda. Você ia era quebrar a vassoura, isso sim.

— Deixa de ser implicante, Jay — Heeseung o repreende com uma careta e Jay dá de ombros, voltando a comer.

— Queria ter visto o Jake hyung quase caindo — Riki comenta, a boca cheia de frango. Sunoo não sabe se a cotovelada que Jake dá nele é pela falta de modos ou pelo comentário malicioso.

— Não viu porque ficou pelos cantos do Castelo, escondido com o Sunoo — Sunghoon implica, dirigindo um sorrisinho sacana para o garoto mais novo.

          É impressionante para Sunoo como os amigos, principalmente Sunghoon, se adaptaram rapidamente à presença de Riki com eles — Jungwon é um caso à parte. Ele pensou que fosse ter que dividir o tempo dele, assim como faz com os outros amigos da escola, mas surpreendentemente todos se deram muito bem. Para Sunoo foi fácil, ele ama pessoas e a única pessoa nova mesmo que teve que conhecer foi Jay, mas para Riki foi bem diferente. O garoto teve que, praticamente do dia para noite, começar a lidar com mais cinco garotos diariamente, e ainda com o bônus dos outros amigos de Sunoo.

— Se o Sunoo hyung estivesse jogando, eu não deixaria ele quase cair — o mais novo não deixa de alfinetar Sunghoon, que estava em campo durante a fantástica cambalhota-voadora-quebradora-de-vassouras de Jake.

— O Jake não ia cair... — Sunghoon começa a se defender, mas Jungwon o interrompe.

— Se o Sunoo hyung estivesse jogando, ele estaria no time rival — e é claro, ele apenas se pronuncia para alfinetar Riki. — Você iria salvar o jogador do time rival? — O sorrisinho dele é quase sádico e fofo ao mesmo tempo, e Sunoo não sabe como uma criaturinha tão adorável pode ter tanto veneno dentro de si.

— Se você e seu namorado gostam de brigar durante os jogos e trocar socos, não é problema meu — o japonês dá de ombros, e Sunoo consegue enxergar as chamas por trás dos olhinhos fofos de Jungwon. — Eu não deixaria meu namorado cair no chão igual um pedaço de- Igual um saco de batatas.

          Sunoo prende o riso tarde demais, porque ele faz um barulho estranho no fundo da garganta e Jungwon o fuzila com o olhar. Por um milagre, o grifinório não fala mais nada, e só então Sunoo olha para Jay e percebe que ele está com um sorrisinho de canto direcionado ao Yang, parecendo aproveitar muito a implicância de Riki.

          A conversa que teve com o namorado foi no fim de semana, e desde então não tocaram mais no assunto ''tentar não ser inimigo do meu melhor amigo''. Riki pode ter protestado e feito cara feia, mas Sunoo tem visto uma clara mudança na forma como ele age com Jungwon — ou pelo menos uma clara tentativa de mudança, o que tem lá seu mérito. Já estão no meio da semana e Riki até agora não reclamou das provocações de Jungwon para Sunoo sequer uma vez, e o lufano até acha que ele está sendo mais simpático com o Yang. Em troca, Jungwon tem estranhado um pouco que o japonês até tem iniciado diálogos entre eles, e Sunoo nem sabe descrever o sentimento de ver Jungwon o olhando, um pouco assustado, porque Riki está conversando com ele sobre assuntos banais do dia a dia.

— Jake, você deveria se inscrever e tentar entrar no time da Corvinal — Heeseung comenta em meio aos diálogos cruzados dos amigos. — Você é bom nisso.

— É mesmo — Sunghoon concorda, mesmo sendo suspeito para comentar sobre qualquer coisa relacionada ao Shim.

— Você também é ótimo e não quer entrar — Jake fala para Heeseung.

— Mas eu já sou monitor da Lufa-Lufa — o mais velho explica. — Quadribol é uma coisa que eu gosto, mas eu prefiro ser monitor.

          Jake parece evitar esse assunto sempre que os amigos tocam nele, e Sunoo não sabe se mais alguém percebeu que, quando não está animado com o esporte, ele parece murcho, por algum motivo.

          O almoço no Grande Salão chega ao fim e aos poucos as mesas vão se esvaziando. Riki, que geralmente é o que mais enrola para se levantar, sempre de boca cheia e tentando pegar mais comida, dessa vez é o primeiro a ficar de pé.

— Vai pra onde com toda essa pressa? — Sunoo pergunta, ainda preso entre Sunghoon e Heeseung. Ele queria ter pelo menos algum tempo para dar uns beijinhos no namorado antes de terem que ir para as aulas.

— Vou falar com o professor Lupin — ele coloca algumas tortinhas no bolso da capa, com pressa. — Até mais tarde — acena para todos os garotos e sai correndo, esbarrando em outros alunos, e em questão de poucos segundos já desapareceu entre a multidão.

— Ele vai falar o que com o professor Lupin? — Jake o pergunta, sem entender nada. Não é sempre que Nishimura Riki sai pelos corredores do Castelo com tanta agitação para encontrar um professor (na verdade, ele nunca faz isso para encontrar outras pessoas que não sejam Kim Sunoo, mas o lufano é modesto demais para falar uma coisa dessa em voz alta).

— Vai falar sobre a tal aula do Bicho-Papão — é Jungwon quem responde, para a surpresa de Sunoo. — Que foi? Ele veio me perguntar do professor e me contou o que queria com ele — o menino fica na defensiva ao ter o olhar de Sunoo sobre ele. É engraçado como Jungwon fica na defensiva por coisas tão bobas como essa.

          Os garotos se juntam aos outros alunos que vão para suas classes, carregando livros e penas pelos corredores. Sunoo mal consegue prestar atenção à conversa animada de Heeseung com Jungwon, ou na forma como Sunghoon caminha empurrando Jay na direção de Jungwon, quase o fazendo cair por cima do garoto. O toque de Jake nos braços dele o faz levar um susto e virar para o lado com surpresa, vendo Jake equilibrar três livros pesados nos braços.

— O Jungwon parece animado com a ideia de jogar com o Heeseung hyung — ele comenta com um sorriso, e Sunoo acaba rindo, entendendo que Jake se refere à conversa animada dos dois sobre quadribol. Jungwon ficou tanto tempo com medo de conhecer os amigos de Jay e agora que os conhece simplesmente parece não poder mais desgrudar deles. — Agora eu consigo ver porque vocês ficaram tão próximos.

— Hum? — Sunoo o olha, sem entender. — Eu e o Jungwon?

— Sim. Eu já tinha visto vocês juntos por aí e achava ele fofo. Quando fiquei amigo do Jay, ele falava umas coisas que me fizeram criar uma imagem divertida dele — Sunoo fica surpreso e curioso, querendo saber o que, exatamente, Jay falava de Jungwon. — Só que quando a gente foi se aproximando, eu sempre achava ele meio... Meio...

— Chato? — Sunoo sugere com uma risada e Jake sorri também, mas nega. É claro que ele vai negar, Jake alguma vez já falou mal de alguém?

          Será que ele também não mudou isso durante esse tempo em que ficamos afastados?

— Não chato, mas infantil. Ele estava sempre por aí implicando com o Riki e se divertindo às custas de pequenas brigas, então era um pouco engraçado ver como vocês dois acabaram se tornando amigos, porque eu não via muita coisa em comum. Mas agora eu vejo que ele pode até ser implicante, mas também é fofo e bonitinho.

— Bonitinho? — Dessa vez Sunoo ri alto, fazendo alguns alunos do corredor olharem para ele. — E era o Riki quem implicava com ele! — Sem nem perceber, Sunoo está tomando partidos. Ah, se Riki escutar uma coisa dessa, é capaz de dar tratamento de gelo em Sunoo por uma semana inteirinha.

— Bonitinho no sentido de ser... Ah, você entendeu — o corvino ri. — E o Jungwon também não era nenhum santo.

— Eu o quê? — O garoto escuta o próprio nome ser mencionado e se vira para ver do que estão falando.

— Presta atenção, Jungwon! — Jay chama a atenção do garoto de volta para o assunto deles e, para a surpresa de todos, ele realmente volta o olhar para frente, sem fazer nenhuma reclamação.

          Espera, o Jungwon não estava falando com o Heeseung hyung há poucos minutos?

          Sunghoon se vira para olhar para Sunoo e os dois trocam o mesmo olhar, pensando a mesma coisa. Até que Sunghoon está olhando para Jake e dando uma piscadinha para ele, e Sunoo quer vomitar. É assim que Jungwon se sente quando vê ele e Riki juntos?

          Eles estão próximos à sala de Sunoo, então ele se lembra de algo que queria falar com o mais velho e se apressa.

— Jake hyung — ele chama, fazendo o corvino parar de trocar olhares com Sunghoon e voltar a atenção para a conversa deles. — Por que você não quer se inscrever pros testes do time de quadribol da Corvinal?

          Jake parece ser pego de surpresa, tanto que chega até a diminuir o passo. Ajeitando os livros para que não caiam, ele pensa em uma resposta.

— Não disse que eu não quero, é que eu gosto de estudar e não teria tempo se entrasse no time.

— Então deixa eu perguntar de outra forma... Por que você nunca tentou entrar pro time da Corvinal? Pelo que eu lembro, você ia tentar no segundo ano.

— Eu ia tentar — Jake concorda. — Mas tudo aquilo aconteceu e eu não quis mais.

          Com ''tudo aquilo'', Sunoo entende que foi quando ele começou a ignorar Jake e tudo entre eles desandou.

— Hyung... — não importa se está de dia, se o clima está agradável e se ele acabou de comer chocolate como sobremesa; ele ainda se sente mal e também sente o gosto amargo da culpa na ponta da língua. Não importa o quanto a relação deles pareça estar evoluindo, Sunoo de tempos em tempos ainda sente esse sabor ruim, como se tivesse comido algo prestes a vencer e percebeu tarde demais. — Você deixou de entrar pro time por causa de mim?

          Tudo bem que Sunoo nunca gostou de quadribol e sempre deixou claro o repúdio que sente por subir em vassouras e correr atrás de um negócio minúsculo de ouro — ou ter que desviar de balaços ou bater neles, tanto faz —, mas o quadribol meio que era uma coisa que eles fariam, mesmo que Sunoo fosse ficar na arquibancada dando apoio moral, assim como ele tem feito com Sunghoon e Jungwon nos últimos anos.

— Não é que foi por causa de você. Eu fiquei desanimado depois que paramos de nos falar e não queria mais fazer uma coisa que planejava fazer com você, mas também tinha a Suyeon. Eu e ela sempre falávamos sobre competir, sobre jogar juntos, sobre disputar pra ver quem seria o melhor, e saber que ela não poderia fazer nada daquilo me deixou um pouco pra baixo, sabe? Perdeu um pouco da graça.

          O primeiro semestre de Sunoo em Hogwarts foi preenchido por Jake tentando ocupar a mente dele e colocá-lo para cima, o que era um pouco triste, porque eles dois estavam se sentindo mal com a situação de Suyeon. Muita coisa perdeu a graça sem a presença dela ali, como a experiência das aulas, as refeições no Grande Salão e andar pela Grande Escadaria, que vive se movimentando e fazendo os alunos perderem a hora.

          Falar disso agora faz Sunoo se lembrar de muitas coisas que ele e Jake viveram juntos, o leva brevemente de volta para um lugar no tempo onde as vidas deles ainda eram como uma só. 

— Eu entendo... Mas você ainda gosta muito disso, hyung — ele insiste, mesmo assim. Não é possível mudar o passado, mas Jake ainda pode tentar fazer o que ele gosta. — Eu sei que você gosta de estudar, mas também sei o que você escolheria se tivesse que escolher entre um e outro.

— Você e o Riki se juntaram pra me convencer? — Jake dá uma risadinha, ajeitando os cabelos negros para enxergar melhor.

— O que? O Riki também quer que você entre pro time?

— Sim, aquele pirralho quer perder pro meu time a todo custo — ele brinca, deixando o clima da conversa mais ameno. Jake meio que tem esse dom; ele sempre parece deixar o clima mais leve e tranquilo, basta dar um sorriso.

— Pelo visto eu vou ser o único a ficar na arquibancada agora que todos meus amigos vão jogar — Sunoo faz bico, arrancando mais um sorriso largo de Jake.

— Você sempre vai ter a opção de ceder e jogar com a gente.

— Dispenso — ele dá um sorriso falso, parando em frente à entrada da sala de aula. — Até depois da aula — se despede de Jake e dos outros com um sorriso e um aceno e, antes que possa ouvir o que Jake ainda tem a dizer, é puxado para dentro da sala por Yuna, que tem novidades importantíssimas para contar.


ϟ


          Assim que a aula de Sunoo acabou ele correu até onde sabia que Riki estaria, e chegou tão rápido que a turma ainda nem foi dispensada. Ele já foi parado por uns três alunos mais novos, felizes por vê-lo ali, e está tendo que forçar sorrisos e simpatia para todos. Como ele pode sorrir e conversar normalmente quando está se roendo de curiosidade para saber como foi a conversa de Riki com o professor Lupin? Nem conseguiu dar atenção aos amigos durante as aulas direito, pensando a todo momento no que Riki falou com o professor. Ah, a falta que celulares fazem. Se eles pudessem usar celulares, tudo seria tão mais fácil.

— Esperando o namorado? — Youngeun aparece de repente, saltitante pelos corredores e com um sorriso grande no rosto.

— Sim — Sunoo responde com um sorriso educado. Como se desse para esconder que o único motivo para ele estar parado em frente à classe do terceiro ano é esperar Riki.

— E o seu amigo do quarto ano, cadê ele?

— O Jungwon?

— Ele mesmo — o sorriso dela não se desmancha, e essa menina é uma peça rara mesmo. É claro que ela sabe o nome de Jungwon, mas prefere se referir a ele de outras formas, provavelmente se divertindo em saber que isso perturba a cabeça do pobre Yang. Se Riki não fosse tão arisco com novas pessoas, ele poderia facilmente ser um grande amigo de Youngeun.

          Por que eu fico tentando arrumar amizades pro Riki a todo custo?! Pareço um pai, por Merlin.

           Sunoo está começando a pensar que ela gosta de Jungwon, sinceramente. Ela vive atrás do garoto, assistindo aos treinos dele e perguntando pelos cantos onde ele está. Jungwon pode até se sentir ameaçado com a presença da garota, mas talvez ele esteja enganado sobre as intenções dela.

— Vocês são da mesma turma — ele lembra. — Ele não deveria estar na mesma aula que você?

— Humm, deveria — a garota parece pensar, se escorando na parede de pedras. — Mas ele não apareceu em nenhuma das aulas depois do almoço. — Sunoo olha para a garota, tão surpreso que os olhos dele se arregalam comicamente. — E pelo visto você também não sabia disso — ela ri, mexendo nos cabelos um pouco sem graça. — Deixa pra lá então! Até — a garota baixinha se despede com um sorriso aberto e sai saltitando pelos corredores novamente.

          Então é desse jeito que Jungwon quer levar a vida estudantil dele? Matando aulas? Sunoo até pode imaginar o que ele andou fazendo nas últimas horas fora da sala de aula. Ele pensando em como Youngeun pode estar interessada no Yang, enquanto este mata aula para — muito provavelmente — ficar aos beijos com um garoto mais velho. Que coisa linda.

— Sunoo hyung!

          Alguns meninos o cumprimentam com animação assim que a porta da sala se abre e os alunos começam a sair. Sunoo fala com alguns deles de forma rápida, os olhos atentos esperando para ver o sonserino alto saindo. Não é difícil de vê-lo; Riki é de longe o garoto mais alto de todo o terceiro ano e Sunoo tem certeza que dentro de 1 ano ele vai estar mais alto até que Heeseung e Taeyoung, que ainda são os mais altos que ele conhece.

          Riki sai da sala sério e sozinho, passando por entre os outros estudantes, mas assim que vê Sunoo, vai até ele com um sorrisinho.

— Perdeu o caminho do seu Salão Comunal? — O garoto não deixa de implicar, mas ainda assim dá um beijinho na bochecha do menor.

          Alguns meninos que estão passando pelo corredor gritam ''Kim Sunoo tem namorado!'' e coisas relacionadas que fazem o lufano sentir as bochechas arderem um pouco, mas não é como se ninguém soubesse que ele e Riki namoram.

— Deixa de ser bobo, vim saber como foi a conversa com o professor Lupin.

— Ele concordou em me deixar lidar com o Bicho-Papão sozinho.

— Mesmo?! — O lufano não pode conter a animação com a notícia, olhando para o namorado com felicidade.

— Mesmo — Riki ri um pouco da reação do garoto. — Ele me disse pra ir hoje até a sala dele depois da minha última aula, porque vai estar vazio.

— Agora? Já? — Sunoo nem precisa perguntar se ele está nervoso ou não, porque esse é o tipo de pergunta idiota que ele não precisa fazer agora. — Quer que eu vá até lá com você?

          A sala não fica muito distante, mas Sunoo quer estar junto ao garoto. Se pudesse, entraria com ele e ficaria ali, sentadinho, esperando pelo momento em que Riki possa precisar dele.

— Sunoo hyung, é sério. Não quero que você fique comigo durante a aula, nem queria que o professor ficasse também. Pedi pra ficar sozinho, mas ele disse que isso seria demais — ele conta, parecendo um pouco zangado. — Ele vai ficar comigo pra caso algo dê errado, segundo ele, mas só isso.

— Só você mesmo pra achar que o professor iria te deixar sozinho com um Bicho-Papão, Riki — Sunoo fala o óbvio, chegando um pouco para trás para não ter que esticar tanto o pescoço para cima para enxergar o sonserino, que dá de ombros.

— Mas você pode me esperar na porta, se quiser — o sonserino oferece, dando de ombro levemente e oferecendo um sorrisinho para o namorado, que imediatamente abre um sorriso largo que faz os olhinhos fecharem e com as duas mãos segura a mão direita do mais alto, como um sim.

          Durante o caminho Sunoo quer dizer muitas coisas, fazer algumas perguntas e dar alguns conselhos, mas ele opta por deixar Riki quieto, oferecendo como apoio apenas a mão dele para o garoto segurar, e apertando a mão maior que a dele algumas vezes. Quando param em frente à porta já aberta da sala de aula, Sunoo estica o pescoço para ver se o professor já está ali, mas Riki já o está direcionando até o banquinho do corredor.

— Fica aqui, quietinho — o garoto diz ao que Sunoo se senta, e dá leves tapinhas sobre a cabeça do lufano, que olha para cima com um bico por causa da implicância.

          Riki vê a careta do mais velho e se abaixa, deixando um beijo sobre o bico do namorado.

— Nishimura Riki, sem beijos pelos corredores — a voz do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas faz Sunoo se afastar e quase bater com a cabeça na parede.

          Sunoo cumprimenta o professor brevemente enquanto Riki se vira para entrar na sala de aula, e logo ele está sozinho no corredor, sentado no banco de madeira e encarando a porta escura.

          Não dá para escutar o que acontece lá dentro, então o lufano se sente agoniado com o silêncio.




          Eles estão demorando mais tempo que o esperado, e Sunoo teve que se controlar muito para não colar o ouvido na porta para tentar escutar alguma coisa — só não o fez por causa de Riki, que deixou claro que não quer Sunoo sabendo do que está acontecendo ali dentro. Já está escurecendo e em pouco tempo os alunos terão que ir até o Grande Salão para o jantar, mas Sunoo não consegue pensar em outra coisa que não seja Riki dentro da sala de aula. Como será que ele está? Será que já conseguiu encarar o Bicho-Papão? Será que o professor Lupin teve que intervir? Não tem motivo para tanta demora.

          De repente ele escuta vozes perto da porta e une as mãos, brincando com os dedos em ansiedade. Logo a maçaneta está se movendo, e o lufano consegue enxergar o professor ao lado do sonserino.

— ... mas pensa no que eu te falei — Sunoo escuta o professor dizendo e vê Riki assentindo.

          Riki, que tem os olhos menores que o de costume e a pontinha do nariz arrebitado, rosada. Ele chorou.

          Com a constatação quase que imediata, Sunoo se levanta num pulo.

— Kim Sunoo? Ainda aqui? — O professor Lupin parece surpreso em vê-lo. O homem dá um sorriso enquanto deixa leves tapinhas no ombro de Riki. — Já é quase hora do jantar, leve seu namorado para comer alguma coisa — ele pede, e logo continua, dessa vez se dirigindo ao japonês. — Ainda bem que você tem um ótimo namorado como o Sunoo.

          O homem se despede e entra novamente na sala, deixando a porta entreaberta, e essa é a deixa para Sunoo se aproximar do namorado, que não disse uma palavra desde que saiu da sala e também não mudou de expressão.

— Como você está? — É a primeira coisa que ele pergunta, se aproximando do garoto e segurando as mãos dele em frente ao corpo. As mangas do uniforme dele estão úmidas, e Sunoo imagina o motivo.

— Passei na matéria — o sonserino responde, olhando de volta para Sunoo.

— Que bom, Rikie — Sunoo sorri, satisfeito com a notícia. Finalmente Riki conseguiu lidar com esse problema, mas o rostinho desmotivado do mais alto o deixa preocupado. — Mas você não me respondeu. Como você está?

          O garoto dá de ombros, e o lufano pode escutar um fungar baixinho.

— Não sei — ele admite, finalmente. — Eu superei isso, essa história de Bicho-Papão, mas não sinto que superei... Entende?

          É claro que Sunoo entende, e ele quer pegar o garoto, colocar no colo e cuidar, até que ele se sinta melhor.

— Ainda é cedo demais para superar ou não, Rikie — um sorriso gentil é a única coisa que Sunoo pode oferecê-lo agora, então é o que ele faz. — Vamos logo comer? Você deve estar morto de fome — se ele ficou com fome mesmo estando sentado, nem pode imaginar Riki, que teve que eliminar uma criaturinha do mal e ainda lidar com as memórias ruins do passado. Não sabe o que foi que o garoto viu ainda e também não sabe se ele vai querer compartilhar, mas quer estar ao lado dele, dando apoio.

           Sunoo tenta puxar Riki pela mão, mas o garoto puxa Sunoo de volta para si.

— Vamos para a Torre de Astronomia?

— Mas Riki, você sabe que a gente não pode ficar indo pra lá — Sunoo descarta o pedido, mas o japonês continua parado no mesmo lugar.

— Por favor.

— A gente pode ir pra Ponte Coberta, ou pro Pátio da Torre do Relógio... — ele tenta barganhar, oferecendo lugares onde não precisarão ficar escondidos com medo de serem pegos, mas Riki é insistente.

— Vão ter outros alunos lá. Por favor, hyung, eu quero ficar sozinho com você.

          O lufano olha bem nos olhos pequenos de Riki, que o encaram, sérios e serenos. Eles vão estar em maus lençóis se forem pegos sozinhos na Torre de Astronomia? Com certeza. Sunoo vai ficar com medo de ser punido e, além de perder pontos da casa, ainda se sentir culpado? Certamente. Mas, ele vai negar algo para Riki, que acabou de passar por um momento delicado? Não. Ele pode ver nos olhos do namorado como ele não está se sentindo bem, e só o que pode fazer é ceder.

         Com um leve aperto na mão do sonserino, ele sorri e murmura um ''vamos então''.


ϟ


          Os dois garotos pisaram no topo da torre assim que a noite começou a cair de vez. O céu, que antes estava em tons amarelo-alaranjados, começava a ser completamente tomado pelo azul escuro, cheio de estrelas. Eles nunca chegaram a subir até o topo sem a presença do professor ou de outros alunos mais velhos durante alguma aula, mas hoje Riki foi direto até a pequena escada circular, segurando Sunoo pela mão, o guiando por entre as sombras que aos poucos atrapalhavam a visão deles por completo.

          De pé e encostados no parapeito de pedras, eles ficaram em silêncio por um bom tempo, apenas sentindo o vento fresco da noite os atingir e assistindo à Lua tomar lugar no céu. Sunoo se sentiu em paz, mesmo fazendo algo proibido, e a razão da calmaria estava bem ao lado dele, com os olhos perdidos no horizonte escuro da noite. Sunoo quis perguntar para Riki no que ele estava pensando, queria saber o motivo daquela seriedade toda, mas resolveu esperar. Observou o menino de onde estava, os fios loiros balançando com o vento, os olhos pequenos que vez ou outra pareciam fechar por completo. Sunoo sabia que o garoto não estava se sentindo bem, mas esperava que pelo menos ele estivesse se sentindo mais em paz, da mesma forma como ele próprio estava.

          Após algum tempo em completa quietude, o garoto mais novo se afasta da beirada, olhando para Sunoo e o segurando pela mão, e é assim que se sentam, encostados ao pequeno muro de pedras. Só após estar sentado que Sunoo percebe o quão cansado está, e o mesmo vale para Riki, que se apoia no ombro do mais velho. Ainda em silêncio, Sunoo o envolve em um abraço de lado, começando um carinho nos cabelos do mais novo.

          Não é sempre que Riki se deixa ser cuidado, geralmente ele é quem assume a posição de cuidar, teimoso, mesmo sendo o mais novo. Sunoo gosta de demonstrar afeto e carinho pelo namorado, então ter momentos assim, onde ele pode sentir que está cuidando do mais novo, o deixam de coração aquecido.

— Não era a minha mãe — Riki diz de repente, quebrando o silêncio que durante todo esse tempo foi apenas preenchido pelo som do vento passando por entre as pedras. Sunoo entende do que ele está falando de imediato, e deixa um pequeno beijo sobre os cabelos do garoto.

— Isso é bom, não é? — Ele pergunta baixinho, os lábios ainda nos cabelos de Riki.

          Com um murmuro, Riki concorda. Possibilidades do que pode ter enfrentado passam rapidamente pela mente de Sunoo, mas ele se sente aliviado por não ter sido a mãe do garoto.

          Sunoo continua com os carinhos, brincando com os fios macios do garoto enquanto o abraça mais apertado, sorrindo ao ter a cabeça do namorado apoiada em um dos ombros. Ele está bem com o silêncio confortável e começa a voltar aos pensamentos, quando Riki volta a falar.

— O professor Lupin disse que eu levo jeito para a matéria dele — ele comenta, se aconchegando no peito do lufano. — Disse até que gostaria de ser meu mentor.

— Seu mentor? — Sunoo repete o que o garoto acabou de dizer, com surpresa na voz. — Você é tão bom assim em D.C.A.T, Rikie? — Sunoo brinca com uma voz doce, apertando uma das bochechas do menino como brincadeira.

— Eu sou o melhor — ele diz, confiante, envolvendo a cintura de Sunoo e o apertando entre os braços, puxando o lufano para ainda mais perto, como se eles já não estivessem grudados o suficiente.

          O lufano ri, sem acreditar em como o namorado pode ser assim, tão atrevido.

— Está rindo por quê? — O mais novo resmunga, cutucando as costelas do namorado e o fazendo rir ainda mais e tentar se afastar, mas sem sucesso, porque Riki o mantém bem próximo para continuar apoiando a cabeça no peito dele. — Saiba que sou melhor que qualquer aluno do terceiro ano, e se eu quiser, posso ser melhor até que o Jake hyung.

— Ah, é? — Sunoo implica, os dedos que antes faziam carinho nos cabelos loiros agora brincando com os fios. — Até melhor que eu? — Sunoo brinca, porque ele é excelente com poções, os feitiços ele deixa para Jake.

— Não — o garoto responde prontamente. — Que sentido isso faria? Quero ser melhor que os outros, mas você pode ser o melhor em tudo, porque eu não sinto vontade de competir com você. Não quero ser melhor que você em nada.

          Ao ouvir as palavras do namorado, Sunoo sente o coração aquecer e um sentimento enorme de carinho e amor o preenche. Ele não sabe o porquê, mas as palavras de Riki o preenchem de felicidade, e não se contém ao segurar o rosto do garoto com as duas mãos, o virando para si e o dando um beijo estalado, rápido e forte. O Nishimura sorri, surpreso e sem entender a atitude repentina do lufano, mas não perde tempo em se aproximar para beijá-lo de novo.

           Com os lábios unidos, Sunoo permanece segurando o rosto do garoto com as duas mãos, o mantendo perto. Ele sabe que Riki ainda não está cem por cento bem, mas quer estar ao lado dele para ajudá-lo a superar essa situação. Sunoo quer estar ao lado de Riki, segurar as mãos dele e dizer que está tudo bem, que ele pode superar isso e ter uma vida feliz e tranquila. Ele sabe que não pode fazer muito, mas irá fazer por Riki o que ao estiver alcance dele, desde trocar beijos doces entre os intervalos das aulas, até estar ao lado dele nos momentos em que o mais novo sentir que não há mais nada a ser feito e que tudo está destinado a terminar mal. Tudo isso porque Sunoo ama Riki. Ele ama o garoto mais novo, ama vê-lo sorrindo e feliz, ama estar ao lado dele, aprendendo coisas novas sobre o garoto a cada dia. E é por amá-lo tanto que Sunoo não consegue nem imaginar o garoto tendo que passar por tantos momentos difíceis sozinho — então ele ficará ao lado dele, irá quebrar as regras do Castelo para consolá-lo e até ficará assistindo aos treinos e partidas de quadribol, sempre tão entediantes, porque tudo vale a pena para se manter ao lado de Riki.

...

ENTRE POÇÕES E PUNIÇÕES

obrigada por ler até aqui, espero que tenha gostado <3

revisei esse cap 34932930256 vezes, mas sei que no fim vou encontrar algum erro se ler de novo

twitter: jaysbubu

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro