Salas fantásticas e quem precisa
ENTRE POÇÕES E PUNIÇÕES
...
Mais uma semana fria se aproxima do fim, com neve se acumulando pela grama do Castelo e tentando entrar pelas janelas esquecidas abertas. As janelas do Salão Comunal da Lufa-Lufa, que ficam no alto das paredes e na altura do gramado do lado de fora (devido ao fato de o Salão ser localizado no subsolo do Castelo) estão tapadas quase por completo há alguns dias, o que leva os alunos a sempre irem até o lado de fora na tentativa de tirar a neve da frente do vidro, para que o dormitório permaneça iluminado — o que dá certo por um curto período de tempo, até a neve se acumular de novo. A semana está realmente muito fria, só não mais fria que as coisas entre Sunoo e Riki.
Foi fascinante para Sunoo ver a forma como o garoto mais novo mudou da água para o vinho naquele sábado em Hogsmeade. Eles estavam tendo bons momentos sem brigas nos últimos dias, mas parecia que naquele sábado o sonserino estava transformado. Gentil e suscetível a qualquer coisa que Sunoo dissesse e fizesse, além de brincalhão e paciente; Sunoo sentia que estava sonhando. Ser cuidado pelo loiro e tratado com tanto afeto, tanta preocupação, deixou Sunoo numa corda bamba. O objetivo inicial era apenas curtir o momento com o mais novo, mas ele deveria ter desconfiado: é romântico demais para apenas trocar beijos com alguém sem sentir borboletas na barriga e imaginar cenários que vão muito além do conceito de apenas ficantes. Estava cogitando se teria ou não uma conversa séria com Jungwon sobre os próprios sentimentos, mas tudo teve que ser adiado após o momento em que Riki o viu dentro do abraço de Sunghoon. Sunoo ficou um pouco preocupado de início, mas logo deixou para lá. Se sentiu todo bobinho por Riki ter ido atrás dele àquela hora da noite na enfermaria, e os pensamentos bobinhos foram suficientes para afastar qualquer pensamento sobre um Riki enciumado.
No dia seguinte, o Nishimura parecia estar o evitando, sempre saindo dos lugares quando percebia a presença de Sunoo, escapando com pressa por qualquer entrada ou saída que estivesse mais perto. O lufano resolveu que daria um tempo para ele e depois iria tentar conversar, e a opinião de Jungwon sobre isso foi até um pouco surpreendente.
— Você não deve explicações nenhuma a ele, vocês não têm nada, afinal — o garoto dizia, a boca cheia de sapos de chocolate. — Mas, se ele ficou com ciúmes, talvez esteja mesmo interessado por você.
— Você acha mesmo? — Sunoo se animou. — Não acha mais que é tudo uma pegadinha ou coisa do tipo?
— Olha, se esse garoto está fingindo por tanto tempo, ele pode ser contratado como ator no mundo dos trouxas, porque ele tem sido bem convincente — foi a palavra final do amigo.
Sunoo até se perguntou como pode levar tanto em consideração tudo o que um garoto de quinze anos fala, mas logo cortou os pensamentos. Ele também é apenas um garoto de dezesseis anos, afinal, e tem todo o direito de ser bobo e de gostar de garotos bobos e ciumentos que não sabem demonstrar afeto e preferem perturbar a vida da pessoa de quem gostam para obter algum tipo de atenção — foi o argumento que ele utilizou contra si próprio, no processo de se convencer de que, sim, ele está caidinho pelo sonserino.
Todos os pensamentos e confusões mentais de nada serviram, já que Sunoo não estava conseguindo se aproximar de Riki, e quando conseguia, era discussão na certa. Riki o afastava com estupidez e mal o olhava nos olhos, o que deixava Sunoo irritado também e desistia de falar qualquer coisa com o garoto naquele momento. E isso tem durado quase a semana inteira.
— Não me diga que está procurando o Riki, de novo — Sunghoon implica com o amigo assim que o vê entrando no banheiro.
— Me erra, Sunghoon hyung — Sunoo murmura com um bico, se apoiando em uma das pias de mármore escuro. A busca incessante dele pelo garoto alto tem sido tão patética que, mesmo sem comentar muito, todos ao redor dele já perceberam.
— Ainda não conseguiu falar com ele depois daquilo? — O mais alto se aproxima, parando em frente ao mais novo.
— Não — Sunoo lamenta, levando as mãos ao rosto e amassando as bochechas em um ato cansado. — Eu imaginei que ele poderia entender errado o que estava acontecendo, mas ele nem me deixa explicar.
— Ainda não consigo acreditar que você acabou gostando do garoto que detestava — Sunghoon brinca, sorrindo largo só de ver a expressão irritadinha do mais novo. — Ele parece gostar mesmo de você.
— Você acha? — Se pudesse se conter, Sunoo tentaria não parecer tão patético com olhos brilhantes apenas ao ouvir tal coisa.
— Pelo jeito que ele saiu correndo atrás de você com seu casaco na mão e chutando neve em mim sem nem ligar se eu tinha quebrado algum osso na queda, acho — Sunoo acaba rindo alto da fala do amigo, que rola os olhos mas ri também. — Ah, tenho uma coisa para te contar... Para te pedir, na verdade.
— Sim? — O Kim olha com atenção para o amigo, que parece ansioso.
— O aniversário do Jake é esses dias — o lufano mais velho começa, ansioso, e Sunoo já imagina o que ele vai falar. Já sabia que o aniversário de Jake estava se aproximando e que com a recente amizade dele com Sunghoon algo aconteceria na data, então dessa vez ele consegue evitar qualquer expressão inoportuna. — Como as provas finais estão muito próximas, ele não quer gastar tempo com festa, mas estamos pensando em fazer alguma coisa, mesmo assim...
''Estamos'' quem?
— Hmn, soube que o Jake está sempre estudando pelos cantos, não é surpresa que ele não queira festa — Sunoo tenta entrar no assunto, brincando com a capa do uniforme.
— Sim, mas eu e o Heeseung hyung demos a ideia de fazer alguma coisa rápida no dia, e o Jay sugeriu que usássemos a Sala Precisa* — dessa vez, Sunoo não consegue conter a expressão de horror. — Eu sei, eu sei, uma péssima ideia, o Heeseung hyung já repetiu isso várias vezes também, mas acho que vamos terminar indo para lá mesmo.
— O Jay hyung também vai? — Tudo bem, Sunoo agora está um pouco... Chateado? Nem ele conhece o amigo de Sunghoon ainda, em todo esse tempo...
— Sim, ele e o Jake se deram bem, mesmo que o Jake tenha estranhado um pouco o jeito dele no início — Sunghoon conta como um pai orgulhoso vendo os filhos interagindo.
— Hmn... Que bom, né...
— Enfim, eu queria que você fosse — Sunoo reage com um ''eu?'' e o dedo apontando para si próprio. — Sim, eu sei que você já deixou claro que não gosta dele, mas você gosta de mim, certo? E do Heeseung hyung também, e com certeza o Nishimura vai também, porque o Jake só falou que iria chamar ele.
— Ele não tem outro amigos? — A pergunta sai antes que Sunoo possa segurar a língua curiosa.
— Pelo visto... Não? — Sunghoon parece incerto, trocando o peso de uma perna para outra. — Ele até fala com umas pessoas da Corvinal, mas quando conversamos sobre nossos amigos ele só fala do Nishimura e de um garoto que mora perto da casa dele no mundo dos trouxas.
Que coisa interessante de se fazer de pé no banheiro, ouvir sobre a vida de Shim Jake e seus amigos. Sunoo não consegue disfarçar o desinteresse, analisando as próprias unhas.
— Você vai ou não, Sunoo-ah? Não me enrole — Sunghoon pede, balançando o menino pelos ombros para chamar a atenção dele. — Você não precisa ficar falando com ele, é só chegar, dar feliz aniversário e ficar comendo e conversando com os outros, você pode fazer aparecer qualquer coisa na Sala Precisa, pode até criar um cômodo pra ficar sozinho com o Nishimura se quis-
— Aaaah! Cala boca, hyung — Sunoo fica vermelho de vergonha, tapando a boca do garoto mais alto com ambas as mãos, mas Sunghoon desata a rir, e o mais baixo sente uma coisa molhada na palma da mão. — Você me lambeu?!
Em meio às risadas, choramingos e empurrões, alguém entra no banheiro e vê os dois garotos ali, encostados em uma das pias e enroscados um ao outro. Dessa vez Sunoo é rápido e, assim que vê o garoto saindo, se solta de Sunghoon para ir atrás dele.
— Nishimura Riki, volte aqui! — Ele corre até a porta, ouvindo Sunghoon o chamando e perguntando se ele vai ou não, mas eles podem conversar mais tarde no dormitório, agora ele precisa impedir outro mal entendido.
Duas vezes em uma semana não, é o que o Kim pensa quando sai do banheiro, já em busca dos cabelos loiros pelo corredor vazio. Não é difícil avistá-lo, mesmo que o garoto esteja andando muito rápido; ele ainda é o único no corredor junto ao lufano.
— Espera aí, Riki — Sunoo continua chamando enquanto corre atrás dele, sentindo a capa se levantando com a velocidade. — Riki!
— Me deixa em paz! — O japonês reclama, sem parar de andar.
Sunoo consegue alcançar o garoto — com muito custo — e o segura pela capa, quase caindo para frente quando o loiro continua a andar rápido.
— Riki, me escuta — ele pede, ainda segurando a capa preta do garoto, tentando fazê-lo parar e precisando dar mais alguns passos desajeitados no processo.
Riki para, virando-se para olhar feio para o mais velho.
— Escutar o quê? Não quero escutar nada, vai lá ficar com o seu amigo.
A raiva nas palavras só deixam mais óbvio para Sunoo que ele está com ciúmes, a expressão dele se contorcendo toda ao proferir a palavra ''amigo''.
— Você entendeu errado, Riki — Sunoo se apressa em explicar, antes que o sonserino vá embora às pressas. — Eu e ele somos mesmo só amigos, não estávamos fazendo nada!
Durante as vezes que pensou e repensou sobre como conversar sobre isso com Riki, a chance de o garoto mais novo dizer que eles não têm nada e que Sunoo pode fazer o que quer sempre pareceu enorme. Ainda parece enorme, Sunoo pode acabar ouvindo isso pelo rosto, mas a correria do momento o impede de esperar outra hora para abordar o assunto de outra forma. Se for para ouvir que eles não são nada um do outro, que seja agora, mas Riki também terá que ouvir umas poucas e boas sobre sentir ciúmes.
— Eu e Jake hyung somos só amigos, mas eu nunca sequer o abracei — Riki parece genuinamente nervoso, sem nem olhar nos olhos de Sunoo.
— As pessoas são diferentes — Sunoo responde com uma careta. Ele é sim uma pessoa bem afetiva, mas isso não significa que ele abraça os amigos dele com as mesmas intenções e sentimentos de quando abraça Riki. — Não é porque você não gosta de abraçar que eu também vou ser assim!
— Mas eu gosto de abraçar — Riki olha bem no rosto de Sunoo, os olhos ardendo em agitação. — Eu gosto de abraçar você, Sunoo. Não gosto de sair por aí abraçando qualquer pessoa. Só você.
Como, em algum dia, ele pensou que poderia não se apaixonar por Riki? Vê-lo falando esse tipo de coisa agora, sem vergonha nenhuma, só deixa mais claro para Sunoo sobre os sentimentos dele que um dia ousou duvidar. O mais velho acaba ficando sem palavras. Como ele deveria responder uma coisa assim, para início de conversa?! Riki diz umas coisas tão boas de se ouvir, que Sunoo acaba ficando tão ansioso que não sabe como reagir.
— Está vendo? Você é sempre assim — Riki inspira profundamente, tirando os fios loiros dos olhos. Sunoo não faz ideia do que ele está falando. — Eu sempre sou direto sobre tudo, desde o início disso — ele dá ênfase à palavra, fazendo um gesto que compreende eles dois — eu disse sobre estar interessado por você. Eu tentei te provar o meu interesse com aquele beijo. Quando você não reclamou e não tentou me matar por causa do beijo e ainda aceitou mais, eu pensei que fosse uma resposta de reciprocidade, mesmo que você nunca tenha dito nada. Nunca. Eu já devia ter imaginado...
O cérebro de Sunoo ativa um alerta de ''informação demais! Informação demais!'' enquanto ele sente que pode se desmanchar ali a qualquer momento. Nunca ouviu Nishimura Riki falar tanto, tantas palavras seguidas. Riki está se confessando para ele? Riki definitivamente está se confessando para ele, declarando o quanto ele é sincero com os sentimentos dele e Sunoo quer dar um grito, sentindo-se em êxtase.
É assim que as pessoas se sentem quando têm um amor correspondido?
— Foi muita burrice minha, eu já sabia que você tinha seguidores por todo Castelo e que você poderia escolher qualquer um deles, por que escolheria ficar logo comigo?
Calma, calma. O quê? De onde surgiu essa comparação, do nada?
— Você nunca os afasta e eu já deveria saber, já que você nunca...
— Do que você está falando, Riki-ah? — Sunoo o interrompe, chegando mais perto do menino até estarem com os pés quase se tocando. Felizmente, apesar do bico imenso, Riki não se afasta. — Que seguidores que eu não afasto?
— Você sabe, Sunoo — o sonserino rola os olhos e cruza os braços, parecendo cansado e exasperado. — Todas essas garotas e garotos atrás de você, te oferecendo comida e presentes a todo momento. Você aceita todos eles, sempre passa horas e horas conversando com eles.
Tudo bem, Sunoo sabe que muitas pessoas que vão atrás dele têm algum tipo de interesse romântico, mas não são todas as pessoas, boa parte são apenas amigos! É claro que Sunoo vai passar um tempo com os amigos dele, não pode ignorá-los, nem tem motivos para isso.
— São meus amigos, Riki, nem sempre as pessoas estão interessadas por mim...
A fala de Sunoo é gentil, anestesiada. Ele está anestesiado de sentimentos bons, de paixão pelo garoto mais alto, e Riki pode arrancar os cabelos, gritar e fazer pirraça acusando Sunoo de seja lá o que for, nada vai mudar o que ele está sentindo pelo menino lindo e emburrado à frente dele.
Riki bufa, olhando para os lados.
— Conta outra. Aquele seu amigo corvino, o do quadribol. Você acha mesmo que ele estava apenas sendo amigável quando te chamou para assistir ao treino? — Sunoo abre a boca para responder, mas o loiro ainda não terminou. — Aquele lufano que vive atrás de você te oferecendo doces, também. Sabia que ele te dá tudo o que ele compra? Ele nem mesmo come, todos são para você. Aquelas três grifinórias que vivem conversando com você na biblioteca, também. Não vou dizer que elas são inteligentes, mas elas têm boas notas. Elas não precisam da sua ajuda com matéria alguma, mas ainda assim estão sempre te rodeando em busca de ajuda e cheias de perguntas e sorrisos. — A lista de Riki parece infinita, ele fala sem nem pausar para respirar, jogando tudo na frente de Sunoo, que só consegue pensar em como que o garoto sabe de todas essas coisas. — Tem também aquele sonserino do sexto ano que sempre quer te ajudar com alguma coisa, ou aquela lufana que fica vermelha sempre que você fala com ela. Em todas essas vezes, você nunca os afastou ou disse que não tinha interesse. Pensou mesmo que eles fossem apenas seus amigos?
A última menina, a lufana, Sunoo já sabia que gostava dele, sim. Era impossível não notar, além das bochechas vermelhas tinha também a gagueira e a forma como ela sempre dava um jeito de fazer alguma aproximação física, o que deixava tudo óbvio. Sunoo gentilmente a dispensou umas duas semanas atrás, quando a menina tentou novamente se aproximar dele no dormitório, mas isso não importa agora. O que importa agora é que Riki presta muita atenção em Sunoo, porque só assim para saber de todas essas coisas. E, mais importante de tudo: Riki gosta dele e não tem medo em demonstrar que está sim enciumado, e para Sunoo essa é uma das coisas mais adoráveis que ele já fez até hoje.
— Eu sou muito idiota de ainda estar aqui falando sobre isso, depois de ter sido tão direto sobre tudo. Se você tivesse o mesmo interesse em mim que eu tenho por você, teria sido direto também.
— Riki-ah — Sunoo chama pelo menino suavemente. Segura as duas mãos dele, tão maiores que as próprias. Hoje ele não está vestindo as luvas que Riki o deu, então pode sentir as mãos quentinhas do mais novo de contra a dele. Riki não o olha, mas não se solta. — Me desculpa por ter feito você sentir ciúmes durante todo esse tempo.
Riki olha para ele, parecendo um pouco desconfiado, mas Sunoo já pode ver o olhar dele amolecendo. Uma coisa muito importante que Sunoo quase se esqueceu, é que Riki ainda é apenas um menino de catorze anos, inexperiente e ingênuo. Se ele com dezesseis anos ainda fica confuso e atrapalhado com esse tipo de coisa, deveria ter imaginado que para Riki tudo ainda é muito novo, também. Já era de se esperar que o japonês ficasse inseguro e imaginasse coisas, mesmo escondendo tudo isso com uma falsa camada de maturidade, se mostrando sempre tão sério e direto, com palavras tão seguras.
— Me desculpa por nunca ter sido direto sobre meus sentimentos, também.
É agora, Sunoo pensa, tomando coragem. Não adianta mais esconder nada, ainda mais quando Riki é sempre assim, tão transparente frente a ele.
— Eu gosto de você, Riki-ah. Não disse isso antes pois estava confuso, — Sunoo começa a se explicar, olhando para as mãos entrelaçadas deles pela súbita vergonha de falar tais coisas olhando nos olhinhos afiados do mais alto. — você mudou de repente, me beijou de repente, começou a me tratar bem de repente. Foi tudo muito repentino pra mim, e no início eu não sabia como agir perto de você... Mas, depois das coisas que aconteceram, depois do fim de semana que você me ajudou tanto e me ouviu chorar por todo aquele tempo da forma mais feia que eu já chorei... — Riki ri em meio à fala, e Sunoo aperta as mãos dele em reflexo ao som bonitinho. — Depois daquilo eu decidi que não iria mais evitar sentir isso...
Se Sunoo pensou que precisaria falar muito mais e explicar sobre a trajetória de como os sentimentos dele foram acontecendo, não precisa mais, porque Riki o segura pelo rosto e o cala com um beijo. Um beijo apertado e com um longo suspiro vindo do mais alto, que segura o rosto do Sunoo como sendo a coisa mais preciosa que já segurou.
— Eu também gosto de você, Sunoo hyung — ele diz em um suspiro, sem afastar os rostos, podendo olhar os olhos de Sunoo bem de perto. — Eu gosto tanto de você que não consigo ver você com aquelas outras pessoas, sorrindo tão facilmente enquanto eu preciso me esforçar tanto para te fazer sorrir...
— Deixa de ser bobo, Riki-ah — Sunoo o interrompe com um riso e um beijinho nos lábios macios. — Não percebeu como eu tenho andado sorrindo feito bobo nos últimos dias? Acha que é por causa de quem?
— Não sei, talvez por causa daquele seu amigo, o Sunghoon — Riki diz afiado, com uma sobrancelha levantada, mas Sunoo não se abala. Ao invés de brigar com o mais novo, o abraça apertado, esfregando o rosto no peito do menino enquanto sorri.
— Você é tão bonitinho quando está com ciúmes, Rikie.
— Eu sou bonito sempre, hyung.
E Sunoo não segura a gargalhada, rindo abraçado com o mais novo no meio do corredor e sem medo de alguém os ver por ali.
— Talvez eu deva te deixar com ciúme mais vezes para te ver agindo bonitinho assim.
— Nem tente.
ϟ
O grandiosíssimo dia chegou, o dia que Sunoo tanto estava esperando, tão ansioso para comemorar o aniversário de Shim Jake. Ou ao menos foi assim que ele tentou parecer todas as vezes em que os amigos falavam sobre o aniversário do corvino, agitados. Sunoo teve que se esforçar muito para parecer estar com a mesma energia que os outros, e se não fosse um extrovertido, a energia dele teria se esgotado no primeiro dia de fingimento.
As provas finais antes das férias estão chegando ao fim, então a mente do lufano de cabelos negros esteve bem ocupada pensando em feitiços e sobre as Guerras Bruxas, graças a Merlin, ou teria pirado com Sunghoon tocando no assunto do aniversário a cada vez que se encontram — o que é a cada mísero minuto, já que dividem o mesmo dormitório e o Kim não tem para onde correr.
Quando Sunoo pensou que estava indo bem lidando com as provas, com o aniversário e com a confissão de Riki, Heeseung surgiu no campo de visão dele de repente em uma tarde no Salão Comunal, com uma expressão misteriosa e uma xícara de chá em uma das mãos.
— Podemos conversar? — O mais velho perguntou, cheio de dedos, e Sunoo se sentiu congelar mesmo estando em frente à lareira.
No fim, Heeseung apenas queria falar sobre Riki e o que ele viu no dia do treino de quadribol. Sunoo quase não se lembrava mais daquilo, mas explicou pacientemente para Heeseung sobre os últimos acontecimentos. Heeseung engasgou com o chá e quase precisou ser socorrido pelos outros lufanos presentes, mas no fim tudo ficou bem, e Sunoo se sentiu aliviado de finalmente os dois amigos mais velhos saberem sobre ele e o Nishimura. Tudo bem que Heeseung fez toda uma cena sobre querer conhecer melhor o tal sonserino e Sunoo quase morreu de vergonha só com a ideia, já que Heeseung insiste em agir como um irmão mais velho super protetor nos momentos mais inoportunos possíveis, mas fora isso, se sentiu grato por ter um amigo tão bom como o Lee.
O que Sunoo não engoliu foi o que ele disse ao fim, depois de se levantar para ir para o quarto.
— Acho que preciso encontrar alguém para sair comigo esse fim de ano, todos os meus amigos estão com alguém. — Ele disse isso e foi embora, deixando Sunoo pensativo.
Uma luzinha acendeu acima da cabeça dele, piscando freneticamente enquanto o cérebro repetia as palavras do Lee, mas Sunoo quis ignorar. Não poderia ser o que ele estava pensando, certo? Foi apenas um pensamento bobo.
O jantar no Grande Salão parece demorar mais que o normal, mas Sunoo sabe que é só porque ele e os amigos estão prestes a infringir toda e qualquer regra do Castelo. Sunghoon e Heeseung, sentados ao lado dele, estão pálidos como papel. Uma coisa é ser pego andando pelo Castelo depois do toque de recolher, outra coisa é ser pego invadindo uma sala estritamente proibida para alunos e até para alguns funcionários. Eles mal parecem os dois de horas atrás, que estavam eufóricos com a ideia de finalmente entrar na tão falada sala que é capaz de criar qualquer coisa que a pessoa precise — menos comida, o que é uma pena.
— Acho que já podemos ir — Sunghoon sussurra para Heeseung e Sunoo escutarem.
O Grande Salão é sempre uma bagunça e barulhento, mas não querem arriscar que alguém os escute.
— Não vamos receber um sinal ou algo assim? — Sunoo sussurra de volta.
— O Jake e o Riki vão primeiro, esse é o sinal — Heeseung lembra o amigo apressado e Sunghoon resmunga, se mexendo desconfortável no banco.
Demora ainda mais uns dez minutos, até que finalmente Riki e Jake se levantam do banco e vão em direção à saída. Sunghoon cutuca Heeseung incessantemente, até o mais velho se incomodar.
— Eu já vi, para de desespero — o Lee o repreende, puxando o braço para longe do garoto.
Eles esperam um pouco e se levantam também, agindo normalmente. Não podem demorar muito, visto que a Sala Precisa só aparece para quem precisa dela, e o único deles que a encontrou foi Jake, logo, ele é o único que sabe onde fica e pode guiar os garotos.
Jay também se levanta da mesa da Sonserina, sozinho, e segue em direção à saída. Sunoo dá um tchauzinho para Jungwon, que o olha com um beicinho da mesa da Grifinória. Jungwon é o único além do grupo de seis meninos que não irá para a festinha particular, pois foi vetado já que não é amigo de nenhum deles além de Sunoo — Jay não conta.
Chegando ao lado de fora encontram Jake e Riki encostados nas armaduras enormes que ficam ao redor da grande porta. Como combinado, eles não trocam nenhuma palavra. Seguem andando sem demonstrar que estão juntos, os três lufanos conversando um pouco com Jay, enquanto o corvino e o sonserino mais novo caminham à frente. Eles andam um pouco pelos corredores de alunos e Sunoo começa a se preocupar, como é que vão explicar se uma porta se abrir do nada em uma das paredes e alguém ver?
Eles chegam em uma parte mais isolada, sem muitos alunos. Os fantasmas ainda passam por eles, falando besteiras e gritando, mas não dão muita atenção aos movimentos suspeitos. Jake para em frente à uma parede aleatória de repente, e Sunoo não acha que é a parede onde tem a porta para a Sala Precisa, já que é mesmo uma parede qualquer em um corredor qualquer, e seria até meio impossível decorar onde ela fica. Entretanto, todos são surpreendidos quando a parede começa a se mover e uma porta pequena aparece, aumentando gradativamente.
— Não acredito — Jay sussurra, maravilhado, e todos os outros soltam exclamações de surpresa.
— Temos que entrar logo — Jake fala baixo, chamando os garotos para perto com um gesto.
Assim que a porta fica em um tamanho normal, Jake a abre e empurra Riki para dentro. Todos os garotos se apressam para entrar, até Jake entrar por último, fechando a porta atrás deles.
A sala, que parece ter consciência e se molda ao formato do que a pessoa que a encontrou precisa, é um quarto aconchegante de adolescente, com uma grande janela que dá a ilusão da vista de uma rua residencial.
— Que lugar é esse? — Sunghoon pergunta curioso.
— E se mais alguém ver a porta? — Heeseung se preocupa, mexendo um pouco na maçaneta da porta simples de madeira branca.
— A porta desaparece do outro lado depois que a gente entra — Jake explica, se sentando na cama de solteiro azul com um sorriso enorme. — Ninguém pode vê-la agora, é novamente apenas uma parede vazia.
— Genial — Jay pensa em voz alta, mexendo em tudo que encontra no quarto, abrindo as gavetas da cômoda, curioso. — E esse é o meu quarto — Jake responde ao Sunghoon, que parece animado com a ideia e começa a vasculhar o lugar assim como Jay.
— Seu quarto parece muito trouxa — Jay comenta e Heeseung concorda.
O quarto é simples, decorado todo em branco e azul escuro, nas cores da Corvinal. Os móveis, pintura e cada detalhe são do mundo trouxa, nenhuma característica do mundo mágico.
— Moro em um bairro trouxa, embora parte da vizinhança seja bruxa também — Jake dá de ombros, pegando uma pequena caixa de som. — Que tipo de música vocês costumam escutar?
Os garotos tiram os doces e comidas que guardaram no bolso antes de entrarem na sala e espalham sobre a cama. Conversam e contam piadas enquanto escutam músicas do mundo trouxa, que a maioria deles conhece e se revoltam por Jay mal conhecer coisas simples sobre as bandas que todos conhecem.
— Eu nunca tive muito contato com o mundo trouxa, ok?! — O sonserino tenta se justificar, se sentindo deslocado por ser o único a não conhecer nada daquilo.
Eles falam sobre suas famílias e vidas fora do castelo, e Sunoo aproveita para conhecer um pouco mais de Jay, animado com a ideia de poder se aproximar do mais velho. Ele descobre que Jay é sangue-puro* e que mora em uma área bem distante e isolada, então mesmo estando no mundo trouxa, ele cresceu tendo contato apenas com outros bruxos e com o mundo mágico. O Park parece alguém muito legal e gentil, mas o que mais interessa mesmo a Sunoo é saber sobre Riki.
Hogwarts é uma escola de Magia e Bruxaria muito renomada, é a mais renomada de todas, por isso recebe alunos de todas as partes do mundo. Alguns países não têm suas escolas de Magia e enviam seus bruxos para outras escolas, mas o Japão tem Mahoutokoro, e Sunoo sempre se sentiu curioso em saber o motivo de Riki ter ido para outro país ao invés de ir para a do país dele.
O garoto parece meio indisposto a falar sobre a vida dele, mas o pouco que fala já é o suficiente para sanar parte da curiosidade do Kim.
— Minha mãe não era japonesa, minha irmã também não, então fomos embora do Japão quando eu ainda era criança. Fomos para Coréia.
— Por isso seu coreano é tão bom — Sunghoon aponta em meio a uma careta após comer um feijão mágico de gosto estranho, e os outros concordam com ele.
— Obrigado — o mais novo coça a nuca, um pouco envergonhado pelo elogio. — Foi uma surpresa ter recebido a carta de Hogwarts, que chegou meio atrasada, mas resolvi vir mesmo assim.
— E sua irmã? — Heeseung pergunta, se ajeitando para ficar em uma posição mais confortável sobre uma das almofadas no chão. — Ela é bruxa também?
— Sim.
— Ela não veio para Hogwarts?
— Não.
— Foi para Mahoutokoro?
A essa altura, Sunoo percebe o desconforto crescente de Riki em responder ao repentino questionário dos garotos sobre a vida dele.
— Não, ela frequentou Samsara.
— Nossa, mas essa escola não é só para...
— Nossa, eu amo essa música! — Jake interrompe a curiosidade de Jay, e Sunoo solta a respiração que nem percebeu estar segurando. O desconforto de Riki é quase palpável, e o que ele menos quer ver é o garoto ficando assim por conta de umas perguntas inocentes.
Para a alegria de Sunoo, ele não precisa parabenizar Jake ou coisa assim. Eles cantam um parabéns-para-você meio torto, com letras misturadas e inventadas na hora, e todos dão comida de presente ao corvino — menos Sunghoon, que deu um livro de física trouxa para ele —, então Sunoo não se sente tão desconfortável de entregar as tortinhas de cereja que sabe que o corvino gosta.
Em algum momento entre uma piada e outra, Sunoo acaba ao lado de Riki, escorado no corpo grande do menino enquanto presta atenção em algo que Heeseung fala sobre animais fantásticos. Riki faz carinho nos cabelos macios dele, e ambos nem se dão conta do que estão fazendo bem à frente dos outros, sem vergonha de serem pegos dessa vez. Em algum momento durante o carinho Sunoo percebe que Riki está olhando para ele e retribui o olhar, sorrindo para o menino que o observa fixamente. Riki o dá um beijo no canto dos lábios rapidamente, o suficiente para Sunoo levar a mão à boca e rir envergonhado.
— Argh, o amor — Jay resmunga ao lado deles e Sunoo ri, contendo a vontade de falar umas coisas sobre um certo grifinório para Jay.
Os garotos não percebem o quão tarde é, mas também não se importam com isso, torcendo para que ninguém perceba a ausência deles — e, se perceberem, que se mantenham quietos; é esse o desejo de aniversário de Jake.
...
* Sala Precisa - ''A Sala Precisa, também conhecida como Sala Vai e Vem, é uma sala secreta localizada no Castelo de Hogwarts, somente aparece para a pessoa que realmente precisa dela. A sala aparenta ter um pouco de consciência, pois se transforma no que o bruxo ou bruxa precisar naquele exato momento, mas também há algumas limitações. Por exemplo, ela não pode criar comida, assim como visto em cinco principais exceções das Leis de Gamp. Acredita-se que a sala é ilocalizável,''
* sangue-puro - famílias de bruxos que não têm mistura com humanos são consideradas sangue-puro, enquanto aqueles que têm a mistura são considerados mestiços
> na história original, a sala precisa foi destruída em 1998 pelo Harry Potter, mas o problema é todinho dele pq essa sala é impecável e pra mim continua existindo.
DICA: Samsara é uma escola de Magia e Bruxaria que fica no Himalaia, e têm estudantes dos seguintes países: Índia, Nepal, Butão, Sri Lanka, Bangladesh, Burna, Tailândia, Camboja, Vietnã, Malásia, Brunei, Indonésia, Coréia do Norte e Filipinas. se liguem hein, se liguem
tt: jaysbubu
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