9. O Feitiço Ancestral
A luz dourada da cachoeira começava a se apagar, deixando para trás apenas o som da água caindo e os ecos suaves das palavras trocadas entre Rina e Eamon. O coração de Rina ainda batia forte, uma mistura de emoção e nervosismo. Revelar sua verdadeira natureza havia sido um risco enorme, mas a aceitação de Eamon fazia com que tudo parecesse valer a pena. Ela nunca havia se sentido tão próxima de alguém, mas, ao mesmo tempo, sabia que aquele momento de paz não duraria.
Enquanto eles se afastavam da cachoeira, caminhando pela floresta, Eamon insistia em fazer perguntas, seu olhar curioso e fascinado brilhando à luz da lua.
- Então, você sempre soube que era uma bruxa? - ele perguntou, sorrindo suavemente.
Rina balançou a cabeça, desviando o olhar.
- Desde pequena. Mas, sinceramente, nunca fui boa nisso. - Ela deu de ombros, tentando soar casual, mas havia uma ponta de tristeza em sua voz. - É como se a magia tivesse vontade própria quando se trata de mim.
Eamon riu, mas sua expressão ficou mais séria em seguida.
- E você nunca teve medo de... se perder? De não conseguir controlar isso?
Rina hesitou.
- Sempre. Mas acho que agora tenho mais medo de perder você.
O silêncio caiu entre eles, mas não era desconfortável. Era um momento de entendimento silencioso, como se ambos estivessem processando o que aquele relacionamento significava, considerando os desafios que ainda estavam por vir.
Quando chegaram na cabana improvisada - onde Rina se escondia quando necessário - ela começou a organizar freneticamente os livros e ingredientes mágicos que havia espalhado pelo local. Seu coração ainda estava acelerado, mas agora por outro motivo: o medo. Ela sabia que o Conselho nunca permitiria que ficassem juntos, e o peso dessa realidade começava a se infiltrar em sua mente.
- O que está fazendo? - Eamon perguntou, observando-a com atenção.
- Tentando encontrar uma solução, - ela respondeu rapidamente, virando páginas de um livro antigo. - Há um feitiço... um feitiço ancestral que pode nos ajudar.
Eamon franziu a testa.
- Um feitiço? Rina, você disse que sua magia é instável. E se isso for perigoso?
Ela parou, respirando fundo antes de olhar para ele.
- Eu sei. Mas não temos outra escolha. O Conselho não vai desistir de me caçar ao descobrirem sobre nós dois, além do mais, já estou sofrendo uma punição! Prefiro que seja assim, pois ao que parece, eu posso ser exilada do meu mundo, mas isso não me impediria de ficar ao seu lado. Já você, sim, seria mais difícil que ficasse comigo. Os seus nunca permitiriam!
Eamon deu um passo à frente, segurando as mãos dela com firmeza.
- Rina, eu não me importo com os riscos. O que importa é que enfrentemos isso juntos. Eu confio sim em você! Por mais que sua magia não seja de confiança! - Ele riu desajeitado.
Rina sentiu as lágrimas começarem a se formar, mas afastou o pensamento. Não havia tempo para emoções agora. Ela precisava agir.
Rina passou a noite estudando os detalhes do feitiço, enquanto Eamon a ajudava a reunir os itens necessários. A cabana estava tomada por um brilho suave de velas e cristais, criando uma atmosfera mística que parecia fora do tempo.
O feitiço ancestral era complicado, muito além do que Rina já havia tentado antes. Ele envolvia criar uma conexão entre duas almas, permitindo que elas escapassem do alcance do Conselho ao entrarem em uma dimensão alternativa.
Quando tudo estava pronto, Rina desenhou símbolos mágicos no chão com pó de estrelas, um ingrediente raro que havia conseguido graças a Thea. Ela posicionou Eamon no centro do círculo, enquanto ela mesma se ajoelhava na borda, segurando o grimório aberto com as instruções.
- Tem certeza disso? - Eamon perguntou, olhando para ela com preocupação.
Rina engoliu em seco e assentiu.
- É nossa única chance.
Ela começou a recitar as palavras antigas, sua voz tremendo no início, mas ganhando força à medida que continuava. A energia mágica começou a crescer no ar, fazendo os cabelos de Rina se arrepiarem. As velas tremeluziram, e o chão sob eles parecia vibrar levemente.
Por um momento, parecia que tudo estava funcionando perfeitamente. O círculo brilhava intensamente, e uma sensação de calor os envolveu. Eamon olhou para Rina com um sorriso esperançoso, como se acreditasse que tudo ficaria bem.
Mas então, algo deu errado.
As palavras do feitiço começaram a escapar do controle de Rina. Ela sentiu a magia se desestabilizar, como uma corrente elétrica que fugia de suas mãos. O círculo de luz ao redor deles começou a tremer, e o brilho ficou tão intenso que Rina teve que fechar os olhos.
- Rina! - Eamon gritou, sua voz cheia de pânico.
Ela tentou retomar o controle, mas era tarde demais. Uma força invisível os puxou com violência, como se o chão tivesse desaparecido sob eles. Tudo ao redor virou um turbilhão de luzes e sombras, e Rina sentiu como se estivesse caindo sem fim.
Quando Rina abriu os olhos, a primeira coisa que percebeu foi o silêncio absoluto. Não havia som de vento, água ou qualquer outra coisa. Apenas um vazio ensurdecedor. Ela piscou, tentando se acostumar com a escuridão ao seu redor, mas logo percebeu que não estava sozinha.
- Eamon? - ela chamou, sua voz ecoando de uma maneira estranha.
- Estou aqui. - A voz dele veio de algum lugar perto dela, e ela sentiu uma onda de alívio ao vê-lo emergir da escuridão.
Eles estavam em um lugar completamente diferente, um espaço que não parecia seguir as leis da natureza. O chão era feito de um material brilhante e translúcido, refletindo suas imagens como um espelho. Acima deles, o céu era uma mistura de cores vibrantes que se moviam lentamente, como uma aurora boreal interminável.
- Onde estamos? - Eamon perguntou, olhando ao redor com uma expressão de choque.
Rina engoliu em seco, sentindo a culpa pesando sobre seus ombros.
- Acho que... algo deu errado. O feitiço deveria nos levar para uma dimensão segura, mas... isso não parece certo.
Eamon olhou para ela, e Rina esperava ver raiva ou frustração em seus olhos. Mas, para sua surpresa, ele apenas parecia preocupado.
- Então, como saímos daqui?
Rina hesitou, tentando encontrar uma resposta. Mas a verdade era que ela não fazia ideia.
- Eu... não sei. - Ela finalmente admitiu, sentindo-se pequena diante da imensidão daquele lugar.
Enquanto eles tentavam entender o que havia acontecido, começaram a explorar o estranho espaço em que estavam. Não havia paredes ou limites visíveis, apenas um vazio infinito que parecia se estender para sempre. Mas, de vez em quando, pequenos fragmentos de imagens apareciam no ar, como janelas para outros lugares e tempos.
Em uma delas, Rina viu um reflexo de si mesma quando era criança, treinando magia desajeitadamente com suas irmãs. Em outra, viu Eamon em sua infância, brincando no castelo com seu irmão Aerys.
- O que é isso? - Eamon perguntou, olhando para uma dessas imagens.
Rina sacudiu a cabeça, sentindo-se ainda mais confusa.
- Acho que... são memórias. Ou talvez ecos de outros momentos.
Eamon estendeu a mão, tentando tocar uma das imagens, mas ela desapareceu antes que ele pudesse alcançá-la.
- Este lugar é perigoso, - Rina disse, seu tom mais sério. - Precisamos encontrar uma saída antes que algo pior aconteça.
Enquanto continuavam explorando, Rina começou a perceber que a magia naquele lugar reagia de maneira diferente. Ela sentia uma conexão mais forte com o ambiente, como se suas emoções pudessem moldar o espaço ao redor.
- Talvez eu possa usar isso a nosso favor, - ela disse a Eamon, determinada a corrigir seu erro.
Ele segurou a mão dela, seus olhos cheios de confiança.
- Estamos juntos nisso, Rina. Não importa o que aconteça, vamos encontrar um jeito de sair daqui.
Com o apoio de Eamon e sua própria determinação renovada, Rina começou a se concentrar em encontrar uma maneira de desfazer o feitiço. Mas, enquanto trabalhavam juntos, mal sabiam que o Conselho já estava ciente de seu paradeiro e planejando intervir.
O limbo temporal era apenas o começo de uma jornada muito mais perigosa e desafiadora do que eles poderiam imaginar.
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