6. A Aliança Improvável
Rina acordou na manhã seguinte ao som de batidas firmes em sua porta. Ao abrir, ainda meio sonolenta, encontrou Astris com um olhar preocupado e um bilhete nas mãos.
- Isso foi deixado para você - disse Astris, entregando o papel.
Rina desdobrou o bilhete rapidamente, sentindo o coração apertar ao ver o selo do Conselho das Bruxas. As palavras escritas com uma caligrafia impecável, mas fria, eram claras:
"Senhorita Rina,
Ficou evidente que você infringiu os princípios de nossa comunidade ao interagir de forma indevida com humanos. Como consequência, sua magia será restringida até que prove ser digna de utilizá-la novamente.
O Conselho das Bruxas."
Rina sentiu um nó na garganta. Suas suspeitas estavam confirmadas - o enfraquecimento de sua magia não era uma coincidência.
- O que diz? - perguntou Astris, inclinando-se para ler por cima do ombro de Rina.
- Nada importante - mentiu Rina, dobrando o bilhete rapidamente.
Astris arqueou uma sobrancelha, mas decidiu não insistir. - Bom, seja o que for, espero que você não deixe isso te derrubar. Temos muito trabalho pela frente.
Rina assentiu, mas as palavras do Conselho pairavam sobre sua mente como uma sombra.
Quando Rina chegou à aula de Poções Avançadas, os olhares em sua direção estavam mais penetrantes do que nunca. Parecia que todo mundo sabia de sua punição, mesmo que ela não tivesse dito nada.
- Ouvi dizer que alguém está com a magia enfraquecida - murmurou Lytha para suas amigas, rindo baixo enquanto mexia em seu caldeirão.
Rina tentou ignorar, mas era impossível não notar as risadinhas e os olhares de reprovação. Até mesmo algumas das professoras pareciam menos pacientes do que o normal, corrigindo seus erros com uma severidade incomum.
Astris fez o possível para defendê-la durante o dia, mas até mesmo ela parecia incomodada com o comportamento de Rina, como se estivesse tentando entender o que sua amiga tinha feito para merecer tal tratamento.
Ao final das aulas, Rina se sentia mais isolada do que nunca.
Naquela noite, incapaz de ficar no dormitório sob os olhares julgadores de suas colegas, Rina decidiu dar uma volta pela floresta ao redor da escola. A luz da lua iluminava o caminho entre as árvores, e o som de suas botas esmagando folhas secas era quase reconfortante.
Ela não sabia exatamente para onde estava indo, mas sentia uma estranha força a guiando. Foi então que, ao virar uma curva, avistou uma cabana de aparência rústica, coberta de musgo e com fumaça saindo de uma pequena chaminé.
- Quem constrói uma casa no meio do nada? - murmurou para si mesma, aproximando-se com cautela.
Antes que pudesse bater na porta, ela se abriu sozinha, revelando uma mulher alta, de cabelos ruivos desgrenhados e olhos penetrantes.
- Estava esperando por você - disse a mulher, com um sorriso enigmático.
Rina deu um passo para trás. - Como assim esperando por mim? Quem é você?
- Meu nome é Thea - respondeu a mulher, cruzando os braços. - E pelo que vejo, você está com problemas.
Rina hesitou, mas algo nos olhos de Thea parecia honesto, mesmo que misterioso.
- Você é... uma bruxa? - perguntou, entrando lentamente na cabana.
Thea riu. - Não sou apenas uma bruxa. Sou uma exilada. Mas, pelo visto, você está caminhando para o mesmo destino, não é?
Rina corou. - Não sei do que está falando.
Thea estreitou os olhos. - Não precisa esconder. Eu vi o que o Conselho fez com você.
Rina sentiu um arrepio. - Você pode ver isso?
- Claro que sim. É o que faço. Estudo o que o Conselho não quer que ninguém saiba.
Rina sentou-se em um banco improvisado perto da lareira, sentindo a curiosidade e o desespero se misturarem.
- Por que está me ajudando? - perguntou.
Thea deu de ombros. - Porque vejo potencial em você. E porque gosto de desafiar o Conselho.
Durante a noite, Thea começou a ensinar Rina sobre feitiços ancestrais, formas antigas de magia que não dependiam das regras impostas pelo Conselho.
- A magia que você conhece é limitada - explicou Thea, movendo as mãos sobre um caldeirão que brilhava com uma luz prateada. - Eles nos ensinam a ser obedientes, a seguir regras. Mas a magia verdadeira é indomável.
Rina assistia, fascinada, enquanto Thea conjurava feitiços que pareciam mais vivos do que qualquer coisa que já tinha visto.
- Isso é incrível - disse Rina, sentindo-se animada pela primeira vez em dias.
- Você pode fazer isso também - afirmou Thea. - Mas vai exigir prática e, principalmente, coragem.
Rina passou horas aprendendo, sentindo que finalmente tinha encontrado um caminho para recuperar sua força.
Quando a noite já estava avançada, Thea colocou um pergaminho antigo diante de Rina.
- Este é um ritual que pode quebrar o controle do Conselho sobre você - explicou Thea. - Mas é perigoso.
Rina leu as instruções com atenção, sentindo o peso das palavras.
- Perigoso como? - perguntou.
Thea cruzou os braços. - Pode custar mais do que você está disposta a dar. Mas também pode ser sua única chance de recuperar sua magia.
Rina ficou em silêncio, contemplando a decisão que tinha diante de si.
- Vou pensar nisso - disse finalmente, levantando-se.
Thea sorriu. - Faça isso. Mas não demore. O Conselho não costuma esperar.
Quando Rina voltou ao dormitório, o sol já estava nascendo. Astris estava sentada em sua cama, claramente esperando por ela.
- Onde você estava? - perguntou, parecendo mais preocupada do que irritada.
Rina hesitou, mas decidiu não contar sobre Thea. - Só precisava de um tempo sozinha.
Astris suspirou. - Bom, espero que tenha valido a pena. Porque as coisas estão ficando cada vez mais difíceis para você.
Rina não respondeu, mas sabia que Astris estava certa. E, enquanto se preparava para mais um dia, não conseguia tirar da cabeça o pergaminho que Thea lhe mostrara.
Se o ritual era perigoso, ela estava disposta a arriscar?
O peso de suas escolhas começava a se acumular. Entre o desdém de seus colegas, a punição do Conselho e a ajuda de uma bruxa exilada, Rina sentia-se mais dividida do que nunca. Mas, no fundo, sabia que precisava lutar - não apenas por sua magia, mas por sua liberdade.
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