4. O Primeiro Beijo
Rina estava na biblioteca da escola de magia, cercada por pilhas de grimórios abertos, anotações apressadas e uma pena que parecia ter vida própria, rabiscando freneticamente em um pedaço de pergaminho. Ela tentava se concentrar nos feitiços de transmutação, mas sua mente parecia teimosa em vagar para longe. Para piorar, sua amiga Astris, uma jovem bruxa de cabelos volumosos que pareciam ter uma mente própria, estava ao lado dela, tagarelando sem parar sobre os próximos exames.
- Esses professores são sádicos! - Astris reclamou, jogando um grimório na mesa com um baque. - Quem precisa transformar uma pedra em um gato, afinal? Isso não faz sentido!
Rina suspirou, esfregando as têmporas. - Talvez alguém que tenha uma pedra de estimação e queira algo mais... fofinho?
Astris soltou uma gargalhada. - Ou talvez você possa transformar suas notas ruins em alguma coisa boa, tipo um "A".
Rina lançou um olhar de falsa indignação para a amiga, mas logo ambas estavam rindo. Ainda assim, a pressão dos exames era real, e a pilha de grimórios sobre a mesa parecia zombar de suas tentativas de estudar.
- Você não está preocupada, Rina? - Astris perguntou, observando-a com uma sobrancelha levantada. - Parece que você está em outro mundo.
Rina hesitou por um momento antes de responder. Era verdade. Sua mente não estava nem um pouco nos exames ou na magia. Ela estava pensando em Eamon, no último encontro, na maneira como ele parecia enxergar nela algo especial. Mesmo que fosse perigoso e proibido, não conseguia afastá-lo de seus pensamentos.
- Não é nada - respondeu, fechando um dos livros com força. - Talvez eu só precise de um pouco de ar fresco.
Astris riu. - Claro, porque a melhor solução para fugir de livros é uma caminhada noturna proibida.
Rina deu de ombros com um sorriso travesso. - Quem sabe? Pode ser exatamente disso que eu preciso.
E assim, ela decidiu sair, deixando os grimórios e a preocupação para trás.
A noite estava clara, e o vilarejo parecia especialmente tranquilo. As luzes das casas lançavam reflexos quentes sobre as ruas de pedra, e o som distante de risadas e conversas preenchia o ar. Rina estava perdida em pensamentos quando avistou Eamon. Ele estava sentado em um banco na praça, sozinho, observando o céu.
Seu coração disparou, como sempre. Antes que pudesse decidir se deveria se aproximar ou não, ele a notou.
- Você? - disse ele, com um sorriso que a fez esquecer momentaneamente como respirar.
Rina sentiu suas bochechas esquentarem, mas tentou parecer natural. - Ah, oi! Eu só... estava passeando.
- Parece uma noite perfeita para isso - respondeu ele, apontando para o céu estrelado. - Sente-se?
Ela hesitou por um instante, mas acabou cedendo. Sentou-se ao lado dele, sentindo a proximidade aumentar a batida de seu coração. Eles conversaram sobre coisas banais - o clima, o vilarejo, os costumes humanos - e Rina fez o possível para parecer a jovem humana mais comum do mundo.
Mas então, em sua empolgação, ela começou a gesticular enquanto falava, levantando as mãos para enfatizar algo. Foi nesse momento que o desastre aconteceu. Sem perceber, Rina canalizou energia mágica que saiu em um surto descontrolado. Um clarão repentino iluminou o céu, e em questão de segundos, meteoros brilhantes começaram a cair, transformando a noite tranquila em um espetáculo caótico.
Eamon ficou boquiaberto, levantando-se de repente. - O que é isso?!
Rina congelou, olhando para o céu e tentando entender o que tinha acabado de fazer. Por um momento, sentiu pânico absoluto. Mas ela sabia que precisava manter a calma e fingir que nada daquilo tinha a ver com ela.
- Uau... - disse ela, forçando um sorriso. - Isso é... impressionante!
Eamon olhou para ela, incrédulo. - Impressionante? Isso é incrível! O que será que está acontecendo?
Rina encolheu os ombros, tentando parecer tão confusa quanto ele. - Talvez... uma chuva de meteoros? Você sabe, coisas normais do céu.
Ele continuava olhando para ela com um misto de fascínio e desconfiança. - Você não acha isso estranho? Quero dizer, justo agora, aqui?
Ela riu nervosamente. - Ah, vai ver você trouxe sorte. Ou... sei lá, coincidência. É só uma noite mágica, não acha?
Eamon ergueu uma sobrancelha, mas parecia aceitar a explicação. Ele voltou a olhar para o céu, e Rina aproveitou para respirar fundo, tentando se recompor.
- Você é cheia de surpresas - disse ele, ainda olhando para as luzes que atravessavam o céu.
- Eu? Não, eu sou só... normal. Muito normal. Totalmente humana e normal.
Ele riu, e o som fez Rina relaxar um pouco.
Depois de algum tempo observando os meteoros, Eamon virou-se para ela novamente, com aquele olhar intenso que fazia Rina sentir como se ele pudesse enxergar dentro dela.
- Você tem algo diferente, Alina. Algo especial.
Rina tentou rir para disfarçar. - Diferente? Acho que você anda imaginando coisas demais.
Ele deu um passo mais perto, abaixando um pouco o tom da voz. - Talvez. Mas não consigo evitar.
Antes que ela pudesse processar o que estava acontecendo, Eamon inclinou-se e a beijou. Foi um beijo tímido, mas cheio de sentimento, e Rina sentiu como se o mundo ao seu redor tivesse parado. Por um momento, esqueceu-se de tudo - da magia, das leis, do perigo.
Quando o beijo terminou, Eamon olhou para ela com um sorriso suave. - Obrigado por tornar esta noite inesquecível.
Rina sorriu, sentindo as bochechas queimarem. - Bom... de nada, eu acho.
Ela sabia que estava brincando com fogo, mas naquele momento, não se importava.
Assim, enquanto Eamon se afastava, ela ficou ali, olhando para o céu, com a sensação de que havia cruzado um limite que não deveria. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia se arrepender.
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