32. Lysara Redimida
A cabana escondida de Thea ficava no meio da floresta, cercada por árvores antigas e um silêncio acolhedor. O cheiro de ervas secas e terra molhada pairava no ar, criando um ambiente quase mágico.
Rina estava sentada em um canto, abraçando os joelhos, ainda sentindo a adrenalina do que acabara de acontecer. Thea preparava uma infusão de ervas, misturando os ingredientes com paciência.
- Eu preciso te perguntar uma coisa. - Rina quebrou o silêncio.
Thea olhou para ela, arqueando uma sobrancelha.
- Pergunte.
Rina respirou fundo.
- Quando eu estava no limbo... Você apareceu para mim, como um espírito. Como isso foi possível?
Thea serviu o chá em duas xícaras e se sentou à frente de Rina.
- Foi você quem conseguiu.
- Eu? - Rina franziu a testa.
- Sim. Você abriu uma conexão. Mas talvez ainda não entenda o que aconteceu.
Rina abaixou o olhar para a xícara fumegante em suas mãos.
- Então me explique.
Thea sorriu de lado.
- A resposta está bem à sua frente.
Rina piscou, confusa.
O que Thea queria dizer com aquilo?
Ela suspirou e balançou a cabeça.
- Obrigada por me ajudar a sair da masmorra do castelo. Se não fosse por você...
- Você teria dado um jeito. - Thea interrompeu.
Rina sorriu, mas depois ficou séria.
- Por que você se importa tanto comigo, Thea?
Thea desviou o olhar para o fogo bruxuleante na lareira.
- Porque eu prometi à sua mãe.
O coração de Rina apertou.
- Minha mãe?
Thea assentiu.
- Antes de partir, ela me pediu para cuidar de você, caso fosse necessário. Eu aceitei essa promessa.
Os olhos de Rina ficaram marejados.
Ela nunca imaginou que sua mãe tivesse deixado alguém encarregada de protegê-la.
Rina sorriu, emocionada.
- Obrigada, Thea.
A bruxa mais velha apenas tocou sua mão de leve, um gesto simples, mas cheio de significado.
Os corredores da escola estavam silenciosos quando Rina retornou. Era estranho estar ali depois de tudo o que havia acontecido.
Ela não demorou a ser chamada por Lysara.
A mestra estava à sua espera no salão de estudos, observando um antigo tomo flutuando diante dela.
- Recuperar o equilíbrio do tempo não é algo simples, Rina. Você poderia ter sido consumida pelo limbo.
Rina assentiu, sentindo o peso daquelas palavras.
- Eu sei. Mas eu achava que era a única maneira de... enfim, você já sabe.
Lysara estudou sua expressão por um momento antes de fechar o livro com um gesto da mão.
- Você fez um sacrifício pelo equilíbrio. Pelo reino. E pode não parecer, mas até pelas bruxas. Isso não pode ser ignorado. - Ela se aproximou de Rina lentamente. - Sabemos que sua decisão se deu por estar apaixonada, mas muitas coisas estavam por trás disso!
Rina não esperava aquilo.
- O quê? Como que... Espere! O Conselho não me punirá?
Lysara suspirou.
- Não. Pelo contrário, eles precisam saber o que você descobriu.
- Descobri?
Lysara começou a caminhar lentamente pela sala.
- Rina, você não apenas restaurou o equilíbrio do tempo. Você pode ter desvendado algo muito maior.
- Não estou entendendo Lysara.
Lysara virou-se para encará-la.
- Um código secreto de um feitiço ancestral poderoso.
Rina arregalou os olhos.
- Um código secreto?
- Sim. - Lysara acenou com a mão, e páginas de livros antigos começaram a se folhear sozinhas, revelando símbolos e textos antigos. - Este feitiço existe há séculos. Mas ninguém sabia exatamente qual era seu propósito. Agora sabemos.
Rina se aproximou, curiosa.
- E qual é?
Lysara sorriu, quase admirada.
- Unir mundos. O das bruxas brancas e o dos humanos.
O choque percorreu o corpo de Rina.
- Mas... - ela hesitou. - Isso significa que...
Lysara assentiu.
- Esse feitiço só poderia ser executado pelas mãos certas. Ele escolhe seu bruxo ou bruxa. E ele escolheu você.
Rina sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
Ela achava que havia cometido um erro. Que havia lançado o feitiço errado.
Mas, na verdade...
- Então... O propósito desse feitiço sempre foi esse?
Lysara confirmou.
- Sim. Você não o lançou errado, Rina. Você cumpriu o destino dele.
Rina piscou, tentando absorver aquela revelação.
Toda sua vida, ela achou que não era forte o suficiente. Que sempre errava, que era uma bruxa atrapalhada.
Mas agora...
Agora, ela sabia que sempre esteve destinada a algo maior.
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