28. Um Ato de Sacrifício
O silêncio pesava no refúgio subterrâneo. Depois de tantas fugas, tantas batalhas, tantas perdas, Rina sentia que estava chegando ao limite. O cansaço, a exaustão de lutar contra um destino que parecia inevitável, e, acima de tudo, o medo de perder Eamon de uma forma pior do que a morte: perder a sua alma para o limbo.
Ela sabia o que precisava fazer.
Não havia outra saída.
Rina sentou-se sozinha em um dos cantos do esconderijo, observando os outros rebeldes descansando. Todos estavam machucados, exaustos, mas vivos. Eamon, no entanto, estava acordado, perto da entrada do refúgio, segurando uma espada enferrujada que encontrara mais cedo. Ele não parecia cansado, apesar de tudo que haviam enfrentado. Seu olhar estava distante, pensativo.
Rina o observou por um longo momento.
Ela queria lembrar daquele instante.
O jeito como os cabelos dele estavam bagunçados, os olhos brilhando na penumbra, a expressão determinada mesmo sem entender exatamente o que estava acontecendo ao redor. Ele sempre foi assim: forte, resiliente, e sem medo de seguir em frente, mesmo sem respostas.
Ela queria amá-lo por mais uma noite.
A última noite.
Rina se levantou e caminhou até ele, o coração batendo mais rápido a cada passo.
— Está perdido em pensamentos? — ela perguntou suavemente.
Eamon sorriu de lado, mas não desviou o olhar da entrada do esconderijo.
— Só estou pensando em tudo isso. No que vem depois.
— Depois?
Ele suspirou.
— Quando tudo acabar... Para onde vamos?
Rina sentiu o peito apertar.
— Eu... não sei.
Era mentira. Ela sabia exatamente para onde ele iria. Para casa. Para o reino que ele deveria governar. Para a vida que ele deveria ter.
Sem ela.
Rina engoliu a dor que ameaçava sufocá-la e se aproximou, tocando levemente a mão dele.
— Eu não quero pensar no amanhã agora — ela murmurou.
Eamon finalmente virou o rosto para encará-la. Seus olhos se fixaram nos dela, e Rina viu algo ali — uma pergunta, um desejo.
Ela não queria que ele soubesse que aquela noite seria uma despedida.
— Então no que quer pensar? — ele perguntou, sua voz rouca e baixa.
Rina respirou fundo e respondeu sem hesitação:
— Em nós.
Ele não precisou de mais nada.
Aquela noite, Eamon a amou com a intensidade de alguém que acreditava no futuro. Com os dedos entrelaçados nos dela, os lábios explorando cada pedaço de sua pele, os sussurros trocados no escuro, as promessas silenciosas em meio à entrega. Para Eamon, era o começo de algo. Para Rina, era o fim.
E ela aceitou aquilo como um último presente.
Quando o sol tímido começou a nascer no horizonte, Rina se desvencilhou do abraço de Eamon com cuidado, garantindo que ele continuasse dormindo. Sentou-se na beira do colchão improvisado e ficou ali por um tempo, observando-o.
A dor era insuportável, mas ela não chorou.
Ela já havia tomado sua decisão.
Levantou-se sem fazer barulho e saiu do esconderijo, indo para um local afastado, onde poderia realizar o que precisava sem ser interrompida. A magia ainda vibrava dentro dela, enfraquecida, mas suficiente para o que viria a seguir.
Rina fechou os olhos e sussurrou um nome.
— Nexus.
A magia respondeu imediatamente. O ar ao redor dela mudou, tornando-se pesado e carregado de eletricidade. O chão tremeu levemente sob seus pés, e então, um clarão de luz púrpura brilhou à sua frente.
Quando Rina abriu os olhos, Nexus estava ali, sua silhueta envolta em sombras e luzes pulsantes. Os olhos do ser ancestral brilharam como estrelas distantes, e sua voz ecoou como um trovão abafado.
— Você me chamou, bruxa.
Rina respirou fundo, preparando-se para o que viria a seguir.
— Preciso da sua ajuda.
O sorriso de Nexus foi enigmático.
— E está disposta a pagar o preço?
Ela não hesitou.
— Sim.
Ali, a escuridão da escolha de Rina encontrava o brilho implacável do destino. O que viria a seguir?
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