18. A Magia Reprimida
Rina caminhava pelos corredores da mansão com passos apressados, tentando organizar os pensamentos. Após tantos saltos temporais, fragmentos do passado e confusões, finalmente algo parecia claro: o ciclo em que estavam presos só seria quebrado se o amor entre ela e Eamon fosse verdadeiro em todas as épocas. No entanto, essa constatação trazia um problema evidente - Eamon não se lembrava dela, e reconquistar seu coração parecia um desafio quase impossível, especialmente naquela realidade.
Pior ainda, havia um obstáculo novo e irritante. Durante o jantar daquela noite, Aerys, sempre atento e manipulador, havia anunciado com pompa que uma jovem de uma família aristocrática respeitável estaria visitando a mansão em breve. Ele mencionou que ela era "a pretendente perfeita" para Eamon, alguém que poderia fortalecer os laços políticos e elevar o status da família.
Rina quase deixou cair o prato que carregava ao ouvir aquilo. Uma pretendente? Para Eamon?
O rosto dela ficou quente de indignação enquanto ouvia os detalhes. Aerys falava com naturalidade, como se o destino de Eamon fosse um mero jogo político, sem considerar os sentimentos do próprio homem. Mais revoltante ainda era a aparente indiferença de Eamon, que apenas assentiu educadamente e continuou comendo, sem contestar.
"Ele nem mesmo se lembra de mim", pensou Rina, mordendo o lábio. "Mas isso não significa que vou permitir que ele seja empurrado para outra pessoa."
Dois dias depois, a "pretendente perfeita" chegou. Lady Mirabelle. Seu vestido era impecável, um tom pastel que realçava seus cabelos loiros brilhantes, e ela se movia com a graça de alguém que sabia que todas as atenções estavam voltadas para ela.
Rina a observava de longe, escondida atrás de uma cortina no corredor. Mirabelle já havia feito questão de circular pelos salões da mansão, conquistando a simpatia de todos com seu sorriso encantador e sua risada cristalina.
"Claro que ela é perfeita", pensou Rina, revirando os olhos. "Perfeita demais. Deve ser insuportável."
Mas o que realmente incomodava Rina era o jeito como Mirabelle olhava para Eamon - como se já o considerasse seu.
O ciúme crescia dentro dela a cada momento em que via os dois conversando, e seu controle sobre a magia, já frágil, começava a vacilar.
Quando a noite caiu, Rina não conseguiu mais se conter. Precisava fazer algo para garantir que Mirabelle não ficasse perto de Eamon por muito tempo.
Ela caminhou até o jardim, onde o ar estava fresco e a lua iluminava suavemente as flores. Sentando-se em um banco de pedra, fechou os olhos e começou a murmurar um feitiço:
- Tem que dar certo! - Respirou fundo colocando toda sua fé em sua magia.
Era simples o suficiente: um encantamento que causaria pequenos tropeços e deslizes para Mirabelle, fazendo com que ela parecesse menos "perfeita".
- Apenas um empurrãozinho - Rina murmurou, enquanto a magia fluía de suas mãos e se dispersava pelo ar.
Na manhã seguinte, os resultados começaram a aparecer.
Mirabelle, sempre elegante, tropeçou no tapete do salão logo após cumprimentar Eamon. Apesar de tentar manter a compostura, acabou derrubando um cálice de vinho na mesa, manchando a toalha impecável e parte de seu vestido.
Os cochichos começaram.
Mais tarde, durante uma caminhada com Eamon nos jardins, ela acidentalmente pisou em um formigueiro. As pequenas criaturas subiram por sua saia, fazendo-a gritar e correr em círculos, enquanto Eamon tentava ajudá-la sem rir.
E, para coroar o dia, durante o jantar, Mirabelle mordeu um pedaço de carne que parecia normal, mas estava tão temperado que a fez engasgar e tossir violentamente.
Rina, que assistia de longe, quase não conseguiu conter o riso.
Mas, apesar dos tropeços, Eamon parecia mais intrigado do que desanimado com Mirabelle. Ele continuava a ser cortês, demonstrando paciência e atenção. Isso deixou Rina ainda mais frustrada.
"Por que ele é tão bondoso com ela? Eu estou aqui! Sou eu quem ele deveria notar!"
Enquanto Rina observava Eamon e Mirabelle de longe, ela sentiu a presença de alguém atrás dela.
- Está se divertindo? - A voz fria de Aerys soou.
Ela se virou, encontrando o olhar penetrante dele.
- Não sei do que está falando.
- Ah, sabe, sim. Isso tem seus dedinhos bruxescos! Não tem?
Rina tentou manter a compostura.
- Talvez seja apenas coincidência. Nem tudo é bruxaria! - Ela o lançou um olhar intimidante.
Aerys inclinou a cabeça, estudando-a como um predador que analisa sua presa.
- Você me subestima demais.
Rina sentiu o sangue gelar, mas manteve o rosto neutro.
- Eu sou apenas uma governanta, nada mais. Acho que estamos cientes de tudo, não?
Ele deu um sorriso frio.
- Mas é claro! E espero que continue assim. Sendo APENAS uma governanta. Seria uma pena se Eamon descobrisse... ou se a corte decidisse investigar mais de perto o seu caso.
Rina apertou os punhos, resistindo à vontade de usar magia para calá-lo naquele instante.
Naquela noite, Rina decidiu arriscar tudo. Sabia que não podia deixar Mirabelle continuar ocupando o espaço que deveria ser dela no coração de Eamon.
Ela o encontrou no jardim, sentado em um banco sob a luz suave da lua. Ele parecia perdido em pensamentos, olhando para o céu.
- Milorde - ela começou, hesitante.
Eamon olhou para ela, surpreso.
- Srta. Laurrance? O que faz aqui a essa hora?
Ela respirou fundo.
- Eu precisava... precisava falar.
Ele franziu a testa, mas fez um gesto para que ela continuasse.
- Eu... sei que não deveria, mas há algo em você que me deixa inquieta. Algo que faz meu coração bater mais rápido, mesmo que eu saiba que não deveria me sentir assim.
Eamon parecia confuso, mas também intrigado.
- O que está tentando dizer Srta. Laurrance?
Antes que ela pudesse responder, um som distante ecoou pela mansão - o riso de Mirabelle.
Eamon virou a cabeça em direção ao som, e a expressão no rosto dele mudou, como se estivesse dividido entre dois mundos.
Observando a reação de Eamon, Rina se retirou dali imediatamente, angustiada,sentindo um aperto no peito. "Isso não será fácil", pensou.
Ao virar-se novamente para Rina, Eamon notou que ela já havia se distanciado.
— Srta. Lourrance! — Ele gritou, tentando abordá-la, mas ela já estava longe o bastante para ouví-lo.
De tal forma, mesmo com os desafios, Rina sabia que não desistiria de Eamon. O amor deles poderia ser mais forte do que qualquer ciclo temporal. Era o que ela estava disposta a desvendar a todo custo, mesmo que já não estivesse tão certa assim dos verdadeiros sentimentos dele por ela.
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