16. O Baile da Aristocracia
O brilho das luzes do grande salão refletia nas imponentes paredes de mármore, onde lustres reluzentes pendiam como estrelas artificiais. Músicos posicionados em um canto tocavam uma melodia animada, enquanto casais elegantemente vestidos dançavam com graça e coordenação no centro do salão. O Baile da Aristocracia era o evento mais aguardado da temporada, e Rina sabia que aquela era sua chance de se aproximar de Eamon novamente.
Ela respirou fundo, ajustando o vestido que conseguira improvisar. Era um modelo simples, mas com a ajuda de uma pequena centelha de magia, havia conseguido torná-lo mais elegante, com um brilho discreto no tecido. Discreção, no entanto, não era algo que ela dominava muito bem ultimamente, e sabia que aquilo poderia ser arriscado.
Rina olhou ao redor enquanto entrava no salão, passando despercebida pelos guardas que estavam distraídos com os convidados. Ela viu Eamon, de pé perto de uma mesa, conversando com outros nobres. Ele estava elegante em seu traje aristocrático, mas sua postura indicava que não estava completamente à vontade.
Ela se aproximou devagar, tentando não chamar atenção, mas não conseguiu evitar que Eamon notasse sua presença. Seus olhos se estreitaram quando a viu, claramente surpreso.
- Srta. Lourrance? - ele disse, em um tom que misturava choque e reprovação. Ele caminhou em direção a ela, ignorando os murmúrios ao redor. - O que está fazendo aqui?
Rina tentou sorrir com confiança.
- Milorde, eu... achei que poderia ajudar a supervisionar o evento. Certamente uma ocasião tão importante requer todos os esforços possíveis.
Ele arqueou uma sobrancelha, claramente não convencido.
- Supervisionar o evento? Com um vestido desses? - Ele olhou para ela com curiosidade. - Você é... ousada.
Rina engoliu em seco, tentando manter a compostura.
- Apenas faço o que acredito ser útil, milorde.
Eamon estudou-a por um momento, como se tentasse decifrar o enigma que ela representava. Então, inesperadamente, ele ofereceu a mão.
- Já que está aqui, creio que uma dança está em ordem.
Rina hesitou por um segundo, mas aceitou, sentindo o coração acelerar quando sua mão tocou a dele.
A melodia da orquestra mudou para um ritmo mais suave enquanto Rina e Eamon se posicionavam no centro da pista de dança. Ela tentou se concentrar nos passos, mas a proximidade dele era desconcertante. Ele parecia estar relaxando aos poucos, um leve sorriso se formando em seus lábios enquanto guiava a dança com destreza.
- Você dança surpreendentemente bem para uma... governanta - ele comentou, com uma nota de provocação na voz.
Rina riu, tentando parecer descontraída.
- E o senhor dança surpreendentemente bem para um lorde.
Eamon sorriu, mas antes que pudesse responder, algo incomum aconteceu. O vestido de Rina começou a brilhar mais intensamente, como se absorvesse a luz ao redor. Pequenos pontos de luz surgiram, dançando ao redor dela como vaga-lumes encantados.
O brilho capturou a atenção de todos no salão. Murmúrios começaram a circular enquanto os olhares se voltavam para o casal.
- O que é isso? - Eamon perguntou, parando de dançar e observando o vestido com confusão.
Rina sentiu o calor subir ao rosto. O nervosismo tomou conta dela, e, como sempre, sua magia respondeu ao seu estado emocional. Antes que pudesse controlar, uma explosão de energia percorreu o salão, e o caos começou.
De repente, uma legião de ratos mágicos surgiu no chão, correndo em todas as direções. Os convidados começaram a gritar e subir nas cadeiras, tentando escapar das pequenas criaturas. Os ratos, porém, tinham caudas que brilhavam como néon, o que apenas aumentava o pânico.
- O que está acontecendo? - Eamon exclamou, puxando Rina para protegê-la dos roedores que corriam em sua direção.
Ela tentou controlar a situação, mas sua magia estava fora de controle. Quanto mais nervosa ficava, mais ratos apareciam.
- Milorde, eu... eu não sei! - ela gaguejou, tentando disfarçar.
Os guardas invadiram o salão, tentando conter o caos, mas os ratos eram rápidos e escapavam com facilidade. Em poucos minutos, o baile havia se transformado em uma cena de completa desordem.
Com o baile sendo encerrado às pressas, Rina tentou se esconder entre as criadas, mas Eamon a encontrou no corredor. Ele parecia furioso, mas havia algo mais em seus olhos - desconfiança.
- O que aconteceu lá dentro? - ele perguntou, com um tom firme.
Rina hesitou, tentando pensar em algo convincente.
- Eu... realmente não sei, milorde. Foi tudo tão... estranho.
Eamon cruzou os braços, inclinando-se levemente em sua direção.
- Você sempre aparece nos momentos mais inoportunos, e sempre há algo incomum acontecendo ao seu redor. Quem é você, realmente?
O coração de Rina acelerou. Ela sabia que estava ficando cada vez mais difícil esconder a verdade.
- Sou apenas sua governanta, milorde. Não sei do que está falando.
Ele estreitou os olhos, claramente não acreditando nela.
- Você tem uma maneira peculiar de evitar perguntas diretas.
Antes que pudesse continuar, Rina tropeçou no tapete atrás dela e quase caiu, mas Eamon a segurou pelo braço. Por um momento, os dois ficaram imóveis, os rostos muito próximos.
- Eu... obrigada - ela sussurrou, sentindo o calor subir ao rosto.
Eamon a observou por um instante, a expressão dura suavizando-se.
- Só tome cuidado.
Ele a soltou e se afastou, mas Rina sabia que ele continuava desconfiado.
Mais tarde, sozinha em seu quarto, Rina tentou se acalmar. Era óbvio que sua magia estava escapando porque ela ainda tinha uma parte de seus poderes, mesmo que tivessem sido bloqueados em seu mundo original.
"Por quê?", ela pensou, tentando encontrar uma explicação. Talvez o feitiço errado que a transportou para outra época não tivesse apenas rompido o tempo, mas também fragmentado o bloqueio de seus poderes.
Ela sabia que precisava encontrar um equilíbrio antes que causasse mais problemas - ou revelasse sua verdadeira identidade a Eamon.
Deitada na cama, ela olhou para o teto e sussurrou para si mesma:
- Preciso fazê-lo lembrar. Mas, ao mesmo tempo, preciso manter o controle.
O caos do baile ainda estava fresco em sua mente, mas algo mais permanecia ali: o olhar de Eamon, tão próximo, tão familiar, como se por um breve momento ele tivesse reconhecido quem ela realmente era.
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