10. Um Novo Mundo
O limbo começou a se agitar ao redor de Rina e Eamon. O chão translúcido sob seus pés tremia, e as cores vibrantes no céu se intensificaram, girando em um vórtice caótico.
- Rina! - Eamon gritou, segurando sua mão com força.
Ela tentou resistir, mas a energia ao redor parecia determinada a separá-los. Era como se o próprio limbo tivesse vontade própria, empurrando-os em direções opostas.
- Não solta! - ela implorou, mas seus dedos começaram a escorregar.
- Eu não vou te deixar! - ele respondeu, sua voz repleta de desespero.
Porém, antes que pudessem fazer qualquer coisa, tudo ao redor explodiu em luz. Rina sentiu como se estivesse caindo novamente, seu corpo sendo puxado em várias direções ao mesmo tempo, até que tudo se apagou.
Quando abriu os olhos, Rina estava deitada em uma cama simples, em um quarto iluminado pela luz do sol. Seu coração ainda estava acelerado, e sua mente confusa.
- O que... onde estou? - ela murmurou, sentando-se lentamente.
O quarto parecia estranhamente normal. Havia uma escrivaninha cheia de livros, alguns pôsteres de museus na parede, e uma janela aberta que deixava entrar o som de carros passando. Ela piscou, tentando entender onde estava.
Ao se levantar, Rina percebeu que estava vestindo roupas completamente diferentes: um jeans e uma camiseta com o logotipo de uma universidade. Na escrivaninha, havia uma pilha de cadernos e um calendário marcando o mês atual.
- Isso é... - ela começou, mas parou ao ver o reflexo no espelho. Seu cabelo estava preso em um coque bagunçado, e ela parecia exausta, como se tivesse passado a noite estudando.
Ao lado do espelho, havia um crachá pendurado com seu nome e a palavra "História" impressa em letras pequenas.
- Eu sou... uma estudante?
Rina tentou entender o que estava acontecendo. Ela se lembrava do limbo, do feitiço, de Eamon... mas agora, tudo parecia diferente, como se estivesse vivendo outra vida.
Determinada a descobrir mais, Rina saiu do quarto e encontrou um pequeno apartamento bem organizado. Na cozinha, havia uma chaleira elétrica e uma caneca com marcas de café. Ela se perguntou quem havia preparado tudo aquilo, mas logo percebeu que, de alguma forma, essa vida parecia ser sua.
- Isso não faz sentido, - ela sussurrou, saindo para explorar o mundo exterior.
Quando abriu a porta da frente, foi recebida por uma visão completamente nova. Carros passavam pela rua movimentada, pessoas andavam apressadas com celulares nas mãos, e vitrines exibiam roupas modernas e aparelhos tecnológicos que ela não reconhecia.
Rina caminhou sem rumo, tentando processar o que estava vendo. Tudo parecia tão avançado, tão distante de sua realidade anterior.
Ao passar por uma banca de jornais, ela viu a data impressa na capa: 2024.
- Isso só pode ser um sonho, - ela disse a si mesma, mas, no fundo, sabia que não era.
Enquanto explorava a cidade, Rina percebeu que sua memória começava a se ajustar. Era como se partes dessa nova vida estivessem se fundindo com a antiga. Ela sabia que estudava História em uma universidade próxima e que tinha aulas importantes naquele dia.
Mas algo mais a incomodava: onde estava Eamon?
Ela caminhou por horas, observando cada rosto na multidão, na esperança de encontrá-lo. Mas, em vez disso, seus pés a levaram a um lugar inesperado.
Na entrada de um grande parque, um cartaz chamativo anunciava: "Circo das Estrelas - Últimos Dias!". A imagem mostrava um cavalo magnífico em pé nas patas traseiras, com um homem ao seu lado, segurando as rédeas.
Rina parou, seu coração disparando ao reconhecer o homem.
- Eamon...
Sem pensar duas vezes, ela comprou um ingresso e entrou no circo. O ambiente era animado, com crianças rindo, vendedores gritando e luzes brilhantes piscando em todas as direções. Mas Rina não prestou atenção em nada disso. Seu foco estava no centro do picadeiro, onde Eamon apareceria.
Quando ele entrou, montado em um cavalo preto majestoso, Rina quase chorou. Ele parecia diferente, com roupas modernas de domador, mas ainda era o mesmo Eamon que ela conhecia.
O número foi breve, mas impressionante. Eamon conduzia os cavalos com habilidade, fazendo-os realizar truques que arrancavam aplausos da plateia. Rina ficou observando cada movimento, tentando encontrar algum sinal de que ele se lembrava dela.
Quando o espetáculo terminou, ela correu para os bastidores, fingindo ser uma fã.
- Com licença, - ela chamou, parando em frente a Eamon.
Ele olhou para ela, surpreso, mas sem o reconhecimento que ela esperava.
- Posso ajudar?
Rina sentiu o coração afundar. Ele realmente não se lembrava.
- Eu... só queria parabenizá-lo. Você foi incrível.
Eamon sorriu educadamente.
- Obrigado.
Ela queria dizer mais, queria gritar que o conhecia, que haviam vivido tantas coisas juntos. Mas algo a impediu. Talvez fosse o medo de parecer louca, ou talvez fosse a sensação de que ele precisava redescobrir por si mesmo.
Antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa, um homem alto e barbudo apareceu, chamando Eamon para outra tarefa. Ele acenou para Rina antes de se afastar, deixando-a sozinha no corredor dos bastidores.
De volta ao apartamento, Rina sentou-se na cama, abraçando os joelhos enquanto tentava segurar as lágrimas.
- Por que ele não se lembra? - ela perguntou em voz alta.
A resposta parecia óbvia: o feitiço havia feito mais do que transportá-los para uma nova era. Ele havia apagado as memórias de Eamon, deixando-a sozinha com o peso do passado.
Mas, em vez de desistir, Rina decidiu que faria o possível para ajudá-lo a lembrar.
Ela começou a pesquisar tudo o que podia sobre magia naquela nova era, usando bibliotecas, fóruns online e até mesmo livros esotéricos encontrados em livrarias locais. Embora fosse difícil encontrar algo útil, Rina não perdeu a esperança.
Entre seus estudos, ela começou a frequentar o circo, encontrando desculpas para se aproximar de Eamon. Cada encontro parecia trazer uma pequena fagulha de reconhecimento nos olhos dele, mas ainda não era o suficiente.
- Eu não vou desistir, - ela sussurrou para si mesma, determinada.
Rina sabia que essa nova era trazia desafios únicos, mas também oportunidades. E, acima de tudo, sabia que o amor que sentia por Eamon era forte o suficiente para atravessar o tempo e o espaço.
Enquanto isso, uma pergunta permanecia em sua mente: será que o Conselho havia sido transportado junto com eles? Se sim, quanto tempo levaria para que eles voltassem a persegui-los?
Essas dúvidas não a impediriam de lutar, mas adicionavam um peso extra à sua jornada.
Rina respirou fundo, olhando pela janela do apartamento para as luzes da cidade.
- Vamos recomeçar, Eamon, - ela disse baixinho, com uma determinação renovada. - Não importa quanto tempo leve, eu vou fazer você se lembrar.
E, com isso, Rina começou a planejar seus próximos passos, determinada a restaurar o que haviam perdido e a enfrentar os desafios que ainda estavam por vir.
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