Joseph
As férias do meio do ano estão para terminar e eu não fiz nada legal, ou de novo. Meu amigo Júlio sempre me convida para sair, para ir ao shopping, mas nunca aceito, sempre dou uma desculpa qualquer. Sei que se sairmos, a namorada dele irá, a doce, para não dizer outra coisa, Stephani. Essa garota foi capaz de dar em cima de mim na cara de pau, mesmo namorando o meu amigo. Eu não tive reação e nem coragem de contar para ele, embora eu saiba que deveria. Eu vou um dia, espero.
Ficar só lendo livros ou jogando video-game não faz bem para ninguém, meu pai falava sempre isso. Eu sei que era o jeito dele de dizer que se importava. Hoje não seria diferente, sempre que chegava do trabalho, falava a mesma coisa.
— Olá, filho. — Ele acabara de chegar do trabalho. — Ficar só jogando não faz bem. Por que não sai mais com o Júlio?
— Ele está namorando, eu ia ficar de vela!
— Viu, ele está namorando. E você? Tem que sair mais para conhecer as minas. Ainda falam isso, né, filho?
— Falam, pai.
— Deixa o menino em paz! Quando ele conhecer a menina certa, vai saber. Você soube, não foi, Dom Juan? — pergunta a minha mãe chegando da cozinha para receber o meu pai. Isso era comum enquanto eu estava de férias.
— Eu, Dom Juan? Eu era um santo, na minha — fala o meu pai, depois se beijam.
— Ai, credo! Não podem esperar para fazerem isso longe da sala?
— Isso é amor, filho! — minha mãe vem em minha direção e me enche de beijos na bochecha.
— Credo, mãe! — Ela só ri e vai para o quarto com o meu pai.
Meu pai ultimamente anda bem preocupado e cansado, vem trabalhando muito e acha que vai ser demitido, pois o momento da economia anda mal, mesmo para um advogado experiente, as coisas estão difíceis. Eu penso em ajudar, mas não sei bem o que fazer.
Às vezes acho que ler e jogar me faz fugir um pouco da realidade. Não sei por que o meu pai quer que eu arrume uma namorada e que minha mãe diz que vou encontrar a garota certa. Minha ex-namorada era terrível, me fez de bobo e me despedaçou. Namorou só por interesse, queria só ter boas notas e como sou estudioso e bobo, foi a combinação perfeita. Eles querem que eu supere. Fui descartado por ela no dia dos namorados, eu tinha feito uma cesta cheia de guloseimas, coisas que ela gostava, ou achava que gostava.
Já ia fazer um ano desde o término e eu não sei se já estava bem para conhecer uma outra garota. Logo já seria dia 12 de junho. O tempo passou rápido, mas a ferida continua aqui.
— Joseph, vem aqui ajudar a mamãe!
— Preciso mesmo?
— Deixa de ser ingrato e vem ajudar a sua mãe, moleque! — fala o meu pai, rindo.
Levanto-me e vou até a cozinha.
— Muito bem, filho desnaturado, pode ir fazendo o arroz. Já que só quer saber de jogar e ler nessas férias, vai começar a ajudar na cozinha. E sim, seu arroz é o melhor dessa casa, então não reclama — fala a minha mãe.
— Meu Deus, não tenho paz nessa casa — falo, rindo.
— Vocês ficaram sabendo que o namorado da Maria vai se mudar com a família para casa dos Borges que está vazia há algum tempo? — pergunta o meu pai.
— A casa daqui de frente? — pergunto.
— Isso, filho! Acho que devemos ser bons vizinhos e, quando se mudarem, ir fazer uma visita, sei lá, ver se precisam de ajuda com a mudança...
— Uma boa ideia, meu amor!
— Eu acho que já vi o namorado da Maria, como era mesmo o nome dele? Parece ser bem gente boa — falo.
— Eu o vi algumas vezes — fala minha mãe.
— Ah, lembrei! Lucas! E se não me engano ele tem uma irmã mais nova, mas nunca a vi.
— Opa! Ouvi irmã e mais nova junto? — pergunta meu pai, rindo. — Já sabe né, garanhão?
— Não, pai! Pelo amor de Deus, não vou me aproximar da menina com segundas intenções!
— Claro que vai! Você é o meu filho, somos pegadores!
— Você é o que, seu Pablo? — pergunta a minha mãe com a sua cara mais "p" da vida que consegue.
— É isso que você ouviu, somos pegadores! — responde o meu pai. — Sou tanto que tô pegando até hoje uma novinha.
— Meu Deus, será que é pedir muito ter pais normais?
— Eu não estou entendo seu pai, mas já já coloco ele na linha.
— Eita, ficou feio pra mim, filho.
Todos rimos e continuamos fazendo os nossos afazeres na cozinha. Quando terminamos, temos mais uma noite de jantar em família alegre e descontraída.
— Será que os vizinhos se mudam hoje ainda? — pergunto.
— Está no final da tarde, mas ainda podem estar chegando sim, ou chegam amanhã — responde a minha mãe.
— Hum...! Que interesse nos vizinhos. Hum... meu garoto!
— Ai, pai! Você sabe que a irmã mais nova pode ter dez anos, né?
— Mas ela pode ter 17 anos, a mesma idade que a sua, e melhor ainda! Pode estudar na sua escola. É o destino, filhão!
— Só você mesmo, pai! Quer que eu arrume uma namorada mesmo. Capaz de me expulsar de casa se eu namorar dois meses.
— Hum! Até que não seria ruim, eu faria uma oficina no seu quarto. O que acha, mulher?
— Acho que você anda muito engraçadinho.
— E eu acho que devo ir para o meu quarto ler, enquanto ainda tenho um.
Quanto mais meu pai falava de namoradas e vizinhas novas, mais eu me sentia mal por conta da minha ex. Queria cada vez mais estar do jeito que estava, sozinho mesmo. Não queria saber de vizinha nova, se teria a minha idade ou iria estudar na minha escola, isso não me interessava...
Até que veio um pedido da minha mãe que mudou a minha vida.
— Antes de ir para o quarto, filho, faz um favor pra mamãe: tira o lixo.
— Tá bom — falo meio "p" da vida, mas obedeço de boa.
Vou para a cozinha, retiro todo o lixo e saio pela porta dos fundos, para ir em direção a garagem. Como uma família de três pessoas podia produzir tanto lixo? E olha que separávamos o lixo reciclado!
O saco estava grande, pesado e eu desajeitado. Como podia isso? Acho que deveria dar um tempo nos jogos e nos livros, e levantar uns pesos. Vou pensando nisso pelo caminho e abro o portão.
Meus olhos cruzam com os dela, da nova vizinha. Que linda! Menina de altura mediana, deve ter a minha idade, olhos castanhos, intensos, e cabelos compridos castanhos também. Mantenho o meu olhar nela, ainda com o saco de lixo nas mãos e todo torto. Resolvo colocar no chão e me atrapalho todo. Quando olho de novo para ela, dou um sorriso e ela dá um sorrisinho, pequeno, mas o mais lindo que já vi! Como estava linda enquanto segurava uma caixa nas mãos!
Eu entro apressado em casa. Quase tive um infarto! "É, tenho que dar um tempo nos jogos e nos livros", rio deste pensamento.
— Os vizinhos chegaram.
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