Na segunda-feira, o sol já estava alto quando Lucas chegou à escola. Ele caminhava com passos leves, quase como se estivesse flutuando, mas a verdade era que a sensação de calor que ainda sentia desde o domingo com Michael não o deixava pensar em outra coisa.

A manhã começou de forma rotineira: aula de matemática, rabiscos em seu caderno, olhares distraídos para a janela. No entanto, tudo mudou na hora do intervalo.

Lucas foi direto para o pátio, para a árvore que se tornara um ponto de encontro não oficial entre ele e Michael. Ele esperava sentir a mesma calmaria de sempre, mas, ao se aproximar, percebeu que Michael já estava lá. Desta vez, ele não estava sozinho.

Dois amigos de Michael estavam sentados com ele, rindo e falando alto sobre algo que Lucas não conseguiu entender. Por um momento, ele hesitou. Não sabia se deveria se aproximar ou simplesmente dar meia-volta e voltar para a biblioteca, onde poderia se esconder até o fim do intervalo.

Mas então Michael o viu. Seus olhos se encontraram, e Lucas notou um brilho no olhar de Michael que o fez esquecer qualquer dúvida. Michael acenou para ele, convidando-o a se juntar ao grupo.

Lucas respirou fundo e caminhou até eles. Assim que chegou, Michael se levantou e puxou Lucas pelo braço, afastando-o um pouco dos outros dois.

- Ei, o que foi? - perguntou Lucas, surpreso.

- Nada, só achei que você preferiria conversar comigo sozinho - respondeu Michael, com um sorriso que parecia carregado de intenções.

Lucas riu baixinho, mas a tensão no ar era quase palpável.
- E eles? Não vão achar estranho?

Michael deu de ombros.
- Não importa. Eles não precisam entender.

Lucas sentiu um frio na barriga com aquelas palavras, mas não teve tempo de responder. Um dos amigos de Michael os chamou, e ele se virou, respondendo com um tom casual, como se nada tivesse acontecido.

Quando Michael voltou a olhar para Lucas, porém, o sorriso tinha algo diferente.
- Me encontra depois da aula?

Lucas assentiu, sentindo que havia mais por trás daquele convite do que Michael deixava transparecer.

Ele não sabia ao certo o que esperar, mas algo dizia que aquele dia ainda guardava muitas revelações.

Mais tarde, após a aula, Lucas fica na porta da escola. Ele esperava encontrar Michael saindo, mas Michael estava demorando, por um momento Lucas chega a pensar ter levado um bolo, inúmeros motivos para ele ainda não estar ali passaram por sua cabeça.

Notando seu próprio nervosismo, Lucas vai se sentar debaixo de sua árvore. Ele decide beber um pouco de água e esperar Michael com paciência.

Lucas bebe um pouco da água gelada que ainda tinha em sua garrafinha, e pega seu livro. Ele decide que ler o faria esquecer do tempo, e quando Michael chegasse nao pareceria que passaram nada mais que alguns minutos.

Lucas pega novamente o livro pelo qual estava tão encantado, ele continua a leitura da página que havia parado. Ele aproveita que estava sozinho para imaginar ele e Michael no lugar dos personagens principais. E isso torna o livro mil vezes mais interessante.

Lucas acaba chegando na primeira cena quente do livro, e fica feliz por ter lido isso sozinho e não em voz alta para Michael. Seria uma cena constrangedora e ele provavelmente teria que pular, o que seria triste, ele odeia pular cenas dos livros.

Lucas lia aquele capítulo como se estivesse hipnotizado. Ele timidamente olhava ao redor, como se as pessoas ali soubessem o que ele lia, eeu uma dessas espiadas, ele encontra Michael vindo em sua direção.

- O-oi - Lucas fala e fecha o livro com força, sem nem marcar a pagina.

- Desculpe a demora!!

Michael parecia realmente arrependido pelo atraso, mais que isso, sua voz tinha um tom de preocupação.

Lucas apenas sorriu para ele, e se levanta guardando suas coisas.

Michael nota o marca-paginas no chão e o entrega para Lucas, ele acha um pouco estranho que esteja ali perdido, pois Lucas nunca guardava o livro sem marcar onde parou.

Ele olha para Lucas como se tentasse o ler.

Michael nota as orelhas vermelhas de Lucas, e a forma apressada como escondia o livro já mochila.

Ele sabia que Lucas estava escondendo alguma coisa de si.

Michael inclinou levemente a cabeça, como se estivesse prestes a fazer uma provocação, mas hesitou. Ele não queria assustar Lucas ou piorar o desconforto evidente que o rapaz sentia.

- Tudo bem, não vou perguntar o que você estava lendo. - Michael deu um meio sorriso, segurando o riso ao ver Lucas desviar o olhar rapidamente. - Mas parece que era algo... interessante.

Lucas bufou, ainda mais vermelho, e tentou mudar de assunto.
- Então, por que você demorou tanto?

Michael passou a mão pelos cabelos, parecendo um pouco embaraçado.
- Tive que resolver umas coisas com os professores. Nada demais, mas não queria que você ficasse esperando tanto.

Lucas deu de ombros, tentando parecer despreocupado, embora o calor em suas bochechas não colaborasse.
- Não foi tão ruim. Eu estava lendo.

- Ah, é? - Michael arqueou uma sobrancelha, claramente ainda curioso sobre o conteúdo do livro. - Um dia você vai ter que me contar o que te deixou tão focado... ou tão nervoso.

Lucas balançou a cabeça, rindo nervosamente, e começou a andar.
- Vamos logo, antes que você me faça passar mais vergonha.

Michael acompanhou o ritmo dele, mas não perdeu a oportunidade de provocá-lo novamente.
- Você sabe que eu sou curioso. Então, se você não me contar, vou acabar descobrindo de outro jeito.

Lucas lançou-lhe um olhar que pretendia ser irritado, mas que não conseguiu esconder o sorriso.
- E você sabe o que acontece com o cu de curioso?

Os dois seguiram lado a lado até um café próximo à escola. Sentados em uma mesa no canto, com as xícaras de café fumegante entre eles, o clima se tornou mais leve. Lucas finalmente conseguiu relaxar, e os dois começaram a conversar sobre coisas triviais - música, filmes, até mesmo sobre a escola.

Mas, de repente, Michael ficou sério. Ele apoiou o cotovelo na mesa e olhou diretamente para Lucas, os olhos brilhando com algo que Lucas não conseguiu identificar de imediato.

- Sabe, eu nunca imaginei que fosse me sentir assim... - Michael começou, sua voz um pouco mais baixa.

- Assim como? - Lucas perguntou, sentindo o coração acelerar.

Michael hesitou por um momento, mas então deu um sorriso, aquele meio sorriso que Lucas já começava a reconhecer como uma mistura de nervosismo e sinceridade.
- Assim... mais leve, eu acho. Quando estou com você.

Lucas sentiu o estômago revirar, e o mundo pareceu ficar em silêncio ao redor deles. Ele não sabia o que responder, então apenas sorriu de volta, tímido, mas feliz.

Michael parecia satisfeito com a reação de Lucas. Ele ergueu sua xícara em um pequeno brinde improvisado.
- Às coisas que a gente ainda vai descobrir.

Lucas ergueu sua xícara também, o coração ainda batendo forte.
- Às descobertas.

E, naquele momento, enquanto as xícaras se tocavam levemente, Lucas percebeu que talvez, só talvez, ele estivesse começando a entender o que era aquela coisa estranha e bonita que crescia entre eles.

Fim do Capítulo 7