Capítulo 7 - Segredos Ocultos
A noite estava calma, as estrelas brilhando no céu limpo após a chuva intensa que havia cessado. Nos aposentos de Octavian, o silêncio reinava, quebrado apenas pelo estalar da lareira. O banho havia lhe dado algum alívio, mas a paz não durou.
Um representante do governo estadual estava para chegar à mansão. Apesar de ser uma visita rotineira, ela sempre despertava a desconfiança de Octavian. Humanos não eram confiáveis, especialmente aqueles que faziam perguntas demais e escondiam intenções obscuras.
"Lembre-se, você só aceita esses contratos absurdos porque eles cumprem o que você precisa", ele refletiu, apoiando os braços na mesa. "Mas... eles têm medo de mim, então estou na vantagem."
Seus olhos recaíram sobre o contrato à sua frente, mas, ao levantá-lo, revelou outro papel escondido abaixo. Era o desenho que Ágata havia lhe entregado durante a acalorada discussão no escritório. Octavian hesitou. O tom autoritário dela ainda ecoava em sua mente: "Eu procurei entender algo sobre você. Porque eu sei o que é estar na escuridão."
— Ela é tão... irritante — murmurou, afastando o papel, mas a curiosidade o fez voltar. Ele desdobrou o desenho, e a luz bruxuleante da vela quase consumida iluminou os detalhes feitos à mão.
Os traços de lápis preto ganharam vida diante dele, sombreados de forma que pareciam respirar. No centro da ilustração, a pedra Ágata Rosa cintilava com cores vibrantes. Tons de roxo e rosa pintavam o objeto com maestria, como se a própria pedra emanasse uma energia. Ela flutuava na imagem, separada de qualquer forma humana, livre de correntes ou amarras.
"Proteção... Amor incondicional." As palavras emergiram em sua mente como um sussurro. Ele reconheceu a simbologia. "Ela ousa me desafiar? Como se eu precisasse de proteção? Como se eu, um vampiro poderoso, precisasse do conforto de uma simples humana?" A raiva cresceu dentro dele, mas a força para amassar o papel não vinha.
Sua memória o traiu, trazendo de volta os olhos verdes dela. A intensidade com que haviam se encarado no jantar, a firmeza no escritório... Cada detalhe era vívido demais. O aperto em seu estômago tornou-se um misto de desconforto e algo mais, algo carregado de um significado que ele não queria enfrentar.
Ele fitou o desenho mais uma vez, sentindo uma estranha conexão com a pedra Ágata que ela havia representado. Por um instante, uma lembrança perdida surgiu — um quadro antigo que sua mãe pintara, algo semelhante em composição e sentimento. Coincidência? Ou... destino? A ideia o inquietava.
O som de passos interrompeu seus pensamentos. Arlo entrou, chamando-o com a formalidade de sempre. Octavian permaneceu em silêncio, ainda furioso com a desobediência de seu mordomo, mas não expressou a raiva. Apenas se levantou, pegou o contrato e deixou o desenho sobre a mesa. Sem uma palavra, seguiu para o encontro com o representante.
— É um prazer revê-lo, como está esta noite, Sr. V? — O representante perguntou, voltando a se sentar após uma breve reverência.
Octavian permaneceu em sua poltrona, com a postura impecável de sempre. Estavam no escritório, um ambiente carregado de formalidades e tensões veladas. Ele colocou o contrato sobre a mesa, seus dedos tocando a taça vermelha e antiga com uma leveza calculada. Cada gesto parecia medido, pois ele odiava essas visitas indesejadas e aguardava ansiosamente pelo momento em que poderia se retirar, mergulhando no silêncio de seus aposentos. Seu olhar estava fixo na bebida, como se ela fosse a única coisa que pudesse aliviar o tédio.
— O nosso contrato para a atualização das regras da minha propriedade está sobre a mesa. — Sua voz soou sem emoção, os olhos penetrando nas pupilas do homem diante dele.
O representante, cego, se guiava pela bengala luxuosa que carregava, com um diamante prateado no topo. "Ele ainda usa isso, como se a bengala fosse uma ameaça para mim", Octavian pensou, um sorriso irônico se formando em sua mente. A prata, longe de ser fatal, apenas enfraquecia-o. Mas os homens enviados pelos líderes governamentais tinham sempre seus truques, maneiras de se armar com ideias e objetos que poderiam ferir ou até matar um vampiro.
— O Senhor concordou em afastar os lobos da floresta? — O homem perguntou, sua voz carregando uma leve tensão, os olhos brancos fixos em algum ponto à frente, enquanto sua pergunta se elevava em tom.
— Sim. — Octavian respondeu com um tom de indiferença, levantando-se e indo até a janela. Afastou a cortina, revelando os portões que levavam à floresta. — Não que eu deva satisfação alguma a você, mas não quero ver meu nome estampado nas manchetes se algum curioso for atacado pelos meus companheiros lobos.
Na verdade, Octavian já havia afastado os lobos antes mesmo de concordar com o que estava estipulado no contrato. Ele se lembrava nitidamente do momento em que Ágata foi cercada por eles na floresta. Naquele instante, ele estava na biblioteca de sua mansão, perdido em livros, quando de repente sentiu a presença dela, distante, mas forte, nas profundezas da floresta. A conexão entre eles, quase invisível, se tornou palpável, e foi nesse exato momento que ela apertou o colar com força, acreditando que o objeto fosse sua proteção. Algo dentro de Octavian se moveu, como se uma memória esquecida fosse de repente reacendida.
Ele odiou a sensação, pois sempre desejou se livrar da maldição de sua herança vampiresca, mas no fundo, sentir seu poder crescer naquele instante, ampliado pela presença dela, foi algo que ele nunca experimentara antes. Foi diferente de qualquer outra coisa.
O representante afrouxou a gravata vermelha, o suor começando a brotar em sua testa. Seu desconforto era palpável, mas não vinha apenas do calor. O verdadeiro desconforto era a presença de Octavian, o descendente de Drácula, diante dele. Mesmo sem a capacidade de olhar diretamente em seus olhos ou de ser manipulado pela habilidade de controlar mentes que Octavian possuía, porém não era tão poderosa quanto a de Drácula, o simples fato de estar na mesma sala que ele era o suficiente para lembrá-lo da vastidão de poder que emanava do vampiro.
Era uma presença esmagadora, algo que o fazia sentir-se pequeno e irrelevante, como se sua humanidade fosse despojada a cada segundo que passava ali.
— Lamento que precise afastar seus cães de guarda. Quer dizer... lobos... Mas já sabe como as coisas funcionam. Se um Zarveliano fosse ferido, a situação se complicaria. Seu nome não só iria para os jornais, mas também para as redes sociais, e isso nos colocaria em evidência. O mundo inteiro exigiria uma explicação sobre você.
— Permita-me lembrá-lo, representante. Eu concordo com essas negociações porque me convém, não porque temo o que vocês possam fazer. Revelar meu nome ao mundo não seria um problema para mim, mas sim para vocês.
O homem anuiu com a cabeça, o nó na garganta claramente visível. Ajustou o contrato em suas mãos e se preparou para sair do escritório, seu desconforto era nítido.
— Antes de virar as costas para minha mansão... quero pedir algo.
O representante parou ao lado da poltrona, hesitante, sem saber o que esperar.
— Entendo que seus lobos eram importantes para você, mas não sei se conseguirei fazer o que pede, Sr. V. Farei o que estiver ao meu alcance, dentro dos limites das nossas regras.
— Bravele. — Octavian disse com um suspiro firme, ainda de costas para ele. — Homem de 1,76, cabelo loiro, mais curto nas laterais, olhos castanho claro, uma cicatriz pequena na sobrancelha esquerda... e o nome... — Fez uma pausa, sentindo o sangue ferver em suas veias enquanto a lembrança de Ágata, coagida na porta pelo ex noivo, tomava conta de sua mente. — Julian.
O representante engoliu em seco antes de responder, a tensão na voz mais evidente agora.
— O senhor sabe que matar um ser humano é proibido, Sr. V. Será punido por isso.
— Sei muito bem que gostam de me manter sob controle. Mas me matar não é uma opção, porque me utilizam para seus trabalhos sujos. Então, sou eu quem decide se recuo ou não, representante. Quero esse homem, quero as coordenadas dele e todas as informações que conseguir! — Octavian golpeou a mesa com força, o impacto fazendo a superfície rachar de ponta a ponta.
O pensamento de Ágata, naquela noite chuvosa, decadente após ver o desenho que ela fizera para ele, o consumia com uma raiva que queimava suas entranhas. Ele sentia que não merecia nem respirar o mesmo ar que ela. "Aquele insolente vai pagar por me insultar naquela ligação e vai sofrer por fazê-la chor..."
De repente, a porta, que estava fechada, se abriu uma fresta, e Octavian congelou ao escutar batimentos cardíacos apressados vindos do corredor. Não era Arlo — ele reconheceria o ritmo pelo tempo compartilhado na mansão. Era outra pessoa. A única que o desafiava sem medo de ser manipulada por seus poderes. Ágata.
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