Capítulo 18 - Entre o Medo e o Refúgio
Arlo encontrou Octavian na biblioteca da mansão, onde seu senhor tentava se distrair, folheando livros sem realmente ler, enquanto sua mente vagava inquieta, consumida pelo pensamento em Ágata.
Octavian virou-se assim que percebeu o movimento das cortinas vermelhas, agitadas por uma corrente de ar sobrenatural — reflexo do poder de agilidade que ambos compartilhavam. Arlo, embora usasse esse dom com frequência para realizar suas funções de mordomo, diminuía a velocidade quando Ágata estava por perto, para não assustá-la.
— Senhor, Maren Griffin ligou. — A voz de Arlo soou tensa no arco da entrada da biblioteca. Ele parecia prestes a se quebrar a qualquer momento.
Octavian, notando a mudança na postura do mordomo, aproximou-se rapidamente, sua expressão endurecendo.
Arlo coçou a garganta, tentando encontrar forças para transmitir a mensagem sem demonstrar o peso da situação.
— Maren foi breve, mas revelou que Ágata saiu apressada depois de receber uma ligação. Ela não sabe para onde foi, mas percebeu que Ágata não estava bem. — Ele fez uma pausa, encarando Octavian com olhos preocupados. — O senhor acha que isso tem a ver com aquele homem?
Octavian recuou um passo, os maxilares tensos, seus olhos se fixando no vazio enquanto o pensamento em Julian, e o risco que ele representava para Ágata, tomava conta de sua mente.
— Vamos descobrir. — Sua resposta foi fria, mas carregada de uma determinação sombria.
Movendo o pescoço para aliviar a tensão, Octavian sentiu o peso do dia se acumulando. Saber que Ágata havia deixado a mansão sem a proteção de um ser tão poderoso quanto ele o fazia se sentir vulnerável. No fundo, ele sentia uma estranha admiração pela coragem dela, mas também um profundo ressentimento. As discussões que haviam tido enquanto estavam sob o mesmo teto ainda o assombravam. Contudo, preferia ouvir a voz dela cheia de mágoa do que suportar o silêncio que agora o consumia.
— Senhor, o que fará a respeito? Não podemos mais contar com Maren.
Octavian chegou ao seu quarto em um piscar de olhos ao fazer uso de seu poder, vestindo-se rapidamente, decidido a enfrentar o calor abrasante do dia lá fora. "Não devia ter confiado a vida de Ágata a Maren." O pensamento o torturava. "Tenho certeza de que aquele desgraçado está por trás disso, e esta é a minha chance de pegá-lo e fazê-lo pagar por tudo!"
— Arlo... o guarda-chuva. — Sua voz cortou o silêncio, autoritária. — Agora.
As roupas de Octavian — uma camisa de gola alta cinza escura, um sobretudo de veludo preto longo e calças sociais — o tornavam ainda mais misterioso. As luvas de couro negro segurando o guarda-chuva pareciam quase uma ameaça contra qualquer humano imerso em pecados. Ele parecia um anjo da morte, sua pele pálida e olhos gélidos destacando-se como os únicos vestígios de sua humanidade.
— O senhor está se arriscando demais. Sabe que não pode ir à cidade. Existe um contrato que assinou.
Octavian olhou diretamente para Arlo, seus olhos carregados de frieza.
— A única pessoa que pode encontrar aquela humana teimosa sou eu.
Arlo hesitou por um momento, tentando digerir o significado das palavras de seu senhor.
— Então... o senhor memorizou os batimentos cardíacos de Ágata, não é?
— Infelizmente, sim. Não só isso, como também o cheiro enjoativo do perfume de sua pele humana. — Ele disse isso com uma aversão disfarçada, como se sentir o cheiro de Ágata fosse uma afronta, mas, no fundo, tentava se lembrar o máximo possível daquele aroma familiar.
Ambos usaram o poder novamente, chegando à porta da mansão em um instante. Arlo, que havia se preocupado com a vida de Ágata, agora se via dividido. Cuidava de Octavian como a um filho, e vê-lo arriscar-se sob o sol e enfrentar os olhares condenatórios dos habitantes de Zarvela para salvar Ágata desestabilizava sua postura de mordomo impecável. No entanto, havia um sentimento de vitória oculto, ao ver seu senhor finalmente encarando os demônios que o assombravam há tanto tempo.
As sacolas de compras balançavam nas mãos de Ágata enquanto ela caminhava apressada em direção a um hotel. Após se despedir de Maren, tudo o que desejava era um refúgio, um lugar onde pudesse se esconder do medo que a seguia desde a ligação de Casey.
Dobrou a terceira esquina e avistou um hotel modesto. Sem hesitar, atravessou a rua, sentindo o sol escaldante queimando seus cabelos ruivos, e entrou rapidamente.
— Seja muito bem-vinda ao Timothel — disse a recepcionista com um sorriso receptivo. — Parece pequeno do lado de fora, mas garantimos o melhor tratamento aos nossos hóspedes.
— Obrigada — respondeu Ágata, limpando os pés no tapete de boas-vindas.
Ela se aproximou do balcão.
A recepcionista vestia um traje simples: uma camisa branca sob um colete de crochê vermelho. Seus olhos castanhos, curiosos por trás dos óculos, observaram Ágata enquanto puxava uma prancheta da gaveta. Atrás dela, na parede, havia compartimentos com cartas destinadas a cada quarto.
— Eu me chamo Ágata. Gostaria de saber o valor da hospedagem, por favor.
Ela segurou o balcão com força, tentando firmar-se em sua decisão de ficar longe de Octavian. Porém, o toque do celular interrompeu seus pensamentos.
— Alô? Casey, já disse que estou bem.
— Vai ficar ainda melhor quando me ver, meu amor — soou uma voz ácida do outro lado da linha.
Ágata olhou para a tela do celular. "Não atenda em hipótese alguma." O nome salvo fazia jus ao que sentia naquele momento: uma mistura de medo e repulsa.
— Julian... por que está me ligando? E não me chame de "meu amor". Nós não temos nada. Nosso noivado acabou.
— Para você apenas — a respiração dele do outro lado da linha estava ofegante, e o chiado entregava a raiva que ele tentava esconder. — Agora me escuta, minha pedra preciosa... Eu sei que tem um caso com outro cara, mas eu não vou permitir que me deixe... Eu ainda te amo tanto, Ágata. Você sabe disso, não sabe, meu amor?
— Ama? — Lágrimas se formavam em seus olhos, mas ela piscou várias vezes para contê-las.
— Moça... sinto muito, mas não temos mais quartos individuais disponíveis hoje — disse a recepcionista, folheando papéis na prancheta.
A risada seca de Julian ressoou no telefone.
— Pelo visto está sozinha. — Comentou com certa malícia. — Há poucos hotéis na cidade, não é mesmo? Se quiser pode dormir comigo. — disse Julian, após escutar a recepcionista ao fundo.
— Aonde você está, Julian? — perguntou Ágata, com um nó na garganta e as pernas perdendo a força. Lutava para manter a calma e não parecer covarde.
— Estou... — ele fez uma pausa. — Procurando você...
— Está em Zarvela. Você me rastreou pelo telefone, eu sei disso. Mas não sabe exatamente onde estou.
Ágata saiu do hotel, olhando em volta, as sacolas em suas mãos balançando com cada movimento. O ar parecia mais denso, e o mundo ao seu redor, mais opressor. Precisava encontrar refúgio em outro hotel — e tinha que ser rápido.
— Você quer brincar comigo... É só isso. Não me ama e nem deseja se reconciliar. Acha que sou idiota?
— Shhh... — ele sibilou. — Não fale assim de você. Quero que pense que é forte e corajosa para dar sentido aos meus fetiches — riu.
— Vá para o inferno, seu monstro! — Ágata elevou o tom de voz. — Por que não me deixa em paz... — a voz falhou, quebrada pelo peso do desespero, enquanto lágrimas quentes molhavam suas bochechas. — Eu quero que você morra, Julian. É tudo o que consigo desejar neste exato momento!
— Do jeitinho que o seu pai morreu, meu amor? — ele falou lentamente, com excitação.
O coração de Ágata disparou dolorosamente, pulsando com ira contida. Ela segurava o telefone com tanta força que parecia querer esmagá-lo, como se isso pudesse dar fim ao que sentia por aquele homem que um dia ousou amar. Lembrou-se do pai, do sorriso e do abraço reconfortante que ele tinha, das palavras de afirmação e do conselho que deu a ela quando entregou a pedra para se despedir: "O amor existe, mas não é isso que Julian vem lhe oferecendo, minha filha."
De repente, os olhos verdes de Ágata pararam na esquina.
Havia um homem com uma vestimenta diferente das roupas comuns em Zarvela, segurando um telefone na orelha e olhando fixamente para ela com um sorriso torto nos lábios. O mundo pareceu girar ao seu redor. Era ele, seu pesadelo vivo, Julian.
— Foi mais fácil do que pensei — disse ele ao telefone, sem desviar o olhar. — Você me pertence, Ágata. Não vê?
A dor no peito de Ágata cresceu, tornando-se quase insuportável. Um grito de socorro lutou para sair de sua garganta, mas sua mandíbula estava travada e seus olhos se arregalaram. O ar parecia desaparecer, e cada respiração se transformava em um esforço angustiante. Quando suas pernas cederam, o transe foi abruptamente interrompido.
Foi então, no exato momento em que ela caiu, que uma figura enigmática apareceu. Seu rosto se enterrou no peito do homem à sua frente, e ele a segurou com uma firmeza inesperada, suas mãos fortes sustentando suas costas com uma segurança que ela nunca havia sentido.
Uma onda de adrenalina a percorreu, permitindo-lhe finalmente respirar fundo e fechar os olhos, tentando processar o turbilhão ao seu redor. O cheiro do perfume que invadiu suas narinas era inconfundível. Era ele. O homem a quem ela havia lançado tantas palavras afiadas, aquele que desafiara com seus olhos verdes, curiosos e intensos. A figura que todos temiam, menos ela. E seu nome, que ecoou em sua mente como um sussurro, ressoava tão marcante quanto aqueles olhos que a observavam sem falhar. Ele. Octavian.
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