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Capítulo 12 - Conflitos Internos

Sr. Arlo entrou na sala de jantar com passos firmes, carregando um candelabro cujas velas tremulavam suavemente. Aproximou-se da mesa, inclinando-se para acender o candelabro no centro com a chama de uma das velas já acesas. O movimento era metódico, quase ritualístico, mas não desviou a atenção de Octavian.

Os olhos dele permaneciam fixos em Ágata, esperando que ela respondesse à pergunta feita minutos antes. O olhar intenso parecia penetrar mais fundo do que ela desejava, como se tentasse arrancar sua alma.

Arlo, percebendo a tensão, retirou-se silenciosamente após uma breve reverência, deixando o ambiente imerso em um silêncio desconfortável.

Octavian lutava contra a urgência de invadir a mente de Ágata. Algo que sempre foi natural para ele agora parecia errado, como se ultrapassar aquele limite o expusesse de maneira irreversível. Sentia o peso da culpa por ter violado as regras da mansão e usado algo pessoal de Ágata. Sabia que cometera um erro, mas não se desculparia até que ela reconhecesse sua própria invasão ao território dos Valachius. A floresta.

– Depois do que mostrei a você, o mínimo seria esquecer o seu ex-noivo, pois de qualquer forma, ele será eliminado. – Ele falou, os olhos claros fixos nela enquanto levava o cálice até os lábios.

Ágata permaneceu de pé, imune a qualquer sinal de fraqueza. Seus olhos, distantes, se perderam na janela, onde a fissura deixava o vento passar, fazendo as velas do lustre tremerem, quase apagando a luz. Sentia a pressão ao redor, sabia que o tempo estava se esgotando e que logo tudo voltaria à escuridão.

– Eu estou tentando deixar o passado para trás, mas adivinha? Você teve que atender aquela ligação... qual é o seu problema, Octavian? – Ela fez uma pausa, e o brilho das velas iluminava o decote em "V" do vestido, enquanto sua trança ruiva dominava a cena. – Se Julian está atrás de mim, a culpa é sua.

O verde dos olhos de Ágata fixava-se com intensidade nos azuis gélidos de Octavian, como se quisesse sondar cada pensamento que ele escondia. "Ela quer que eu carregue toda a culpa?" pensou, sentindo um misto de irritação e desconforto crescer dentro de si. "Humanos... por que não se sente aliviada com o que eu disse sobre matá-lo? Julian é um saco vazio, sem alma. Nem o inferno fará festa quando ele morrer". Sentindo o peso de suas próprias emoções, ele levou o cálice aos lábios outra vez, buscando um refúgio temporário no vinho.

Para disfarçar o embaraço e tentar recobrar o controle da situação, Octavian se levantou da cadeira com um movimento fluido. Aproximou-se de Ágata, mantendo uma distância respeitável, e cruzou os braços, sentindo a tensão nos músculos de seu bíceps, que se destacavam sob a camisa de linho cinza. O gesto não era apenas um sinal de poder, mas de contenção, como se ele precisasse manter sua própria fúria sob controle. Seus olhos não saíam de Ágata, e uma aura desafiadora pairava no ar.

– Eu tive... – Começou, sua voz mais alta do que o habitual, o tom impregnado de frustração. – Tive que afastar os meus lobos da minha propriedade por sua causa. Eles eram leais, e estavam aqui para manter humanos irritantes, como você, bem longe. Então, se alguém deve desculpas, esse alguém é você.

Ágata sentiu a raiva ferver dentro de si, e a língua percorreu sua bochecha interna, como se quisesse morder sua própria paciência. Ela estava à beira da exaustão emocional.

– Eu não invadi sua propriedade, – ela disse, cada palavra impregnada com desdém, – não havia placas, nem nada do tipo. Era apenas uma floresta comum. Se você quisesse mesmo manter humanos longe, talvez devesse ter colocado uma placa bem grande com o seguinte recado: "Vampiro sanguinário, fique longe da minha cripta".

"Ela me chamou de monstro e de morto-vivo numa só frase? Mas quanta ousadia..." pensou Octavian, com uma onda de incredulidade envolvendo sua mente. Ele se apoiou na mesa, os dedos pressionando a superfície brilhosa com força, e um sorriso sarcástico surgiu em seus lábios. 

O desdém que sentia era visível em seu olhar, como se o peso das palavras de Ágata fosse apenas uma tempestade passageira, mas a verdade era que ele estava, de fato, surpreso. Surpreso com a ousadia de uma humana que ele havia dado tanto conforto, que ele tinha cuidado de maneira que, no fundo, nem mesmo ele entenderia completamente.

  – Sabe, Ágata... – Ele começou, a voz dele baixa, sem espinhos dessa vez. – Eu li o seu pensamento aquele dia, quando você quase foi embora. Você desejava proteção, não é? Também pensou que eu... – Ele hesitou por um momento, um nó se formando na garganta. No entanto, ele conseguiu manter a compostura, ignorando o desconforto que essa verdade lhe causava. – Mas eu só preciso de uma coisa, do sangue daquele miserável!

Ele estava olhando em frente, mas, ao terminar a frase, seus olhos se voltaram para ela, penetrantes e intensos.

Ágata, no entanto, não recuou.

– Eu sei do que eu preciso, Octavian. – A voz dela se elevou, um fio de amargor cortando cada palavra. – E não é de um homem que entre na minha mente para descobrir fraquezas, tampouco de outro que esteja obcecado em me manter na própria vida patética.

Ágata deu um passo para trás, afastando-se de Octavian. Ele sentiu um frio intenso e doloroso ao ouvir suas palavras. Não queria mais discutir, só queria que Julian pagasse por tudo.

Sem mais, Ágata deu de ombros e se dirigiu para a porta, deixando Octavian sozinho, imerso na tensão que ela havia deixado no ar.

Octavian pensou que se sentiria vitorioso ao vê-la fragilizada, mas, ao contrário, a sensação o atingiu como na discussão no escritório. Não havia triunfo, apenas o peso da solidão. Mas essa era diferente, amarga, mais cruel do que a que carregava por séculos.

– Você tinha que dar aquele vestido a ela, Arlo?! – Octavian fechou o livro com um gesto irritado, largando-o sobre a mesa de centro. – Agora nem consigo elaborar respostas mais duras... Olha só o que fez. Sabe de quem era aquele vestido!

Arlo se aproximou calmamente, enchendo o cálice com a habitual mistura de sangue e vinho.

– Não creio que tenha sido o vestido a causa de sua contenção, senhor. – Respondeu, dando dois passos para trás e segurando a garrafa com compostura.

Octavian lançou ao mordomo um olhar frio e carregado, mas logo desviou, afundando nos próprios pensamentos. Ele revivia cada frase mordaz que Ágata havia proferido durante suas discussões, mas o que realmente o enfurecia era algo mais profundo: a insistência dela em querer poupar Julian da morte. Palavras ácidas ele podia relevar; já ouvira muitas de humanos hipócritas ao longo dos séculos. Mas a ideia de misericórdia por alguém tão vil o corroía.

– O senhor deveria ser mais maleável. Ágata não quer realmente ir embora, ela apenas se sente incompreendida. Como uma voz que ninguém escuta.

– Agora está defendendo ela? Você ouviu o que ela disse sobre mim, Arlo?

A sala de reuniões era o refúgio de Octavian. Ali, ele podia se abrir com Arlo enquanto se afundava na bebida, sabendo que jamais sentiria os efeitos do álcool devido à sua natureza imortal.

– Como sabe que é isso que ela sente, Arlo? Por acaso invadiu a mente dela alguma vez?

– Não precisei fazer isso, senhor. Ágata permaneceu porque quis. Ela é curiosa e corajosa, tem uma sede insaciável por conhecimento.

Octavian soltou um suspiro longo e reclinou-se na cadeira, cruzando os dedos.

– Isso não quer dizer que você não tenha ajudado. Sei muito bem que a manteve aqui no primeiro dia porque achava que ela poderia me afastar das trevas. Mas essa humana... – Ele fez uma pausa, olhando fixamente para a mesa. – Ela não só me irrita. Ela fica na minha cabeça como se tivesse o mesmo poder que eu!

Arlo, imperturbável, aproximou-se mais um passo, sua voz soando mais firme.

– É melhor que ela ocupe sua mente assombrando-lhe do que aquele pensamento suicida de querer estar com seus pais novamente.

O peso das palavras do mordomo caiu sobre a sala. Octavian levantou os olhos para Arlo, surpreso com a franqueza. Ele viu algo raro: genuína preocupação. Por mais que não admitisse, Arlo conhecia suas sombras como ninguém.

– Entendo sua fúria, senhor, mas foi o senhor quem ordenou que eu acomodasse Ágata e garantisse sua segurança – disse Arlo, com a calma que sempre carregava. – Vi nisso uma oportunidade de tirá-lo do estado depressivo em que estava. Admito, foi um risco. Mas confesso que fiquei surpreso quando decidiu salvá-la aquela noite. Até afastou seus lobos da floresta, algo que jamais imaginei que faria.

– Eu... – Octavian começou, a justificativa soando hesitante. – Afastei os lobos por causa do contrato com o estado, você sabe disso. Está sempre escutando minhas negociações.

Arlo arqueou levemente uma sobrancelha, como quem dissesse que não comprava aquela desculpa.

– Senhor, sabe que isso não é verdade. Eu estava lá naquela noite, vi como lidou com os lobos. Fez isso por Ágata, o senhor confessou a ela.

Octavian bufou, afastando o olhar. "O fato escapou de meus lábios no calor do momento. Revelei mais do que eu deveria."

– Quer que eu diga que me importo com aquela... – Sua voz era fria, cortante, mas o peso em seu coração contradizia o tom.

Ele se levantou de repente, pegou a garrafa das mãos de Arlo e seu cálice e se sentou à mesa. Apoiado sobre os cotovelos, pressionou os dedos cruzados contra a testa, como se pudesse impedir os pensamentos que o consumiam.

"Não posso contar a ele sobre a conexão que senti com Ágata. Foi... estranho. Algo fora do comum. Mas desde que ela chegou, meu poder tem ficado mais forte. Estou perdendo o controle... estou enlouquecendo."

O silêncio caiu sobre a sala, quebrado apenas pelo suave crepitar das velas do lustre. Arlo permaneceu de pé, observando Octavian em silêncio, como se esperasse que ele finalmente admitisse o que tanto negava a si mesmo.

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