Prólogo
Os freios da velha picape rangeram, o cascalho deslizou sobre as rodas, produzindo um barulho crocante, ela fez uma careta, seu irmão já deveria ter mandado consertar aquelas porcarias de pastilhas de freios.
A fachada da cafeteria estava na frente deles, um pequeno prédio branco de dois andares com um toldo vermelho e branco sobre a porta, a pintura era velha, estava descascando aqui e ali, e tinha lodo se multiplicando próximo ao telhado, onde a chuva havia deixado sua marca.
— Você tem cinco minutos — ele disse.
Ela se virou e lhe lançou um olhar fulminante, ele lhe devolveu o olhar com indiferença, usava uma velha jaqueta preta que ela uma vez tentara jogar fora, o cabelo escuro que com certeza não havia sido penteado de manhã, agora lhe caía sobre os olhos.
Ela abriu a boca para dizer "Você está pensando que é quem?!", mas não disse nada, odiava admitir, mas ele tinha razão. Eles tinham pouco tempo.
Ela abriu a porta e saltou para fora, batendo para fecha-la, depois chutou o pneu da frente, só para expressar o que pensava, ela se virou, sorrindo satisfeita ao imaginar o irmão mostrando o dedo do meio para ela pelo retrovisor, coisa que ele provavelmente estava fazendo agora.
Ela caminhou até a porta de vidro com moldura em madeira branca da cafeteria e a empurrou, o pequeno sino de cobre no topo tilintou, anunciando a chegada da nova cliente.
O ambiente era quente e aconchegante, o papel de parede era em tons de salmão, amarelo e rosa claro, havia também o cheiro de café, tortas, bolos e diversos aromas humanos, naturais e artificiais. Algumas pessoas estavam sentadas nas pequenas mesas redondas, conversando, rindo de uma piada particularmente engraçada, ou comendo a comida que haviam pedido alegremente, havia um casal se beijando em uma mesa no canto e uma garota atrás do balcão com cara de quem cuspia no café dos clientes chatos. Meigo.
Ela franziu o nariz, se encaminhando para a fila que se formava na frente do balcão para fazer o pedido, quando alguém esbarrou em seu ombro esquerdo.
— Ei! Olha por onde anda, idiota!
O garoto se virou para ela com desinteresse, ele tinha olhos cinzentos e um cabelo loiro escuro ondulado, era um garoto bonito, mas havia um enorme hematoma roxo sobre a maça do rosto bem definida, logo abaixo do olho esquerdo, que tirava a atenção de sua beleza. Tinha uma expressão serena e uma postura cautelosa, mas os seus olhos o traiam, revelando uma tempestade em seu interior.
O cheiro dele invadiu suas narinas e ela congelou. Pólvora, ervas e metal. Ele era um Caçador.
— Me desculpe — ele disse, então se virou e saiu, ela relaxou um pouco, mas então se lembrou do irmão gêmeo na picape do lado de fora, ela correu até a porta e espiou pelo vidro.
O garoto loiro encarava seu irmão enquanto andava, seria possível que ele soubesse?, ela o observou, não havia sinal de reconhecimento no rosto dele, ainda assim ele olhava com intensidade para o garoto da picape, que inclinou a cabeça levemente para observa-lo também, a mente dela trabalhava a mil, talvez ele desconfiasse, mas não poderia fazer nada agora, não ali.
O garoto seguiu em frente, carregando um pacote de papel pardo, ela suspirou aliviada, então saiu em disparada para fora, entrou correndo na caminhonete e bateu a porta, seu irmão fez uma careta, prestes a dar uma bronca nela sobre "não bater a porta do meu bebê em hipótese alguma."
— Talvez não tenha sido uma boa ideia vir até aqui.
Ela não precisou explicar o porque, ele sabia muito bem do que ela estava falando, ele deu a partida no carro e eles arrancaram dali, aquela não era mais uma área segura.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro