O silêncio que fala.
O dia começou tranquilo, mas uma sensação de ansiedade pairava no ar.
Eu sabia que essa noite seria diferente quando Maya me convidou para vê-la dançar, uma onda de emoções conflitantes me invadiu.
Já havia assistido a sua apresentação uma vez, mas agora, com a conexão que havíamos formado, a ideia de vê-la em um ambiente tão íntimo e revelador me deixava nervosa.
Enquanto me preparava, olhei-me no espelho.
O vestido que escolhi era justo e elegante, adequado para a ocasião, mas não muito chamativo.
Eu precisava me misturar, me fazer de invisível, apesar de estar prestes a ver uma das dançarinas mais cativantes de Miami.
Meu coração batia acelerado, e não era apenas pela expectativa de ver Maya dançar, era pela percepção de que cada movimento dela poderia me revelar mais sobre ela e sobre o mundo que eu estava investigando.
***
Assim que cheguei à boate, a atmosfera era vibrante, cheia de luzes neon e uma música pulsante que reverberava nas paredes.
O local estava repleto de pessoas, todas ansiosas para ver o espetáculo que estava prestes a começar.
Eu me dirigi ao bar, pedindo um drink discreto enquanto esperava por Maya.
O cheiro do álcool misturado com o perfume das pessoas ao meu redor criava uma sensação de euforia, mas também de desorientação.
Finalmente, a música mudou, e as luzes se apagaram, deixando o palco iluminado.
O público ficou em silêncio, e eu senti meu coração acelerar.
Maya apareceu, deslizando para a frente, uma visão que já havia me fascinado antes, mas que agora parecia mais intensa.
Sua confiança era palpável, e a maneira como ela se movia era hipnotizante.
Cada passo, cada gesto, contava uma história que eu estava prestes a descobrir.
Enquanto ela dançava, não pude deixar de notar a dualidade que existia nela.
Por um lado, havia a jovem cheia de vida, que se destacava em meio à multidão, por outro, havia uma vulnerabilidade que escapava entre os movimentos, como se ela estivesse se despindo não apenas de roupas, mas de camadas de uma identidade que a cercava.
E ali estava eu, uma agente da Cia, prestes a desvendar os segredos que poderiam estar escondidos sob essa superfície brilhante.
Quando Maya terminou sua apresentação, o público foi à loucura, os aplausos ecoaram pela boate, e ela respondeu com um sorriso enigmático e uma breve reverência.
Eu no entanto, não conseguia me mover, meu olhar ainda estava fixo no palco vazio, onde minutos antes ela havia dançado com uma intensidade quase sobrenatural.
Não era apenas sua habilidade ou sua beleza, havia algo mais, algo que me fazia questionar até onde eu estava disposta a ir nessa missão.
Respirei fundo, tentando me recompor, eu precisava de foco precisava lembrar que estava ali por um motivo maior do que ela ou qualquer conexão que estivéssemos formando.
Era fácil esquecer disso quando estava perto de Maya, ela tinha uma maneira única de me desarmar, de me fazer esquecer quem eu realmente era, Beatriz Moss,e não Bianca Marques com quem ela achava que tinha feito amizade.
- Bianca! - Ouvi a voz dela antes mesmo de vê-la.
Maya estava caminhando em minha direção, ainda no vestido justo que usara no palco, mas agora com um casaco jogado displicentemente sobre os ombros.
Seu sorriso era radiante, mas seus olhos estavam atentos, avaliando minha reação.
- Você estava incrível, Maya. - Minha voz saiu mais controlada do que eu esperava.
Parte de mim queria elogiá-la sem reservas, mas outra parte sabia que precisava manter alguma distância.
Ela riu, jogando os cabelos para trás.
-Não me diga que ficou tímida de novo, achei que já estivesse acostumada comigo.
Era uma provocação, como sempre, Maya adorava me testar, empurrar meus limites e se eu não tomasse cuidado, ela acabaria descobrindo mais do que eu poderia permitir.
- Difícil se acostumar com você - Respondi, tentando manter o tom leve. - Você tem um jeito de... surpreender.
- Surpreender? - Ela inclinou a cabeça, como se estivesse tentando decifrar o que eu queria dizer, então, pegou minha mão e puxou-me em direção ao bar.
- Venha Bianca, você precisa de um drink, está muito séria hoje.
Enquanto caminhávamos entre a multidão, minha mente trabalhava a mil por hora.
A confiança de Maya, sua facilidade em controlar a atenção das pessoas ao seu redor... Tudo isso fazia dela um mistério ainda maior.
No bar, Maya pediu dois coquetéis sem sequer consultar o cardápio.
Eu a observei de perto enquanto ela conversava com o barman, brincando com ele como se fossem velhos amigos.
Ela tinha essa habilidade de fazer as pessoas se sentirem especiais, como se cada interação fosse única.
Era um talento perigoso, mas, naquele momento, parecia tão genuíno que quase me esqueci do motivo pelo qual eu estava ali.
Quando os drinks chegaram, ela me entregou um copo e ergueu o dela. - Um brinde à noite, Bianca.
-À noite - Repeti, tocando meu copo no dela, mas, enquanto bebia, não conseguia evitar a sensação de que havia mais acontecendo naquela noite do que eu estava percebendo.
***
Depois de algumas horas, a boate começou a esvaziar, Maya parecia relaxada, rindo de algo que eu havia dito, embora eu não conseguisse lembrar exatamente o quê.
A cada minuto que passava, eu sentia o peso da situação aumentar, não era apenas a missão, era ela Maya tinha uma maneira de me puxar para o mundo dela, de me fazer esquecer de tudo o que estava em jogo.
- Vamos sair daqui - Ela disse de repente, colocando sua mão sobre a minha. - Conheço um lugar perfeito para terminar a noite.
Hesitei por um momento, mas acabei assentindo.
- Certo, onde vamos?
Ela sorriu, mas não respondeu, apenas puxou-me pela mão e me levou para fora da boate.
Do lado de fora, o ar fresco da noite me atingiu, trazendo uma clareza momentânea, era quase fácil esquecer que eu estava jogando um jogo perigoso, mas a brisa noturna me lembrou de quem eu era, de quem eu precisava ser.
Entramos no carro dela, um luxuoso esportivo que destoava completamente do ambiente simples da boate, e dirigimos em silêncio pelas ruas de Miami.
A cidade parecia mágica à noite, com suas luzes brilhando como joias contra o céu escuro.
Maya não disse para onde estávamos indo, e eu não perguntei, as vezes ela gostava de guardar surpresas, e eu tinha aprendido a jogar junto.
Depois de alguns minutos, ela estacionou em frente a um prédio antigo, mas bem preservado, no centro da cidade.
- Este é meu refúgio - Ela explicou, saindo do carro. - Um lugar onde ninguém me encontra, e para onde eu venho quando eu não fico a noite na piscina ou dançando na boate.
Segui-a para dentro do prédio, subindo três lances de escadas até chegarmos a um apartamento pequeno, mas extremamente aconchegante.
Era um contraste completo com a mansão onde ela vivia com o pai.
As paredes eram cobertas de fotografias em preto e branco, e o cheiro de incenso preenchia o ar.
-Este lugar é... lindo. - Minha voz soou quase reverente.
- Eu sei - Maya jogou o casaco em uma cadeira e se jogou no sofá, gesticulando para que eu me sentasse ao lado dela. - Aqui, sou apenas eu, sem o peso de ser "Maya Danvis".
-De que lugar você gosta mais, a boate, a piscina ou aqui? - Perguntei, sentando-me ao seu lado.
Ela ficou em silêncio por um momento, olhando para as fotografias na parede.
-Acho que a boate, a dança com certeza foi o meu maior refúgio.
Maya se virou para mim, seus olhos escuros brilhando à luz suave do abajur. - E você, Bianca? De que lugar você gosta mais?
- Aqui. - Confessei quase sem pensar. - Toda aquela música na boate, e as pessoas na piscina é legal, mas nada melhor do que a calmaria de ficar sozinha
Ela sorriu, um sorriso pequeno, mas cheio de compreensão.
- A calmaria daqui é incrível.
Ficamos em silêncio depois disso, apenas olhando uma para a outra, era um silêncio confortável, mas também carregado de algo que eu não conseguia nomear.
Algo que me fazia questionar tudo o que eu sabia sobre essa missão e sobre mim mesma.
E, enquanto a noite avançava, uma coisa se tornou clara, quanto mais eu me aproximava de Maya, mais difícil seria cumprir minha missão.
E, no fundo, eu já sabia que, quando tudo isso acabasse, nenhuma de nós sairia ilesa.
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