A mansão dos segredos.
A brisa fresca da noite me acompanhava enquanto caminhava em direção à mansão que eu chamava de lar temporário.
As palmeiras balançavam suavemente sob a luz da lua, e eu não pude deixar de me sentir um pouco deslocada entre aquelas construções imponentes que se erguiam ao meu redor.
As mansões de Miami eram um espetáculo à parte, símbolos de riqueza e poder, e eu estava prestes a me infiltrar em uma delas, embora Maya Danvis não soubesse disso.
A conexão que havia começado a se formar entre nós estava me deixando em conflito.
Maya era uma jovem cheia de vida, ainda que presa sob o peso das expectativas de seu pai.
Eu sabia que, por trás daquele sorriso brilhante, havia uma luta interna, e isso tornava minha missão ainda mais complicada.
Como agente da Cia, meu trabalho era desmantelar a rede de corrupção que cercava Victor Danvis, mas a amizade que estava nascendo entre mim e sua filha complicava tudo.
Assim que cheguei à mansão, deixei a porta se fechar suavemente atrás de mim, mergulhando em um silêncio acolhedor.
O interior era luxuoso, repleto de móveis de design e obras de arte que faziam qualquer um se sentir pequeno diante de tanta ostentação.
Mas eu não estava ali para contemplar a beleza do lugar.
Cada canto daquela casa era um lembrete do que eu tinha que fazer, e a determinação começou a se formar em meu peito.
Despejei meu casaco em uma cadeira e caminhei até a janela, observando a cidade se iluminar sob a luz da lua.
Miami era um lugar fascinante, mas também perigoso.
Eu tinha que estar atenta, pois a missão que me aguardava era mais complexa do que eu havia imaginado.
A vida de Maya entre os excessos e as festas era apenas a superfície de algo muito mais profundo e sombrio.
A missão exigia que eu mantivesse a compostura e a determinação.
A conexão que tinha feito com Maya me dava acesso ao mundo dela, mas também me deixava vulnerável.
O que eu sentia por ela era genoíno, mas eu não podia me esquecer de que meu objetivo era descobrir os segredos de Victor Danvis.
A linha entre amizade e manipulação era fina e estava cada vez mais difícil de distinguir.
Acordei cedo na manhã seguinte, o sol entrando pela janela e iluminando o quarto.
Me preparei rapidamente, colocando meu traje de agente sob a aparência de uma profissional que poderia se misturar à elite de Miami.
Olhei-me no espelho, verificando se cada detalhe estava perfeito.
A imagem que eu projetava precisava ser impecável.
Eu não poderia levantar suspeitas.
Assim que saí de casa, dirigi-me para a agência da Cia.
O caminho até lá era uma viagem rápida, mas meu coração estava acelerado.
Havia uma mistura de ansiedade e excitação em meu peito.
Ao chegar, fui saudada por familiaridade.
A agência era um lugar onde eu me sentia em casa, cercada por pessoas que compartilhavam o mesmo objetivo que eu.
A atmosfera era eletricamente carregada, e eu sabia que tinha que me preparar para as reuniões que viriam a seguir.
Entrei na sala de operações, onde vários agentes estavam dispersos, discutindo estratégias e analisando dados.
O diretor da missão, um homem de olhar penetrante chamado James, estava sentado à cabeceira da mesa, revisando relatórios.
Ele levantou os olhos ao me ver entrar e fez um gesto para que eu me aproximasse.
- Beatriz, bom te ver. - Ele disse, sua voz firme e autoritária. - Precisamos discutir suas interações com Maya Danvis.
Senti um frio na barriga.
O que eu disse a Maya na noite anterior estava pesando em minha mente.
A conexão que estávamos formando poderia ser um risco, mas eu sabia que precisava usá-la a meu favor.
- A missão exige que você se aprofunde nesse relacionamento, mas precisamos que você mantenha o foco. - James continuou, analisando meu rosto em busca de qualquer sinal de hesitação. - Victor Danvis é um homem perigoso, e você deve se proteger.
- Entendo, James. - Respondi, tentando manter a confiança em minha voz. - Estou ciente dos riscos e estou comprometida em descobrir a verdade.
Ele assentiu, mas eu percebi que ainda havia uma preocupação em seus olhos.
A missão era delicada, e havia muita pressão sobre mim.
Eu precisava ser rápida e eficiente, mas ao mesmo tempo não podia me deixar levar pela amizade que estava se formando com Maya.
- Temos informações sobre algumas transações suspeitas de Victor. - Jamais começou a explicar. - Precisamos que você busque mais informações diretamente de Maya, o conhecimento dela pode ser crucial.
Aquelas palavras ressoaram dentro de mim, eu tinha que ser cuidadosa, pois estava navegando em águas traiçoeiras.
A ideia de explorar mais sobre a vida de Maya e, ao mesmo tempo, manipulá-la para conseguir as informações que precisava me deixou inquieta.
- Vou manter a linha entre amizade e investigação bem delimitada. - Eu disse, tentando demonstrar minha determinação.
- Ótimo. - James disse, sua expressão suavizando um pouco. - Lembre-se, Beatriz, você não está sozinha nessa, estamos aqui para te apoiar.
Assim que a reunião terminou, voltei ao meu espaço, refletindo sobre os próximos passos.
A conexão com Maya era uma oportunidade, mas ela também era um risco.
A vida de Victor era um labirinto de segredos e mentiras, e eu precisava ter cuidado para não me perder.
Ao longo do dia, as interações com outros agentes me mantiveram ocupada.
Mas minha mente estava sempre voltando para Maya.
A noite anterior havia sido um divisor de águas em nossa relação, e eu sabia que não poderia simplesmente ignorar o que havia se desenvolvido entre nós.
***
Quando finalmente deixei a agência, o sol estava se pondo, lançando um brilho dourado sobre a cidade.
O calor de Miami era intenso, e eu sabia que a noite estava prestes a começar novamente.
A boate que frequentei com Maya ainda ecoava em minha mente, e a ideia de vê-la novamente trazia um misto de expectativa e ansiedade.
Dirigi-me para a mansão de Maya, uma maneira de me aproximar mais do que eu precisava descobrir.
Ao chegar, percebi que a vida dela estava em contraste com a minha.
A música alta e as luzes brilhantes eram uma fuga, e a ideia de que eu poderia fazer parte disso me deixava intrigada.
A porta se abriu, e eu fui recebida por Maya, seu sorriso iluminando o ambiente.
O calor da sua presença era inegável, e eu me deixei levar pela energia vibrante que ela exalava.
- Você veio! - ela exclamou, puxando-me para dentro. - Estou tão feliz em te ver novamente!
Assim que entrei na casa de Maya, fui envolvida pelo som abafado da música que vinha de uma das salas maiores.
A mansão parecia ter vida própria, pulsando com risos, conversas animadas e passos apressados de garçons carregando bandejas de drinques.
Maya era o epicentro de tudo isso, e enquanto ela me guiava pelo corredor iluminado por lustres exuberantes, percebi o quanto ela parecia em casa naquele caos controlado.
Ela parou por um momento, se virando para mim com aquele sorriso que desarma qualquer um.
Eu sorri de volta, tentando manter a postura descontraída que vinha praticando há semanas.
Afinal, para Maya, eu era apenas Biaca, uma amiga recente, alguém em quem ela podia confiar.
Mas a verdade era bem mais complicada, e cada palavra dela, cada gesto, fazia minha consciência pesar um pouco mais.
- Eu precisava de uma pausa - Respondi, deixando meu tom casual. - Você tem esse jeito de fazer as coisas parecerem mais leves.
Maya riu, segurando meu braço enquanto continuávamos a caminhar.
A mão dela estava quente, e o toque, tão simples quanto foi, me fez lembrar do quanto eu estava me afastando do meu propósito.
A conexão entre nós era real, mas eu precisava me lembrar do que estava em jogo.
Victor Danvis não era apenas um pai amoroso com uma filha carismática.
Ele era o alvo, e cada passo que eu dava em direção a Maya era uma aproximação do perigo.
Quando entramos na sala principal, os convidados estavam espalhados por sofás de couro branco e cadeiras elegantes, bebendo coquetéis que custavam provavelmente o mesmo que meu aluguel em Washington.
A música era uma mistura pulsante de house e eletrônica, e a vibração do som fazia o chão tremer sob meus pés.
-Vem, quero te apresentar algumas pessoas. - Maya me puxou pelo braço, me levando para um grupo que parecia tão exclusivo quanto inacessível.
Respirei fundo e deixei que ela me guiasse.
Não era minha primeira vez infiltrando-me em um ambiente como aquele, mas algo em Maya fazia com que todo o cenário parecesse diferente.
Ela tinha uma maneira única de fazer qualquer um se sentir confortável, como se fosse impossível ser deslocado quando estava ao lado dela.
O grupo nos recebeu com sorrisos educados e olhares curiosos.
Um homem alto, de cabelos grisalhos e ternos perfeitamente ajustados, estendeu a mão para mim.
- Você deve ser Bianca - Ele disse, sua voz carregada de uma formalidade que soava quase intimidante. - Maya falou de você.
Eu sorri, apertando a mão dele.
O toque firme indicava que ele não era apenas mais um convidado.
Havia algo nele que me fez ficar alerta.
-E você é...? - Perguntei, mantendo meu tom leve enquanto buscava informações em cada detalhe da expressão dele.
-Christopher Raines - Ele respondeu, seu sorriso polido. - Um velho amigo da família Danvis.
O nome imediatamente acendeu um alarme na minha mente.
Christopher Raines não era um nome desconhecido nos arquivos da agência.
Ele era conhecido por estar ligado a várias operações de lavagem de dinheiro no Caribe, todas conectadas de alguma forma à rede de Victor.
Encontrei o olhar de Maya por um breve momento, tentando disfarçar meu desconforto.
-Chris é como um tio para mim - Maya explicou, segurando meu braço com mais força, como se quisesse garantir que eu me sentisse incluída na conversa. - Ele sempre esteve por perto, principalmente depois que minha mãe faleceu.
O sorriso de Christopher não vacilou, mas havia algo nos olhos dele que me fez querer manter a guarda alta.
Ele me estudava, assim como eu o estudava, e senti que, de alguma forma, ele sabia que eu não era exatamente o que parecia ser.
A conversa seguiu de maneira superficial, cheia de elogios trocados e comentários vagos sobre a festa.
Enquanto isso, eu tentava absorver o máximo possível, cada palavra dita por Christopher, cada detalhe do ambiente, poderia ser uma peça no quebra-cabeça que eu precisava resolver.
Maya, no entanto, parecia alheia a tudo isso.
Ela estava relaxada, animada, como se aquela noite fosse apenas mais uma em sua rotina de excessos.
Mas eu sabia que havia mais sob a superfície, havia sempre mais.
Depois de alguns minutos, Maya me puxou para longe do grupo, levando-me até um canto mais tranquilo da casa, onde um pequeno jardim interno estava iluminado por luzes suaves.
Ela se sentou em um dos bancos e me olhou de forma tão intensa que senti meu coração acelerar.
-Você está quieta hoje - Ela disse, inclinando a cabeça. - O que está acontecendo?
Sentei ao lado dela, tentando organizar meus pensamentos.
Parte de mim queria dizer a verdade, confessar que eu não era quem ela pensava que eu era, mas a outra parte sabia que isso destruiria tudo o que eu estava tentando construir.
-Só... tentando absorver tudo - Respondi, finalmente. - Você tem uma vida tão diferente da minha, as vezes me sinto um pouco fora do lugar.
Ela sorriu, mas havia uma melancolia em seu olhar que me pegou de surpresa.
-Não se engane, Bia. - Ela suspirou, olhando para as mãos. - Essa vida pode parecer perfeita, mas é como uma gaiola dourada, você acha que está vivendo, mas está presa o tempo todo.
As palavras dela me atingiram de uma maneira que eu não esperava.
Era como se ela estivesse tentando me dizer algo mais profundo, algo que ela não podia verbalizar completamente.
-Maya... você está bem? - Perguntei, tentando esconder a preocupação genuína em minha voz.
Ela me olhou, e por um momento, parecia que ia se abrir.
Mas então, como se lembrasse de onde estava, ela sorriu novamente, aquela máscara de confiança voltando rapidamente.
-Estou bem, só preciso de mais um drinque. -Ela se levantou, puxando-me pela mão. -Vamos, a noite está só começando.
Eu a segui, mesmo com a mente cheia de perguntas.
Algo em mim sabia que Maya estava mais envolvida nos negócios do pai do que ela admitia, mesmo que fosse de maneira inconsciente.
E eu precisava descobrir exatamente o que ela sabia.
A festa continuou, mas minha atenção estava dividida.
Fiquei de olho em Christopher e em outros convidados que pareciam ter mais interesse nos bastidores da mansão do que na festa em si.
Em algum momento, vi Victor Danvis surgir, sua presença imponente dominando o ambiente.
Ele trocou poucas palavras com alguns homens antes de desaparecer novamente, mas a breve interação foi suficiente para me deixar em alerta.
Quando a festa começou a diminuir, Maya insistiu para que eu ficasse um pouco mais.
Ela parecia cansada, mas determinada a prolongar a noite.
Sentamos em um sofá próximo à piscina, e pela primeira vez em horas, a mansão estava silenciosa.
-Obrigada por ter vindo, Bia - Ela disse, sua voz baixa. - É bom ter alguém por perto que não faz parte desse mundo... pelo menos, não completamente.
***
As palavras dela ficaram comigo enquanto eu me despedia e voltava para minha própria "casa".
A linha entre o dever e os sentimentos estava ficando cada vez mais tênue, e eu sabia que estava chegando perto de algo importante, talvez até perigoso.
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