Capítulo - 32
Há atitudes que podem ser compreendidas e até mesmo perdoadas quando nos deparamos com a falta de conhecimento, pratica ou experiência em algo, mas quando a situação é inversa e percebemos que a ignorância é praticada de forma deliberada, não há como abstrair tudo que nos machuca e tentar compreender o que levou uma pessoa a agir dessa forma.
É o caso de Dona Laura, que insiste em tentar manipular o neto, ignorando totalmente o que ele possa querer ou sentir, mesmo que isso o machuque como eu vi que ela tentou fazer durante o almoço, contando-me algo que deveria ter sido dito por ele. Tentando criar uma situação na qual eu poderia me sentir insegura quanto aos sentimentos dele por mim.
Não vou negar que ela tenha sim, conseguido o seu intento, mesmo que Christian demonstre em suas atitudes e com palavras o quanto me ama e está disposto a seguir a sua vida comigo, mantendo firme o propósito do nosso casamento, mas saber que essa pode ser uma possibilidade, que ele possa perceber que deve seguir com o caminho a qual tanto se preparou, deixa-me com o coração apertado.
Contudo eu não menti quando disse que não duvidava do amor dele por mim, mas a verdade é que não sei até que ponto o amor dele é forte o suficiente para não se deixar cair em alguma armadilha imposta pela ocasião da vida. E, mesmo que Christian tenha amadurecido, estando mais firme com a sua opinião e demonstrando estar blindado contra as artimanhas da Avó, infelizmente há uma parte daquele adolescente inseguro e com senso do certo e errado em demasia, dentro dele.
Mesmo que ele demonstre um autocontrole indiscutível hoje, sendo centrado e sempre comedido em suas palavras, eu sei que há uma parte daquele adolescente impulsivo, que não pensou muito quando socou o Enrico por uma crise de ciúmes que nem ele entendia o porquê, dentro dele. Sendo o mesmo sentimento que o fez me arrastar daquela praça, apenas porque se sentiu ameaçado por seu antigo colega de Escola, quando retornei para Washington, levando-me para aquele Hotel, onde nos entregamos ao que ansiamos por tanto tempo. E, é justamente esse lado dele que me deixa insegura.
Posso não estar fazendo sentido tendo esses pensamentos, mas enquanto fazemos as malas - as que iremos levar para a casa dos meus pais e deixando o restante organizado para serem levados para o nosso apartamento quando estiver pronto -, não sinto algo agradável em meu coração por me lembrar de que ele precisará ficar longe, indo para aquele Retiro, por tanto tempo, mas eu não estou preocupada com os 10 dias que ele ficará fora, mas sim o que poderá acontecer nesses mesmos dias, fazendo com que, talvez, ele mude de ideia quanto a sua vida longe do Sacerdócio.
- Ana! - Olho para o meu noivo e o vejo com o cenho franzido. - O que está acontecendo? - Quem franze o cenho agora sou eu, não entendendo o que ele está querendo dizer. - Você parou de arrumar a mala e ficou olhando para o interior dela, como se estive a milhas daqui. - Suspiro e me aproximo, abraçando-o bem apertado. - Ana?
- Prometa-me que independente do que vier a acontecer, você sempre irá se lembrar do quanto eu te amo! E, por mais que situações complicadas possam surgir, sempre irá acreditar e confiar no meu amor por você! - Ele me afasta dos seus braços, para poder encarar os meus olhos.
- Por que isso agora, Ana? - Nego com a cabeça e sinto um aperto estranho no peito.
- Apenas me prometa Christian! - Meu rosto é envolvido por suas mãos e seus olhos se fixam nos meus.
- Por muito tempo eu tentei negar a mim mesmo os meus sentimentos por você. Recusando-me a aceitar que passei a amar a minha melhor amiga quando ainda éramos dois adolescentes, mas na verdade, o meu amor nasceu a partir do momento que vi o seu primeiro sorriso direcionado a mim. Quando senti o seu primeiro abraço e quando de forma inocente você dizia que me amava. - Meus olhos marejam, mas respiro fundo, tentando controlar as lágrimas que querem escapar sem minha permissão. - Posso não ser o mais experiente dos homens ou o mais bem sucedido profissionalmente e ainda ser inseguro em alguns pontos da minha vida, mas se há algo que eu tenho certeza é do nosso amor. Então, se precisa mesmo ouvir isso, eu prometo Ana! Eu prometo que sempre irei me lembrar do quanto você me ama, pois é o mesmo sentimento que carrego em meu peito em relação a você. - Assinto e volto para o aconchego dos seus braços, sentindo o seu coração tão acelerado quanto o meu. - Vamos continuar a fazer as malas?
- Vamos sim! Eu só preciso...
Sou interrompida por batidas na porta do quarto e saímos do closet para ver quem possa ser revelando Carrick e Grace do outro lado, assim que Christian abre a porta, dando passagem para que eles possam entrar.
- Vocês vão mesmo sair de casa?
Grace pergunta ao notar algumas malas prontas, próximas a cama, mas vejo que não está de fato triste com essa situação. O que me deixa muito aliviada, pois gosto muito da minha sogra para fazer com que ela fique magoada.
- Iremos sim, Mãe. Ficaremos alguns dias na casa dos pais da Ana, até que o nosso apartamento esteja pronto. - Ela assente e Carrick suspira, encarando o filho.
- Não pedirei para que fiquem e muito menos tentarei justificar as atitudes da sua avó, meu filho, mas não guarde rancor por ela, apesar de tudo, a sua avó o ama muito.
- Não se preocupe Pai! Mesmo eu não entendendo o porquê dela agir assim, eu sei que deve haver algum motivo, por mais que nada justifique a forma que ela vem tratando a Ana ou como ela tentou me manipular por todos esses anos. - Christian responde ao pai, decidido, mas para por um momento, voltando a encará-lo. - Pai, o Senhor uma vez disse que sabia os motivos para as razões da Vovó agir assim. Tem haver com alguma coisa do passado dela, não é?
- Sim, filho, você tem razão quanto a isso. - Ele suspira e olha para Grace, que dá um sorriso carinhoso ao marido. - Mas infelizmente eu não posso compartilhar isso com você, pois eu prometi que não faria, até porque essa história pertence apenas a duas pessoas e nenhuma delas sou eu. - Ele volta a suspirar e nos olha com carinho. - Apesar de que eu havia dito a sua mãe que se fosse preciso iria interferir, mas não foi necessário, pois você descobriu onde estaria a sua felicidade, desde o momento que se permitiu parar de sentir culpa e amar o seu Anjo. - Sinto o meu rosto esquentar e vejo que Christian também ficou corado pelo o que o pai falou.
- O seu pai tem razão, meu filho. - Grace se aproxima e pega a mão do filho e a minha, unido-as. - A decisão em seguir com o Sacerdócio era totalmente sua, Christian, mas antes que o dia da sua Ordenação chegasse, iríamos contar-lhe uma história e se mesmo assim você não mudasse de ideia para seguir com aquilo que o seu coração sentia, desde que era um adolescente, não tentaríamos mais interferir em suas escolhas, mesmo que soubéssemos que fossem erradas. - Carrick assente, confirmando as palavras da esposa e também se aproxima.
- Uma vez você me perguntou o porquê eu nunca tentei impedir que fosse para o Seminário, quando ainda era um adolescente, e eu respondi que a decisão deveria partir de você, pois é com os erros que nos fortalecemos, mas são com as decisões que amadurecemos. Você se lembra?
- Lembro-me como se aquelas palavras me fossem ditas hoje, Pai. - Carrick sorri e coloca a mão no ombro do filho.
- Essa é uma verdade que nem todos conseguem compreender. E, o que posso dizer é que a sua Avó, ainda não conseguiu se fortalecer para amadurecer com os erros. E, eu não digo isso em questão de idade, mas sim pelo fato dela continuar a se entregar, a cada dia que passa em decisões erradas, mesmo que ela acredite fielmente que são as corretas, mas alguma coisa me diz que ela encontrará o que tanto procura, só que não em você, meu filho, e sim... - Ele faz uma pausa e me olha, acariciando o meu rosto de forma paternal. -... Em você, Ana! A menininha que nasceu com um brilho próprio e que sempre trouxe luz aos olhos tristes do meu filho.
- Eu não consigo entender como isso seria possível, Carrick! - Ele sorri de lado, mostrando o quanto o filho é parecido com ele, até na forma de sorrir. - A Dona Laura nunca gostou de mim e agora que ela acha que estou "desvirtuando" o neto dela, com certeza em mim seria a última pessoa em que ela poderia encontrar algo. - Faço uma careta e Grace dá risada, apertando a minha mão e a de Christian, que ainda estão entre as suas.
- Ela realmente é complicada, Ana. Digamos que nos quase 28 anos que estou casada com o Carrick, ela ainda não goste de mim, então você está dentro do padrão para entrar no círculo de afetos da Laura, mesmo que na maior parte do tempo, ela se pareça com uma megera desalmada.
- Grace!
- Mãe!
Grace e eu damos risada, quando pai e filho resmungam ao mesmo tempo, mas logo sorriem também. E, isso acabou por trazer leveza ao clima que estava bem pesado, mesmo que eu não entenda com o que Carrick quis dizer que a Dona Laura encontrará em mim o que tanto procura. Afinal, ela sempre quis um Sacerdote consagrado, o que obviamente eu não poderei ser de fato o que ela tanto quer.
[...]
- Filha?! Christian?! Aconteceu alguma coisa? - Minha mãe se levanta do sofá, assim que entramos na sala com algumas malas em mãos.
- Na verdade, aconteceu sim, Mãe, e contarei tudo depois. Mas será que Christian e eu poderemos ficar aqui com vocês, até que o nosso apartamento fique pronto? - Vejo que meu noivo ficou envergonhado e acho que a ideia de encontrar um Flat ou ir para um Hotel pareceu muito melhor na cabeça dele agora, mas minha mãe assente, mesmo estando confusa.
- Claro que sim, minha filha, aqui sempre será a casa de vocês também. - Sorrio agradecida, recebendo o seu abraço, mesmo eu sabendo que ela diria isso.
- Eu sabia que havia escutado a voz da minha Princesa. - Meu pai aparece pelo corredor que leva até o seu Escritório, com um sorriso, perdendo-o assim que vê as nossas malas. - Certo! O que está acontecendo aqui?
- Christian e eu ficaremos alguns dias com vocês, Pai.
- Isso é ótimo, pois assim poderei ver se esse rapaz é realmente digno de se casar com a minha Princesinha! - Christian arregala os olhos, vendo a seriedade do meu pai, fazendo-me revirar os meus.
- Papai! - Ele volta a sorrir e puxa o meu noivo para um abraço.
- É brincadeira, Filho! A propósito, feliz aniversário, meu genro.
- Obrigado, Ray! - Christian retribui o abraço que recebeu ainda muito vermelho e minha mãe logo o cumprimenta pelo o seu aniversário também.
- Amor, você poderia ajudar o Christian a levar as malas para o quarto de hóspedes? - Olho para minha mãe, pois ela sabe que não iremos dormir em quartos separados, mas ela me olha com um sorriso carinhoso em seus lábios. - O seu quarto ainda está do mesmo jeito de quando era adolescente, Filha, e apesar da cama não ser de solteiro, não é confortável o suficiente para vocês dois. Ainda não tivemos tempo de redecorá-lo, desde que a Imobiliária nos entregou a casa.
- Mas isso é ótimo, Carla! O Christian fica no quarto de hóspedes e a nossa Princesa pode ficar com o quarto dela, problema resolvido.
- Papai, a sua Princesa cresceu e dorme com o noivo faz muito tempo. Lide com isso. - Falo segurando o riso, por vê-lo fazer uma careta, negando com a cabeça.
- Não custava nada tentar, mas vamos lá, meu genro! Já que não tem remédio, colocarei vocês num quarto bem distante do meu, pois saber que vocês dormem juntos é uma coisa, agora ouvir o que vocês poderão fazer embaixo do meu teto é demais para um velho como eu se acostumar.
- Meu Deus, Ray! Você vai matar o menino de vergonha. - Minha mãe fala, também segurando o riso, por ver que Christian está mais vermelho que um tomate, mas meu pai gargalha pegando duas malas, antes de olhar para o meu noivo e dar uma piscadela para ele.
- Antes ele morrer de vergonha do que eu de enfarto ouvindo barulhos noturnos. - Christian me olha desesperado, sem saber se meu pai está mesmo falando sério, mas eu apenas dou um beijo em seus lábios, para vê-lo acompanhar o meu pelas escadas em seguida.
- O Christian continua o mesmo menino tímido de quando era um adolescente.
Minha mãe pontua, ainda sorrindo da língua de trapo do meu pai, puxando-me para sentar no sofá, fazendo-me sorrir também. Afinal, meus pais e eu nunca tivemos cerimônia para falar abertamente sobre qualquer coisa que fosse, inclusive sobre sexo, diferente de Christian que praticamente cresceu dentro de um Seminário, onde o mais próximo que poderiam chegar da palavra "sexo", era o celibato.
- Sim, Mãe. Apesar de não ser mais como antes, eu acredito que algumas coisas nunca irão mudar.
- Isso é verdade. - Ela segura a minha mão e suspira. - Mas agora me conte o que aconteceu, Filha.
Respiro fundo e faço um resumo de tudo que vem acontecendo na casa do meu noivo, desde que eu retornei para Washington. O desgosto aparente de Dona Laura quando me viu entrando naquela sala com o Lucca. As tentativas dela em querer me provocar, ofendendo-me com o falso moralismo dela. Falando inclusive da minha profissão, insinuando que meus pais não me criaram como deveriam, como que ser Modelo fosse algo passível de vergonha para a minha família e que isso me fizesse a pior das mulheres.
Além da forma que ela sempre tentou manipular a cabeça de Christian, usando uma vocação que nunca foi dele, como algo que pudesse fazê-lo cair em si e perceber o erro que estaria cometendo quando se permitiu cair na tentação dos prazeres da carne. Contei sobre o fato dela nunca ter entregado uma única carta das quais enviei ao Christian, nos primeiros quatro anos, depois que ele havia ido para o Seminário. E, como ela tenta, a cada oportunidade que tem fazer com que o meu noivo desista do nosso casamento, que para ela, é um erro terrível, ou talvez até mesmo o pior dos pecados.
- A Laura sempre foi uma pessoa difícil. - Minha mãe suspira perdida em seus pensamentos. - A Grace também sofreu muito quando engravidou da Melissa, ainda mais porque quando isso aconteceu, o Carrick ainda estava no Seminário, então você pode imaginar como deve ter sido para ela, não é?
- Faço uma ideia, porque ela nunca perde a oportunidade jogar isso na cara da Grace. - Faço uma careta ao me lembrar do dia que anunciamos o nosso noivado, pois ainda pude ouvir a forma ácida que a Dona Laura falou com a nora.
- Mas Carrick também não estava feliz naquele lugar e quando soube da gravidez da Grace, não pensou duas vezes em desistir de tudo e começar a fazer Direito, que era o que ele sempre desejou fazer, começando logo uma vida com a namorada, casando-se logo em seguida. Ainda bem que ele tinha o apoio do Senhor Olavo, o pai dele.
- Se o pai do Carrick apoiava o filho, porque não impediu que a Dona Laura, praticamente obrigasse o filho a entrar num Seminário? - Minha mãe sorri e arqueia uma sobrancelha, como se dissesse: "você sabe a resposta".
- Acredito que pelo mesmo motivo que Carrick não tenha impedido o Christian de seguir o mesmo caminho.
- Sim, deixando que ele tomasse as próprias decisões.
- Exatamente, minha Filha, mas posso dizer que foi a partir daí que o casamento da Dona Laura com o Senhor Olavo começou a caminhar para a ruína, fazendo com que ela ficasse ainda mais amargurada do que já era, pois ela se sentiu traída pelo marido, ainda mais por ele saber as razões dela. - Encaro minha mãe intensamente, muito interessada nessa parte da história.
- Então a Senhora por um acaso sabe quais são essas razões, para a Dona Laura querer tanto um Sacerdote Consagrado na família, Mãe? - Minha mãe nega com a cabeça e suspira.
- Não, minha Filha! Por mais que Grace e eu sempre tenhamos sido amigas, essa parte da história não foi compartilhada comigo, pois parece que tanto ela quanto o Carrick prometeram nunca tocar no assunto. - Assinto, imaginando que de fato, uma história que não é sua, não deve ser contada para terceiros. - Só assim ela os deixou em paz, pelo menos nunca mais tentou separá-los, principalmente depois que o Christian nasceu e foi crescendo, aquele menininho tímido e que fazia de tudo que a avó queria. Foi quando Dona Laura passou a levá-lo para a Igreja desde que ele tinha quatro anos, o que sempre foi diferente da Melissa que tinha o gênio bem diferente do irmão. - Dou risada, pois não é difícil de imaginar algo parecido, afinal, Melissa sempre enfrentou a avó e isso eu me lembro desde quando éramos crianças.
- Eu vou subir e ver o que o papai está fazendo com o meu noivo, que não desceram até agora. - Ela nega com a cabeça e segura a minha mão, dando-me um sorriso.
- Deixe-os conversar! O seu pai não vai fazer nada. Você sabe que ele sempre gostou do Christian. - Sorrio por saber que isso é verdade, mesmo que meu pai tenha ficado um pouco chateado por minha causa, quando ele entrou para o Seminário. - Venha me ajudar a fazer o jantar, eu dei folga para a Laila desde ontem, e o Lucca deve estar quase chegando também. - Arregalo os olhos, pois com o estresse com a Dona Laura, eu acabei me esquecendo daquele Italiano.
- Meu Deus, Mãe! Eu me esqueci do Lucca.
- Ele ligou avisando que não viria almoçar, mas eu percebi que estava um pouco nervoso. Você sabe para onde ele foi? - Assinto e mordo no lábio, segurando o riso, acompanhando-a até a cozinha.
- Ele resolveu parar de fugir e ir atrás do amor da vida dele.
- Como assim foi atrás do amor da vida dele? - Ela para no lugar por um momento e arregala os olhos. - Ele voltou para a Itália?! - Dou risada e nego com a cabeça.
- Não, Mãe! O Lucca reencontrou o Khalan aqui em Washington, acredita?
Lavo as minhas mãos e enquanto começamos a preparar o jantar, vou contando como Lucca reencontrou o amor de sua vida num Restaurante, depois de tanto tempo, o que ela lembrou que a minha história com a dele não é tão diferente assim. Mesmo que no meu caso, eu não tenha escolhido ficar 8 anos longe do Christian, enquanto o Lucca sim, por causa da sua insegurança e o medo de ser rejeitado. O que quase o fez repetir a história por causa do stronzo do ex-namorado do Khalan, preferindo sofrer novamente em silêncio a ter que lutar por seu amor ou pelo menos que fosse descobrir a verdade e saber se realmente não haveria mesmo chances para os dois.
Logo meu pai e Christian desceram do quarto, vindo ao nosso encontro na cozinha. E, vendo que o meu noivo estava tranquilo, eu sei que o meu pai não o fez passar por nenhuma prova de fogo, dessa forma podendo passar um tempo agradável com os meus pais, afinal, desde que eles chegaram de Milão, ainda não pudemos fazer isso, sendo a família que éramos e que agora só irá aumentar, com o meu casamento e futuramente também com o do Lucca, pelo menos assim eu espero, desde que tudo tenha dado certo entre ele e Khalan, afinal de contas.
[...]
- Mãe! Pai! - Ouvimos a voz de Lucca na sala e pelo tom de sua voz, eu sei que não está triste.
- Na cozinha, Filho.
Meu pai responde e logo o vemos entrar, acompanhado de Khalan, que parece um pouco envergonhado e eu diria que até receoso, talvez pensando que os meus pais possam não aprovar a relação deles, o que obviamente nunca aconteceria.
- Ana! Christian! Que bom que estão aqui, pois assim eu falo de uma única vez a novidade. - Ele abre um sorriso lindo, iluminado e verdadeiro, como raras vezes o víamos fazer, enquanto pega na mão de Khalan que o olha ainda mais desconcertado. - Eu quero apresentar a vocês o meu namorado, Khalan Dhanasevi. - Levanto-me feliz por eles e vou abraçá-los.
- Fico feliz que tenham se acertado. Seja bem-vindo a nossa família, Khalan.
- Obrigado, Anastásia! - Afasto-me do abraço e nego com a cabeça.
- Apenas Ana, por favor! - Ele sorri e assente, olhando para o meu noivo, que envolveu minha cintura de forma possessiva e seguro a vontade de revirar os olhos. - Este aqui do meu lado, Khalan, é o meu noivo, Christian Grey.
- Muito prazer em poder conhecê-lo, Khalan. - Eles se cumprimentam com um aperto de mãos, tão formais que dessa vez não consigo segurar e reviro os olhos.
- O prazer é meu, Christian! - Lucca pigarreia, com um sorriso de lado, sabendo o quanto o meu noivo é ciumento, mesmo que ele tenha escutado com todas as letras que Khalan é o seu namorado.
- Bom, a Ana você já conhecia e agora conheceu o Christian, o que pôde comprovar o quão ciumento é. - Lucca dá uma piscadela para o meu noivo que fica envergonhado, pois sei que agiu sem perceber. - Mas agora quero apresentar as duas pessoas que passaram a serem tão importantes na minha vida, quanto a Ana, Khalan. Carla e Raymond Steele, os meus pais.
- Seja bem-vindo, Khalan. É muito bom poder conhecer a pessoa que colocou um sorriso no rosto desse meu filho. - Minha mãe o abraça também, mas agora quem fica envergonhado é o Lucca por ouvir suas palavras.
- Obrigado, Senhora Steele. - Ela nega com a cabeça e faz um gesto desdenhoso com a mão.
- Apenas Carla, meu Querido, mas se quiser me chamar de mãe, eu não me importo, pois sei que é uma tradição dos Tailandeses chamarem os sogros de mãe e pai, estou certa?
- Sim, a Senhora está certa. Obrigado! - Meu pai se aproxima sério e imagino que vai fazê-lo ficar com vergonha, pois é típico do Senhor Raymond fazer algo assim.
- Eu ainda não lhe dou permissão para me chamar de pai, meu rapaz. - Christian o encara confuso, ouvindo o tom de voz sério do meu pai, Khalan engole em seco, minha mãe nega com a cabeça, enquanto Lucca e eu seguramos o riso. - Primeiro eu quero saber quais são as suas intenções com o meu filho? Isso é apenas uma aventura para você ou pretende mesmo levá-lo a sério? - Ele cruza os braços de frente para o Khalan, deixando-o completamente desnorteado com suas perguntas, mas ele respira fundo e encara o meu pai com muita seriedade.
- Eu... Eu sempre amei o Lucca, Senhor Steele! Posso garantir que eu nunca o consideraria apenas uma diversão, mas só posso prometer que no que depender de mim e enquanto ele me permitir, estarei ao lado dele, amando-o como eu sei que ele merece. - Meu pai olha para Lucca, que está com um imenso sorriso nos lábios e pisca para ele, antes de voltar a sua atenção para Khalan.
- Eu não esperei ouvir tanta sinceridade como agora, mas você ganhou o meu respeito, rapaz. - Ele o puxa para um abraço, assustando-o. - Seja bem-vindo a minha família, Khalan, Lucca é um homem muito especial e merece toda a felicidade do mundo, se ela estiver com você, então eu ficarei mais do que feliz. E, nada de Senhor Steele, apenas Ray, mas acho que agora você tem permissão para me chamar de pai também. - Damos risada de como ele conseguiu acabar com o seu discurso tão bonito, e Lucca volta para o lado do namorado, envolvendo-o pelos ombros, que parece conseguir respirar mais aliviado agora.
- Obrigado, Mãe, Pai! A aceitação de vocês é muito importante para mim.
- Não temos que aceitar nada, Lucca. Se você estiver feliz, estaremos também, porque é isso que os pais que amam os seus filhos devem fazer, amá-los sem julgamentos, respeitando e apoiando as suas escolhas. - Minha mãe o abraça e recebe um beijo dele em sua testa. - Se o Khalan é a pessoa que te fará feliz e você o ama, nós o amaremos também. - Minha mãe pega na mão de Khalan, que sorri para ela, sem o nervosismo ou a vergonha de antes.
- Faço das palavras da Carla, também as minhas Lucca. Aprendemos a amá-lo e considerá-lo como o nosso filho. Por isso da mesma forma que queremos que a Anastásia seja feliz com o amor da vida dela... - Meu pai se interrompe e olha para mim e Christian, dando um sorriso afetuoso. - Queremos que você também seja feliz com o seu. - Nós quatro assentimos e sorrimos para o meu pai. - Mas agora vamos jantar? Carla e Anastásia fizeram uma deliciosa Cotoletta a Bolognese ao forno e um Risoto de Parma que estão me matando, só em sentir o cheiro.
- Oh Dio! Questo è uno dei miei piatti preferiti. (Oh, Deus! Esse é um dos meus pratos preferidos). - Lucca fala animado, fazendo-nos dar risada.
- Allora andiamo a cena figli miei! (Então vamos jantar meus filhos!). - Minha mãe o responde sorrindo, por saber que esse realmente é um dos pratos que Lucca mais gosta, levando-os para a cozinha, sendo acompanhados por meu pai.
- Os seus pais são mesmo especiais, minha Princesa! - Viro-me para encará-lo e envolvo meus braços em volta do seu pescoço.
- Sim, eles são. Mas Grace e Carrick também não ficam atrás. - Ele sorri e sela nossos lábios.
- Não posso negar, mas a forma que o seu pai aceitou que ficássemos no mesmo quarto, o fato deles apoiarem o Lucca e receberem tão bem o namorado dele, fazendo-os sentir a vontade, é admirável. - Ele sorri de lado e acaricio o seu rosto.
- Quando os meus pais acolheram o Lucca como mais um filho e souberam o motivo dele ter sofrido a sua primeira rejeição por causa da sua orientação sexual, os meus pais ficaram indignados, além do mais, eles sempre foram muito abertos a diálogos, tanto comigo, quanto com o Lucca, principalmente sobre sexo. - Christian assente e o vejo ficar com o rosto vermelho, fazendo-me sorrir e negar com a cabeça, como se não fizéssemos isso... E muito. - Porém eles sempre tentaram nos falar sobre os riscos que poderíamos correr, mas que a decisão deveria ser nossa, desde que estivéssemos cientes que ações impensadas, poderiam gerar consequências e algumas para o resto de nossas vidas.
- Realmente eu consigo perceber que eles não têm nenhuma restrição em falar sobre certos assuntos, mas o seu pai, mesmo fazendo brincadeiras, consegue nos intimidar. - Dou risada da careta dele, pois meu pai realmente é assim.
- Amor, você conhece o meu pai a vida inteira, sabe como ele é, mas antes de tudo, ele quer apenas que seus filhos sejam felizes com quem escolhemos para amar.
- Ainda bem que a sua escolha sou eu. - Ele fala em meu ouvido, fazendo-me arfar, quando começo a sentir os seus beijos em meu pescoço.
- Sempre, Amor. Você sempre foi a minha escolha. - Ele segura os meus cabelos e aproxima os seus lábios dos meus, deixando-me sedenta para receber o seu beijo.
- Vocês terão a noite inteira para fazer isso, mas será que agora poderíamos comer... Só que comida de verdade? - Afastamo-nos assustados e seguro uma risada, tentando parecer brava.
- Papai! - Ouço-o gargalhar e Christian esconde o rosto em meu pescoço, dando uma risada, completamente sem graça e muito envergonhado.
- Vamos para a sala de jantar, antes que o seu pai realmente me mate de vergonha.
Quem gargalha agora sou eu, mas lavamos as mãos e nos juntamos a minha família na sala de jantar. E, posso dizer que agora sim, tudo parece estar em seu devido lugar.
Não posso dizer que as inseguranças da Ana seja mesmo sem fundamento, ainda mais com o histórico do Christian em fugir primeiro e se questionar depois 😤😤. Ou será que é 🤔🤔🤔?
Carrick e Grace estão certos, idade não é sinônimo de maturidade para tomar as decisões certas, um grande exemplo disso é a Vovó Laura, não é mesmo 😏😏? Mas tenho que concordar com eles, afinal, um segredo que não os pertence, não pode ser revelado 😏😏.
Meu Deus do céu 😱😱! Raymond é o sinônimo de vergonha alheia 🤣🤣! Pelo menos a do Christian e agora do Khalan, com toda certeza 🤣🤣.
Lucca e Khalan estão tão felizes juntos 🥰🥰. Que me dá vontade de colocá-los num potinho e soltar só para eles fazerem sacanagem 😏😏. Ops, quer dizer, poderem ficar com suas famílias 😏😏.
E, Ana está certa. Aproveite essa calmaria com os seus pais, pois não sei quanto tempo ela pode durar 😏😏! Ops! Não foi isso que eu quis dizer 😏😏.
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