Capítulo - 27
A cada momento que passo com Anastásia é muito mais intenso do que o anterior, pois de alguma forma eu consigo me libertar ainda mais das amarras que ainda insistiam em me prender, pois um homem que passa a maior parte da sua juventude dentro de um Seminário jamais falaria palavras tão sujas como as que eu disse a Ana durante toda essa noite e Andrew tinha mesmo razão, é libertador.
Minha noiva desperta em mim algo que há muito tempo pedia para ser libertado, faz-me agir de uma forma que nunca fico satisfeito e sempre quero mais dela. Mais de seus toques, de seus beijos, do seu cheiro e de fazê-la completamente minha. Sinto-me como um prisioneiro que é posto em liberdade. Um homem perdido no deserto em busca de uma única gota de água. Um homem completamente sedento... Apenas por ela.
Sempre tranquei dentro de mim qualquer desejo mundano e a cada vez que um pensamento fugia do meu controle, eu me martirizava e me punia, na tentativa de fazê-los voltar para os recônditos da minha mente que jamais deveriam ser acessados. Ainda mais porque quem permeava a cada um deles, era a Ana.
E, ver o cuidado e a dedicação que ela teve em preparar um dia para que eu pudesse vivenciar experiências que nunca tive antes, a começar pela tarde com os meus amigos e cunhados - mesmo que controlassem a bebida para não me deixar embriagado, o que seria fácil não posso negar - e a nossa noite, só faz com que eu a ame ainda mais.
Durante oito anos eu não via motivos para comemorar meu aniversário, nem mesmo com um simples almoço ou jantar, pois as lembranças sempre me atormentavam, quando nos primeiros minutos dos meus 17 anos, eu tive a melhor e pior experiência da minha vida, com a menina que sem que eu percebesse, eu já amava.
A melhor porque foi com ela que eu dei o meu primeiro beijo, foi a primeira vez que senti meu corpo despertar para o que seria desejo, mas foi a pior por ter me sentido culpado de fazer e sentir tudo aquilo, com a menina que eu julgava perfeita, um verdadeiro anjo imaculado e que eu não deveria fazer nada além de protegê-la e amá-la como um irmão.
Falhei miseravelmente nessa missão, mas eu não poderia estar mais feliz por ter falhado, pois hoje eu tenho a mulher que foi feita para mim. A mulher que Deus determinou para que eu devesse protegê-la, cuidá-la e amá-la, mas não como um irmão e sim como um homem ama uma mulher, com cada respiração, com cada molécula do meu ser e a cada batida do meu coração.
Amar não é pecado, engana-se quem pensar o contrário. Pois amar é se encontrar sem estar perdido. É sonhar sem estar dormindo. É ser alimentado sem estar com fome e se refrescar sem precisar de água. Principalmente quando se ama e é amado com a mesma intensidade. E, é exatamente assim que me sinto quando estou com a minha noiva, completo, realizado e hoje eu sei qual é a minha vocação, pois nunca foi ou seria o Sacerdócio. A minha vocação é ser além do melhor amigo da Ana, é ser também seu companheiro e marido para uma vida inteira.
- O porquê desse sorriso em seus lábios? - Sorrio ainda mais e pego sua mão trazendo aos meus lábios, olhando rapidamente para ela, mas sem desviar minha atenção do trânsito.
- Eu estou pensando em você. - Ela dá risada e aperta a minha mão, ainda entrelaçada a sua, sobre a minha coxa.
- Estou ao seu lado, Christian, como poderia estar pensando em mim?
- Eu sempre estou pensando em você, Ana. - Volto a olhá-la rapidamente para vê-la com um sorriso nos lábios. - Mas estava pensando se o nosso casamento não poderia mesmo ser no próximo fim de semana. - Ela gargalha e nega com a cabeça.
- Falta um pouco mais de dois meses, Christian, e o tempo passa tão rápido que nem sei se conseguirei fazer tudo que tenho para fazer. E, precisamos conversar sobre a nossa lua de mel, pois ainda nem mencionamos nada sobre isso. - Fico em silêncio por um momento, afinal, o tema casamento era algo que imaginei nunca fazer parte da minha vida, a menos que eu fosse celebrar um, quando fosse Consagrado. - O que foi? - Paro no semáforo e olho para ela, que está com o cenho franzido.
- Você tem razão, são tantos detalhes que eu não faço ideia. - Suspiro e nego com a cabeça. - Durante o processo de organização do casamento da Melissa e do Andrew, eu fazia de tudo para não ficar em casa, nem mesmo nos fins de semana que me era autorizado, pois eu... - Volto a suspirar e o sinal se abre. - De certa forma eu tinha inveja e isso me fazia sentir culpado, pois onde estaria à lógica de um Seminarista sentir inveja da própria irmã e do amigo se casarem? - Ela suspira e solta a minha mão, apenas para levá-la a minha nuca, acariciando os meus cabelos.
- Amor, não vamos mais pensar sobre isso, tudo bem? - Assinto e continuo sentindo suas caricias, agora na pele do meu pescoço. - Hoje é o seu aniversário, você não é mais um Seminarista e temos dois meses e uma semana para organizarmos o nosso casamento, no entanto isso é passado.
- Você tem razão. - Estaciono o carro na entrada de um prédio Comercial, local onde será feito o ensaio fotográfico dela.
- Claro que eu tenho e devo dizer que sempre tive desde que eu tinha 14 anos. - Ela me lança uma piscadela e solta o seu cinto, aproximando-se. - Vamos esquecer o passado e focar apenas no nosso presente e futuro, o que acha? - Ela acaricia o meu rosto, passando a mão em minha barba e fecho os olhos para sentir seu toque.
- Isso é um bom plano. - Sinto seus lábios nos meus, mas logo se afasta.
- Vamos entrar e... - Ela hesita e morde em seu lábio inferior, suspirando. - Christian, tenha em mente que tudo que você presenciar lá dentro, faz parte do meu trabalho e é apenas isso, o meu trabalho. - Franzo o cenho não tendo um bom pressentimento quanto a isso.
- O que você está querendo dizer? - Ela suspira e pega a minha mão.
- Como eu havia dito mais cedo, esses ensaios exigem muito contato físico entre os Modelos, independente do gênero, além de termos que nos entregar completamente ao "personagem" para as fotos. - Ela faz aspas quando disse "personagem" e assinto, mesmo não sabendo o que ela está tentando me dizer. - Você sabe o tipo de produto que a Calvin Klein trabalha, não sabe?
- Sim, eles trabalham com vestuário masculino, feminino e... Merda! - Não sei se vou suportar ver a minha noiva de roupas íntimas ao lado de outro homem.
- Exatamente! Então... Você tem certeza que quer assistir a este ensaio? - Penso por um momento, mas acabo assentindo, afinal, esse é o trabalho dela e tenho que apoiá-la seja no que for.
- Não, mas estou aqui e se serei o seu marido, tenho que entender que esse é o seu trabalho e apoiá-la sempre. - Ela sorri e sela novamente nossos lábios.
- Eu te amo, Christian!
- Eu também te amo. - Acaricio o seu rosto, sentindo sua pele delicada. - Vamos entrar?
Ela assente e saímos do carro, onde aguardo que dê a volta e seguro a sua mão para entrarmos no prédio. Na recepção somos instruídos a subir para o 6º Andar, onde fica o estúdio da Calvin Klein e logo vemos uma movimentação de pessoas organizando o ambiente. Um Fotógrafo, e o que imagino serem os seus Assistentes, arrumando seu equipamento, outros arrumando o mobiliário preparando o cenário e, mais afastado vejo Lucca, conversando com um homem, alto, olhos azuis, cabelos longos e loiros, assim como a sua barba, que quando percebe a nossa aproximação, abre um imenso sorriso, que é retribuído por minha noiva.
- Perlen min (Minha Pérola)! - Ele encurta a distância entre nós e a envolve em seus braços. Só um detalhe que não mencionei: Ele está usando apenas uma calça jeans e sem camisa. Ele está abraçando a minha noiva SEM CAMISA. - Que saudade eu estava de você, Princesse (Princesa). - Ele a afasta do abraço e acaricia o rosto dela, que sorri para ele.
- Eu também estava com saudade de você, Tyler, mas a culpa foi sua que precisou ir à Noruega, antes que eu viesse para Washington. - Ele me olha, só agora percebendo a minha presença, fazendo com que Ana sorria em minha direção e volte a pegar a minha mão. - Tyler, esse é o Christian, o...
- O melhor amigo que é Seminarista. - Ele a interrompe e abre novamente seu sorriso e estende a mão para me cumprimentar. - Ouvi tanto falar sobre você que é como se eu te conhecesse. Eu sou Tyler Storstrand, conheço essa Princesa desde que chegou a Milão. - Aperto sua mão e olho para Ana que está com um sorriso nos lábios e as bochechas coradas.
- Christian Grey, mas na verdade eu não sou mais apenas o melhor amigo, eu sou o noivo da Ana. - Ele arregala os olhos e encara a minha noiva, alternando o olhar entre nós dois e vejo Lucca se aproximando, também sem camisa, com um sorriso de lado nos lábios.
- Era isso que eu iria lhe contar Tyler, mas eles chegaram antes. - Ele continua olhando-nos ainda incrédulo e Lucca para ao meu lado. - Acredito que meu pescoço e o de Andrew estão seguros, não é? - Desvio minha atenção do homem que continua encarando a Ana, para olhar para Lucca.
- Por sorte a Angel, era o meu Anjo, caso contrário Lucca, eu estaria nesse horário confessando meus crimes antes de ser preso. - Ele dá risada e nega com a cabeça.
- Espera! - Tyler balança a cabeça e volta a me olhar, antes de ficar sério e cruzar os braços. - Como assim, noivo? E eu, Princesse? Você não disse que eu era o amor da sua vida e que ficaria esperando por mim? - Sinto o meu coração acelerar e o meu sangue ferver, mas antes que eu fale alguma coisa, Ana e Tyler irrompem numa gargalhada, deixando-me confuso.
- Anastásia, vamos para a maquiagem? - Uma mulher, que vejo em sua identificação o nome Cassie, se aproxima e Ana assente, ainda rindo. - Tyler, como você está pronto, começaremos com você e enquanto a Anastásia não fica pronta, faremos as fotos com você e Lucca em seguida. - E do jeito que chegou, saiu apressada, enquanto Ana se aproxima ainda mais e beija os meus lábios.
- Não faça essa carinha irritada, Amor. O Tyler está apenas brincando.
- Não estou não. - Tyler resmunga e sai acompanhando o assistente do Fotógrafo que se aproximou para chamá-lo, enquanto Ana nega com a cabeça, ainda sorrindo.
- Eu preciso ir. Você vai ficar bem? - Assinto ainda perdido com a conversa deles e novamente recebo um beijo nos lábios, antes dela sair e entrar numa sala.
- Não se preocupe Christian, o Tyler é brincalhão assim mesmo, mas é um ótimo amigo e respeita muito a Ana. E, confesso que fiquei aliviado em saber que seria ele quem fotografaria conosco.
- Só me diga que ele também é gay, Lucca? - Baixo o tom de voz e ele sorri de lado, negando com a cabeça, batendo a mão em meu ombro.
- Sinto muito, Cognato (Cunhado), mas Tyler é tão hétero quanto você e não vou negar que já foi sim apaixonado pela Ana. - Dito isso, ele segue na direção do Fotógrafo que o chamou, deixando-me com essas palavras ecoando em minha cabeça.
(...)
Depois de um tempo me sentindo deslocado e sem saber onde ficar, uma Booker, uma espécie de Agente, acomodou-me em uma poltrona, a pedido da Ana e logo a vi, saindo da sala - que fiquei sabendo ser o camarim - usando calça e jaqueta jeans e os pés descalços, posicionando-se entre Lucca e Tyler e várias fotos foram tiradas, em várias posições diferentes.
E, Ana tinha mesmo razão, a forma que ela olha para a câmera, se movimenta e como os Modelos se tocam, realmente parece ser muito íntimo para quem não está assistindo ao ensaio, como estou fazendo nesse momento, mas não vou negar que eu esteja muito desconfortável em presenciar Tyler a tocando.
Duas horas depois, eu bato o pé freneticamente no chão e sinto minhas mãos suarem enquanto as esfrego em meu jeans, aguardando mais uma troca de roupa - e pelo que entendi será a última -, e repenso se foi uma boa ideia ter vindo para assistir o seu ensaio. Mesmo eu estando ciente que isso é apenas o seu trabalho, mas no momento que Tyler e Lucca saem do camarim oposto ao de Ana, cesso os meus movimentos, vendo-os usando apenas boxers pretas e assim que Ana sai apenas de robe de seda curto preto, eu prendo a respiração.
- Tyler, prenda o cabelo em um coque, deite-se no chão e apoie o corpo sobre os cotovelos. - Ouço o Fotógrafo dizer e assim ele faz. - Anastásia, abra o robe, mas não o tire completamente, deixe-o cair de seus ombros e suba em cima do Tyler, apoiando-se em seus joelhos, abrace-o, colocando a mão direita nos ombros dele e a esquerda no cós da Boxer como se fosse tirá-la. - Ana faz conforme orientado e eu tiro a minha jaqueta, começando a ficar sufocado. - Isso, assim! Maravilhoso!
Mais algumas poses foram orientadas e fotografadas e me levanto, bebendo a água que me foi servida mais cedo. Eles se levantam e Ana retira o robe e vejo-a apenas com uma lingerie de renda preta, um belo contraste com a sua pele clara que eu conheço muito bem a maciez e o sabor em meus lábios.
Vejo o momento que Ana desvia sua atenção da câmera e me olha preocupada. Eu tento sorrir para deixá-la tranquila, tentando dizer que está tudo bem, mas falho miseravelmente e respiro fundo. Desvio o olhar mais vezes do que eu gostaria, mas está sendo absurdamente difícil ver esses dois - mesmo sabendo a preferência do Lucca em homens - tendo suas mãos tocando a minha noiva.
Mas no momento que Ana fica de costas e retira a parte de cima da sua lingerie, abraçando Tyler e encostando em seu peitoral, tendo Lucca as suas costas, segurando em sua coxa é demais para mim. E, sem pensar duas vezes eu saio do Estúdio, pois preciso respirar. E, porra! Eu sempre fui ciumento em relação à Ana quando era adolescente, mas agora é um sentimento que está esmagando o meu peito de uma forma tão dolorosa, que está dificultando que o ar chegue aos meus pulmões.
Ando de um lado para o outro no corredor, não me importando com a atenção de quem passa por mim, pois pela primeira vez na minha vida, desde o dia que entrei no Seminário, eu estou sentindo vontade de socar algo, o que é irracional, até porque em momento algum, nem um dos dois faltou com o respeito com a minha noiva. Tocando-a apenas de forma profissional, mesmo que estejam dando a impressão de intimidade absoluta.
Não sou nenhum estúpido que não saiba como funciona um ensaio fotográfico, ainda mais para uma Marca tão conceituada e famosa como a Calvin Klein, mas uma coisa é ver outros Modelos fazendo isso, agora presenciar a minha noiva, com dois homens tocando seu corpo, onde só eu deveria tocar é completamente diferente e difícil de aceitar.
- Christian! - Paro de andar e olho para Ana que está se aproximando, preocupada. - Você está bem?
- Não, Ana! Mas... - Respiro fundo e passo novamente a mão em meus cabelos. - Desculpe-me! Isso foi um pouco demais do que eu poderia suportar ver. - Ela nega com a cabeça e me abraça, escondendo o rosto em meu pescoço, onde sinto seus lábios tocando a minha pele.
- Você não precisa se desculpar meu Amor. E, devo dizer que você se saiu muito bem por ser sua primeira vez. - Ela se afasta e me olha, tocando o meu rosto.
- Eu entendo que é o seu trabalho e está tudo bem, mas eu... Eu não sei se conseguiria ver outros homens tocando-a novamente como hoje. - Ela assente e sorri, dando-me um beijo rápido nos lábios.
- E não precisará, este será o meu último trabalho fotográfico.
- Ana, eu não quero que... - Ela me silencia novamente com um beijo.
- Não é apenas por você, Christian, mas essa é uma decisão que Lucca e eu já vínhamos discutindo, porém depois eu te explico direito. Agora preciso me trocar.
- Desculpe-me, eu não queria interromper a sessão de fotos, mas acho melhor eu te esperar no carro. - Ela nega com a cabeça e entrelaça os seus dedos nos meus, levando-me novamente para o Estúdio.
- Não atrapalhou. Aquela seria a última foto de qualquer forma, mas agora, eu vou me trocar e não demoro. - Assinto e retornamos para o Estúdio. Ela sai correndo para o camarim e Lucca se aproxima já vestido.
- Está tudo bem, Christian? - Eu assinto e volto a me sentar, respirando fundo novamente. - Confie em mim, eu sei o que você está sentindo e realmente não é fácil ver a pessoa que você ama junto à outra, mesmo que seja no sentindo profissional.
- Mas você...
Fico sem saber como explicar ou formular uma pergunta sem parecer idiota ou preconceituoso, o que obviamente eu não sou, mas ele entende e nega com a cabeça, sentando-se na outra poltrona.
- Eu me apaixonei por um Modelo também, mas... A minha situação ainda era um pouco mais complicada, pois ele tinha namorado que também era Modelo e bem, eu era considerado apenas o novato que rapidamente se transformou em um amigo. - Ele leva a mão a uma bandeja e pega uma uva, colocando na boca, antes de voltar a falar. - Eu tinha apenas 18 anos e ainda estava confuso quanto a minha sexualidade, pois eu gostava de garotas, mas de repente a minha atração por garotos passou a ser muito mais intensa e foi assim que eu soube que era bissexual.
- E... Os seus pais? Pois você disse uma vez que a sua família hoje são a Ana e os pais dela. - Ele assente e dá um sorriso triste.
- Eu perdi os meus pais aos sete anos. - Ana se aproxima e percebe que Lucca está se abrindo, então apenas se sentou em meu colo, quando Tyler também se aproximava, completamente vestido agora e percebo que estamos apenas nós quatro no local. - Eu tinha uma avó materna e uma tia, mas as duas disseram que não iriam assumir a responsabilidade de uma criança, fruto de um relacionamento que elas não aceitavam, então cederam a minha guarda para o Estado e assim eu fui para um Orfanato.
- Eu sinto muito. - Falo sinceramente, pois meus pais sempre fizeram de tudo por mim e Melissa, então não imagino passar por uma situação como essa, mas ele mais uma vez nega com a cabeça.
- Eu era muito novo, a única coisa que eu sentia, era a falta dos meus pais, mas enfim, passei um tempo no Orfanato até que fui adotado por um casal que não podiam ter filhos, e eles foram excelentes pais, até o dia que eu disse que gostava de meninas, mas que gostava muito mais de meninos. - Ele volta a pegar outra uva e percebi que isso é uma forma dele controlar suas emoções. - A minha mãe adotiva chorou muito e meu pai apenas ficou me olhando decepcionado, mas também com nojo, então antes que eles dissessem alguma coisa que poderia me machucar, eu agradeci por eles terem me criado até ali, peguei algumas poucas coisas e sai de casa.
- Mas... Você nem esperou para ver qual seria a reação deles, Lucca? Eu digo, talvez pudesse ter sido apenas um susto pela notícia, não sei. - Tyler faz a pergunta e agradeço mentalmente, pois essa também é uma pergunta que eu faria.
- Meus pais são muito religiosos e levam muito a sério essa questão de que um casal só pode ser formado por um homem e uma mulher, pois assim Deus determinou na Bíblia e por diversas vezes eu presenciei comentários maldosos deles por presenciar situações semelhantes em nosso meio. Então eu sabia que eles jamais iriam me aceitar como eu sou, tanto que nunca me procuraram para falar nada, nem mesmo depois que eu me tornei um Modelo conhecido. - Ana alcança a mão dele, dando um aperto e sorri afetuosa. - Passei algumas noites na casa de um amigo, mas depois comecei a trabalhar em uma lanchonete e logo conheci Paolo Caruso, o nosso Agente. - Ele aponta para Ana e Tyler que assentem.
- Paolo tem uma visão de águia para encontrar novos talentos. - Tyler se pronuncia e sorri para Lucca e Ana.
- Isso é verdade. - Lucca concorda, mas continua a contar sua história. - Eu tinha 18 anos e como não tinha mais nada a perder, aceitei e passei a morar nos dormitórios da Agência, que era um prédio cedido para os Modelos que não morassem em Milão. - Apenas assentimos para não interrompê-lo. - Então foi assim que conheci o Khalan, que apesar de ter apenas 21 anos, era um Modelo experiente, pois iniciou sua carreira com 15 anos de idade, fazendo fotos de Estúdio e alguns Comerciais, além de ser muito educado. - Ele respira fundo, voltando a falar. - E, logo me senti bem na presença dele, porém, eu confundi o seu excesso de educação, cuidado e carinho com algo a mais, mas pelo fato dele ter um namorado que era um completo idiota, eu resolvi me afastar.
- Você percebeu que esse é um padrão na sua vida, Lucca? - Ana pontua e continua segurando a mão dele, que apenas a encara com seus olhos verdes indagadores. - Você fugiu de uma conversa com os seus pais adotivos, mas dessa, eu acredito que foi o melhor que você poderia ter feito baseado no histórico que você já havia dito, mas então você fugiu do Khalan uma vez e agora está fugindo de novo.
- Você reencontrou o Khalan? - Tyler faz a pergunta surpreso e Lucca assente. - E, está fugindo dele de novo? - Novamente ele assente e Tyler suspira negando com a cabeça. - Lucca, você sabe o porquê do Khalan e do Sean sempre estarem brigando? - Ele nega com a cabeça. - Por sua causa.
- Como assim, por minha causa?
- Eu não deveria falar isso, pois eu prometi ao Khalan, mas tendo em vista que vocês se reencontraram e parece que a história está se repetindo, ele que me perdoe.
- O que você está querendo dizer com isso, Tyler? - Lucca se empertiga na poltrona e Tyler volta a suspirar.
- O relacionamento deles já havia se desgastado há muito tempo e o Sean era muito manipulador, usando de chantagem emocional para controlar o Khalan. Como eles não podiam expor na mídia o relacionamento, justamente por causa das cláusulas da Agência, ele se aproveitava disso. Sean era muito abusivo e usava a tradição tailandesa de respeito sobre os mais velhos e fazia o Khalan acreditar que a última palavra tinha que ser a dele e a relação deles só acabaria quando ele quisesse, porém eles viviam apenas de aparência, porque tecnicamente, não estavam mais juntos quando você chegou à Le Pallé Models.
- Isso não faz sentindo, Tyler. Eu vi o Khalan com o Sean muitas vezes, principalmente quando eu me aproximava para conversar com ele, afinal, nós éramos amigos, por isso eu me afastei, pois aquilo me machucava. - Tyler sorri de lado e nega com a cabeça.
- Vocês deveriam conversar sobre isso, Lucca.
- O Lucca não deixa o Khalan falar nada, Tyler. Esse Italiano é mais cabeça-dura do que o meu noivo.
- Ana! - Repreendo apertando sua cintura, que ainda continua sentada em meu colo e ela dá uma risadinha, beijando os meus lábios.
- O Khalan se apaixonou por você, Lucca, mas o Sean infernizava a vida dele e fazia questão de mostrar para você que quem o tinha sobre controle, era ele. E no fim, conseguiu o que queria, afinal, você parou inclusive de conversar com o Khalan, até o dia que o pai dele sofreu aquele AVC e ele decidiu se aposentar.
- Eu acho que você está enganado, Tyler, pois o Sean voltou para a vida do Khalan e de alguma forma, aquilo mexeu com ele, então eu que não quero ficar no meio de assuntos mal resolvidos que possa haver entre eles e ainda ter que presenciar uma reconciliação. - Ele fala com um tom de voz amargurado e Tyler nega com a cabeça.
- Claro que aquele perturbado do Sean iria mexer com Khalan, Lucca, mas posso afirmar que não é no bom sentido da palavra, ainda mais se vocês dois estivessem começando alguma coisa, porque pelo visto é isso que aconteceu. - Tyler nega com a cabeça e olha para Ana. - Princesse, você está feita com esses homens da sua vida. - Ele fala e olha de Lucca para mim, deixando-me constrangido.
- Pelo menos o meu amor de adolescência hoje é meu noivo e logo será o meu marido. - Ela sorri e beija o meu rosto e o sinto esquentar, por saber que seus amigos sabiam que eu fui um covarde no passado. - Agora, esse meu irmão é um teimoso, pois eu cansei de falar para ele deixar o Khalan se explicar e se de fato fosse o que ele pensava que pelo menos seguiria em frente, ciente que tomou a decisão certa e que não ficaria na base dos achismos.
- Lucca. - Chamo sua atenção que me olha e percebo que ele está sendo consumido por tudo que ouviu. - Não deixe sua teimosia e a razão que você tem como a certa, decidir a sua vida, às vezes nós temos que ouvir também o coração para poder tomar a melhor decisão, ou você poderá se arrepender pelo resto da sua vida. - Ele sorri de lado.
- Eu achando que iria conversar com você para aplacar o que você estava sentindo por causa do ensaio e no fim, as últimas palavras reconfortantes foram suas, Christian. - Eu suspiro e olho rapidamente para Ana, antes de voltar a minha atenção nele.
- Às vezes só precisamos começar um assunto para o que realmente queríamos conversar vir à tona, Lucca, e eu também entendo o que você está sentindo, pois o medo, a dúvida, a incerteza do que poderá vir acontecer é nosso pior inimigo para poder pensar com coerência e lutar para conseguir a nossa tão almejada felicidade.
- Perlen min (Minha Pérola), se você não se casar com esse homem, eu caso. - Tyler fala com um sorriso e Ana dá risada.
- Sinto muito, seu Viking Norueguês, esse aqui é meu, desde que eu tinha 14 anos. - Ela acaricia o meu rosto, deixando-me ainda mais envergonhado. - Então procure um somente para você. - Ele faz uma careta e nega com a cabeça.
- Eu fui trocado por um Seminarista, agora estou de coração partido e demorarei a me recuperar. - Ele coloca a mão no peito dramaticamente, mas logo leva aos cabelos para prendê-los, levantando-se. - Bom, eu preciso ir, só passei no Hotel para tomar um banho e vim direto para cá, estou morto de cansado.
- Tyler, você vai ficar até quando em Washington? - Ana se levanta também, assim como eu e Lucca que continua pensativo.
- Bom, sinceramente eu estou pensando em ficar por aqui, pois tudo que eu tinha para resolver na Noruega, já foi resolvido e depois do desfile de Milão, estou me desligando da Le Pallé Models.
- Sério? - Ana pergunta de olhos arregalados e ele assente.
- Princesse, eu estou com 28 anos e, sinceramente, por mais que eu seja muito grato ao Paolo e a Agência, eu não quero mais ficar seguindo tantas regras e imposições por causa de um contrato, ainda mais em uma profissão que tem prazo de validade.
- Lucca e eu também nos desligaremos... Mas vamos conversar sobre isso depois. - Ela interrompe algo que ele iria perguntar, fazendo-o assentir e olhar para mim.
- Foi um prazer poder lhe conhecer, Christian, espero que faça essa Princesse realmente feliz. - Aperto a mão que me estendida e assinto.
- Essa é a minha missão de agora em diante. - Ele sorri e se aproxima para beijar a testa de Ana.
- Perlen min, eu estou no Four Seasons Hotel Washington, suíte 762, ligue-me para conversarmos e me enviar o seu convite de casamento, pois esse eu não perco por nada, nem que eu entre de penetra. - Ela dá risada, mas assente, vindo para os meus braços, enquanto Tyler se despede de Lucca com um abraço. - Lucca, ouça o conselho do seu cunhado e siga o seu coração. Ouça o que o Khalan tem para lhe falar, mas você já sabe parte do que aconteceu há alguns anos, então cabe a você se quer ser feliz com quem ama ou não.
- Pode deixar Tyler, que agora eu sei o que tenho que fazer. Obrigado. - Tyler assente e sorri na nossa direção.
- Ser deg snart (Até breve). - E assim sai do Estúdio, deixando-nos sozinhos.
- Bella Mia, eu... - Ana pega na mão de Lucca e sorri.
- Você está com o meu carro? - Ele assente e ela se afasta dos meus braços para abraçá-lo. - Então não se preocupe, vai atrás do seu amor e se tudo der errado, o que acredito que não dará, estaremos em casa, esperando para recebê-lo e colar seus caquinhos se for necessário.
- Ti voglio bene (Eu te amo).
- Anch'io ti amo. Ora vai. (Eu também te amo. Agora vai). - Ele beija a testa dela, coloca a mão rapidamente em meu ombro e sai correndo também. - Vamos para casa, meu Amor? - Ela abraça o meu pescoço e sorri. - Sua família deve estar ansiosa para felicitá-lo por seu aniversário e ainda temos assuntos para conversar sobre o nosso casamento, pois o tempo está passando.
- Vamos sim, mas além do nosso casamento, temos outro assunto para resolver. - Ela me olha confusa e eu sorrio, aproximando seu corpo ainda mais do meu. - Eu quero um ensaio fotográfico exclusivo... - Aproximo-me de seu ouvido e mordo o lóbulo da sua orelha. -... Com você nua sobre a nossa cama.
- Christian... - Ela fala num gemido e me afasto, pois ainda estamos no Estúdio e aqui não é lugar para ficar excitado.
- Vamos, meu Anjo... Endiabrado.
Ela dá uma risadinha, pega a sua bolsa e entrelaçando a sua mão na minha, nós saímos do Estúdio e eu penso que assistir ao ensaio fotográfico deles, não foi tão ruim como eu pensava - tirando o fato do meu ciúme quase difícil de controlar -, pois Tyler parece ser uma boa pessoa, mas ainda quero saber essa história dele ter sido apaixonado por minha noiva.
E, espero que Lucca consiga resolver a sua situação com o Khalan, pois a pior coisa que existe, é as dúvidas que ficam martelando em nossa cabeça, com os "e se" que são cruéis e não perdoam um minuto sequer dos nossos pensamentos.
Minha nossa Senhora do Vinkings lindos 🤤🤤🤤, tem razão o Christian ficar com ciúmes, ohhh homem lindo gostoso da porra 🤤🤤🤤!
Acho que agora Lucca resolve sua vida com o amor dele, porque se não resolver, eu vou bater nele e ficar com o Khalan para mim 🤭🤭🤭?
Eita, que Christian está "safadenho", não é mesmo 😏😏😏?
E, desculpem-me pela demora, mas meu fim de semana foi bemmmm corrido 🙈🙈🙈!
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