Capítulo - 23
No dia que o meu pai falou que iria comprar um apartamento no meu aniversário de 18 anos, eu neguei por achar que seria um dinheiro mal empregado, tendo em vista que eu acreditei que nunca iria usá-lo, mas então ele me convenceu, dizendo que poderia ser uma forma de gerar renda e eu pudesse empregar esse dinheiro em alguma ação beneficente se assim eu desejasse e foi por essa razão, que acabei aceitando.
Porém eu vi o imóvel apenas por fotos e me culpo por não ter demonstrado tanto interesse para adquiri-lo e talvez o meu pai tivesse mais fé nos meus sentimentos e as atitudes que eu viria a tomar, do que eu mesmo. Hoje eu o agradeço por não ter aceitado a minha recusa e mesmo que eu ache um exagero uma cobertura duplex, com cinco quartos – sendo três deles, suítes –, dois banheiros, duas salas, academia, uma cozinha bem ampla, área de serviço e até mesmo uma piscina, eu estou feliz em saber que aqui será o lar que irei dividir com o amor da minha vida.
E devo ressaltar que ainda tem o bônus que o apartamento da Melissa, que também foi presente do meu pai – onde Andrew já mora faz uns dois meses, ou um pouco mais, eu não sei dizer –, fica na torre ao lado da minha, veja só que maravilha, não é mesmo? Sarcasmos a parte, afinal, eu amo muito a minha irmã, apesar de ser um pouco louca, eu confesso que gostei muito do Phoenix Plaza, sendo um Condomínio composto por duas torres idênticas, cada uma com 21 andares – sendo dois apartamentos por andar – e a cobertura, bem situada em Washington e muito seguro.
Abro a sacada do quarto principal e vejo que até mesmo o tempo hoje está compartilhando do sentimento que carrego em meu peito, com o sol brilhante e clima agradável. O céu azul me faz sorrir por me lembrar dos olhos da Ana. Olhos estes que sempre amei admirar por serem tão transparentes e que exalam inocência, mas que consegue também me levar à insanidade em questão de segundos.
– Christian? Amor, onde você está? – Ouço o eco de sua voz ultrapassar os cômodos vazios do nosso apartamento e sorrio, saindo da sacada.
– Aqui em cima, Ana! No nosso quarto.
Logo ouço o barulho dos seus saltos ecoarem ao subir os degraus da escada e saio do quarto para aguardá-la, encontrando-a no corredor, que assim que me vê, abre um sorriso e me vejo repetindo o seu ato para logo selar os seus lábios e recebê-la em meus braços.
– Desculpe-me o atraso, mas o trânsito nesse horário não estava nada favorável.
– Não está atrasada, temos alguns minutos ainda, antes do Arquiteto chegar. – Afasto-me para acariciar o seu rosto delicado, colocando uma mexa do seu cabelo atrás de sua orelha. – Veio com o seu carro? – Ela nega com a cabeça e beija rapidamente os meus lábios.
– O Lucca me trouxe e ficou com o carro. – Eu assinto e ela se afasta totalmente e seguimos para o cômodo que será o nosso quarto. – Eu achei melhor voltar com você e ele aproveitou para encontrar com o Khalan, afinal, ele tem o evitado há uma semana.
– Ele é o proprietário do imóvel que vocês querem comprar, correto?
– Bom, se o Lucca deixar de ser cabeça-dura e ouvi-lo, possivelmente ele será bem mais do que apenas o proprietário do imóvel que pretendemos comprar. – Fico confuso e ela dá risada negando com a cabeça, enquanto passa os braços por meu pescoço. – Khalan é o amor da vida do Lucca, Christian, mas que devido a alguns percalços no meio do caminho, eles ficaram separados por muito tempo.
– Entendo. – Apesar de não entender absolutamente nada sobre relacionamentos homoafetivo, completo em pensamento e ela dá uma risadinha.
– Entende nada! – Recebo um beijo rápido nos lábios. – Mas logo você irá se acostumar com a vida real fora das paredes daquele Seminário e perceberá que amor é amor, independente do gênero ou orientação sexual.
– Eu não sou homofóbico, Ana! – Fico até um pouco ofendido se ela estiver pensando isso a meu respeito, mas ela sorri ternamente e acaricia o meu rosto.
– Eu sei meu Amor! Mas eu sei também que isso pode ser um pouco diferente para você, sendo que o Lucca é bissexual, podendo se relacionar tanto com homens quanto com mulheres, o que poderia divergir de toda a formação que você teve ao longo dos anos se preparando para ser um Sacerdote. – Ela faz uma careta ao proferir a última palavra e eu assinto, pois de fato há divergências de opiniões sobre esse assunto entre alguns Seminaristas e isso eu não posso negar, porém não é o meu caso, obviamente. – Mas enfim, vamos deixar o Lucca resolver a vida dele e só assim saberemos se teremos ou não um cunhado.
– Você gosta mesmo daquele Italiano, não é? – Intensifico um pouco mais o aperto de meus braços em volta de sua cintura e ela assente sorrindo.
– Lucca tem sido um dos motivos para eu ter conseguido seguir em frente enquanto estive em Milão. – Meu coração se aperta quando ela fala isso e suspiro, mas ela volta a acariciar o meu rosto, passando a mão em minha barba. – E também o grande motivador para que eu voltasse a Washington para lutar pelo amor do homem que eu amo.
– Acho que agora tenho mais um motivo para gostar daquele Italiano, então. – Sorrio de lado por ver sua carinha confusa. – Primeiro, por ele estar apaixonado por outro homem e assim eu não tenha que lutar com ele pelo amor da mulher da minha vida. – Ela sorri e nega com a cabeça. – E segundo, por ter te convencido a vir para me resgatar e não me deixar cometer a loucura que faria com que fossemos infelizes por resto de nossas vidas, bom, pelo menos eu seria com toda certeza.
– Bobo! – Ela me beija e apoia a cabeça em meu ombro. – Lucca é uma pessoa muito especial e merece muito ser amado. E apesar de conhecê-lo só há quatro anos, o amo como o meu irmão mais velho, por isso você nunca teria que se preocupar em lutar com ele pelo o meu amor, pois ele sempre foi seu.
– Droga, Ana! Eu te amo tanto. – Ela dá risada e se afasta olhando em meus olhos.
– Eu também te amo, Christian. Tanto que você não faz ideia.
Fico imerso no brilho cristalino de seus olhos, até ser distraído pela ponta de sua língua rosada umedecer seus lábios e quando me aproximo para tomá-los nos meus, ouvimos a campainha, deixando-me frustrado, mas acabo sorrindo ouvindo a risada gostosa de Ana.
– Péssima hora para esse Arquiteto chegar. – Falo a contragosto e ela se aproxima beijando o canto da minha boca, antes de sussurrar em meu ouvido.
– Não se preocupe, a noite não terá ninguém para nos atrapalhar. – Ela morde o lóbulo da minha orelha me fazendo arrepiar. – E serei toda sua, do mesmo jeito que você será meu... – Ela beija o meu pescoço e preciso me conter para não gemer, quando sinto seus dentes pressionarem logo abaixo da minha orelha. –... E espero que isso possa acontecer à noite inteira.
– Merda, Ana! Isso não se faz. – Ela se afasta rindo, quando ouvimos novamente a campainha e respiro fundo para me controlar e não jogá-la no chão frio desse quarto.
– Vai abrir a porta, Amor, ou o Arquiteto pensará que não estamos aqui. – Ela beija o meu rosto e caminha na direção do banheiro. – Daqui a pouco eu encontro vocês.
Ela fecha a porta e eu respiro fundo algumas vezes e saio do quarto, mas nego com a cabeça sem evitar o sorriso pensando na dualidade da Ana. Em um momento ela é a minha Princesa pura e inocente me olhando com aqueles olhos azuis brilhantes, mas de repente vejo o fogo consumir suas íris fazendo com que eu perca o controle e a única coisa que tenho vontade de fazer e jogá-la em qualquer superfície plana e me perder em seu corpo.
Balanço a cabeça para expurgar esses pensamentos luxuriosos, ou terei que atender o Arquiteto com a droga de uma ereção por estar pensado no meu anjo endiabrado que ainda está no andar de cima, possivelmente pensando em uma forma de me fazer perder a razão antes do anoitecer.
Ouço novamente a campainha e acelero os meus passos, estando mais controlado e abro a porta, mas franzo o cenho ao perceber que não é o Arquiteto Benjamin Sanders que me aguarda, mas sim uma mulher que assim que me vê, abre um sorriso um tanto quanto exagerado e apesar de não me recordar do seu nome, eu sei que foi uma colega da época do Colégio.
– Boa tarde, Senhorita... – Seu sorriso vacila, talvez por meu esquecimento, mas se recupera.
– Christian, sou eu, Violet Sanders. Fomos amigos no Ensino Médio.
Sorrio sem graça, mas ainda sem entender o que ela está fazendo aqui, porém a julgar por sua pasta e o lenço amarrado em sua bolsa com a logo da Empresa Áthria Design & Interiores, ela deve ser a Arquiteta, pois eu havia deixado liberado na portaria à entrada do profissional da Empresa em questão.
– Como vai, Violet? – Abro mais a porta para que possa entrar e ela me surpreende, beijando o meu rosto, me deixando desconfortável com sua atitude repentina.
– Quando o Benjamin falou que viria atender um Christian Grey, eu pedi para vir no lugar dele, pois eu queria ter certeza que seria mesmo você.
– Certo! Então você trabalha na Áthria?
– Na verdade a Empresa é da minha família e o Benjamin é o meu irmão mais velho. – Apenas assinto, por não ter mais o que dizer, mas ela dispara a falar. – Nossa faz tanto tempo que não nos vemos que não pude conter a felicidade em saber que o meu cliente poderia ser você. Eu fiquei em choque, não acreditando quando fiquei sabendo que você havia entrado no Seminário, mas pelo visto você não é mais um Padre, pois está usando roupas normais. Mas espera! Padres também usam roupas normais, não é? – Fico atordoado com o quanto essa mulher fala, mas nego com a cabeça.
– Não, Violet, Padres raramente usam roupas "normais", pois sempre estão usando o clérgima, mas eu não me consagrei Padre e também não sou mais um Seminarista. – O seu sorriso aumenta ainda mais, se isso é possível, enquanto ela me avalia de cima a baixo, antes de voltar a olhar em meus olhos, mordendo o lábio inferior e se aproximando lentamente, deixando-me ainda mais desconfortável por sua inspeção.
– Hum, então quer dizer que você agora é um homem como qualquer outro? Um homem livre? – Arregalo os olhos por ver o quanto ela é direta, mas antes que eu fale alguma coisa, Ana o faz por mim.
– Sim, Violet, o Christian não é mais um Seminarista, mas isso não faz dele um homem como qualquer outro, isso eu posso garantir. – Ela se assusta e olha para trás, vendo Ana se aproximar com seus passos firmes e elegantes, enquanto desce os degraus da escada, até parar ao meu lado, pegando a minha mão e entrelaçando nossos dedos. – E com toda certeza ele não é livre, afinal, você está falando com o meu noivo.
– Noivo? – Violet pergunta cética, arqueando uma sobrancelha para Ana, que sorri.
– Sim! E se você está aqui no lugar do Arquiteto que iria fazer o projeto da decoração do nosso Apartamento, acredito que também deve ser uma, correto?
– Correto. – Ela responde a contragosto e Ana abre um sorriso cínico que nunca vi em seus lábios antes.
– Ótimo! Então vamos ao que interessa, pois acredito que você não é contratada por saber o estado civil dos seus clientes e sim por saber desempenhar bem a sua profissão. – Violet avalia Ana, como fez comigo, porém com um ar de desdém que não me agrada em nada.
– Você está diferente, Anastásia. Está mais... – Ana a interrompe de forma cortante.
– Madura, decidida, segura de si? Bem diferente da pirralha que cheirava a leite, não é mesmo, Violet?
– Eu iria dizer mais ousada e vejo que os tempos que você viveu em Milão sendo a Princesinha da Le Pallé Models te fez de fato amadurecer, mas me diz uma coisa? Você não era a namorada daquele modelo Italiano, muito gostoso, que sempre fotografava com você? – Ela abre um sorriso tão cínico quanto o que Ana a deu minutos atrás e continua. – Afinal, a notícia do mundo da moda sempre era a mesma, dizendo o quanto vocês eram perfeitos e sempre eram retratados como o casal que ultrapassava além das passarelas. – Ana gargalha e sinceramente, estou perdido com essa troca de farpas entre elas.
– Fico lisonjeada que eu tenha uma fã que fazia questão de acompanhar os meus passos dentro e fora das passarelas, inclusive ficando atenta às notícias e fofocas italianas. – Violet fecha a cara e Ana sorri abertamente, porém solta a minha mão e caminha na direção da porta, abrindo-a. – Mas diferente de mim que amadureceu, eu vejo que você continua a mesma desde o Colégio, Violet. – Ela faz uma pausa como se estivesse pensando em algo, continuando a falar em seguida. – Arrogante, mesquinha, tendo como diversão arrumar confusão, porém devo acrescentar a sua lista também, nada profissional, por isso eu terei que dispensar os seus serviços, antes mesmo de começá-los. – Ela arregala os olhos e me encara, mas volta a sua atenção a Ana, dando um sorrisinho prepotente.
– Eu estou aqui a pedido do Christian e você não tem poder para decidir quem trabalha no apartamento dele, mas eu tenho certeza que ele sabe que não encontrará Arquiteta mais capacitada do que eu ou projetos tão bem desenvolvidos quanto os da minha Empresa.
– Tenta a sorte, quem sabe dá certo. – Ana arqueia uma sobrancelha me olhando tão intensamente que me faz engolir em seco e vejo que Violet também está me encarando, aguardando a minha resposta.
– Acredito que a minha noiva tomou a decisão dela, Violet. – Ela abre a boca, mas a interrompo antes que fale alguma coisa. – Se ela está dispensando os seus serviços, não há mais o que discutir. Obrigado por ter vindo e tenha uma boa tarde.
Ela continua a me encarar, assimilando as minhas palavras, mas ao se dar conta que não irei falar mais nada, levanta o queixo, arrumando a bolsa no seu ombro e apoiando a pasta contra o peito, passa por mim a passos pesados, saindo do apartamento sem dirigir mais nem uma palavra a Ana que acena para ela, fechando a porta em seguida.
– Teremos que procurar outra Arquiteta. – Ana dá de ombros, enquanto se aproxima, como se nada tivesse acontecido.
– O que foi isso?
– Ah! Nada demais, apenas relembrando os velhos tempos com uma conhecida. – Ela beija os meus lábios e segue para a cozinha, retornando logo em seguida com a sua bolsa. – Vamos? Pelo menos agora terei um pouco mais de tempo para preparar a nossa noite, afinal, tenho uma promessa para cumprir. – Ela pega a minha mão e começa a me arrastar na direção da porta.
– Ah, Ana! O que eu faço com você?
– À noite eu respondo essa pergunta, agora vamos! – Ela responde me olhando sobre o ombro e me dá um sorriso lascivo, fazendo-me engolir em seco.
Eu respiro fundo e nego com a cabeça, pois uma coisa eu devo concordar com a Violet, a Ana está mesmo mais ousada e isso faz com que eu seja o homem mais sortudo desse mundo, afinal, ela é minha! E apenas minha!
(...)
– Falarei com o Padre James sobre isso, mas de qualquer forma, pode confirmar a minha entrevista com o Arcebispo. Obrigado. – Desligo o telefone e respiro fundo, fechando os olhos, enquanto jogo a cabeça no encosto do sofá.
– Está tudo bem, Filho? – Abro os olhos e encaro o meu pai, sentando-se a minha frente.
– Está sim, Pai, era da Secretaria do Seminário, avisando sobre o retiro que antecede a Ordenação dos candidatos ao Diaconato.
– Mas você não havia conversado com o Padre James, informando a decisão de não se Ordenar? – Nego com a cabeça e respiro fundo novamente.
– Ainda não, eu iria fazer isso assim que as férias acabassem, sendo que eu não iria mais voltar para o Seminário, mas segundo a Secretária, eu tenho que ir de qualquer forma para o retiro e me submeter à entrevista com o Arcebispo, para só então eu tomar a decisão, se o desligamento do Seminário será mesmo o que quero.
– Comigo o processo foi mais simples, eu precisei apenas conversar com o meu Diretor Espiritual. – Encaro o meu pai e ele sorri de lado. – Eu abandonei o Seminário logo no início, diferente de você que estava prestes a fazer os seus votos, por isso o Arcebispo precisa conversar com você, sendo um processo natural que todo Seminarista passa antes da Ordenação. – Eu assinto já ciente desse fato e ele continua. – Nessa entrevista, ele saberá se mesmo depois de todos os anos de preparo no Seminário, os candidatos a Ordenação ao Diaconato estarão mesmo dispostos a abdicarem de suas vidas individuais, para passarem a viver para Igreja e a comunidade paroquial e se os candidatos não estiverem de fato preparados e seguros desse passo, este é o momento de decidir se seguirão em frente e se consagrarão ou perceberão que o Sacerdócio não era a vocação que acreditavam ser.
– Eu só não entendo por que eu preciso ir para o retiro se apenas preciso informar sobre o meu desligamento.
– Onde será o retiro e terá quantos dias de duração?
– Será no Mosteiro do Sangue Precioso no Brooklyn em New York e terá duração de 10 dias, tendo o encerramento três dias antes da Ordenação, se eu fosse me submeter à celebração, é claro.
– Serão poucos dias, Filho.
– De fato, Pai, mas depois de expor a minha situação, a Secretária me pediu para conversar com o Padre James, para haver a possibilidade de eu comparecer apenas à entrevista com o Arcebispo, tendo em vista que a minha decisão já foi tomada.
– Mas não se preocupe com isso, independente de quantos dias serão você terá que ir de qualquer forma. – Dou de ombros e assinto, pois isso é verdade. – E onde está a Ana?
– Está na casa dos pais dela.
– Sua mãe e a Melissa também estão lá. Com certeza estão falando sobre o casamento de vocês. – Sorrio de lado, mas antes que eu fale algo referente a isso, ouvimos a porta abrir e Andrew entra na sala com Lucca, que me entrega um envelope.
– O que é isso?
– Christian, apenas abra e leia, mas não pergunte nada por enquanto. – Andrew fala com um sorrisinho de lado e ouvimos a risada do meu pai.
Analiso o envelope por um momento, tendo apenas o meu nome escrito no verso, mas reconhecendo a caligrafia bem desenhada de Ana, eu encaro Andrew e Lucca, que fazem gestos impacientes com as mãos para que eu abra logo e assim eu faço.
'Amor,
Durante oito anos, não comemoramos o seu aniversário e sei que você parou de fazê-lo desde que decidiu entrar no Seminário e nós dois sabemos o porquê disso, mas essa questão não será mais retratada e muito menos nesta pequena carta, então vamos esquecer o passado, à distância e tudo que ela nos causou, pois amanhã é o seu aniversário. Uma data semelhante há de alguns anos e eu posso dizer que foi onde a nossa história começou, tendo uma pausa temporária, mas será também nesse dia que teremos o nosso recomeço.
Pela manhã eu disse que estaria preparando uma surpresa para você e ela começa agora, mas a primeira parte da comemoração do seu dia – ou a véspera, melhor dizendo – será desempenhada por esses dois que estão parados à sua frente nesse momento, enquanto você obtém minhas instruções por meio dessas poucas linhas.
Por muito tempo você se privou de viver, como qualquer jovem estaria fazendo, justamente por acreditar que o correto seria se punir por algo que não deveria nem ser cogitado e por essa razão, eu quero pedir a você para se libertar de toda e quaisquer amarras que ainda possam te prender, então, meu Amor, viva! Aproveite! Se divirta! E seja o jovem de 25 anos que você tem que ser, deixando o passado exatamente onde ele deve ficar.
Mas não se preocupe que eles irão pegar leve com você e não irão aprontar nada de outro mundo, pois eu sei que eles têm amor à suas vidas e Andrew precisa estar inteiro para se casar no próximo sábado. Então não precisa ficar assustado, pois eles irão apenas te levar em um lugar que você nunca cogitou a possibilidade de frequentar, mas não se anime muito, pois você irá desfrutar dessa breve "liberdade" por apenas um pouco mais de quatro horas, sendo que depois disso, você virá ao meu encontro.
E é nesse momento que entra a segunda parte da sua surpresa – que será comigo –, mas novamente, não se preocupe, pois o Lucca está de posse de tudo que você irá precisar para o momento de vir me encontrar e depois, seremos apenas você e eu.
Aproveite o início da sua noite... Mas não muito.
Com todo o meu amor,
Sua Ana!'
Termino de ler a carta e consigo visualizar em minha mente o seu sorriso ao escrevê-la e sem perceber, sorrio imaginando o que ela deve estar aprontando, mas sinceramente não sei se confio muito nesses dois que estão me encarando como se fossem me levar para algum lugar que possivelmente irei me arrepender se acompanhá-los.
– Está pronto para saber como é se divertir entre amigos, Christian? – Lucca me pergunta com um sorriso de lado e eu nego com a cabeça.
– Com essa cara que você e o Andrew estão fazendo? Com certeza não!
– Que bom que hoje você não tem escolha, então levanta logo desse sofá, se troque e vamos! O tempo está passando. – Andrew se pronuncia e eu suspiro, dobrando a carta e o meu pai se aproxima também sorrindo.
– Não pense demais, Filho, você nunca se divertiu antes, então aproveite.
– Tudo bem. – Levanto-me resignado e subo as escadas para me trocar. Só espero não me arrepender disso depois.
(...)
– Estamos chegando. – Ouço Andrew falar com alguém que não faço ideia de quem seja, enquanto estamos a mais de 30 minutos dentro do carro e estou ficando impaciente que não chegamos nunca, seja lá onde quer que eles estejam me levando. – Não, por enquanto ficaremos na área do Bar, depois subiremos. – Ele continua falando e observo as ruas de Washington, sendo que nem dirigir meu próprio carro eu pude. – Sim, só nós três. Tudo bem, cara, até mais. – Ele encerra a ligação e olha para trás para poder me encarar, sorrindo de lado. – Christian, melhora essa cara, você está parecendo um menino que foi colocado de castigo.
– Eu até poderia melhorar a minha cara, se eu soubesse para aonde estamos indo, Andrew.
– Você se lembra do que eu falei hoje pela manhã, que você tem que se soltar mais? – Eu assinto e ele olha para o Lucca que está concentrado no trânsito. – Lucca, na próxima esquina a direita, você vira e logo verá a fachada da Red Diamond e pode estacionar onde conseguir. – Ele murmura um "certo", seguindo as orientações de Andrew que volta a sua atenção para mim. – Então apenas aproveite Christian, faz tempo que eu queria fazer isso com você, como na próxima semana será o meu casamento e ficarei fora 30 dias não seria possível, mas essa ideia da Ana não poderia ter surgindo em hora melhor.
– Vocês sabem o que ela está aprontando, não sabem? – Eles fazem uma troca de olhar rápida e assentem. – E com certeza não irão me dizer, correto?
– Christian, fique tranquilo. Não iremos fazer nada que você não queira. – Lucca fala e me olha pelo retrovisor interno do carro e sorri de lado por me ver com a sobrancelha arqueada, enquanto Andrew dá uma risada abafada. – Certo! Isso soou estranho, mas enfim, você conhece a Ana e sabe que quando ela coloca algo na cabeça, não desiste jamais, e para hoje, ela quer que você se divirta, ou pelo menos se distraia um pouco.
– Christian, apenas relaxe, pois já chegamos.
Assim que Andrew fala, Lucca estaciona o carro e eu olho para o local vendo um prédio de três andares, moderno, luxuoso, escrito Red Diamond na fachada em vermelho, preto e alguns detalhes dourados, mas o que me chamou a atenção foi à serpente envolvendo um grande diamante vermelho com suas presas.
Saímos do carro e atravessamos a rua e mesmo sendo início de noite, consigo perceber que o local é bem frequentado. Andrew se direciona ao Segurança que está na porta e após trocar algumas palavras, entramos num ambiente com luzes baixas em tons de vermelho, mas não a ponto de irritar os olhos e sim, confortável, com um som alto, mas não o suficiente para que possamos gritar para nos fazer ser ouvidos.
Mais alguns passos e percebo que estamos num Bar diferenciado e tenho vontade de socar esses dois por me trazerem em um local como esse, mas apenas respiro fundo e continuo seguindo-os e logo somos recebidos por alguém que eu não via há muito tempo, para ser mais exato, oito anos, quando ainda estávamos no Colégio.
– Sejam bem-vindas a Red Diamond. – Ele se aproxima e dá um abraço rápido em Andrew, cumprimenta o Lucca e direciona rapidamente seu olhar para mim. – Christian, quanto tempo? – Ele estende a mão e assim que aceito, ele me puxa para um abraço também.
– Realmente faz muito tempo mesmo, Breno. – Depois de dar tapinhas em minhas costas, nos afastamos.
– Fico feliz em tê-los no meu Bar, mas vamos? Eu reservei uma mesa mais afastada para nós. – Assentimos e o seguimos, sentando numa mesa afastada como ele havia dito, porém com visão ampla de todo o local. – Fiquei surpreso quando recebi a sua ligação, Andrew, pois estou esperando a sua visita há um bom tempo.
– De fato, estou em falta com você, mas devido ao casamento, o meu tempo estava praticamente escasso, pois só assim eu conseguiria repassar meus processos para sair em lua de mel. – Breno assente fazendo sinal com a mão e logo vemos um garçom se aproximando.
– O que vão querer beber?
– Eu quero apenas uma água com gás e limão. – Assim que respondo Lucca e Andrew fazem novamente uma troca de olhar, dando sorrisinhos de lado e encaram o Breno numa cumplicidade silenciosa.
– Acho que podemos começar com algo mais leve, o que me dizem? – Breno pergunta e eles assentem, mas focam a atenção em mim.
– Christian, nós não saímos para você beber água com gás e limão. – Andrew fala fazendo uma careta e antes que eu retruque, dizendo que eu não bebo, Lucca se pronuncia também.
– Queremos que você apenas relaxe, mas não iremos embebedá-lo, Christian, a Ana foi bem clara ao dizer que precisa de você sóbrio. – Ele fala com um sorrisinho malicioso e nego com a cabeça, mas Breno arregala os olhos.
– Ana? Essa Ana que vocês estão falando, é a Anastásia? A que foi para Milão seguir carreira de Modelo? – Ele faz a pergunta alternando o olhar em nós três, mas eu quem respondo.
– Sim, Breno! Essa Anastásia mesmo, a minha melhor amiga, mas que agora é minha noiva.
– Wow! Parabéns, cara! – Ele dá tapinhas em meu ombro e eu sorrio sem jeito. – Então mais uma motivo para comemorarmos, o nosso reencontro, o casamento do Andrew que pensamos que nunca iria acontecer e o seu noivado, Christian. – Ele fala animado e olha para o Garçom, que ainda esperava ao lado da nossa mesa. – Traga-nos quatro Old Fashioned com Bourbon, Danilo. – O Garçom assente, saindo em seguida. – Mas, desculpe-me por perguntar, mas você não estava em um Seminário, Christian? – Ele faz a pergunta confuso, o que me deixa sem jeito de responder, pois por mais que eu estivesse disposto a me consagrar pelos motivos errados, obviamente, não fico confortável em falar sobre isso, mas Andrew, responde por mim.
– Essa é uma longa história, mas para outro momento, Breno. – Ele assente e se desculpa com o olhar, eu apenas dou um sorriso sem graça. – E você? O que deu na sua cabeça abrir uma Casa Noturna?
– Depois que eu me formei em Administração, eu percebi que ficar trancado o dia todo em um Escritório não seria o que de fato eu queria, mas vocês se lembram como eu gostava de dar festas até mesmo na época de Colégio, certo? – Assentimos e o Garçom se aproxima, depositando os copos sobre a mesa e ele continua em seguida. – E na Universidade acabou por não ser diferente, então eu pensei, por que não aproveitar a minha formação com algo que eu definitivamente sentia prazer em fazer? E aqui estou eu, com uma Casa Noturna, mas que também funciona como Restaurante durante o dia. – Ele nos entrega os copos e sorri. – Um brinde ao nosso reencontro, meus amigos.
Depois de brindarmos, levo o copo à boca e por mais que a bebida tenha um leve adocicado, a queimação na minha garganta foi inevitável e se eles chamam isso de "mais leve", sinceramente não desejo beber algo mais forte. Porém eu paro para pensar e percebo que Andrew tem mesmo razão, sendo que eu continuo travado e quase acreditando que beber algo alcóolico com os meus amigos seja errado, e tendo ciência que eu sou livre para fazer o que bem entender, eu bebo mais um gole generoso e decido aproveitar a noite, mas tendo o cuidado para não ficar embriagado, afinal, não sei o que me aguarda quando eu sair daqui.
– Estou satisfeito que você tenha entendido o que quer dizer, aproveitar e se divertir. – Viro-me para Lucca que fala num tom de voz mais baixo ao meu lado.
– Obrigado, Lucca. – Ele também bebe a sua bebida e nega com a cabeça.
– É para isso que os amigos e agora cunhados servem. – Ele bate o seu copo no meu novamente e sorri de lado. Concordo com a cabeça e voltamos a prestar atenção na conversa de Andrew e Breno.
E começo a perceber que eu não irei me arrepender em tê-los acompanhado como imaginei e de fato, essa é a primeira vez que me sinto livre para fazer algo entre amigos, o que pensei que nunca mais seria capaz de fazer e devo agradecer a Ana, a mulher que me aguarda com uma surpresa, que estou ansioso para descobrir o que possa ser.
Será que foi só eu que fiquei com vontade de dar na cara da Violet? Ainda bem que como disse a Ana, a pirralha que fedia leite cresceu, não é mesmo 🤭🤭🤭?
Hummm! E eu acho que o que te aguarda, Christian, possa ser algo bem... Romântico e Quente 😏😏😏!
E será que essa noite dos rapazes irá acabar apenas com algumas bebidinhas? Vixi! Só sei que se eles aprontarem, a Ana vai fazer picadinho de Andrew e Lucca 🤭🤭🤭! Ainda mais se atrapalhar os planos dela para o fim de noite 🤭🤭🤭.
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