Capítulo - 06
Eu acho que essas informações que lemos na internet, não são confiáveis de fato, porque eu li que a paixão tem um tempo determinado para acabar que é de 1 a 2 anos e, que quando se está com quem você se apaixonou, depois desse período o estado de euforia passa e só fica o amor, mas e para quem não é correspondida? Esse prazo é o mesmo? Esse sentimento de fato deixa de existir? O coração vai parar de doer?
Eu sei! Eu não deveria estar pensando ou sequer pesquisando sobre isso, porque eu sou muito nova e blá, blá, blá. Mas a questão é que eu não me considero muito nova por saber o que eu quero e sinto, mas se minha mãe fala que sou muito madura para a minha idade, eu acho que sou também esperta para entender que esse sentimento machuca, ainda mais quando se sente pela primeira vez e espero que o "prazo de validade" para eu deixar de sentir isso, passe logo, pois eu não quero mais estar apaixonada pelo meu melhor amigo. Bom, pelo menos éramos isso.
O meu contato com Christian passou a ser quase de dois meros conhecidos e não melhores amigos, pois na Igreja mal trocamos um "Oi" e quando a celebração da Missa é encerrada, ele rapidamente sai na companhia de sua Avó. No Colégio também não ficamos mais juntos nos intervalos e eu não vou mais embora com eles depois da aula, sendo que eu pedi para o meu pai para o Motorista me levar e buscar – quando a minha mãe ou até mesmo ele não podem –, pois assim seria melhor e mais saudável para o meu coraçãozinho machucado.
Mas sabe o que é mais estranho nisso tudo? Eu consigo ver que ele também está triste e por diversas vezes eu percebia que ele ficava me olhando de longe, mas quando eu o encarava, desviava a sua atenção para qualquer lugar que não fosse eu, ou talvez isso seja apenas o desejo de uma "menininha" de quase 15 anos que quer ter a atenção do seu "Príncipe Encantado" apenas nela e por isso passa a ver e querer coisas de onde não tem e nunca vai ter.
Sorrio triste e sozinha em meu quarto ao me lembrar do Jantar Beneficente que foi realizado a mais de dois meses, quando alguns colegas do Colégio se aproximavam de mim e que inclusive aquele bobo do Enrico também estava presente, pois sendo filho do Prefeito ele não poderia faltar e, Christian ficou muito bravo, pois como eu já havia falado uma vez, eu conheço aqueles olhos cinza e sei quando ele está feliz, triste ou muito, mas muito bravo, no entanto ele ficou apenas com Andrew olhando para os outros meninos, de cara feia, sem ao menos se aproximar de onde eu estava.
– Princesa!
– Oi, Papai. – Sento-me na cama e seco rapidinho o meu rosto e logo ele entra com a minha mãe no meu quarto.
– Está tudo bem? Parece que você estava chorando.
– Não, está tudo bem sim, eu apenas me emocionei lendo a cena que o Cedrico morre no livro.
Virei à capa do livro Harry Potter e o Cálice de Fogo para o meu pai ver, ele assentiu, mas minha mãe me olhou sabendo que eu não falava a verdade, mas não me desmentiu e a agradeci com um sorriso triste por isso.
– Seu pai e eu estávamos conversando e precisamos definir como vai ser a sua festa de 15 anos, meu Amor. – Minha mãe se senta na minha cama e me abraça de lado e eu fico triste novamente, pois não terei o meu Príncipe para dançar a valsa comigo. – Falta só dois meses e teremos muita coisa para organizar, sem contar que precisamos enviar os convites no máximo em 15 dias.
– Eu... Eu não quero festa.
– Mas por que, Filha? – Meu pai pega a minha mão e eu suspiro. – Você estava tão animada, fazendo vários planos para esse dia.
– Eu sei, mas agora eu não quero mais. – Eles não falam nada, mas ficam me olhando. – Será... Será que poderíamos pegar o dinheiro e comprar brinquedos e levar para aquele Orfanato que minha mãe e a Tia Grace vão? – Olho para as minhas mãos enquanto as torço e meu pai levanta o meu queixo para olhar em seus olhos.
– Você tem certeza disso, Princesa? – Concordo balançando a cabeça. – A sua atitude é muito nobre, mesmo eu percebendo que você não quer a festa por outro motivo, mas a decisão é sua, no entanto ainda temos algum tempo e se você resolver, nós poderemos fazer os dois, o que acha? – Meu pai sorri e acaricia o meu rosto.
– Não, Papai, eu não quero mesmo uma festa. – Ele concorda e olha para a minha mãe, que balança minimamente a cabeça.
– Filha, você está triste assim e não quer a sua festa por que o Christian está indo embora e não estará aqui para dançar a valsa com você, não é? – Assusto-me com o que ele fala e sinto um aperto no coração.
– Como assim indo embora? Para onde? Quando? – Meu pai olha novamente para minha mãe que me aperta um pouco mais no seu abraço e começa a falar de forma cautelosa.
– Eu pensei que vocês tinham se despedido, meu Amor, pois eu sei que você não estava chorando por causa do livro. – Minha mãe fala e eu nego balançando a cabeça, sentindo o meus olhos arderem novamente.
– Mas... Mas ele está indo para onde? As aulas na Universidade não começarão apenas em Agosto? – Fico confusa, mesmo sentindo o meu coração doer um pouquinho mais agora, mas ela nega e meu pai apenas fica me olhando.
– Não, Filha! Ele está indo para... – Minha mãe olha para o meu pai que balança a cabeça para ela falar. – O Christian está indo para um Seminário que fica em New York e está saindo para o Aeroporto daqui a... – Ela para por um momento, olha em seu relógio e volta a falar. –... 10 minutos. – Me afasto do seu abraço e levanto-me da cama calçando a minha sandália. – Filha, aonde você vai?
– Eu vou falar com o Christian. Ele não pode ir embora sem se despedir de mim.
– Filha, eu não acho que... – Eu não espero meu pai terminar de falar e saio do meu quarto, sentindo vontade de chorar. – Anastásia!
No entanto eu não respondo o seu chamado e desço as escadas e logo estou correndo para a casa de Christian e as primeiras lágrimas deslizam por meu rosto, pois eu sei o que uma pessoa vai fazer em um Seminário, sendo que por diversas vezes ouvimos o Padre Joseph falar do seu tempo que estava se formando Padre.
Eu não entendo porque o meu melhor amigo resolveu ir para um Seminário e o que tudo indica, nem pretendia se despedir de mim, mas a dor que estou sentindo é maior do que se ele estivesse apenas indo para a Universidade, onde nos veríamos nos feriados e nas férias, eu não sei explicar que sentimento estranho é esse que faz o meu coração doer, principalmente no momento que me aproximo de sua casa e o vejo prestes a entrar no carro dos seus pais e antes que ele o faça, eu simplesmente grito com toda a dor que estou sentindo e que quebra mais um pedaço do meu coração.
– CHRISTIAN!
Afastar-me da Ana foi mais doloroso do que eu sequer poderia imaginar. Vê-la no Colégio me encarando com aqueles olhinhos azuis tristes me machucava de uma forma que não consigo nominar, mas eu sei que isso é o melhor para ela, que é tão novinha e que logo tiraria aquela ideia absurda que gosta de mim diferente de um irmão, da sua cabecinha inocente.
De alguma forma eu sei que estou quebrando a promessa que fiz ao Tio Ray que sempre a protegeria, bom, não totalmente, pois mesmo a distância eu mantinha meus olhos sobre ela e se caso precisasse de mim, eu estaria lá sem hesitar, no entanto para o bem da minha sanidade, achei melhor manter distância, o que facilitou para que eu pudesse tomar algumas decisões que tenho total ciência que mudarão a minha vida em definitivo, mas como a minha Avó disse, se eu quero ter novamente a minha paz de espírito restaurada e que a culpa que sinto por ter me apaixonado por aquele anjo se extingue do meu ser, eu só teria um caminho e, este seria atender o chamado de Deus.
Porém eu não vou negar que por diversas vezes, me senti impelido a me aproximar de Ana, principalmente no Jantar Beneficente promovido por minha mãe e por tia Carla para angariar fundos, para a Ala Oncológica Pediátrica do Hospital Universitário George Washington, quando o idiota do Enrico se aproximava dela, assim como alguns colegas que estudam em sua sala, mas mantive-me distante, apenas sentindo um incômodo estranho consumir o meu peito.
Eu sei que o que irei fazer é para o bem de Ana e, que seguir os desígnios de Deus é uma benção que nem todos tem a oportunidade de fazer, pois servir a uma Paróquia inteira é algo grandioso, principalmente por poder ajudar o próximo sempre que precisar, mas se isso é o certo a se fazer, por que às vezes eu sinto como se estivesse fazendo algo errado? E com isso eu me lembro dos conselhos do Padre Joseph, quando fui conversar com ele, com o incentivo da minha Avó, pois se houvesse alguém apto a esclarecer as minhas dúvidas, com certeza seria ele.
– O que tanto te aflige Christian? Você esteve tão disperso e agitado na Missa hoje, que até o Coral estava um pouco perdido, errando inclusive o momento de entrar com os Cânticos. – Padre Joseph entrou na Sacristia tirando a Casula e a Estola, colocando-as sobre o balcão fazendo o sinal da cruz, para logo depois se sentar a minha frente.
– Padre Joseph, quando o Senhor sentiu que queria ser um Padre? – Fiz a pergunta de uma vez, ou perderia a coragem. Ele olhou para mim e respirou fundo.
– Desde que eu era um adolescente, um pouco mais jovem do que você. – Eu fiquei em silêncio e ele me analisou por um tempo. – Por que a pergunta? Você está sentindo no coração que essa e a sua Vocação? – Se eu estava sentindo, não saberia dizer, mas talvez fosse o certo a se fazer.
– Sinceramente eu não sei Padre, mas às vezes eu acho que a culpa que eu sinto só será perdoada se eu for um Missionário de Deus. – Baixei a cabeça e meu coração doeu quando me lembrei dos olhinhos tristes da Ana.
– Culpa? Você é tão jovem e um menino tão bom que não vejo sobre o que você pode se sentir culpado. – Levantei a cabeça e olhei para ele, que me deu um sorriso reconfortante. – Ser um Missionário ou descobrir a sua Vocação não é apenas servindo a Deus como um Padre, meu jovem.
– Como assim, Padre?
– A forma que você faz hoje, com o seu grupo de jovens, auxiliando na Catequese e até mesmo com o louvor é uma forma de servir a Deus. E sobre a sua Vocação, ela não é necessariamente apenas Religiosa, pode ser Matrimonial também. – Fiquei confuso e ele percebeu, pois logo esclareceu. – Quando as pessoas falam em Vocação, elas logo pensam que tem que se tornar um Padre e servir a uma Paróquia, mas não é assim que funciona, Christian.
– Eu... Eu não estou entendendo.
– Para você ser um Padre, você tem que se doar por completo, pois é um processo de total anulação sendo que você deixa de pensar em si e se entrega completamente para servir aos outros e a Igreja. – Ele fez uma pausa para ver se eu estava prestando atenção e eu assenti. – Quando acontece de você sentir o Chamado de Deus, você tem que está ciente que será exigido o Celibato e isso não estou dizendo apenas o fato de você não poder se casar, mas porque é necessário não ter nada para si, para ter tudo para os outros.
– Mas... Padre Joseph, como eu vou saber que estou sendo chamado por Deus?
– Você vai sentir meu rapaz. – Ele sorriu novamente e logo continuou. – Pois o Chamado de Deus é uma voz que não pode ser ouvida, mas toca no fundo do seu coração de uma forma muito insistente que mesmo que você tente negar ou fugir, ela vai estar ali, te lembrando a todo o momento da sua missão e propósito, pois Deus está te oferecendo o caminho para a felicidade completa, basta você aceitar e abraçar essa oportunidade única que Ele está te dando. – Ele colocou a mão no meu ombro e esperei para ele voltar a falar. – E quando você se permitir e aceitar a sua Vocação Sacerdotal, você vai sentir uma felicidade plena, que não pode ser calculada e então, Christian, o seu coração sempre vai estar leve. – Pensei em suas palavras e é disso que eu preciso para ter meu coração livre de toda culpa e o peso que venho carregando desde o dia que beijei a Ana. – Mas para alcançar essa felicidade, não é apenas através do Sacerdócio, Christian. – Saí de minhas divagações e voltei a olhar para ele.
– Como assim, Padre Joseph?
– Você pode também descobrir que a sua Vocação é Matrimonial, onde você poderá sim ser um Missionário, mas se dedicando não a uma Paróquia, mas para uma pessoa que você estará disposto a compartilhar toda a sua vida, única e exclusivamente para ela e por ela. – A Ana veio novamente em minha mente e eu neguei balançando a cabeça, pois isso não poderia acontecer.
– Não, Padre! Eu não quero me casar. – E não posso querer, essa é a verdade.
– Então teremos um problema, pois mesmo você se tornando um Padre, você também se casará. – Ele deu um sorriso de lado por ver a confusão estampada em meu rosto. – Ser um Padre é um compromisso que você fará com a Igreja e isso também é um casamento, a diferença que a sua vida será compartilhada, doada e completamente entregue a várias pessoas, ouvindo os problemas em confissão de todos os fiéis de sua Paróquia e ter a sabedoria e discernimento para aconselhar da melhor forma.
E desde aquele dia, eu fico repassando essa conversa em minha cabeça, pois fazer o certo nem sempre parece ser tão simples como deveria ser, pois eu sinto muito a falta da minha melhor amiga. Sinto falta do seu sorriso, do seu abraço apertado, do seu perfume suave e de seus olhos brilhantes, no entanto eu me recrimino por pensar também nos seus lábios suave e adocicado em contato com os meus e por esse motivo, eu achei melhor me afastar, mesmo que doa o meu coração por fazer isso, mas está escrito em Mateus 26:41 "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca" e isso é o melhor a se fazer.
Outra coisa que mudou um pouco depois da minha decisão foram os ânimos em minha casa, pois minha mãe e minha irmã não estão de acordo quando eu disse que estaria indo para um Seminário. Quanto a minha Avó, não poderia estar mais feliz com a minha decisão e o meu pai se manteve neutro, o que achei estranho, mas a forma que ele me analisava é como se ele soubesse o que se passa em meu interior, porém ele não entrou na discussão como as mulheres da nossa casa e para evitar maiores confusões, eu resolvi subir para o meu quarto e ficar um tempo sozinho, até ouvir uma batida na minha porta.
– Está acordado, Filho?
– Estou sim, Pai, pode entrar. – Sento na cama e ele entra com um sorriso mínimo nos lábios. – A discussão na sala acabou? Como a Mamãe está? – Ele suspira e puxa a cadeira da minha escrivaninha sentando-se a minha frente.
– Você causou uma verdadeira revolução hoje, não é mesmo? – Dou de ombros, pois não teria como eu falar diferente a minha decisão. – A sua mãe está no quarto e a sua irmã saiu, foi se encontrar com alguns amigos que segundo ela, precisava sair para não subir e te dar uns tapas.
– A minha intenção não era causar problemas, Pai, mas essa decisão cabe apenas a mim e elas precisam entender isso. – Ele assente e fica me olhando, mas eu desvio o olhar, por não conseguir segurá-lo.
– Sabe Filho, você deve estar se perguntando por que eu não falei nada, correto? – Balanço a cabeça concordando e ele continua. – Eu até poderia te proibir de tomar essa atitude tão radical para a sua vida, afinal, você ainda é menor de idade e é responsabilidade minha, no entanto como você acabou de dizer, isso é uma decisão sua, que cabe somente a você, porém tenho algumas perguntas e espero que você seja sincero comigo. – Engulo em seco, mas assinto. – Foi a sua Avó que te influenciou a ir para um Seminário?
– Não, Pai. – Ele me olha duvidoso e eu suspiro. – Confesso que a Vovó sempre tenha deixado explícito, o seu sonho de me ver sendo um Sacerdote, no entanto a minha motivação é outra. – A culpa por nutrir sentimentos por quem não deveria completo apenas para mim.
– E qual seria a sua motivação? Eu sei que você sempre foi tímido e que essa timidez melhorou um pouco quando você passou a fazer parte do grupo de jovens da Igreja, mas a um ser Padre? Isso é bem sério, meu Filho.
– Eu... Eu apenas percebi que essa é a minha Vocação e como eu precisava decidir qual curso me inscrever na Universidade, então optei por Filosofia, mas senti que eu precisava fazer isso, me preparando para o inevitável que seria entrando num Seminário. – E me afastar do meu Anjo, mesmo que isso machuque o meu coração, penso comigo.
– Filho, você pode fazer Filosofia sem necessariamente estar num Seminário e se esse realmente for o curso que você deseja se formar, pode se tornar futuramente um Professor, mas não precisa ser um Padre.
– Pai...
– Essa decisão tem alguma coisa haver com o seu afastamento da Ana? – Arregalo os olhos por ele ter percebido, mas ele não me deixa falar nada. – Eu percebi sim, Christian, no entanto eu não sei o que aconteceu e isso é assunto seu e eu não irei interferir, mas tenho algumas condições para você seguir com o seu propósito.
– Como... Como assim, Pai?
– Se você quer mesmo ir para o Seminário e está certo quanto a isso, tudo bem, mas eu quero que você vá para o Seminário da Imaculada Conceição que fica em New York. – Eu tento perguntar por que ele quer que eu vá para o mesmo Seminário que ele frequentou, mas ele levanta a mão para que eu espere. – E quero que você tenha como Diretor Espiritual o Padre James Bishop e que o curso de Teologia, você virá fazer em Washington.
– Mas... Mas por quê?
– O Padre James é um homem sábio e vai saber te orientar nas suas dúvidas e dificuldades, pois você é muito jovem, meu Filho, pode estar tomando uma decisão precipitada e, quanto a voltar para Washington é simples, sendo que no Seminário você ficará praticamente recluso devido à rotina que terá e eu não poderia permitir que você ficasse 8 anos, longe da sua família. – Penso por um momento, mas concordo.
– Tudo bem, Pai.
– E é isso mesmo que você quer? – Assinto sem hesitar. – Então ótimo, ligarei agora mesmo para o Padre James e combinarei tudo com ele, só espero que você esteja tomando a decisão certa, meu Filho, e que não venha a se arrepender futuramente. – Ele sai do meu quarto e eu me jogo na cama.
– Eu também espero Pai, mas esse é o certo a se fazer. – Murmuro para o silêncio do quarto e me viro na intenção de tentar dormir um pouco, para quem sabe, fazer o tempo passar mais rápido.
(...)
Depois de muitas discussões e brigas com a minha irmã, ver as lágrimas da minha mãe por saber que ficarei quatro anos fora de Washington, hoje eu embarcarei com a minha Avó para New York e em dois meses, iniciarei o meu Seminário Propedêutico, no entanto estou a alguns minutos encarando a sacola que encontrei caída atrás das minhas roupas dentro do closet no momento que fazia as minhas malas e, me lembro de ser o presente que ganhei no meu aniversário de Ana, que devido a toda carga emocional que aconteceu depois daquele dia, eu tinha me esquecido completamente, no entanto olhando a hora eu vejo que falta apenas 30 minutos antes de sairmos para o Aeroporto, eu sento-me na minha cama e começa a abri-la.
Sem saber o motivo, ou talvez seja apenas a saudade que estou sentindo dela e também o fato de estar indo para outra Cidade sem me despedir do meu Anjo, eu sinto o meu coração acelerar na medida em que pego a caixa e a abro, encontrando um cordão com um pingente em formato de uma peça de quebra-cabeça numa pedra que não sei definir qual é, na cor preta e com a metade de um coração em cima que arrisco dizer ser ouro branco e, ao virá-lo eu vejo um "AC" gravado no fundo, assim como um cartãozinho que reconheço de imediato, à caligrafia bem desenhada de Ana.
Christian,
Espero que você goste da minha escolha para o seu presente, mas eu quero que saiba que ele tem um grande significado para mim ao vê-lo usando-o. Este é a metade do meu coração e a outra parte eu considerarei sendo o seu, que sempre manterei comigo e quando estivermos juntos – o que espero ser para sempre –, o coração estará completo.
Eu amo você para sempre!
Com todo o meu Amor, Ana.
– Eu também te amo, minha Princesa, mesmo sabendo que é errado te amar. – Murmuro sozinho e sinto uma lágrima deslizar por meu rosto, que seco rapidamente, colocando em seguida o cordão em meu pescoço.
– Filho, precisamos sair agora, ou nos atrasaremos. – Assusto-me com a batida na porta do meu quarto e a voz do meu pai.
– Estou descendo, Pai.
Dobro o cartãozinho de Ana e coloco na carteira e respirando fundo, eu pego a minha mochila com o meu notebook e saio do quarto, encontrando minha mãe chorosa na sala, assim que termino de descer as escadas, assim como minha irmã que sustenta uma carranca em seu rosto, apesar de ver que ela também está triste.
– Filho, você tem certeza que é isso mesmo que você quer fazer? – Minha mãe pergunta e me abraça.
– Tenho sim, Mamãe! – Beijo a sua testa e ela se afasta me analisando. – Não se preocupe, estou certo na minha decisão.
– Você sabe que não é o certo a se fazer, não sabe, Christian? – Melissa se aproxima e me abraça também. – Fugir não é a melhor solução, meu irmão e você irá se arrepender disso. – Ela sussurra no meu ouvido, para logo se afastar e me dá um sorriso triste.
– É o certo, Mel. Está tudo bem, não se preocupe. – Pelo menos eu espero isso, completo em silêncio. Ela assente e saímos de casa, encontrando minha Avó com um imenso sorriso nos lábios, enquanto o meu pai pega a minha mochila e termina de colocar as nossas malas no carro.
– Vamos? Ou iremos perder o voo. – Minha Avó fala e entra no carro e antes que eu faça o mesmo ouço o meu nome ser chamado com urgência por uma vozinha doce e chorosa.
– CHRISTIAN! – E quando eu me viro, vejo Ana correndo em minha direção e sem pensar eu me afasto do carro e corro ao seu encontro, recebendo o impacto do seu corpo delicado se chocar contra o meu, enquanto me abraça apertado. – Você não pode ir embora, não pode. – Sinto suas lágrimas molhar o meu pescoço e vejo que também estou chorando, mas não me importo.
– Eu preciso ir, minha Princesa. – Ela nega com a cabeça e se afasta para me olhar com seus olhos azuis tristes.
– Mas... Mas por que você vai para um Seminário? – Respiro fundo e seco o meu rosto e penso no que responder.
– Porque essa é a minha Vocação. – Respondo simplesmente e ela novamente nega com a cabeça.
– Você não pode e o seu pedido de aniversário? Assim ele não irá se realizar. – Ela murmura apenas para ela, mas eu ouvi, deixando-me curioso sobre o pedido que ela fez por mim no meu aniversário – Você quer mesmo ser um Padre? – Ela me olha enquanto faz a pergunta e eu engulo em seco, mas antes que eu responda, ouço a voz da minha Avó.
– Christian, vamos logo!
– Vó, fica calada pelo menos uma vez na vida, entra nesse caro e deixe os dois conversarem. – Melissa a repreende, eu olho por cima do ombro e vejo a minha Avó me encarando de cara feia, mas eu não ligo e respondo a pergunta de Ana.
– Sim! Eu quero. – Ela assente e se afasta um pouco mais do nosso abraço e vejo seus olhos ficarem ainda mais tristes. – Qual foi o pedido que você fez para o meu aniversário? – Ela me dá o seu sorriso triste e balança a cabeça.
– Não tem mais importância. – Ela beija o meu rosto e me abraça apertado, como se fosse à última vez que fossemos nos ver. – Adeus, Christian! Eu amo você. – Meu coração se aperta, ao ouvir as suas palavras.
– Eu também amo você, Ana. – A aperto mais em meus braços. – Você sempre será a minha irmãzinha, a minha Princesa. – Ela assente e novamente se afasta e vejo as lágrimas mancharem a sua pele delicada. – Eu preciso ir, nos veremos em breve. – Ela assente mais uma vez e eu me afasto e começo a caminhar para o carro.
– Christian!
Volto a minha atenção novamente para Ana que me surpreende em se aproximar e beijar os meus lábios num selinho demorado, mas sem pensar nas consequências dos meus atos e até mesmo por impulso, antes que ela se afaste eu levo a mão em seu pescoço, mergulhando meus dedos em seus cabelos e aprofundo o beijo, sentindo-a arfar em meus lábios pela surpresa, passo a língua em sua boca e ela se abre para mim, permitindo que eu sinta o seu gosto doce misturado com o salgado de nossas lágrimas, que ficará para sempre em minha memória, fazendo o meu coração acelerar ainda mais dentro do meu peito, mas infelizmente a falta de ar se fez presente e dando uma leve mordida em seus lábios nos afastamos, onde mantenho a minha testa colada a dela ainda de olhos fechados, enquanto tentávamos recuperar o ar que nos escapou dos pulmões. E por um momento, apenas nesse momento com a dor da despedida, eu me permiti não sentir a culpa por minha ação, aproveitando apenas o momento com a menininha que sempre será o meu primeiro amor e para sempre o meu anjo de olhos azuis.
– Eu preciso ir. – Falei ainda ofegante e ela assentiu se afastando de mim apenas para eu ver sua face corada banhada de lágrimas fato que eu não estou diferente dela.
– Não se esqueça de mim, que jamais me esquecerei de você. – Ela fala com a voz embargada e se afasta de vez dos meus braços.
– Nunca! Nunca me esquecei de você.
Sem falar mais nada, ela se vira e sai correndo de volta para a sua casa e agora eu percebo que Ana levou junto com ela o meu coração e com esse sentimento de perda imensurável, mas sabendo que estou fazendo a coisa certa, por ela e apenas por ela, eu ignoro os olhares tristes da minha mãe e minha irmã e a carranca da minha Avó e entro no carro, sabendo que de agora em diante, tudo será diferente.
Será que só eu fiquei triste com esse capítulo 😭😭😭?
Agora a história entrará em outra fase, espero vocês no próximo capítulo!
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