Capítulo - 03
Quando somos crianças, tudo parece tão simples e inocente. Nada de preocupação, nada de compromissos, nada de agendas apertadas e muito menos problemas com o coração. Porém, eu devo confessar que esse último começou a doer quando eu ainda era uma menina, que apesar de ser muito nova, sempre fui decidida e como minha mãe sempre fala madura de mais para a idade que eu tinha.
O fato de eu ser filha única, nunca fez com que eu fosse mimada ou agisse de forma que deixasse os meus pais preocupados, apesar de sempre ter sido superprotegida, não apenas por meu pai, mas também por... Ele e, foi assim que eu senti o meu coração começar a doer um pouco a cada dia, até se transformar nesse vazio que mais parece um buraco negro me consumindo, sempre que me lembro da última vez que vi aqueles olhos cinza que me perseguem todas as noites em meus sonhos, pois eles não brilhavam como sempre que me olhava e estavam mais tempestuosos do que um dia eu sequer imaginaria ver.
Não! Não pensem que eu seja revoltada, amargurada e que eu não acredito mais em amor, pois não é nada disso. Hoje eu sou uma pessoa feliz – não completamente, não vou negar –, realizada profissionalmente, mesmo tendo apenas 22 anos, tenho os melhores pais do mundo, que foram capazes de deixar tudo para trás em Washington D.C., para me acompanhar numa nova jornada da minha vida em Milão e, uma pessoa que é mais do que especial para mim, pois foi nele que encontrei um pouco de conforto para o que restou do meu coração que foi quebrado quando Ele foi embora, mas depois eu volto a essa questão, pois hoje estou muito nostálgica lembrando-me de momentos felizes, mas também os mais tristes da minha adolescência.
É! Vocês acham que ser uma adolescente possa ser difícil, imagina ser ainda uma pré-adolescente? Saindo da sua infância onde tudo parece colorido e muito simples, deixando as brincadeiras para trás e começando a se interessar por coisas diferentes e desenvolvendo sentimentos, despertando uma curiosidade sobre tudo e nada ao mesmo tempo, que nunca consegue ser sanada. Mas pensando bem, eu não posso reclamar muito quanto a esse "período" da minha vida, a não ser o fato de ainda ter sido vista como uma criança por quem eu não gostaria que tivesse me visto assim.
Vocês estão confusos, não estão? Não precisam ficar com vergonha de assumir, eu sei que estão, mas também eu apenas comecei a falar de pré-adolescência e afins sem nem mesmo falar o motivo para isso, mas a questão é que mesmo sendo uma quase adolescente – assim fica bem melhor para falar – eu me apaixonei pelo meu melhor amigo e vou contar para vocês como foi que eu tive a minha primeira e última decepção amorosa.
8 anos atrás
– Bom dia, minha Bebê! – Sorrio ao ouvir a voz da minha mãe entrando no meu quarto.
– Bom dia, Mamãe! – Me aproximo a abraçando e recebo o seu beijo de todas as manhãs, mas ela me afasta e me olha atentamente.
– Onde está o seu uniforme, Mocinha? E isso no seu rosto é maquiagem? – Ela sorri e eu sinto o meu rosto esquentar e sei que estou ficando vermelha. – Por um acaso essa produção toda é para alguém especial?
– Mamãe! – Volto para frente do espelho e continuo a arrumar o meu cabelo, apenas para não olhar para a minha mãe. – Eu só quis vestir algo diferente e não estou usando maquiagem, só um pouquinho de batom. – Falo envergonhada pensando que talvez eu possa ter exagerado.
– Filha, olhe para a mamãe. – Viro-me novamente para ela que se aproxima e pega as minhas mãos, levando-me para sentar na cama ao seu lado. – Você não precisa ficar envergonhada por querer se arrumar um pouquinho mais, é normal na sua idade, ainda mais quando se está encantada por um rapazinho muito educado e protetor. – Arregalo os olhos e ela dá risada, mas ela sempre me ensinou que eu deveria confiar nela e que eu poderia contar sempre com ela e meu pai, mas como que ela descobriu?
– Como... Como a Senhora sabe?
– Porque eu conheço você. – Ela acaricia o meu rosto e sorri. – Os seus olhinhos brilham quando está com o Christian e tanto eu quanto Grace, percebeu o quanto vocês são grudados um com o outro, apesar de sempre terem sido assim, mas percebemos também a forma que vocês se olham. – Solto um suspiro e minha mãe dá um aperto na minha mão. – Filha, eu já tive a sua idade e sei o que é descobrir o primeiro amor, no entanto vocês são muito novos e estão numa fase de descobertas, mas também de corações partidos, principalmente porque sempre foram amigos e eu não quero que vocês se machuquem.
– O Christian nunca me machucaria, Mamãe e muito menos eu a ele. – Fico confusa e ela nega com a cabeça, mas ainda sorrindo.
– Eu não estou falando fisicamente, meu Amor, mas aqui. – Ela coloca a mão no meu coração e eu entendo agora o que ela quer dizer. – O Christian é um pouco mais velho do que você, apesar de ser muito tímido e sempre estar envolvido com o grupo de jovens da Igreja, mas é um adolescente que logo se tornará um lindo homem, entrará na Universidade no próximo ano e vocês ficarão afastados por um tempo e nesse período muita coisa pode acontecer. – Eu penso por um tempo no que ela falou, mas me lembrei de algo que ela conversou com a Tia Grace há um tempo.
– Mas a Senhora não disse para a Tia Grace, que o meu pai foi o seu primeiro amor e que quando duas pessoas tem que ficar juntas, Deus faz com que o Destino dos dois se encontre e aconteça o que acontecer eles ficarão juntos. – Ela sorri e balança a cabeça confirmando.
– Sim, meu Amor, eu disse, mas... – Ela levanta a mão quando faço menção de falar, para eu esperar ela terminar. – Quando conheci o seu pai, estávamos na Universidade e já havíamos namorado outras pessoas. – Balanço a cabeça e ela continua. – Diferente de vocês dois, que ainda são praticamente bebês e se tratam como irmãos. – Eu faço uma careta "pelos bebês" e "irmãos" e, ela sorri.
– Mamãe, não somos mais bebês, eu tenho 14 anos e amanhã o Christian fará 17. – Ela nega com a cabeça, mas continua sorrindo. – E a Senhora me ensinou a sempre ser sincera com as pessoas, mas principalmente comigo mesma e eu tenho certeza que gosto do Christian, mas não como irmão. – Novamente faço uma careta e ela fica me olhando, um pouco mais séria agora.
– Filha, eu sei que você é mais madura do que algumas meninas da sua idade, mas quanto a sentimentos ainda tem muito que aprender, por isso aproveite a adolescência de vocês, sem cobranças e continuem essa amizade tão linda que vocês dois têm e como eu disse – Ela bate o dedo no meu nariz e continua –, se for para ser, será, mas não agora, eu só não quero que você se decepcione e fique chateada com o seu melhor amigo caso pensem diferente. – Confirmo com a cabeça e ela se levanta olhando em seu relógio. – Vamos tomar o café da manhã, ou você irá se atrasar, mas primeiro – Ela sorri e aponta para o meu closet. –, apesar de estar linda com esse vestido, vá colocar o seu uniforme.
Sem me dar a oportunidade de falar mais nada ela me deixa no meu quarto e faço o que ela mandou, caminho para o closet, retiro o meu vestido para colocar o uniforme em seguida e penso no que ela disse. Eu posso ter 14 anos, mas eu sei que o que sinto por Christian não é apenas carinho de irmãos, pois ele faz o meu coração acelerar, borboletas voarem no meu estômago e as minhas mãos suarem e eu li na internet que temos essas reações quando estamos apaixonados por alguém.
Eu fiz o teste e olhei para alguns colegas da minha sala e até mesmo para o Andrew que é muito bonito – não como o Christian, é claro –, no entanto eu não senti nada. Eu gosto quando ele me abraça, quando sorri olhando em meus olhos, quando beija a minha testa e quando me chama de "Minha Princesa". Amo a cor dos seus olhos cinza tão intensos, que quando está triste com alguma coisa, parece como o céu nublado, em outros tem uma tonalidade mais azulada e brilhante demonstrando que está feliz, mas quando ele está com raiva parece uma tarde de tempestade.
Ninguém sabe qual foi o meu pedido de aniversário desse ano, mas eu pedi que o meu primeiro e único amor, fosse o meu melhor amigo, pois estamos juntos desde que éramos bem pequenos, o que facilitou por nossos pais serem amigos desde a época que estavam na Universidade e se depender de mim, continuaremos juntos e isso não é apenas o pedido de uma "criança", mas porque eu sinto no meu coração.
(...)
– MAMÃE! MÃEEEE!
Grito por minha mãe, logo depois que Christian e Mel me deixaram em casa do Colégio – moramos no mesmo Condomínio e eles sempre me trazem depois da aula – e ela desce as escadas correndo, me olhando assustada.
– O que aconteceu, Anastásia? Por que essa gritaria?
– Desculpe-me. – Fico arrependida de verdade por ver que ela se assustou. – Podemos ir ao Shopping agora, comprar o presente do Christian? – Peço manhosa e ela me olha brava.
– Eu não acredito que esse escândalo todo seja apenas por que você quer ir ao Shopping. – Ela coloca uma mão no coração, mas continua me olhando brava e agora eu acho que estou encrencada. – Você quer me matar do coração, Menina? Eu pensei que tinha acontecido alguma coisa.
– Desculpe-me, Mamãe, mas eu estou muito ansiosa. – Ela suspira e nega balançando a cabeça, mas me dá um sorriso e eu respiro aliviada.
– Eu sei meu Amor, mas você só irá entregar para ele a noite, então não temos pressa.
Eu pedi para os meus pais me deixarem dormir na casa de Christian – o que não será a primeira vez que irá acontecer –, pois eu quero ser a primeira a desejar-lhe feliz aniversário, mas antes eu quero comprar um presente para que ele sempre se lembre de mim, como a pulseira que ele deu no meu e que eu não tiro do braço por nada. Ainda bem que será possível ajustar caso fique apertada.
– Mas, Mamãe! E se não encontrarmos nada, teremos que procurar em outras lojas e se for muito tarde não dará tempo.
– Nada disso, Anastásia. Só sairemos quando você fizer a lição de casa. – Deixo meus ombros caírem em desânimo, mas concordo com a cabeça, pois eu sei que ela não mudará de ideia. – Então suba, tome um banho e assim que você terminar, nós iremos. – Passo por ela levando a minha mochila, mas ouço novamente a sua voz, virando-me para olhá-la. – E se você me passar outro susto desses, ficará de castigo está me ouvindo, Mocinha?
– Sim, Mamãe.
Viro-me novamente e subo as escadas entrando no meu quarto quase correndo para tomar o meu banho, pois o quanto antes eu terminar a lição do Colégio, mais rápido nós iremos ao Shopping e, ainda bem que tenho apenas algumas questões de Matemática para resolver.
(...)
Eu gosto muito de ir ao Shopping, poder olhar as Lojas, experimentar lindas roupas e comer na Praça de alimentação, mas hoje em especial eu queria apenas comprar o presente do Christian e sair correndo desse lugar cheio de gente, no entanto depois de muito andar com os meus pais – Papai veio ao nosso encontro depois de ter saído do seu Escritório – eu consegui encontrar um presente perfeito.
Eu queria algo que ele pudesse manter sempre com ele, assim como a pulseira que ele me deu e com a ajuda da minha mãe eu encontrei um cordão com um pingente em formato de quebra-cabeças em Opala Negra com a metade de um coração em ouro branco – detalhes que minha mãe havia falado, pois eu não entendo nada disso –, que faz par com a outra peça que ficará comigo e, encaixando os dois formam um coração completo. Pedimos para ser gravado no fundo as nossas iniciais e eu espero que ele goste.
– Filha, se comporte e obedeça a sua Tia Grace, tudo bem? – Minha mãe fala assim que chegamos à casa de Christian e meu pai abre a porta para que eu saia.
– Pode deixar Mamãe. – Beijo a sua bochecha e desço, pegando a minha mochila com o meu material para o Colégio e uma bolsa com as minhas roupas.
– Qualquer coisa, nos ligue Minha Princesinha, que viremos correndo. – Meu pai fala e eu balanço a cabeça sorrindo com o seu exagero e, ele dá um beijo em minha testa. – Tem certeza que não quer que entremos com você?
– Não precisa Papai. – Beijo o seu rosto e me afasto. – E essa não é a primeira vez que eu durmo aqui, podem ficar tranquilos.
Depois de mais alguns abraços, eu caminho em direção à porta e logo ouço o barulho do carro se afastando e respiro fundo, sentindo as borboletas voarem no meu estômago enquanto aperto a campainha sorrindo, mas o meu sorriso se fecha um pouco assim que a porta se abre a Dona Laura me olha com uma cara não muito boa.
– Boa noite, Dona Laura. – Ela se afasta para eu entrar e olha para a minha bolsa e a sacola de presente que tenho na mão.
– Está um pouco tarde para visitas, você não acha Menina? – Fico um pouco envergonhada, mas antes que eu responda, respiro aliviada em ouvir a voz de Christian.
– A Ana não veio para uma visita, Vovó, ela irá dormir aqui. – Sorrio por vê-lo caminhando em nossa direção com o seu sorriso tímido que faz o meu coração acelerar e logo ele me abraça. – Oi, Princesa.
– Oi, Christian. – Beijo o seu rosto e sinto o seu perfume gostoso, mas sinto o meu rosto esquentar por ver a forma que Dona Laura nos olha.
– Vamos levar as suas coisas para o quarto. – Ele pega a minha mochila e minha bolsa e eu seguro a sacola de presente com força, insegura se ele irá gostar.
– Ela sabe o caminho, Christian, não precisa que você a leve até lá. – Dona Laura fala brava e eu não entendo porque parece que ela não gosta de mim.
– Vó, será que dá para a Senhora parar de ser ranzinza e deixa-los em paz. – Sorrio para Melissa, que está descendo as escadas, muito bonita com um vestido vermelho, assim como os seus lábios, destacando seus longos cabelos loiros, recém-pintados.
– E aonde você pensa que vai com essa roupa? – Dona Laura tira o foco de nós, para encarar Melissa que apenas revira os olhos. – Isso é uma afronta para a moral dessa família, você sair com essas roupas indecentes.
– Vamos subir, porque essas duas não param nunca de discutir. – Christian fala pertinho do meu ouvido e pegando a minha mão, subimos as escadas e eu sorrio por ver que realmente a Mel está discutindo com a sua Avó.
– Eu acho que a sua Avó não gosta muito de mim. – Sento-me na cama enquanto ele coloca as minhas coisas sobre a poltrona, para logo em seguida se sentar ao meu lado.
– A Vovó é uma boa pessoa, um pouco conservadora demais, mas ela não tem nada contra você não. – Ele faz uma careta e eu fico olhando o quanto ele é lindo. – O que tem nessa sacola que você não soltou um minuto desde que chegou aqui? – Desvio o olhar dele, sentindo o meu rosto esquentando e entrego a sacola a ele.
– É o seu presente, mas você só poderá abrir amanhã. – Seguro a sua mão, quando ele faz menção de abri-la.
– Por que eu não posso abrir agora? – Ele pergunta confuso e eu nego com a cabeça.
– Porque hoje ainda não é o seu aniversário. – Falo o óbvio e levanto-me da cama e, ele faz o mesmo. – Vamos guardar no seu closet, senão você não conseguirá esperar.
– Só você mesmo, Princesa, mas vamos, farei a sua vontade.
Sorrindo, ele pega novamente a minha mão e entramos no seu quarto e, eu sinto um friozinho no estômago, pois eu quero muito que ele goste do meu presente, da mesma forma que eu gostei do dele.
Eu só não fazia ideia que depois dessa noite, nada mais seria igual, principalmente a nossa amizade.
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