Capítulo - 02
Acordar numa manhã de domingo para poder ir a Igreja virou uma rotina que faço com alegria e, isso se repete a quase dois anos, desde que minha Avó veio morar conosco, após o falecimento do meu Avô. Não que não fizéssemos isso antes, até porque meus pais sempre fizeram questão de nos levar a Igreja – mesmo que Melissa reclamasse do horário –, mas confesso que não íamos a todos os domingos como faço agora com a Vó Laura.
– Christian! – Escuto a voz doce de Ana e abro um sorriso, vendo que ela vem correndo em minha direção, um pouco a frente de seus pais.
– Oi, Princesa. – Ela me abraça e beija o meu rosto, que sinto queimar por ver a forma que a minha Avó está nos olhando impaciente na porta da Igreja. – Bom dia, Tia Carla, Tio Ray. – Cumprimento assim que eles se aproximam.
– Bom dia, Christian, está preparado para sua estreia como Líder do Coral? – Tia Carla pergunta com um sorriso, mas antes que eu responda, ouvimos a voz da minha Avó.
– Vamos entrar logo, Christian! O Padre vai ouvir sua confissão antes da Missa e não podemos demorar. – Balanço a cabeça concordando e Ana me olha com seus olhinhos azuis curiosos.
– O que você fez de errado que precisa se confessar, hein? – Ela sorri sapeca e eu dou de ombros, afinal, não me sinto de fato culpado pelo que fiz na sexta-feira, batendo no Enrico.
– Por causa daquela surra que eu dei no Enrico, mas a minha Avó acha que eu devo me confessar por ter cometido o Pecado da Ira. – Eu falo baixinho, apenas para ela ouvir, o que a faz arregalar os olhos e eu sorrio da sua carinha, mas mudo a direção do meu olhar para Tia Carla. – E respondendo a pergunta, Tia Carla, eu estou preparado sim, só um pouco ansioso.
– Não precisa ficar ansioso, Christian, você canta e toca muito bem.
Tio Ray fala se aproximando para bagunçar os meus cabelos, arrancando uma gargalhada gostosa de Ana, fato que não consigo ficar irritado por seu pai fazer isso mesmo eu não sendo mais uma criança, no entanto eu não reclamo, pois adoro o som da risada dela.
– Christian! – Minha Avó bate a bengala no chão e eu respiro fundo.
– Eu preciso entrar.
Ela me abraça mais uma vez e eu me afasto, entrando com a minha Avó, para nos encontrar com o Padre Joseph onde confessarei os meus pecados.
(...)
– Em João 3:16, podemos ver a magnitude do amor de Deus por nós, "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". – Padre Joseph segue com a Missa olhando para os fiéis e eu ouço com atenção suas palavras. – E ainda temos em Mateus 22:39, "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" e agora eu pergunto meus filhos, por que não seguimos esse Mandamento? – Ele faz a pergunta retoricamente e continua. – Muitas vezes damos desculpas que não podemos amar quem não conhecemos então essa pessoa não é próxima a nós, mas está errado! Pois qualquer pessoa que necessita da nossa ajuda é próxima a nós e se não a amamos, estamos desobedecendo também a Deus (...).
Padre Joseph continua e eu penso que de fato somos egoístas e selecionamos a quem devemos amar. Amamos nossos pais, nossos irmãos, nossos melhores amigos, mas por que é tão difícil amar alguém que não gostamos? Deveremos exercitar mais a nossa Fé e procurar ser mais humanos, por que esse amor não é sentimental, mas sim aquele que vem da alma, refletindo a bondade que carregamos em nossos corações e agora eu vejo que devo mesmo cumprir a minha penitência dada por Padre Joseph para redimir os meus pecados, irei pedir perdão a Enrico, por tê-lo agredido daquela forma e, com esse pensamento eu começo a tocar Your Love is Better de Jackie François no meu teclado e me permito sentir a música e a melodia, sendo acompanhado pelos meus amigos do Coral e, eu espero que todos recebam a mensagem que quero passar.
🎶 As the bridegroom longs for the bride,
(Como o noivo anseia pela noiva),
So you draw us to your side.
(Então você atrai para o seu lado).
Yours a love so intimate,
(Seu amor tão íntimo),
Here where earth and heaven kiss.
(Aqui onde a terra e o céu se beijam).
This is holy ground;
(Este é um solo sagrado);
This is holy ground.
(Este é um solo sagrado)
Your love is better, your love is better,
(Seu amor é melhor, seu amor é melhor),
Your love is better than this life.
(Seu amor é melhor do que esta vida).
You hold me together; you're with me forever.
(Você me mantém unido; você está comigo para sempre).
Your love is better than this life.
(Seu amor é melhor do que esta vida).
The bitter taste of agony
(O gosto amargo da agonia)
In your cross, our destiny,
(Em sua cruz, nosso destino),
Can't compare to your sweet love:
(Não pode se comparar ao seu doce amor):
The taste and sight of God above.
(O gosto e a visão de Deus acima).
This is holy ground;
(Este é um solo sagrado);
This is holy ground.
(Este é um solo sagrado);
Your love is better, your love is better,
(Seu amor é melhor, seu amor é melhor),
Your love is better than this life.
(Seu amor é melhor do que esta vida).
You hold me together; you're with me forever.
(Você me mantém unido; você está comigo para sempre).
Your love is better than this life.
(Seu amor é melhor do que esta vida).
I long for you, I yearn for you;
(Eu anseio por você, Eu anseio por você);
Your are my heart's desire.
(Você é o desejo do meu coração).
I need you, Lord, to quench my soul;
(Eu preciso de você, Senhor, para saciar a minha alma);
It thirsts for you and you alone.
(Tem sede por você e só por você).
Your love is better, your love is better,
(Seu amor é melhor, seu amor é melhor),
Your love is better than this life.
(Seu amor é melhor do que esta vida).
You hold me together; you're with me forever.
(Você me mantém unido; você está comigo para sempre).
Your love is better
(Seu amor é melhor).
How your love is better, your love is better,
(Como seu amor é melhor, seu amor é melhor),
Your love is better than this life.
(Seu amor é melhor do que esta vida).
You hold me together; you're with me forever.
(Você me mantém unido; você está comigo para sempre).
Your love is better than this life
(Seu amor é melhor do que esta vida).
I long for you, I long for you God;
(Eu anseio por você, Eu anseio por você Deus); 🎶
(...)
8 anos atrás
Sempre ouvi o Padre Joseph e minha Avó dizerem como têm orgulho do rapaz que estou me tornando, tão diferente dos jovens que vivem na perdição que o mundo oferece, com as mentes confusas e almas manchadas, porém eles não sabem que eu também sou um jovem que muitas vezes vive imerso em confusões.
Não! Eu não estou confuso sobre estar no caminho da "perdição" como eles falam, pois me mantenho casto e pretendo ficar assim até o dia que eu me casar e, por diversas vezes eu cheguei a me questionar se eu tinha algum problema, pois nunca senti as "necessidades carnais" do meu corpo como Andrew fala que tem, no entanto eu me sinto estranho com algumas atitudes que tenho em relação à Ana e, tanto minha irmã como o meu amigo me disseram que isso se chama ciúmes.
Ora, mas é claro que eu tenho ciúmes dela, principalmente porque ela está ficando ainda mais linda a cada dia que passa e, por esse motivo não seria diferente, pois a amo como uma irmã mais nova que acabou de completar 14 anos e começa a chamar atenção dos idiotas do Colégio.
– Christian! Christian, você está dormindo? – Ouço o tom risonho em sua voz e continuo de olhos fechados, mas é impossível evitar o sorriso assim que ela começa a dar risada.
– Não, Princesa! Estou apenas pensando.
Abro os olhos e me viro em sua direção, que continua deitada ao meu lado no jardim, pois segundo Ana, hoje iriamos esperar dar meia-noite para que ela pudesse ser a primeira a me desejar feliz aniversário de 17 anos e por esse motivo, os seus pais autorizaram que ela dormisse em minha casa.
– Mentiroso! – Ela se vira se aproximando mais de mim, apoiando o queixo no meu peito e isso faz o meu coração dar um solavanco estranho. – Você estava dormindo, tanto que não respondeu a pergunta que eu fiz. – Engulo em seco, mesmo sem saber o porquê de a minha garganta ter ficado tão seca.
– Me desculpe, mas qual era a pergunta? – Ela desvia o olhar para a minha boca e fica a encarando por um tempo. – Ana! – Ela se assusta e volta a focar em meus olhos, mas sem perceber eu faço o mesmo, encarando seus lábios rosados e me recrimino por isso.
– Você sabe qual pedido fazer para esse aniversário? – Ela pergunta tão inocente parecendo um Anjo e eu acabo dando risada.
– Ana, eu não sou mais criança para fazer pedidos esperando que eles se realizem. Eu vou fazer 17 anos, ou você se esqueceu desse detalhe? – Ela faz uma carranca e dá um tapa no meu peito e eu acabo gargalhando.
– Não seja bobo, Christian, pois não são apenas crianças que fazem pedidos, eu fiz no meu aniversário e eu sei que irá se realizar.
– Porque você ainda é uma criança, meu Anjo, por isso é normal querer fazer pedidos esperando que eles se realizem. – Toco a ponta do seu nariz com o dedo e ela bate na minha mão, afastando-a.
– Eu não sou criança. – Ela deita novamente ao meu lado e fica em silêncio por um momento olhando para o céu e eu faço o mesmo, até que ela volta a falar. – Se não quer fazer o seu pedido, então eu farei por você. – Olho novamente para ela e vejo sua expressão decidida.
– E qual seria? Será que eu posso saber qual é o meu suposto pedido?
– A meia-noite você saberá.
Ela encerra o assunto e eu nego com a cabeça voltando a olhar para o céu, que mesmo com poucas estrelas está uma noite agradável e, sem querer eu volto a pensar no Anjo que está deitado ao meu lado. No quanto ela é madura para a sua idade, mas ao mesmo tempo transmite uma inocência e pureza que cativa a todos a sua volta, com seus lindos olhos azuis que brilham como se estivesse sempre sorrindo, sua voz doce e seu sorriso gentil.
Anastásia é linda, não apenas por fora com seu rosto perfeito, macio e delicado, ou com seus lábios perfeitamente desenhados e rosados, mas a sua essência e bondade, por nunca ver maldade nas ações dos outros e sempre querer ajudar o próximo.
– Você colocou o celular para despertar? – Assusto-me com o som irritante do despertador, mas gargalho por ela ser tão meticulosa com seus "compromissos".
– Sim! Meia-noite! – Ela praticamente grita e se move tão rápido para cima de mim que faz com que eu engula a gargalhada de poucos segundos atrás. – Feliz Aniversário, Christian!
– Obrigado, Ana.
Ficamos em silêncio, apenas contemplando o rosto um do outro e por um momento eu me perco no azul dos seus olhos que nem a pouca luz do jardim ofuscou o seu brilho, desvio o olhar para a sua boca e vejo seus lábios rosados sendo castigados por seus dentes, levo a mão para o seu rosto e retiro uma mexa de seu cabelo colocando-a atrás de sua orelha e como se fosse automático, acaricio sua face corada, voltando a alternar o olhar entre seus olhos e sua boca e percebo que ela faz o mesmo que eu e, sem me dar conta do que estamos fazendo, começamos a nos aproximar, fecho os meus olhos para logo em seguida eu sentir seus lábios macios em contato com os meus.
Como se soubéssemos o que fazer, começamos a nos mover em sincronia e Ana suspira contra a minha boca e num gesto ousado, peço permissão para que minha língua encontre a sua, recebendo de imediato, onde desfruto de seu sabor adocicado, sentindo um gosto leve de morango proveniente de seus lábios e começo a sentir um calor estranho percorrer o meu corpo, respondendo em meu membro que acabou por despertar.
Sentindo o ar faltar em nossos pulmões, diminuímos o ritmo do que eu posso dizer ser o melhor primeiro beijo da minha vida, no entanto a realidade me bate e o impacto do que acabamos de fazer reverbera direto em meu coração, onde o sinto se comprimir com uma dor excruciante que me faz ofegar e a afasto subitamente de mim, como se apenas sentir o toque de suas mãos apoiadas em meu peito, queimasse a minha pele e esmagasse o meu ser.
– Christian. – Ouvir o meu nome sussurrado em sua voz doce e melodiosa me faz fechar os olhos e antes que eu perca a razão, me levanto sem conseguir encará-la.
– Vamos entrar Ana. Está ficando tarde e amanhã teremos aula.
Ela não fala nada, apenas assente, levantando-se em seguida, pegando o cobertor que nós estávamos deitados e caminhamos para dentro de casa e, no caminho encontramos minha Avó, que nos olha com uma cara não muito boa e tenho medo que ela possa ter visto o que acabou de acontecer, no entanto sem nada a dizer, eu baixo a cabeça e subo as escadas sendo acompanhado por Ana e sentindo-me, envergonhado, sujo e culpado, entro no meu quarto sem nem mesmo me despedir do meu Anjo.
Um anjo que acabei de corromper, cometendo um grande Pecado.
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