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Capítulo Um

Seja bem vindos a mais uma obra minha totalmente original, o primeiro capítulo da Dinastia Fiore!!!! (estou pretendendo escrever uma série, tomara que eu consiga, torçam por mim ✌🏻🤩)

Na foto Jardim Anália Franco, bairro nobre na Zona Leste de São Paulo.

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ME afastei da janela, deixando de olhar a paisagem dos prédios lá fora. Eu ainda não havia me acostumado totalmente com a mudança tão repentina de um país para outro.

Olhei ao redor para o quarto em que eu estava, aquele não era o meu quarto. Pelo menos não o mesmo que eu havia deixado quando me mudei, ou melhor, fui obrigada a me mudar para a Suíça aos nove anos de idade. Despachada sozinha e de coração partido por ter perdido a única pessoa que eu tinha certeza de que me amava, minha querida avó.

Meu pai transformou meu antigo quarto em mais um quarto de hóspedes qualquer para receber suas ilustres visitas, banqueiros, empresários, políticos.

Bateram à porta e eu fui abrir.
— Com licença. — era Lúcia, uma das empregadas. Pelo menos uma das que havia restado. — Eu lhe trouxe um lanche, não comeu nada desde que chegou.

Sorri para ela e me afastei da porta lhe dando passagem.
— Muito obrigada, não precisava.
— Ah imagine, deve estar com fome.

Ela havia sido tão atenciosa trazendo o lanche que eu não quis recusar, apesar de não estar com fome.
— Meu irmão deu alguma notícia? — perguntei colocando um pouco de suco no copo e dando um gole, o refresco de laranja estava uma delícia.
— Ah sim, o senhor Alexandre pediu para avisá-la que está trazendo o advogado e também o testamenteiro de seu pai.
— Obrigada.
— De nada, se precisar é só chamar.

Sorri de leve para ela assentindo que saiu fechando a porta e tomei mais um gole do suco. Havíamos acabado de enterrar nosso pai e meu irmão já foi atrás do advogado dele para saber sobre o testamento.

Alexandre havia me informado da situação real da família quando cheguei logo depois de trocarmos um forte abraço, pedi a ele que não me escondesse nada. A verdade era que papai estava praticamente falido e devendo muito para várias pessoas. Ainda não consigo entender como um homem tão poderoso pode ter se enrolado tanto a ponto de perder tudo que tinha.

Alex era meu irmão mais velho, tinha nove anos quando eu nasci e nós tínhamos uma certa proximidade que ficou um pouco abalada quando fui mandada para estudar em um colégio interno na Suíça. Trocamos cartas que aos poucos foram ficando raras, mas não perdemos totalmente o contato.

Resolvi tomar um banho rápido e trocar de roupa, ainda estava usando o mesmo vestido preto que coloquei para ir ao enterro.

Abri minha mala em cima da cama e procurei algo para vestir. Eu não tinha muitas roupas, passava a maior parte do tempo usando o uniforme do colégio e dificilmente saía aos finais de semana com as outras meninas, e papai não se importava muito em me mandar dinheiro para esses gastos extras além da gorda mensalidade todo mês. Agora eu sei o porquê.

Escolhi um vestido leve de algodão e com estampa florida. Ele não tinha mangas e o comprimento ia até o joelho, para complementar peguei um casaquinho leve cor de rosa e sapatilhas brancas. Achei o traje apropriado para uma reunião com os advogados.

Lúcia havia preparado uma pequena cestinha com produtos de higiene pessoal, tinha de tudo. Sabonete líquido, uma esponja, shampoo, creme dental e uma escova de dentes nova, escova para cabelos... sorri agradecida por aquele mimo. Depois lhe agradeceria pessoalmente.

Me despi e deixei a água morna cair em meu corpo e meus longos cabelos castanhos. Coloquei algumas gotas do sabonete na esponja e apertei para fazer espuma e o cheiro doce de pêssego me deixou encantada. Passei a esponja por todo o meu corpo com prazer e logo depois lavei os cabelos, o shampoo também tinha o cheiro da fruta.

Enquanto me banhava, me dei conta de que era a primeira vez que tomava banho em anos sem outras pessoas entrando no banheiro para fazer qualquer coisa. No colégio eu dividia o quarto com mais duas garotas e apesar de ter um box, não é legal alguém ficar entrando e saindo no banheiro enquanto você toma banho.

O único momento em que eu podia ter paz era durante as férias quando eu ficava sozinha no quarto, mas os banhos eram cronometrados. Após sete minutos a água quente era desligada automaticamente, não importando se você já tivesse terminado ou não.

Com um leve aperto no coração, me lembrei que eu nunca vim para casa nas férias e dificilmente recebia visitas. A única vez em que papai e Alexandre foram me ver foi quando fiz quinze anos e fizemos uma rápida viagem a Berlim. Papai tinha uma reunião de negócios lá e após eu insistir muito, resolveu me levar, mas eu fiquei o tempo todo no hotel, contemplando as paisagens e belezas alemãs apenas pela janela do quarto.

Lágrimas vieram aos meus olhos ao me lembrar do quanto eu me senti sozinha esse tempo todo.

Quando a diretora me chamou em seu escritório e me deu a notícia de que papai havia falecido eu não consegui sentir nada. Nem tristeza, nem alívio, não senti nada. Fazia tanto tempo que eu estava longe que não o sentia mais como meu pai, para mim era apenas o homem que pagava a mensalidade cara do colégio onde eu estudava.

Antes de morrer, vovó me disse que ele havia ficado triste e amargurado depois de perder minha mãe. Ela morreu quando eu nasci, então eu só posso julgar que ele me culpava pela sua morte, além do fato de eu ser a cópia fiel dela. Provavelmente ele não suportava me encarar e lembrar da mulher que amava e perdeu tão cedo.

Eu mesma me culpei várias vezes por ter tirado a vida daquela que mais me desejou e queria muito ter ido em seu lugar.
— Ilsa? — Lúcia me chamou e me toquei que provavelmente estava demorando demais no banho.
— Oi! — gritei de volta e terminando de me enxaguar. — Já estou saindo!
— Tudo bem querida, fique à vontade. Vim apenas avisá-la que seu irmão e os advogados já chegaram.
— Diga a eles que já estou descendo, apenas alguns minutos.
— Tudo bem, sem pressa.

Me enrolei na toalha branca e peguei outra para enrolar meus cabelos.

Me vesti rapidamente e penteei meus cabelos com pressa. Calcei as sapatilhas e coloquei o casaco enquanto saía do quarto.

Desci apressada os degraus e ouvi as vozes na sala de estar. Quando entrei, todos os olhares se voltaram para mim.

Alexandre me olhou de cima a baixo e imaginei que fosse a minha roupa simples demais para a ocasião, mas agora era tarde. Ele piscou duas vezes como se estivesse tentando se livrar de um pensamento insistente e estendeu a mão para mim. Coloquei um sorriso simpático no rosto e fui até lá.
— Esta bela moça é minha irmã caçula, Ilsa. Ela morava na Suíça e embarcou imediatamente assim que soube da notícia.
— Boa tarde. — cumprimentei os dois homens.
— Este é o doutor Roberto Paranhos, o advogado de nosso pai.
— Olá senhorita, como vai?
— Muito bem e o senhor?
— Vou bem, seja bem-vinda.
— Obrigada.

Apertei a mão que o doutor Paranhos me estendia. Ele estava na casa dos cinquenta anos, tinha a pele morena, cabelos grisalhos nas têmporas e olhos castanhos escuros. Parecia ser uma pessoa simpática e alegre.

Em seguida Alexandre me levou até o outro homem sentado em uma poltrona. Ele era mais velho que o advogado, já devia ter quase setenta anos. Seus cabelos estavam completamente prateados, assim como as sobrancelhas. Seus olhos eram azuis ou verdes, difícil discernir por trás dos óculos de armação preta.
— Este é Marcilio Brandão, o testamenteiro que cuidou do testamento de nosso pai.

Cumprimentei também o homem que tinha a expressão mais séria que o advogado.
— Estávamos esperando você chegar para começar. — Alex disse me olhando e fez um carinho em minha bochecha.
— Bem, estou aqui, podemos começar.

Lúcia trouxe café para os convidados e eu me levantei para ajudá-la, e agradeci pelos mimos da cestinha. Ela disse que não foi nada, mas para mim significou muito.

Servimos o café e me sentei novamente ao lado de meu irmão no sofá de dois lugares, enquanto o doutor Paranhos e o doutor Brandão ocupavam poltronas ao lado uma da outra.
— Senhorita Ilsa... — o advogado começou e olhei para ele atentamente. — Pelo fato de a senhorita estar morando em outro país nesses últimos anos, talvez se sinta um pouco perdida ou confusa com algumas coisas citadas aqui.

Não por vontade própria. Tive vontade de acrescentar, mas fiquei quieta.
— Se isso acontecer, me avise e eu lhe explicarei.

Apenas assenti em silêncio e o advogado voltou a encarar os papéis que havia trazido em sua pasta.

Alexandre passou o braço sobre os meus ombros e apertou com carinho. Olhei para ele e retribuí com um sorriso. Eu senti muita falta disso quando estava no colégio, falta desse carinho, de me sentir amada e acolhida por alguém.
— Como é do conhecimento de todos, o doutor Otto Ramos de Albuquerque tinha um testamento feito há muitos anos e desde então, não fez nenhuma mudança. — o advogado explicou. — Seus herdeiros são seus dois filhos, Alexandre Ramos de Albuquerque e Ilsa Gouveia de Albuquerque. O fato é que ultimamente o doutor Otto contraiu muitas dívidas e não conseguia quitá-las, se afundando cada vez mais.
— Será que podemos quitar essas dívidas com o que ele nos deixou? — Alexandre perguntou e eu realmente achei aquela uma ótima ideia.

Podíamos juntar nossas partes e quitar o que fosse mais urgente, depois podíamos trabalhar e ir pagando o restante. Alexandre era formado em administração, podia conseguir um bom emprego, e eu podia arranjar um trabalho também.

Eu sempre quis liberdade e era isso que eu teria agora, liberdade pra viver minha vida do jeito que eu quisesse. Um sorriso discreto se formou em meus lábios ao vislumbrar esse futuro animador.

O advogado trocou um rápido olhar com o testamenteiro e achei aquilo estranho.
— Doutor Alexandre, senhorita Ilsa eu sinto muito em lhes informar, mas não há nada para vocês dois herdarem além das dívidas.

Encarei meu irmão que estava tão surpreso quanto eu.
— Como... como assim... — Alex parecia aturdido, sem chão.
— Veja bem, seu pai não soube administrar tudo o que tinha e após um acidente de trabalho com um elevador em uma de suas empresas e ele ter que pagar uma indenização milionária, as coisas pioraram.
— Eu não sabia que as coisas estavam tão ruins assim. Se eu perguntava algo, papai não falava.
— Talvez esse tenha sido o seu erro doutor Alexandre.

O advogado soltou um longo suspiro e seus ombros estavam arqueados, como se carregasse um peso invisível sobre eles. Tive um pressentimento de que as notícias ruins ainda não haviam acabado.
— Seu pai também gostava de participar de jogos em cassinos clandestinos e isso só fez sua fortuna ir pelo ralo mais rápido.

Alexandre curvou o corpo apoiando os cotovelos nos joelhos e escondendo o rosto nas mãos. Fiz um carinho em suas costas tentando lhe confortar. Eu podia não entender nada de negócios, mas o doutor Paranhos estava deixando bem claro o quanto as coisas estavam ruins.
— Nos últimos anos o doutor Otto começou a pegar muito dinheiro emprestado de um homem misterioso e eu o indaguei diversas vezes de onde vinha, mas ele se recusava a me dizer. Até que mais ou menos dois anos atrás eu descobri quem era o seu fornecedor.

Roberto Paranhos revirou a pasta mais uma vez e pegou um envelope pardo, entregando ao meu irmão.

Alexandre abriu o envelope e pegou o que tinha dentro. Eram notas promissórias assinadas por nosso pai, e a julgar pelo tanto de zeros onde se referia a quantia de dinheiro, ele havia feito uma loucura.
— O homem que emprestou dinheiro ao pai de vocês tem ligação com a máfia italiana.

Parece que uma bomba havia caído naquela sala.
— E o advogado dele já nos procurou exigindo receber a dívida.

Alexandre explodiu nervoso e levantou chutando uma poltrona que estava em sua frente. Eu nunca imaginei que ele seria tão explosivo assim, mas a situação atual era um gatilho para isso.
— O que nosso pai deixou... não... não cobre essa dívida? — perguntei nervosa tentando pensar em algo.
— Veja bem senhorita Ilsa, seu pai não deixou nada para vocês. Os escritórios, os imóveis, os carros, esta casa, não pagam nem um quarto do valor total. Além de estarem falidos, vocês dois só herdaram as dívidas do doutor Otto.

Mais uma vez Alexandre soltou um grito raivoso.
— Nós não temos a quem recorrer? Algum parente ou amigo mais próximo? — tentei novamente.
— Duvido que alguém queira emprestar dinheiro aos filhos do doutor Otto para pagar dívidas, não quando ele era uma pessoa não muito sociável. Seu pai só era aceito nos círculos sociais que frequentava por ter o status de milionário.
— E a herança da Ilsa? — Alexandre perguntou e olhei para ele completamente surpresa.

Eu tinha uma herança?!
— Sua avó deixou tudo que era dela para você. — ele me explicou vindo sentar ao meu lado novamente enquanto tentava se acalmar. — Mas você só poderia mexer no dinheiro quando completasse vinte e um anos.

Eu não sabia nem o que dizer.
— Realmente a senhorita tem uma pequena herança para receber quando completar vinte e um anos, essa foi a única condição imposta por sua avó materna, dona Matilda Frances Gouveia. O doutor Otto tentou mexer nesse dinheiro, mas nunca conseguiu. E também o valor dessa herança não quita a dívida deixado por ele.

Eu estava abismada. Tinha direito a uma herança que ninguém fez questão de me dizer e ainda por cima, meu próprio pai tentou roubá-la e se tivesse conseguido, provavelmente jamais iria me contar nada. Não duvido disso!
— Então é isso, nós não vamos receber nada porque meu pai só deixou dívidas? — Alexandre questionou ainda revoltado.
— Dívidas que vocês devem pagar se não quiserem ser processados pelos credores.

Alexandre ainda conversou mais um pouco com o advogado e o testamenteiro enquanto eu passava a maior parte do tempo no modo automático, ouvindo de vez em quando. Estava refletindo sobre tudo que eu havia acabado de descobrir sobre o meu próprio pai.

Achei que nada mais me surpreenderia, mas vindo de um homem que trancou a própria filha em um colégio interno a vida inteira, era algo esperado.

Perguntei isso ao advogado, se o valor que ele pagou os meus estudos na Suíça estavam "incluídos" em sua ruína, mas o doutor Paranhos me garantiu que não. As mesadas foram pagas de uma vez só assim que eu fui matriculada anos atrás. Ou seja, estava tudo pago até eu terminar e sair de lá quando fizesse vinte e um anos.

Acabei descobrindo também pelo advogado que isso foi uma exigência dele, do meu pai. Eu estudar em um colégio que me mantivesse longe o máximo de tempo possível. São raros os colégios internos que seguram os alunos após completarem dezoito anos, mas meu pai fez questão de pesquisar e encontrar um.

Quanto segredos mais eu vou descobrir? Quantas coisas mais desagradáveis eu vou ouvir sobre esse homem?

Os dez anos que passei na Suíça estão sendo jogados em meu colo todos de uma vez.

...

Depois que o advogado e o testamenteiro foram embora, Alexandre se trancou em seu quarto e eu sem ter o que fazer, fui ajudar Lúcia na cozinha.
— Seu pai era um homem complicado Ilsa, fechado consigo mesmo. Era difícil saber quando algo lhe acontecia.

Ela estava preparando o jantar e eu a estava ajudando. Cozinhar era a coisa que eu mais gostava, me acalmava, ajudava a colocar os pensamentos em ordem. Sempre tive facilidade em seguir receitas e também criar meus próprios temperos.

Quando estava no colégio, eu fiz amizade com a cozinheira e também com a chef responsável pela nossa alimentação. Passava boa parte do meu tempo livre lá, quando não tinha deveres e trabalhos para fazer, conversando e aprendendo com elas.
— Precisa de ajuda? — Lúcia perguntou se aproximando e eu neguei com um sorriso nos lábios enquanto terminava de temperar o frango.
— Não precisa.

Ela foi a única empregada fixa que restou. Papai dispensou todos os outros, motorista, lavadeira, jardineiro. As vezes quando precisava desses serviços, pagava a trabalhadores autônomos, o que saía bem mais barato. Três vezes por semana, duas diaristas vinham fazer faxina.
— Nunca imaginei que você, uma menina bem-nascida, educada na Europa, gostava de sujar as mãos. — Lúcia comentou indicando minhas mãos sujas pelo tempero usado no frango.

Eu apenas sorri enquanto ia até a pia e lavava minhas mãos.
— Posso ter nascido em uma família rica e ter estudado em um colégio caro, mas isso não me faz melhor que ninguém. Sujar as mãos para fazer algo me dá a sensação de liberdade, independência, ser dona de mim.
— Você deve ter puxado a sua falecida mãe, com certeza.

Lúcia colocou a bandeja com o frango temperado e batatas no forno e sequei as mãos com um pano.
— Acho que sim, o que sei é que na aparência somos idênticas. Tenho fotos dela quando tinha minha idade e a semelhança é incrível. Talvez por isso meu pai não me quis por perto, pelas lembranças que olhar pra mim lhe traria.
— Não pense isso Ilsa. — ela apertou meu ombro em um gesto de conforto. — Não sei se eu conseguiria fazer isso com um filho meu, mandá-lo ir estudar tão longe. Mas ele deve ter tido seus motivos.

Encarei atentamente seu rosto moreno, os cabelos castanhos, os olhos amendoados, as maçãs do rosto salientes, a boca carnuda. Lúcia era uma mulher muito bonita.
— A questão não foi me mandar para um colégio caro, muitos pais fazem isso pensando no futuro dos filhos. O problema foi não ter me deixado vir passar as férias em casa, não ir me visitar em meus aniversários ou no Natal. Imagine uma criança de doze anos vendo suas colegas indo pra casa e voltarem contando histórias maravilhosas de férias passadas em família viajando, ou simplesmente estando juntos em casa.

Em seus olhos eu podia ver o sentimento de pena e compaixão, e eu realmente odiava isso.
— Eu quis muito trazê-la pra casa. — olhei para a porta e vi meu irmão encostado me encarando. — Mas ele nunca deixou. Cheguei a ligar algumas vezes para o colégio e pedir que deixassem você sair, mas no final era a autorização dele que valia.

Saber disso me deixou emocionada com aquele gesto dele e não pensei duas vezes em ir abraçá-lo.
— Obrigada. — sussurrei baixinho e ele me apertou.
— Você sempre vai ser minha princesinha.

Nós conseguiríamos ficar bem, tenho certeza disso. Apesar das dívidas, de todos os problemas, nós vamos dar um jeito e ficar bem.
— Gostaria de conversar um pouco com você, se não estiver ocupada.
— Pode ir Ilsa, eu ficarei de olho no frango. — Lúcia disse antes que eu falasse algo e sorri assentindo.

Fomos para a sala e nos sentamos no mesmo sofá de horas atrás, quando o advogado e o testamenteiro jogaram uma bomba em nossas cabeças.
— Ela não chama você de senhorita ou senhora? — Alexandre indagou e olhei para ele fazendo uma careta.
— Não e eu pedi isso.

Lúcia realmente havia me chamado de senhorita quando cheguei, mas eu pedi que não o fizesse.
— Por quê?
— Porque eu quero assim, e agora mais do que nunca. Temos que pensar em como vamos pagar o salário dela já que não temos um centavo.

Alexandre suspirou encostando-se ao sofá e encarando o teto.
— Eu tenho uma conta secreta em um banco fora do Brasil, papai não sabia disso.

Encarei meu irmão com os olhos arregalados.
— Você estava roubando ele?!
— Tecnicamente não, era mais uma comissão. E não me olhe assim, papai me pagava uma mixaria trabalhando pra ele.

Era melhor eu ficar quieta em relação ao que eu pensava disso.
— Já tem uma ideia do que vai fazer?

Alexandre virou a cabeça olhando para o corredor vendo se não vinha alguém e se aproximou de mim, como se fosse me confidenciar algo.
— Vamos pagar o salário da Lúcia e dispensá-la, não temos como ficar com ela.

Assenti triste sabendo que aquilo era verdade. Mesmo conhecendo-a a pouco tempo, já me afeiçoei a ela, era uma pessoa maravilhosa.
— Se ao menos eu pudesse receber essa herança que minha avó me deixou.
— Não, esse dinheiro é seu e não vai gastá-lo pagando as dívidas ou me ajudando com despesas. Vai usá-lo para algo em seu benefício. O valor que eu tenho nessa conta não cobre a dívida que nosso pai deixou, mas vamos entregar essa casa, os outros imóveis, os carros e tentar quitar uma parte dela.

Assenti concordando plenamente.
— Em seguida eu vou procurar um apartamento em um lugar mais barato para nós dois, os imóveis aqui no Jardim Anália Franco são muito caros. Talvez em um bairro de classe média baixa.
— Não me importo com isso Alex, o que a gente conseguir já está bom. E nós podemos trabalhar.
— Eu vou arranjar trabalho e você vai prestar vestibular e ir para uma faculdade.
— Mas eu...
— Não, você vai estudar Ilsa, isso já está decidido.
— Mas como vai conseguir sustentar nós dois e ainda por cima meus estudos? Não é justo com você.
— Tenho certeza de que minha garota consegue uma bolsa integral. Vi suas notas e você era uma excelente aluna no colégio, poderia ter saído quando fez dezoito anos e ir direto para uma universidade.
— Eu queria ter feito isso, nunca precisei de mais três anos de aulas complementares.
— Agora você pode e vai fazer isso. Já tem noção de algo que queira fazer?
— Gastronomia. Cozinhar, criar pratos é a minha paixão.
— Olha que maravilha, teremos uma chef na família. Você vai conseguir Ilsa e eu estarei aqui para ajudá-la.

Alexandre me abraçou e eu me deixei ficar entre seus braços fortes, me sentia segura e acolhida ao seu lado.

Alguém pigarreou muito perto e nos soltamos. Era Lúcia que nos encarava da porta.
— O que foi? — Alexandre perguntou e ela se aproximou um pouco.
— O porteiro interfonou dizendo que tem um advogado lá na portaria do condomínio querendo falar com o filho de Otto Ramos de Albuquerque.
— Quem é esse advogado? — meu irmão perguntou novamente se levantando.
— Ele disse que está representando um sócio de seu pai.

Eu e meu irmão trocamos um olhar. Talvez seja alguém que pudesse nos ajudar.
— Pode autorizar a entrada dele Lúcia, obrigada. — pedi gentilmente e ela voltou para a cozinha.

Quase um minuto depois, alguém bateu à porta e eu me levantei indo abrir.
— Boa tarde. — cumprimentei tentando soar simpática e ele me encarou franzindo levemente a testa.
— Boa tarde. E a senhorita quem é?
— Ilsa Gouveia de Albuquerque, filha de Otto Ramos de Albuquerque. E o senhor?

O homem sorriu levemente e estendeu a mão para mim.
— Sou Augusto Gonzaga Novaes, advogado de Lorenzo Spinelli Fiore.

Achei aquele nome levemente familiar, mas não me lembro de ter sido apresentada a esse tal Lorenzo. Apertei a mão do homem de volta e lhe dei passagem.
— Desculpe perguntar, mas a senhorita é a filha do doutor Otto que estudava na Suíça?
— Por que o interesse doutor? — Alexandre perguntou antes que eu falasse algo.

O homem sorriu e encarou meu irmão. Augusto devia ter quase seus sessenta anos, tinha cabelos grisalhos, olhos verdes e bastante expressivos. Usava um elegante terno azul marinho e carregava uma pasta preta consigo. Típico de todos os advogados.
— Apenas curiosidade. — o homem respondeu por fim. — E você deve ser Alexandre Ramos de Albuquerque, o filho mais velho.
— Sou eu sim. — meu irmão assentiu aceitando também o cumprimento do advogado. — O senhor disse que é advogado de um dos sócios de meu pai, não me lembro de tê-lo visto em alguma reunião.
— Ah sim, as reuniões que meu cliente tinha com seu finado pai não eram de seu conhecimento. Eu represento os interesses de Lorenzo Spinelli Fiore.

Alexandre empalideceu e o homem se voltou para mim, os olhos de águia me encarando intensamente.
— Meu cliente foi o credor de seu pai.

Encarei meu irmão de volta me lembrando de onde achei o nome familiar. Eu já o tinha visto antes, nas notas promissórias assinadas por meu pai.  

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Beijinhos e até o próximo 😘

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