Pesadelos
Os pesadelos assombraram Susan, durante cinco anos. Os sonhos eram tudo o que passava por sua mente. Ódio, angústia, raiva, vingança... Seus sentimentos eram apenas esses.
No sonho, seus pais estavam ali, brincando com a garota ao redor da casa. Pique esconde era a brincadeira favorita deles, e sempre que podiam faziam uma fogueira e iam se divertir.
Susan estava feliz em sua brincadeira, procurando sua mãe e seu pai para que finalmente fosse a vez deles de caçá-la, mas assim que entrou na casa para procurá-los, eles estavam em cima da cama, totalmente mortos. O local tinha lençóis cheios de sangue, os braços de seus pais tinham mordidas e marcas de vampiro por todos os lados.
E então a garota começou a chorar e gritar.
— Por favor, acordem! Não me deixem.
E a escuridão infinita cobriu sua mente, fazendo com que ela acordasse em um sobressalto. Tudo não passava de um sonho, mais precisamente falando, um pesadelo, que a atormentava sempre de diferentes formas.
A grande realidade era que Susan não se lembrava do que aconteceu com ela naquele dia, só sabe que sobreviveu e foi atrás de seus pais logo em seguida, pouco se importando se encontraria outro vampiro no caminho.
Enquanto andava pela floresta com o coração latejando de dor e as pernas falhando, fazendo ela cair a cada vinte passos, Susan não alimentou nenhuma esperança para não ter oportunidade de se decepcionar.
Ela deveria saber que os pais escondiam algo dela, porém, nunca pensou que algum dia eles morreriam para ela descobrir a verdade.
Quando chegou na casa aparentemente vazia, a pequena construção de madeira no meio do mato, deparou-se com a porta arrombada e marcas de unhas por toda a parede.
Tomou coragem e decidiu adentrar o local, mesmo com medo do que poderia ver. E assim que viu seus pais jogados na cama totalmente ensanguentados, ela chorou, exatamente como uma adolescente choraria. Jogou-se por cima dos corpos sem vida e lamentou pela morte sofrida deles.
Nesse dia, Susan fez uma promessa que nunca esquecera: ela vingaria seus pais e mataria o infeliz que fez isso com eles.
Mesmo depois de tantos anos, o nome do homem nunca saiu de sua mente, era como um mantra que ela repetia com frequência, na intenção de nunca o esquecer.
— ADRIEEEEEEL! — Ela gritava todos os dias assim que acordava de seus pesadelos mais sombrios, como se isso fosse capaz de trazê-los de volta à vida.
Aos dezoito anos de idade, Susan era uma garota órfã, totalmente rejeitada pela maior parte da sociedade, além de sofrer bullying de diversas pessoas.
Depois daquele dia, Susan pegou algumas coisas importantes e fugiu para o local mais longe que conseguiu, colocando algumas roupas, comidas e dinheiro em sacolas. Montou em seu cavalo negro como a noite e foi para Dempshire, onde encontrou uma escola de magia.
Se queria enfrentar Adriel, precisava ser mais forte que ele, mais esperta também. Então começou a fazer aulas onde colocava seu ódio em prática, e mesmo que seu professor a alertasse de que magia por ódio poderia causar um desequilíbrio, Susan nunca se importou.
Queria fazer Adriel sofrer, chorar, implorar por sua vida assim como seus pais devem ter feito, e por fim, matá-lo.
Susan levantou-se da cama e prendeu seus cabelos, se preparando para ir ao treinamento, que acontecia em um condado perto de sua casa.
Nos últimos tempos a garota aprendeu a controlar os elementos naturais, mas sempre que fazia feitiços precisava usar suas mãos, pois não era tão forte a ponto de pensar em algo e aquilo acontecer, como era com uma grande parte das bruxas.
O horário da aula chegou e Susan foi para a rua, observando o caminhar leve e tranquilo das pessoas, desejando ser como uma delas. Sem preocupações, sem luto, sem sede de justiça e de vingança...
Queria ser ignorante e não conhecer o mundo que habita ao redor de tudo aquilo. Gostaria de não saber da interminável guerra entre os vampiros e as bruxas, da fome que as pessoas sentem, do medo enjaulado em cada pequeno coração.
Seu sonho era não ter visto colegas serem massacradas, ouvir relatos de bruxas que tentaram salvar pessoas e morreram pelas mãos dos impiedosos vampiros.
E sempre que Susan conversava com seu professor, ele fazia questão de relembrá-la de não se meter em nenhuma confusão.
— Adriel é perigoso, Susan. Você não devia ir atrás dele nunca. — Seu professor a alertara diversas vezes, mas a jovem nunca deu a devida importância, sabendo que também era perigosa.
Ou pelo menos, era o que planejava ser.
Susan virou em uma esquina vazia e faltavam apenas alguns minutos para chegar ao seu destino quando foi surpreendida por uma voz logo atrás dela.
Seu corpo direcionou-se na direção oposta a seu caminho, e mesmo sem olhar, Susan já sabia que se tratava de mais um vampiro atrás dela. Estava sempre sendo procurada por um vampiro irritante, o que a deixava brava, já que Adriel não tinha nem sequer a decência de mandar um grupo inteiro atrás dela.
— Me responde uma coisa... É sério que esse infeliz nunca vai me deixar em paz? — Bufou a garota impacientemente ao encarar o homem alto e moreno, que provavelmente era apenas mais um dos capangas de Adriel. — Está buscando o quê?
Susan se aproximou do homem, sabendo que jamais deve deixar seus inimigos perceberem seu medo, pois eles usarão isso contra você.
— Estou buscando você! — Vociferou o vampiro, cuspindo na cara dela. — Meu mestre quer que eu a leve para ele.
Susan bateu os pés impacientemente no chão e secou o rosto, pensando em como Adriel convencia esses homens a fazerem tudo o que ele quisesse. Será que os oferecia dinheiro? Os ameaçava?
Porém, sua vulnerabilidade e coração gentil duraram por pouco tempo, logo ela se recompôs, lembrando-se de que nunca foi necessário ter pena de vampiros, eles não possuíam um coração para ser quebrado.
— Pois fale para o imbecil do seu chefe que se ele me quer tanto, ele que venha me buscar.
Adriel sempre se escondeu muito bem, e nunca tentou confrontar Susan pessoalmente, o que a fez ficar muito tempo questionando o motivo de ele sempre se esconder. Provavelmente se tratava de um velho feio e rabugento.
— Ah, não brinque! — O homem rosnou antes de avançar em cima dela, atingindo apenas seu cabelo, que se soltou do penteado.
Susan se irritou e logo mentalizou com todas as suas forças um fogo. Levantou suas mãos e murmurou algumas palavras antes de passar a mão na pele do braço do homem, descendo para as mãos dele.
O vampiro se contorceu ao ter suas mãos queimadas, os gemidos dele soaram de forma tão prazerosa para Susan, como se fosse uma melodia deliciosa.
Ela não estava sendo boa, e não tinha a intenção de ser, afinal, eles tiraram tudo dela, tudo o que fizesse contra eles ainda seria pouco.
— Me solte! — O homem implorou, com seus olhos lacrimejando de tanta dor.
— Só se você prometer que vai dar um recadinho para seu chefe... — O tom de voz da garota soava como uma ameaça e o vampiro apenas assentiu com a cabeça sem nem pestanejar. — Diga para ele que vou me encontrar com ele, então, ele pode parar de ir atrás de mim.
Ela soltou o vampiro aos empurrões, fazendo ele cambalear e cair. Se virou de costas e voltou a seguir em direção a escola, sabendo que o vampiro não iria perseguí-la novamente, e se o fizesse, poderia acabar virando picadinho e iria se encontrar com Drácula no túmulo.
O vampiro, chamado Benjamin, voltou ao seu "covil" com ódio nos olhos. Detestava parecer apenas uma isca que Adriel usava quando bem entendia.
Assim que chegou na mansão, se aproximou do escritório do seu chefe e abriu as portas sem nem sequer bater. Havia ódio explícito em seu olhar.
— Quanta falta de educação! — Adriel resmungou ao ser interrompida sua sessão de beijos com uma garota loira qualquer que pretendia matar em breve.
— Ao contrário de você, não tenho tempo para ficar de amassos com ninguém. — Reclamou Benjamin, se aproximando da mesa onde a mulher estava sentada.
— Ah, querida. É uma pena que tenhamos que nos separar, por que não me espera sentada ali enquanto não houve nada do que dizemos? — Apontou para um sofá e a jovem apenas assentiu com a cabeça, totalmente hipnotizada pelo vampiro.
— Sua bruxa querida queimou minha mão. — Resmungou, encostando na mesa de Adriel, que olhou para a cara dele com desdém.
— Impressionante como uma bruxinha tão nova como Susan conseguiu fazer isso com você. É tão incompetente assim?
— Ela disse que se você a quer, é melhor ir atrás dela, senão, ela virá até você. — Benjamin deu de ombros, começando a fazer pouco caso da situação.
Não se importava suficientemente com Adriel, mas era do clã dele e sempre tinha que fazer suas vontades, por mais tolas que fossem.
— Tudo bem. Pode ir descansar, Benjamin. Eu mesmo pego essa mulher. Até tenho um plano...
— Sério, e qual é? — O interesse de Benjamin se renovou, ao saber que teria tempo livre para descansar ou fazer qualquer outra coisa além de seguir Susan.
— Não posso contar agora, apenas preciso que espalhe para todo mundo que o governador de Dempshire irá dar um baile de máscaras.
Benjamin assentiu com a cabeça e saiu do escritório, deixando a pobre jovem ali com o vampiro.
— Está na hora de continuar a diversão, querida. — Se aproximou da garota em passos velozes e encarou o fundo de seus olhos azuis como um mar. — Eu vou te morder, e você vai gostar.
Sua boca se dirigiu até a garganta da menina, tomando seu sangue como se fosse água, esvaziando o corpo da garota até não sobrar mais nenhuma gota.
Susan continuou seu caminho até a escola, odiando o fato de o sol ter aumentado nesse meio tempo. Seus cabelos sempre deixavam seu pescoço quente, e por alguma coincidência, encontrou uma faca no chão, reluzindo ali.
Aquela parte do condado costumava ser perigosa, então não era estranho ver uma faca ou pessoas se esmurrando ao passar pela rua. Talvez alguém tivesse esquecido depois de uma briga.
Segurou a faca em suas mãos com força e encarou suas mechas grandes uma última vez antes de cortá-las, deixando seu cabelo acima do ombro.
Não se lamentou por muito tempo pela perda do cabelo, rapidamente colocou a faca no chão e continuou andando até encontrar o pequeno galpão onde treinava.
Chegando ao local, viu alguns poucos alunos que estudavam com ela também. O poder dos bruxos foi distribuído pelo país, tendo escolas ao redor de todo o mapa para manter o equilíbrio de todo planeta.
As bruxas eram as únicas pessoas que conseguiam matar um vampiro sem nem sequer tocá-los, e todos sabiam o quão perigoso é tocar em um deles.
A garota adentrou pela porta de ferro e toda a turma a encarou devido ao seu atraso, fazendo ela se sentir pequena, mais do que realmente é. Mas era inegável que a garota chamaria atenção de qualquer forma, pela falta de seu cabelo antes enorme e pela sua respiração descompassada.
— Minha cara, Susan, por que está tão descomposta? — Seu professor, Miguel, questionou.
O rosto da jovem assumiu uma coloração avermelhada rapidamente, se sentindo desconfortável por estar tão atrasada. Sempre foi pontual ao extremo, mas hoje as circunstâncias não estavam a favor dela.
— Vamos dizer que precisei lutar com um vampiro no caminho. — Deu uma risadinha fraca e se dirigiu ao seu local com os olhos de todos voltados para ela.
Ela procurou o lugar mais escondido e se sentou, era uma cadeira encostada na parede, perto da única janela da sala.
— Ok. Acontece sempre, não é? — O professor riu, tentando aliviar o clima para a turma não se desfocar. — Vamos voltar aqui para a aula.
Desde que os pais de Susan morreram e ela começou a frequentar a escola, Miguel tinha se tornado superprotetor em relação a garota, como se o vazio dele pudesse ser preenchido caso ajudasse alguém.
Ele tinha se tornado uma espécie de figura paterna para ela, pelo menos era o que ela pensava. Miguel sempre resolveu seus problemas, cuidou dos assuntos importantes e ajudou Susan a lidar com todo ódio antes que ela saísse explodindo o mundo atrás de Adriel.
A missão das bruxas sempre foi ajudar outras pessoas e salvar vidas, caso faça algo contrário a isso, Susan irá contra a própria natureza.
Cada um deles faz o equilíbrio do universo.
Depois de uma aula muito entediante, pois era aula teórica, finalmente todos os alunos saíram da sala e foram para fora, treinar a prática, com isso, Susan pôde ficar testando seus poderes.
Todos da sua turma estavam indo bem nas aulas e aprendendo a lidar com a magia, mas Susan sempre esteve avançada em relação a eles. E acreditava que isso se devesse ao fato de lutar por ódio, e não por amor.
Todos ali lutavam para defender os humanos, cuidar da Terra e essas baboseiras, Susan apenas aprendia como canalizar seu ódio e despejá-lo sobre uma única pessoa.
Seu parceiro de treinamento sempre era Miguel, e o jovem professor sempre saía com o ombro machucado devido a inconsequência da garota.
— Susan, você me parece perdida demais hoje. O que está planejando?
Lançou uma bola de fogo em direção a ela, que desviou rapidamente, revidando com uma jatada de água. Enquanto eles lutavam, diziam feitiços em latim, na língua original das bruxas.
— Nada, só pensando.
— Você não vai atrás dele, vai? — O olhar de Miguel era temeroso, ele ficava pensando em quantas vezes Susan arriscaria sua vida até matar Adriel, ou até ser morta por ele.
— Talvez. Não sei. Eu preciso me vingar, Miguel. Você não entende.
Mexeu as mãos em direção a parede branca atrás dos dois e lançou um bloco de terra ali, fazendo toda a turma se assustar.
— Você é uma boa garota, Susan. Supere isso e siga em frente, encontre um motivo para viver.
— Não consigo, Miguel. E se você não consegue me entender, por favor, não me ajude mais.
Susan virou as costas para Miguel e correu em direção à saída da escola, indo para sua casa e se lançando sobre sua cama.
O que mais a irritava é que nem mesmo Miguel acreditava que ela era capaz de matar Adriel, e ele era a única pessoa com quem podia contar sempre. Talvez fosse a hora de começar a agir totalmente sozinha.
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