Monstro
Seu coração batia descompassado quando finalmente se obrigou a abrir os olhos. O que viu à sua frente a deixou sem ar. A cabeça de Kristoff estava nas mãos de Adriel, pingando sangue.
— Ai. Meu. Deus. — Ela falou pausadamente, cada palavra soando como um sussurro aterrorizado.
Adriel, por sua vez, parecia tão calmo quanto um predador satisfeito. Com um movimento indiferente, jogou a cabeça de Kristoff para longe, como se fosse lixo.
Susan finalmente compreendeu o quão perigoso Adriel realmente era. A ficha caiu com tanta força que ela não conseguiu se controlar. Um grito agudo explodiu de sua garganta, ecoando pela casa.
Adriel, irritado, cobriu os ouvidos com as mãos, os olhos revirando em frustração.
— Pelo amor de Deus, Susan, será que dá para parar de gritar? Isso é muito desagradável.
Mas Susan não conseguia parar. O pânico era como uma onda incontrolável, sufocando-a enquanto as imagens de Kristoff e o sangue ainda rodopiavam em sua mente.
— Não, não, não... — gritava desesperada, enquanto Adriel já grunhia em agonia, pressionando as têmporas com os dedos.
Os gritos dela eram como agulhas atravessando a cabeça do vampiro. Ele respirou fundo, tentando se conter, mas a irritação crescia com força.
Susan, aproveitando o momento de distração de Adriel, tentou correr. Desceu os poucos degraus que havia subido, mas o mundo ao seu redor começou a girar. Sua visão ficou turva, as cores se misturaram e, antes que percebesse, suas pernas fraquejaram. Não tinha forças. A fome a atingia como um golpe implacável.
Antes de cair completamente, sentiu mãos fortes a segurarem. Adriel a pegou antes que ela desabasse, mas seus olhos brilhavam com um misto de exasperação e algo mais sombrio.
— Louca. Maluca. Suicida... — murmurou para si mesmo enquanto a erguia nos braços. Cada palavra era cuspida com irritação crescente. Aquela mulher estava o tirando do sério de maneiras que ninguém conseguira em séculos.
Se Sierra não aparecesse logo, ele sabia que poderia acabar com a vida dela apenas para silenciar os gritos.
A dor de cabeça latejava enquanto Adriel carregava Susan para o próprio quarto. Ele a colocou na cama com movimentos cuidadosos, embora sua expressão fosse de frustração. Respirou fundo, olhou para ela por um instante e saiu, decidido a entender como Kristoff havia invadido sua casa sem ser detido.
No corredor, o cheiro de sangue invadiu suas narinas antes mesmo de ele alcançar os primeiros corpos espalhados pelo chão. Ele analisou cada cadáver com cuidado, mas algo parecia errado.
— Leonard... — murmurou, franzindo o cenho. Ele lembrava claramente de tê-lo visto naquela manhã, mas o homem estava ausente agora.
A frustração finalmente explodiu.
— INFERNOOO! — rugiu, sua voz ecoando pelas paredes como uma tempestade de pura raiva.
Adriel passou a mão pelos cabelos, tentando acalmar a mente. Mas a dor de cabeça persistia, cada pulsar de sua mente lembrando-o da fome que o consumia. Ele precisava se alimentar antes que fizesse algo que não poderia desfazer.
Caminhou até a cozinha, abriu a geladeira e puxou uma das bolsas de sangue que estavam empilhadas ali. Bebeu com pressa, mas a culpa rastejou em sua mente como uma sombra.
A fome de Susan não saía de sua cabeça. Ela estava faminta, fraca, e ele sabia que não podia deixá-la morrer antes do momento certo.
E então veio a tentação.
Sua mente voltou à lembrança de quando provou o sangue dela pela primeira vez. Apenas uma pequena quantidade havia sido suficiente para inundá-lo com uma força indescritível, algo que nunca experimentara antes. Ele se perguntou como seria provar mais, sentir aquele poder fluir livremente por suas veias.
Adriel fechou os olhos, tentando afastar o pensamento. Ele sabia que não podia ceder. Ainda assim, a incerteza sobre o que fazer com o coração dela continuava a corroê-lo.
Quando a bruxa havia lançado o feitiço, suas palavras ecoaram como uma sentença: "A única coisa capaz de salvá-lo será o coração da descendente mais forte de Magno."
Adriel caminhou até o quarto, e parou na porta, olhando para Susan, que estava debruçada em sua cama. Aquela garota parecia tão frágil, tão quebrável, e ele conhecera centenas, talvez milhares, de bruxas muito mais poderosas.
— E, ainda assim, é ela... — murmurou para si mesmo, sentindo uma confusão que o irritava ainda mais.
Adriel ouviu passos leves se aproximando e virou-se de imediato, o corpo tenso e pronto para defender aquela bruxinha com unhas e dentes. Seus olhos estreitaram, mas a tensão se dissipou quando viu Cristina, a empregada que mantinha uma relação casual com ele.
Os cabelos loiros e cacheados de Cristina balançavam suavemente enquanto ela caminhava. Era uma mulher encorpada, extremamente bela, mas séria demais para o gosto de Adriel. Ele nunca se interessara verdadeiramente por ela. O relacionamento entre os dois era simples e prático: poucas palavras, muitos beijos.
— Está tudo bem por aqui, senhor? — perguntou ela, sua voz baixa, mas carregada de curiosidade. — Ouvi gritos mais cedo.
— Sim, Cristina. — Adriel respondeu, seco, seus olhos já desviando para outro ponto da sala. — Preciso que me faça um favor.
— Sim? — Cristina inclinou ligeiramente a cabeça, os olhos atentos. Era sempre solícita. Jamais questionava Adriel; a proteção que ele lhe garantia era motivo suficiente para sua lealdade.
— Preciso que busque comida humana na cidade.
Cristina ergueu uma sobrancelha, ligeiramente surpresa com o pedido incomum, mas não se atreveu a comentar. Apenas assentiu com um movimento curto e saiu rapidamente para cumprir a ordem.
Adriel observou-a desaparecer pela porta, a mente já voltando ao caos que o cercava. Quando decidiu abrigar empregados em sua casa, uma regra era clara: não interferirem em seus assuntos. Isso lhes garantia proteção, mas agora, com tantos vampiros mortos, ele precisaria reconstruir sua base.
Pensar nisso era exaustivo. Cada nome perdido naquela noite era alguém em quem confiava, e a perspectiva de recrutar novos vampiros lhe causava um desconforto quase físico.
Ele balançou a cabeça, afastando os pensamentos. Não era hora para lamentações. Era hora de vingança.
Um sorriso sombrio curvou seus lábios ao lembrar da cabeça de Kristoff. A ideia veio fácil, como um veneno deslizando por suas veias: ele a embrulharia cuidadosamente e a enviaria ao clã de Kristoff, junto com uma mensagem nada amigável.
A imagem o fez rir, uma risada baixa e sinistra que ecoou pelo corredor vazio.
Adriel não era um homem de gestos sutis. Quando atacava, deixava sua marca, e Kristoff seria apenas o início de um aviso muito maior.
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