Memórias
Ele continuou andando até parar na frente de uma carruagem que estava parada na rua debaixo da praça. De maneira nada delicada, a pegou no colo e subiu com Susan para dentro da carruagem, a colocando sentada a sua frente.
O interior da carruagem a deixou impressionada, pois era realmente muito detalhada e deveria ter sido totalmente cara, o que a fez pensar que poderia ser verdade sobre ele ser filho do governador de Dempshire.
Se fosse realmente isso, o Conselho das bruxas deveria estar tomando alguma providência antes que ocorresse uma chacina. O coração de Susan acelerou ainda mais com essa percepção, e em sua imaginação conseguia ver cenas horríveis de diversas pessoas sendo assassinadas e crianças ficando órfãs.
— Por que seu coração está tão acelerado? — Adriel perguntou, sentindo-se visivelmente desconfortável.
— Como sabe?
— Eu o ouço batendo fortemente, e está deixando meu ouvido dolorido. — Massageou as próprias têmporas e depois tirou uma algema do bolso, prendendo as mãos dela para evitar qualquer gracinha.
Susan deu uma risada, aquele homem a incomodava e a deixava louca.
— Quando arrancar ele, com certeza não se incomodará mais. — Susan bufou, irritadíssima com as atitudes do homem e preferindo morrer a ter que ficar ouvindo aquele rapaz reclamar.
— Você é irritante! — Adriel explodiu, não aguentando lidar com a personalidade difícil da garota. Tudo que Susan sentiu com a raiva de Adriel foi uma enorme vontade de rir.
Aquele homem a tinha tirado tudo, e mesmo após raptá-la, ele ainda queria a culpar pelo seu mau-humor.
— Ora, você também! — Revirou os olhos. — Nem por isso estou te perturbando.
Se Susan soubesse o quão perturbadora estava sendo para Adriel, teria ficado quieta antes de começar a despejar várias ofensas a ele. O rapaz teve que apertar as próprias mãos para não a estrangular ali mesmo.
A grande realidade é que Adriel não sabia mais o que gostaria de fazer com a garota, ela definitivamente estava o convencendo de que merecia viver. A jovem lutava tão bravamente pelos próprios objetivos que Adriel a invejou profundamente.
Susan tinha ficado quieta, estava pensando em qual era a razão para permanecer respirando, mesmo que ele sempre tenha tentado a matar. Afinal, se a única coisa que Adriel desejava dela era o seu coração, por que não o arrancou de uma vez?
As correntes que aprisionavam os braços da menina começaram a incomodar, fazendo com que ela se mexesse desconfortavelmente no banco da carruagem. Tinha sido inteligente da parte de Adriel prender suas mãos, afinal, são sua fonte principal de poder no momento.
Susan sentia uma vontade primitiva de ranger os dentes e rosnar para o homem, pois tudo o que ele fazia a tirava do sério, principalmente o fato de não saber o que ele pretendia fazer com ela.
A dor em seu braço era tão dilacerante que ela jurava ter o quebrado, e para não chorar ou emitir qualquer ruído, ela simplesmente começou a morder seus lábios e sua mente divagou para sua vida antiga, quando ainda não tinha perdido seus pais.
Seis anos atrás
— Susan, querida, pode me passar o garfo? — Papai perguntou com sua voz calma enquanto todos estavam reunidos à mesa para o jantar.
Susan sempre detestou o fato de quase nunca tê-lo presente em seus dias, pois ele precisava trabalhar para sustentar a casa. Para ela, a vida nunca pareceu justa; era apenas uma batalha constante para sobreviver.
— Claro, pai. — Ela pegou o garfo que estava ao seu lado e o entregou a ele, que estava do outro lado da mesa. — Como foi seu dia? — perguntou. Susan sempre gostou de conversar com sua família durante as refeições.
— Você acreditaria se eu dissesse que vi uma garota da sua idade matando um vampiro só com uma mão? Sem nem ao menos proferir uma palavra.
— Sério?! — Seus olhos se arregalaram de surpresa.
— César, isso não é assunto para tratarmos durante o jantar. — Mamãe o repreendeu, mas Susan estava curiosa para saber mais.
— Quero saber mais, pai. Se puder me contar. — Ela se virou para ele, atenta, sem piscar. Sempre tentou fazer feitiços, mas falhava miseravelmente, e seus pais raramente permitiam que ela frequentasse a escola de bruxos.
— Se sua mãe permitir. — Ele brincou, arrancando de mamãe uma expressão desaprovadora.
— Por favor, mãe. — Susan implorou, sabendo que sua mãe tinha dificuldade em negar-lhe algo.
— Tudo bem. — Ela jogou as mãos para o alto em sinal de rendição, e Susan sorriu em agradecimento.
— Então... Arabella é uma garota muito talentosa. Nunca faltou a uma aula e sempre levou seu dom muito a sério. Ontem, um vampiro a encontrou enquanto ela ajudava uma das vítimas dele e partiu para o ataque. Mas, em questão de segundos, com o simples levantar de uma das mãos, Arabella o partiu ao meio.
Susan levou a mão à boca, espantada. Seria possível alguém ter tanto poder assim? Ainda mais uma jovem da mesma idade que ela?
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