Susan ficou imóvel, seu corpo traindo qualquer lógica. Quando finalmente recuperou o controle de si mesma, a mente girou. Se ele queria brincar com ela, ela podia muito bem jogar o mesmo jogo.

— Até quando vamos continuar com essa encenação, querido? — provocou, sua voz doce e carregada de ironia. Ela se aproximou, o rosto tão perto do dele que podia sentir o leve calor de sua respiração.

Adriel ficou rígido, seus olhos arregalados em surpresa. Ele não esperava aquela reação da garota. Por um momento que pareceu eterno, ele ficou paralisado, até que um lampejo de autocontrole o fez se afastar bruscamente, movendo-se com uma velocidade sobrenatural.

— Até a hora que eu quiser. — Sua voz era um grunhido baixo, cheio de tensão.

Ele precisava dela viva, mas aquela proximidade estava ameaçando sua determinação. Tocá-la era um risco — um risco que ele não podia se permitir. Ela o confundia, o desestabilizava, e isso o enfurecia mais do que ele gostaria de admitir.

Susan, no entanto, permaneceu onde estava, lutando contra a onda de frustração que a atingiu. O afastamento dele a deixou estranhamente vazia, e ela odiou o quanto isso a afetava.

Enquanto se afastava, Adriel lançou um último olhar para ela, sua mente fervilhando com pensamentos que não ousava compartilhar. Ele precisava de respostas. Sierra, uma bruxa que ele conhecia de outra época, poderia ajudá-lo a decidir o que fazer com Susan. Mas até lá, manter-se distante seria sua maior batalha.

Susan, por sua vez, mordeu o lábio, tentando ignorar o arrepio que ainda percorria sua pele. A humilhação de não ter controle sobre si mesma era quase insuportável. Mas, por mais que odiasse admitir, parte dela estava curiosa. Sobre ele. Sobre o que estava por vir.

Ela estava envergonhada, e sua barriga fez questão de a alertar que precisava comer. Um ronco alto irrompeu pela sala e Susan suspirou, sentindo que iria morrer a qualquer momento pela ausência de comida.

Após a morte de seus pais, ela se acostumou a comer pouco, racionar cada coisa, a fim de evitar gastar todo seu dinheiro, mas não comer nada já era demais para seu frágil corpo. Do jeito que estava, Adriel nem sequer precisaria arrancar seu coração.

Os olhos escuros do homem a encaram com profundidade, como se tentasse a desvendar. E ela fazia o mesmo, achava-o tão misterioso e obscuro, e a forma como seu próprio corpo se comportava na sua presença era estranho, pois não lhe faltavam motivos para buscar distância.

Vampiros e bruxas nunca conviveram, o lema deles era a destruir uns aos outros, não que Susan participasse dessas matanças, estava muito ocupada com outros assuntos. Mas a grande parte de seus colegas e professores treinavam apenas para acabar com a raça dos vampiros, ou ao menos se defender deles.

Adriel não tinha a intenção de matá-la de fome, então suspirou ao se dar conta de que é realmente um maldito inútil, que não conseguia nem pensar em matá-la de fato. Ele não sabia por que aquilo era só em relação a ela, já tinha matado tantas pessoas, qual é o diferencial dessa bruxa?

— Bruxinha, acho que deveríamos...

Ele ia a chamar para comer alguma coisa na cidade, ou em algum lugar próximo, mas um barulho alto o interrompeu e a porta da casa foi arranca bruscamente, sendo lançada contra Susan, entretanto, Adriel foi mais rápido e pegou a porta no ar e jogou para o lado, fazendo um barulho ao se chocar com a parede.

— Quem é o infeliz que ousa arrancar a porta da minha casa? — Rosnou, ficando na frente da garota que estava de olhos arregalados pelo susto. Susan não tinha um tempo de reação bom.